A história de duas vidas. escrita por Juliana Rosa


Capítulo 23
Olhares e pensamentos.


Notas iniciais do capítulo

Será que Peeta está no caminho certo?
Bjos e boa leitura.



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Peeta.

Ela chorou a noite toda. Baixinho, e as vezes abafava os soluços com o travesseiro. Tive vontade de abraça-la, beija-la, fazer amor com ela e dizer que estava tudo bem. Mas ainda estou magoado. A cena daquele beijo continua rodando em minha mente como um filme sem fim. Mas eu fiquei apavorado quando a encontrei encolhida no chão da academia. Parecia tão frágil, tão indefesa. Nem de longe parecida com a Katniss guerreira e forte que eu conheço. Encolhida como agora, na cama. Abatida e pequena.

Me pergunto se ela ainda conseguirá ser o Tordo. E me pergunto várias coisas para as quais eu ainda não tenho resposta.

Foi uma longa noite e eu também não dormir. Olho no meu relógio, são cinco e meia da manha. Logo seremos todos chamados para o café no refeitório. Sinto falta de ar puro, da claridade do sol, ficar trancado ali me trás lembranças horrorosas da sala do Torturador na Capital.

Pérola começa a choramingar e Katniss se levanta rápido. Os ouvidos de uma mãe nunca falham. São como um dispositivo ligados aos bebês.

Finjo que estou dormindo e ela passa por mim devagar para não me acordar. A vejo suspirar, um suspiro de tristeza. Pega a mamadeira na garrafa térmica e ajeita nossa filha no colo.

– Bom dia meu anjo! - diz delicadamente para a neném quase num sussurro. - Está na hora de mamar, não é?

Pérola emite alguns sons parecendo de aprovação e ouço ela sugar o bico da mamadeira. Quero tanto ver. Adoro esse momento da manha por que ela sorri e agora já segura a mamadeira com a mãozinha esquerda. Mas fico quieto. " É sua filha idiota." Mas continuo quieto, até Katniss terminar, colocar a menina no berço e se abaixar perto de mim.

– Peeta acorde. - só ouço sua voz, nenhum toque. E me doe.

Me viro para ela fingindo sonolência e só agora percebo como meu corpo está doído com minha estúpida ideia de dormir no chão.

– O que foi? - minha voz está rouca e essa parte não é fingimento.

Antes dela me responder, ouço a voz metálica no auto falante.

– Seis da manha. Todos tem meia hora para se arrumarem e descer para o refeitório. Lembramos que não é permitido atrasos.

Aquilo soa como um cronograma de penitenciária. A Capital nos transforma em prisioneiros dentro de uma bola de concreto.

Katniss entra no banheiro e minutos depois sai pegando nossa filha.

– Vou te esperar lá fora.

Ela entendeu meu recado ontem a noite. Está me dando privacidade por que sabe que não quero aproximação. E eu... já não sei se quero isso.

Seguimos para a cozinha, onde se repete o ritual de sempre. Todos levantam a cabeça, olham e voltam a comer. Até quando carregaremos esse estigma de celebridade deixado pela Capital?

Começo a comer meu pão com manteiga e meu leite com café num copo pequeno. Katniss está molhando pedacinhos de pão no leite e dando a Pérola. Ela chupa tomando o gosto e ri. Rimos com a facilidade que só ela consegue arrancar de nós. Katniss diz que sou igual a ela. É fácil sorrir comigo, e por causa disso ela me pega olhando-a. Ainda está rindo, mas ao me notar, o sorriso morre devagar e seus olhos voltam a ficar escuros, sem brilho. Me lembro das palavras de Gale. "Quando ele foi levado para a Capital seus olhos se apagaram e endureceram." Como estão agora.

Ela termina e se levanta com Pérola. Só bebeu meio copo de leite com café, o que sobrou é sorrateiramente levado por uma mão invisível.

– Vou ajudar Prim no hospital hoje, já que não temos treinamento. Tudo bem? - diz ela.

– Tudo bem. - digo assentindo.

Vejo o desapontamento em seu rosto e olhos, os ombros caem um pouco. Ela também assente e sai. Tenho vontade de ir atrás dela, dizer que não está tudo bem e beija-la ali mesmo sem me importar com nada. Meu Deus foi o inferno dormir essa noite longe dela

Mas continuo sentado, encarando meu copo de leito com café, que a essa altura já esfriou e está com um gosto horrível.

Alguém puxa uma cadeira e se senta ao meu lado. Olho e vejo Haymitch.

– O que você quer? - pergunto ríspido, me afasto um pouco.

– Conversar. - ele responde casualmente.

– Não tô afim.

– Eu também não tô nem aí se você quer se ferrar sozinho, mas se vai abandonar Katniss, faça isso com dignidade.

Olho para ele indignado.

– Do que você está falando?

Ele dá de ombros, repuxando os lábios para baixo.

– Tudo mundo aqui sabe do tal beijo. E quer saber? Se pretende deixa-la sofrendo por causa de um segundo de um beijo, onde ela teve pena, você é um idiota. Vocês faziam isso na arena.

– Era fingimento. - rebato na defensiva.

Haymitch ri malicioso.

– Bom... depois não foi só fingimento.

Respiro com força, com raiva. Com que direito ele está se metendo em nossas vidas? Não é mais nosso mentor, não estamos mais nos jogos. "Nós." Estou pensando em Katniss e eu. Em nós.

– O Gale a beijou e ela deixou. - falo ressentido.

Haymitch novamente dá de ombros repuxando os lábios para baixo.

– Gale é um homem apaixonado e está fazendo exatamente o que você deveria fazer. Lutando, e parece que ele já venceu o primeiro round. Pense bem garoto... - ele se levanta e estica a mão para tocar meu ombro, mas meu corpo fica tenso. Ele ergue as duas mãos em sinal de paz. - Ok. Mas, pense bem garoto, no que está fazendo.

Ele vai embora. Percebo que o refeitório está vazio.Volto para o quarto pensando em tudo Não consigo me lembrar de minha vida sem Katniss, por que antes da Colheita eu só a observava de longe, tímido demais para me aproximar. Foi ela quem me encorajou a mostra o que eu era capaz de fazer nos treinamentos para os jogos. E agora eu tenho uma família com ela. O que sinto por ela está além de qualquer coisa, até mesmo do Torturador. Eu sobrevivi por ela. O que ela sente por mim também vai muito além, ao ponto de me esperar mesmo sabendo que eu talvez jamais voltasse. Mesmo com as investidas de Gale para se casarem e a tal declaração de viúva. Ela poderia ter seguido em frente, mas esperou até o ultimo instante.

Valia a pena deixar Gale ganhar? Valia a pena sacrificar a minha felicidade, a felicidade dela, a felicidade da nossa família por causa de um segundo de pena que ela sentiu?

Eu já sei a resposta. Na verdade eu sempre soube só que estava com raiva e ciúmes demais para deixa-la vir à tona, mas agora eu já sei o que fazer.

Saio do quarto e disparo em direção ao hospital.


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Notas finais do capítulo

Ahhhhhhhh esse casal é super love.