Corações escrita por Twins Are My Buddies
– Não acredito na irresponsabilidade de vocês! No primeiro dia?! – exclamou a diretora, enraivecida. – Você, Elizabeth – apontou um dedo na cara da menina magra – já foi expulsa de duas escolas! Duas!
– Mas, professora...
– Calada! Vocês vão pedir desculpas agora! Vamos, peçam! – a diretora parecia aterrorizante quando respirou com força pelo nariz.
– Desculpa. – disse Narcisa, sincera.
– Desculpa. – disse a garota chamada Elizabeth, parecendo indiferente.
Seguiu-se um silêncio até a diretora falar:
– Vou deixá-las sozinhas agora. Quero minha sala inteira quando chegar.
E saiu batendo a porta.
Narcisa e a garota se entreolharam, Elizabeth parecendo arrogante com as sobrancelhas erguidas, até que Elizabeth perguntou:
– Por que arranjou briga comigo?
Narcisa respirou fundo e sacudiu os ombros, puxando um chiclete do bolso lateral da mochila.
Um silêncio desagradável se seguiu.
Narcisa examinou o rosto machucado de Elizabeth. A sobrancelha esquerda estava cortada, havia um hematoma roxo gigante na sua testa (marca que Narcisa também tinha), um nariz arroxeado, um hematoma vermelho no maxilar e outro nas duas bochechas.
– Está me olhando por quê? – perguntou Elizabeth agressivamente.
Narcisa sacudiu os ombros outra vez.
– Você não fala?
– Óbvio que sim.
– Então, por que me bateu do nada?
– Disseram-me que era valentona. Eu quis ver se era verdade.
Elizabeth riu inesperadamente.
– O que foi? – perguntou Narcisa, espantada.
– Você é tão tola.
Narcisa arregalou os olhos e depois franziu o cenho.
– Está me chamando de burra? – perguntou, se apoiando na cadeira e começando a levantar-se.
Elizabeth balançou as duas mãos ainda com um sorriso idiota no rosto.
– Não, não é nada disso. É que... Não, deixa para lá.
Narcisa sentou-se novamente, apreciando o zíper de sua mochila. Percebeu que estava tremendo. Devia ser adrenalina, talvez. Ela ainda ofegava.
A porta abriu-se violentamente, assustando as garotas.
– Bem – disse a diretora, respirando fundo. Estava vermelha. – Bem, bem. Narcisa e Elizabeth, vocês estão dispensadas. Podem ir para casa agora.
– Mas por quê? – perguntou Elizabeth, aterrorizada.
– Porque eu estou mandando. – a diretora empinou o queixo.
Elizabeth bufou, frustrada, e levantou-se, jogando a mochila nos ombros.
Narcisa imitou o gesto, passando pela diretora como um furacão.
E agora? O que diria para sua mãe? Isso se sua irmã não abrisse a matraca.
Ela e Elizabeth vagaram pelos corredores.
– Ei, hum... Nós podemos ir para outro lugar. Sabe, minha mãe morreria se descobrisse que briguei no primeiro dia. – disse Elizabeth, parecendo hesitante.
– Talvez. – disse Narcisa, balançando a cabeça. – Minha mãe me mataria. Quero dizer, vai me matar. Aonde você planeja ir?
As duas passaram pelo portão da escola. A pele pálida de Elizabeth brilhou um pouquinho com a luz do sol.
– Sei lá, existe uma cafeteria aqui perto.
– Não tenho dinheiro.
– O que você tem, então?
– Chicletes.
Elizabeth se calou, baixando a cabeça para olhar os tênis. Narcisa corou. Por que diabos não deu uma resposta um pouco melhor?
– Eu tenho algum dinheiro. Sabe, a gente pode dividir um cappuccino. E chicletes. – ela e Narcisa riram.
– Pode ser. Onde fica essa cafeteria?
– Bem perto do parque.
As duas dobraram na esquina e andaram um pouco até Elizabeth parar em frente a um estabelecimento e entrar. Narcisa apressou o passo e acompanhou a garota.
Depois de Elizabeth pedir um cappuccino (e Narcisa sentir-se muito idiota por não ter grana) elas pagaram e saíram.
– Vamos ao parque? – perguntou Elizabeth, repentinamente animada.
– Hã... tá.
As duas encaminharam-se para o parque, um lugar verde em que várias pessoas deitavam-se na grama ou caminhavam e praticavam esportes.
Elas se sentaram na grama que havia ali e Narcisa abriu o bolso frontal da mochila, pegando cinco caixinhas de Chicletes.
Elizabeth entregou o cappuccino a Narcisa, pegando uma caixinha de Chicletes e jogando tudo de uma vez na boca. Ela riu.
– Como é o seu nome mesmo? – perguntou.
Narcisa baixou o cappuccino.
– Narcisa. E você é Elizabeth, né? – ela já sabia, e só perguntou por perguntar.
– Eliza. Me chame de Eliza. – Elizabeth sorriu.
– Okay, Eliza. Por que você foi expulsa de duas escolas?
– Ah, você sabe. Agressão.
– Ah, então é verdade! – Narcisa riu. – Sério, eu não acreditava, mesmo depois disso. – ela apontou para o hematoma roxo na testa.
Elizabeth gargalhou.
As duas conversaram sobre coisas durante algum tempo, e Narcisa descobriu algumas coisas sobre Eliza. Mas Eliza também descobriu algumas coisas a seu respeito.
– Então quer dizer que você é viciada em Chicletes?
Narcisa suspirou.
– Um pouco. – Eliza lhe olhou. – Tá, sou muito viciada.
– Isso é estranho. Quero dizer, nunca conheci alguém que fosse totalmente viciado em Chicletes. – Eliza soltou um risinho pelo nariz.
Narcisa soltou um som parecido com “pff” e virou a cabeça para a esquerda. Um casal se beijava atrás de uma árvore.
– Que bonitinho. – disse Eliza, irônica.
– O quê? – perguntou Narcisa, confusa.
– O casal de pombinhos atrás da árvore. – Eliza apontou um dedo fino para a árvore onde o casal se beijava e revirou os olhos.
Elas ficaram em silêncio por algum tempo, mastigando mais e mais Chicletes, até que Eliza disse:
– Seus cabelos são bonitos. – ela pegou uma mecha que havia caído em cima do ombro de Narcisa.
– Obrigada. – respondeu Narcisa educadamente.
Ela reparou mais em Eliza. Ela não era apenas magra, branca e frágil. Seu rosto era fino e seus olhos eram meio grandes, como se ela estivesse sempre curiosa. Suas bochechas eram bem delineadas, principalmente quando ela sorria. Tinha olheiras quase imperceptíveis. O nariz era fininho e arrebitado. Sua boca era avermelhada e muito bem desenhada, não muito carnuda, mas não muito fina. Seus cabelos castanhos, que estavam amarrados em um coque apertado agora (Eliza havia feito por causa do calor), eram ondulados e bem escuros, mais que os de Narcisa. Ela também analisava Narcisa, concentrada, e enrolava a mecha do cabelo da garota nos dedos.
Narcisa envergonhou-se e olhou para baixo.
Eliza soltou o cabelo de Narcisa como se tivesse levado um choque, e estava com os olhos arregalados.
– M-me desculpe – pediu Eliza, assustada.
Narcisa balançou a cabeça e levantou-se, apanhando a mochila. Eliza também se levantou.
– Foi bom te conhecer. – falou Narcisa, tão rápido que enrolou algumas palavras.
– Te vejo amanhã? – perguntou Eliza, com esperança.
– Vá no meu velório. – disse Narcisa, sorrindo fracamente, ainda se preparando psicologicamente para chegar em casa e ficar de castigo por ter batido numa colega.
Eliza sorriu.
– Não vou poder, tenho o meu para ir. – falou, ainda com aquele sorriso largo e tão estupidamente lindo.
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