Amor sem preconceito One-shot escrita por KaH Barbosa


Capítulo 1
Capítulo Único




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Eu sou uma garota totalmente correta, nunca fiz nada de errado na minha vida. Não tive uma fase gótica, roqueira, rebelde ou coisa do tipo. Sempre fui perfeita: não matava aula, tirava notas boas, ajudava em casa e não fiquei grávida aos 15 anos. Mas neste dia, senti que precisava fazer algo diferente.

Era o último dia de aula na faculdade, eu só voltaria ali nas reuniões com o orientador da monografia. Precisava fazer algo louco, queria extravasar e tirar toda aquela tristeza que me consumia. Eu só não sabia que neste mesmo dia meu conceito de amor mudaria.

A última aula acabou às 11h30, me despedi dos colegas e, como de costume, passei no banheiro do meu prédio. Assim que eu entrei no box vi uma carteira na prateleira que tem em cima do vaso. Abri a carteira preta e vi na identidade que era de um garoto loiro de olhos verdes. “Na certa ele estava trasando com uma destas patricinhas”, pensei. Depois de olhar mais alguns documentos notei que ele tinha R$ 800. Um dinheiro que eu nunca vi na minha vida. Eu sou bolsista na faculdade, não pago nenhum centavo graças a bolsa do Prouni, mas ele com certeza era filhinho de papai para andar com tanto dinheiro na carteira. Tenho certeza que não ia fazer falta para ele. Sai do banheiro, entreguei a carteira para a mulher da limpeza, que estava em uma das salas, e segui com o dinheiro na parte da frente da minha calça.

- Nati, vamos sair hoje? - perguntei para minha amiga de infância assim que ela atendeu a ligação.

- Você quer sair? O que aconteceu Lu?
- Quer ou não? Eu banco tudo.

- Sério? Ganhou na mega sena ou assaltou um banco?

- Vamos dizer que está mais para um assalto.

- A garota certinha está a fim de aprontar hoje, é isso?

- Talvez. Só quero fazer algo diferente.

- Ok. Te pego às oito então.

- Combinado.

Pela primeira vez fui de táxi até a minha casa. Eu não ia correr o risco de roubarem o dinheiro que tinha conseguido. A corrida deu R$ 100. Como de costume minha mãe tinha deixado almoço para eu esquentar, mas eu resolvi pedir comida japonesa. O prato mais a bebida deram R$ 45.

Depois do almoço pesquisei o lugar mais badalado de Brasília para onde os riquinhos vão. Anotei o endereço e o preço das entradas: R$ 75 cada. Já que ia para um lugar legal, precisava mudar esta cara de pobre e comprar um roupa estilosa. Peguei R$ 200 e fui pra a avenida da minha cidade. Antes de entrar em algumas lojas marquei cabeleleiro, unha, sobrancelha e maquiagem, o que totalizou: R$ 80, com desconto à vista. Entrei na loja especializada em roupas de marca. Sempre achei um absurdo pagar mais de R$ 50 reais em uma blusa, mas eu estava determinada a gastar os R$ 120 que tinha em mãos. Olhei algumas blusas e calças, mas me apaixonei pelo vestido na vitrine: curto, com estampa de onça, caimento aberto e uma franja preta no decote. Custava exatamente R$ 120, R$ 119,90 pra ser exata.

Pintei minhas unhas de francesinha, escovei o cabelo, tirei o excesso da sobrancelha e a maquiagem ficou um espetáculo, do jeito que eu queria: destacando os olhos e tirando todas as marcas de espinha. Cheguei em casa às 19h, tomei um banho, coloquei o vestido e um salto médio da minha mãe.

- Amigadocéu você está um arraso! - exclamou Natália assim que me viu - O que aconteceu? Algum boymagia na pista?

- Não mesmo. Fiz tudo isto por mim, precisava sair daquela escuridão ridícula.

- Nem acredito que estou ouvido isto - ela me abraçou - Vamos pra onde?
- Campell Rouge.

- Campell Rouge? Ta louca? Lá uma caipirinha é R$ 30.

- Tenho R$ 305 pra gente gastar a noite inteira. Depois disto a gente pode seduzir algum velho rico e fazer ele bancar a gente.

- Bancar você. Porque hoje eu me comprometo ser a amiga da vez. Você merece.

- Pago todos socos e refrigerantes daquela boatizinha para você Nati.

- Aonde você conseguiu tanto dinheiro hein? Porque este vestido é novo que eu sei.

- Já te falei, fiz um assalto.

- Ok. Depois de dois copos você me conta esta história direito.

Chegamos no Campell e demos de cara com um estacionamento pago e é claro que não tinha outra alternativa por perto. Tudo para afastar os favelados, no caso, nós. Pagamos R$ 30 no estacionamento para a noite toda. Assim que entramos fomos recebidas por dois drinks sem álcool e de graça. Sentamos em uma mesa próximo a pista de dança, nos deram uma comanda e começamos a observar o lugar. É claro que era totalmente diferente da onde a gente já frequentou, a galera não estava se comendo na pista de dança nem tinha aqueles caras mortos de bêbados cantando toda pessoa com saia que passava na frente deles.

Depois de pedir as bebidas, notei que em uma mesa em direção a nossa tinha dois rapazes que ficaram nos observando desde que sentamos. Um era o meu tipo: cabelo preto rapiado, sorriso sedutor e olhos negros. O amigo dele era loiro, olhos verdes e estava em uma cadeira de rodas.

- Acho que aquelas caras estão olhando pra gente. - disse para a Nati.

- Aonde?

- Na mesa depois do velho com a novinha. Olha discretamente.

Nati mexeu no cabelo e olhou em direção aos rapazes.

- Ele é uma gracinha mesmo.

- Vamos lá da um oi.

- Você quer dar um “oi” pra ele? - ela ficou boquiaberta.

- Pra eles você quer dizer.

- O da cadeira de rodas não conta né.

Olhei para a Natália de boca aberta. Não acreditei no que ela tinha acabado de falar. Ele era um gato, e só porque estava em uma cadeira de rodas não conta como paquera? Fiquei indignada e levantei da mesa.

Tinha muito tempo que eu não sabia o que era paquerar. Terminei meu namoro de dois anos há cinco meses e desde então não tinha colocado em prática esta coisa de paquera. O fim do meu namoro foi o principal motivo para eu entrar na fossa de vez, ele me traiu com uma prostituta e as fotos foram parar no meu WhatsApp. Difícil superar isto quando você perdeu a virgindade com aquele desgraçado.

Já estava perto da mesa deles quando eles me viram chegar. O moreno já abriu um sorriso, eu apenas retribui e falei olhando diretamente para o gato na cadeira de rodas.

- Vamos dançar?

Ele começou a querer perguntar como ia conseguir dançar, mas eu não dei tempo dele terminar a frase. Peguei na mão dele e dei um leve puxão para irmos para a pista. Ele sorriu e com a outra mão conduziu a cadeira de rodas.

Assim que chegamos na pista vi que o moreno foi até a minha mesa fazer companhia para a Nati. Estava passando uma música eletrônica e eu sorri para o garoto de olhos verdes e pedi para ele me acompanhar. No começo ele ficou meio sem jeito, mais aos poucos viu que eu realmente queria dançar com ele e se soltou mais. Percebi que várias pessoas ficavam olhando pra gente, mas ignorei. Há muito tempo não me divertia tanto. Depois da terceira música acabar, o DJ colocou uma lenta. Confesso que me desesperei. Como a gente ia dançar uma música lenta? O melhor era a gente sentar e tomar alguma coisa.

Mas ele me surpreendeu, eu cheguei perto pra sugerir pra gente sentar e ele me puxou fazendo sentar no colo dele. Sorri sem graça e ele encostou o rosto no meu, colocou uma mão na minha cintura e a outra movimentou a cadeira de rodas. Meu coração parou, ele estava suado é claro, mas o cheiro dele me fez esquecer tudo a nossa volta. Parecia que só existia eu, ele e a música.

Fechei meus olhos e estremeci quando ele colocou a boca no meu ouvido.

- Obrigada por me fazer se sentir homem de novo.

Eu sorri e encostei minha boca no ouvido dele.

- Obrigada por me conceder a melhor noite da minha vida.

Olhei para ele e ficamos nos encarando por alguns segundos. Meu coração estava em êxtase, eu não ouvia mais nada em nossa volta. Ele encostou o nariz no meu e segundos depois me beijou. A boca dele estava quente e o beijo foi tão intenso e lento quando a música. Nos beijamos mais algumas vezes e depois voltamos para mesa onde estava os nossos amigos.

No final da noite ele contou que tinha perdido a carteira dele na faculdade. E eu? Bom, descobri que pela manhã eu tinha entrado no banheiro masculino para pessoa com deficiência.


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Notas finais do capítulo

Destino? Ajuda divina? O que vocês acham que acontece para conhecermos o amor verdadeiro. Comentem!!! ;**



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