Purity. Bravery. Harmony. escrita por wathever


Capítulo 1
Prólogo




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Não havia muito o que fazer. Apenas eu sentada na areia da praia, sem um centavo no bolso e, mesmo se tivesse, não teria para onde ir.

Existem muitas coisas as quais eu me arrependo nos meus breves 16 anos de vida, quando digo muitas, são realmente muitas. Posso dizer que muitas destas "muitas" foram coisas banais, como roubar chocolate do mercado e coisas deste estilo, então estas "muitas coisas" se resumem em pouco as quais eu me arrependo inteiramente (o chocolate ainda me causou algum prazer mental por alguns instantes antes de acabar, portanto não me arrependo tanto assim). Posso dizer também que de todas essas coisas que me arrependo inteiramente, são derivadas de apenas uma, a maior burrada que já fiz na vida, burrada a qual que me fez estar sentada aqui, na areia da praia olhando para estranhos tentando inventar vidas por trás de sem rostos com falta delas.

Acho que talvez eu deva escrever sobre essa tal burrada, aliás este caderno e a caneta cor-de-rosa com que escrevo agora são as únicas coisas que me restam por enquanto.

Bom, isso tudo começou há mais ou menos quatro, talvez cinco, meses atrás. Anna, uma velha amiga tomada pelo rumo de vida alcoólica precoce devido às más influências (que logo após ser mal influênciada, influênciou a mim), havia convidado todo mundo para uma "festinha lá na rua do barulho", a rua das baladas que, por acaso, corta o bairro em que nós moramos ao meio e na qual todos os "jovens" saem para beber. Posso alegar também que destes jovens que bebem na rua do barulho apenas cerca de 2% podem beber legalmente, e destes 2% ao menos 1,5% ajudam os outros 98% a comprarem bebidas, drogas e coisas desse tipo.

Dos bares e baladas mais concorridos, pode-se dizer que o Loop era o maioral. Era para lá que nós íamos no sábado a noite.

E fomos.

Ainda me lembro do bafo do segurança da estrada dizendo que nós eramos menores de idade mas que iria nos deixar por sermos "bonitas demais para ficar vadiando nas ruas do bairro". Do lado de dentro, as luzes piscavam freneticamente ao som da batidas das músicas eletrônicas que tocavam no volume máximo e a fumaça abafando o lugar. Anna, que estava logo atrás de mim, me puxou para um canto com algumas silhuetas mais altas do que nós duas.

Me lembro de ter olhado ao redor, reconheci um dos rostos como sendo Henrique, meu vizinho e antigo amigo. Mas de todas as figuras alí presentes, uma me chamara a atenção. O carinha lá do canto, de cabeça baixa mexendo no celular, recostado no palco. Ouvi Anna nomear todos os rapazes da roda aos berros tentando vencer o barulho da música, o do canto era Rafael.

Me recostei no palco ao lado dele, ele olhou para mim com um olhar envergonhado e guardou o celular no bolso da calça.

"Eu não gosto muito de festas" disse ele chegando mais perto de mim para que o ouvisse. "Eles me disseram que a gente ía para um barzinho mais quieto".

"Já fizeram isso comigo!" disse dando de ombros na direção em que Anna estava; ela tinha me dito a mesma coisa.

A conversa fiada fluiu até que nós dois decidimos que iriamos sair dalí e ir para um lugar mais calmo, claro que tivemos que ignorar as piadinhas achando que nós íamos nos pegar em algum beco por aí, mas fomos do mesmo jeito.

Rafael à direita se equilibrando no meio fio e eu à esquerda riscando a pintura das fachadas dos bares, casas de show e afins com um pedaço de giz que tinha achado pela calçada. Apenas andando pelas ruas caçando algo legal para nos entreter nessa noite de sábado onde ninguém parecia se divertir.

Para deixar claro, nós não fomos para nenhum, nem transamos loucamente e não, eu não estou grávida e isso não faz parte da história.

Enfim, acabamos nós dois sentados num sofá do mostruário de um supermercado 24h. Ambos ainda entediados, ainda com a conversa fiada. Posso declarar que, de todas as conversas fiadas, de todas as noites entediantes, de todas as idas a supermercados 24h, essa havia sido a melhor.

Naquela noite, lembro-me de ter chego em casa perto das seis da manhã. Minha mãe me recebendo aos berros perguntando que diabos eu estava fazendo a noite toda na rua. Lembro-me também de não me importar, tudo que conseguia pensar era em Rafael, e em como eu havia conseguido gostar mais de uma pessoa em apenas algumas horas, do que de muitas outras durante anos.


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