Yuzu estava deitada no sofá da sala. Com o antebraço direito levantado, apoiado em sua testa, não conseguia parar de refletir sobre o dia que passara.

“Isso… nós não saberíamos, a menos que namorássemos…”

Aquela frase não fugia de sua cabeça. Apesar dos gritos da loura para que sua meia-irmã a esperasse, foi em vão. Mei saiu apressada e não deu ouvidos aos apelos de Yuzu. O resto da tarde e a noite transcorreram sem que uma só palavra fosse trocada por elas. Apenas olhares e pequenas observações pescadas no vazio por olhos verdes e azuis.

“Eu ainda não entendo a Mei… ela fez uma expressão tão espantada quando eu finalmente tive a coragem de me abrir… e ela não consegue ser honesta comigo! Ou será que ela está sendo honesta e eu é que não vejo?”

Olhou para o relógio: 22h40.

“Eu tive que beijá-la, mesmo tendo pedido pra que ela me beijasse se, se sentisse da mesma maneira que eu… será que ela não se sente da mesma forma? Aaarrgh!” – Levantou-se frustrada.

Caminhou até o quarto e abriu a porta devagar. Mei estava deitada, de costas para ela. Dirigiu-se até o armário, pegou seu pijama e foi até a cozinha beber água. Yuzu depositou o copo na pia e ao virar-se, encontrou olhos azuis questionadores:

– Você não vem se deitar?

“É só isso que ela tem pra me dizer?”

– Eu vou dormir, mas vou dormir ali mesmo. – Apontou para o sofá e foi caminhando, passando por sua irmã.

Mei ficou olhando, seu semblante confuso:

– Eu pensei que…

– Boa noite, Mei.

– Ahn… boa noite.

Yuzu observou sua irmã voltar para o quarto. Estavam apenas as duas em casa. A mãe havia viajado com Aihara Shou, então poderia apenas dormir e não se preocupar em dar satisfações por não estar no quarto.

“Eu preciso descansar…” – Esfregou as pálpebras. – “Tenho que parar de pensar no que aconteceu hoje ou vou ficar louca!”

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A luz atravessou as janelas e a claridade foi suficiente para incomodar o par de olhos azuis, que se abriu devagar. Rolou para o lado, viu a cama vazia e o lençol esticado à sua esquerda.

“Yuzu…”

Levantou-se calmamente e abriu as cortinas, estava nublado. Pegou seu uniforme escolar no armário e caminhou para o banheiro, no intuito de tomar banho e se arrumar. Ao sair do quarto, deparou-se com uma figura.

– Bom dia, Mei.

– Bom dia. – Surpreendeu-se ao ver sua meia-irmã quase pronta. Ela usava a camisa social com os dois primeiros botões abertos e as mangas dobradas, além da saia. O blazer estava pendurado na cadeira.

“Esse uniforme cai muito bem nela…”

– Estou preparando o café. Vou deixar um pouco para você.

– Sim. Vou tomar um banho rápido. – Disse, caminhando em direção ao banheiro.

O som da porta fechando foi o suficiente para fazer Yuzu respirar fundo e voltar para a cozinha.

“Ela continua do mesmo jeito… sempre fechada. Não sei mais o que fazer… eu já me declarei e ela age como se nada tivesse acontecido.”

A frustração estava estampada no rosto de Yuzu. Puxou uma cadeira e sentou-se para tomar o café da manhã. Ouviu a porta se abrir e Mei sair pronta do banheiro. A loura olhou na direção do barulho.

“Ah… por que eu tenho que morar com você? É tão mais difícil pra mim… além disso, você fica linda de uniforme.” – Bufou com o pensamento que lhe ocorreu.

– O quê? – Reparou que Yuzu a encarava.

– Nada… er… eu já terminei, estou saindo. – Falou, levantando-se.

Mei viu a menina de cabelos louros se dirigir ao banheiro rapidamente antes de pegar a bolsa e caminhar até a porta.

– Espera, Yuzu. Eu vou com você.

– Mas você mal comeu.

– Não estou com muita fome hoje. Vou pegar as minhas coisas.

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O caminho para o colégio transcorreu normalmente não fosse pelo silêncio, que era um peso para ambas. Não era difícil notar que o clima estava desconfortável. As duas andavam lado a lado, cada uma em seu próprio mundo. E assim ficaram, durante todo o trajeto até a escola. Chegaram ao portão, ainda imersas em pensamentos, e caminharam calmamente em direção à sala de aula. Era cedo e o recinto estava vazio. Ao entrar, Mei pegou a braçadeira vermelha do conselho estudantil em sua bolsa e a colocou.

– Você pode me ajudar? Esqueci de prender em casa, na pressa. – Esticou a mão, entregando um pequeno alfinete de segurança à sua irmã.

Yuzu a olhou e fez que sim com a cabeça, aproximando-se. Mei estava segurando a braçadeira com a mão direita, quando Yuzu tocou sua mão.

– Deixa, pode soltar.

A presidente do conselho não respondeu nada, apenas olhou-a e largou a peça de tecido vermelho. Yuzu inclinou-se um pouco na direção de sua meia-irmã, com isso, o aroma suave que exalava dos fios dourados tomou o olfato de Mei.

“Esse cheiro…” – Ficou um pouco vermelha com a proximidade de Yuzu. – “me lembra ontem…”

– Eu não estou conseguindo prender direito. Chega aqui perto da janela. – Foi puxando uma distraída Mei pelo braço com força, o que fez com que a morena perdesse o equilíbrio e quase caísse.

– Yuzu, devagar! Sem zona na escola! – Esbravejou.

A loura apenas lançou um olhar reprovador.

“Sobre ontem, ela não conversa comigo e mantém a distância. Nem tem ninguém aqui, mas… de uniforme ela é a seitokaichou…”

Assim que soltou o alfinete e prendeu a braçadeira, Yuzu, alisou o tecido vermelho para conferir se estava mesmo preso.

– Taí, seitokaichou. – Yuzu olhou-a de relance e caminhou em direção à sua mesa.

Mei ficou um pouco intrigada com aquilo. Yuzu nunca a chamara assim antes.

“Seitokaichou?” – Olhou para sua irmã, que fez questão de se distanciar e ficar em sua mesa, calada.

Logo as outras alunas foram chegando e a sala foi se enchendo. Mei continuava a observar Yuzu. A loura ficou quieta até a chegada de Harumi, o que fez com que ela imediatamente se animasse e começasse a conversar. Pouco depois, o professor entrou na sala e a aula começou.

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A chuva caía fina na escola Aihara. Yuzu e Harumi estavam sentadas em um banco, na parte coberta do pátio.

– Então! Olha só isso, Yuzucchi! – Harumi puxou um papel com várias propagandas de vestidos.

– Noossa!! Deixa eu ver! – Falou animada, pegando o papel.

– E estão baratíssimos! A gente devia ir lá conferir depois da aula!

– Eu não posso ir direto depois da aula, já que é proibido e eu moro com a Mei, lembra?

– Ah, é… que droga… mas nem é que a gente nunca tenha ido fazer nada depois da aula né Yuzucchi? Proibido? Hummm! – Fez uma cara maliciosa.

– Hahahaha!!

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As representantes do conselho estudantil estavam com diversos cartazes nas mãos, substituindo avisos antigos nos murais. Himeko falava várias coisas mas nenhuma delas era absorvida por sua interlocutora. Mei não tirava os olhos de Yuzu, que parecia estar muito à vontade na presença de Harumi.

– Não acha, kaichou?

A morena arregalou os olhos em surpresa e se voltou para a fukukaichou.

– Desculpe… pode repetir?

Enquanto a vice falava, a presidente do conselho apenas ouvia-a, sem tirar os olhos da outra Aihara sentada do lado oposto do pátio.

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Yuzu voltou para a sala de aula conversando alegremente com Harumi. Entraram na sala apressadas, antes que o sinal tocasse e foram repreendidas imediatamente por Himeko, com quem quase trombaram.

– Sem correria, vocês duas!

– Momokino-san, calma menina! Você tá muito estressada, filha… – Harumi piscou um olho e deu tapinhas no topo da cabeça da fukukaichou.

Mei ficou só olhando a cena. Quando reparou que Yuzo a fitava, se aproximou.

– Yuzu…

A loura passou por ela e não respondeu, indo sentar direto em seu lugar. A frieza de Yuzu era estranha à Mei.

“Ela está… me evitando?”

– Argh! Taniguchi-san!! – Himeko foi atrás de Harumi e as duas continuaram a conversa acalorada.

Yuzu, sentada em sua mesa, só observava tudo. Com o soar do sinal e a entrada da professora, a discussão cessou e os pensamentos começaram, novamente, a povoar-lhe a cabeça.

“Ontem, quando beijei a Mei, ela me beijou de volta… só que isso pode não significar muita coisa, já que pouco antes eu pedi e mesmo assim, ela não me beijou. Ela só me beijaria caso se sentisse como eu, porque foi o que pedi. Eu me abri… eu fui honesta e consegui transmitir meus sentimentos, finalmente… mas… pra quê?” – Olhou de relance para a sua irmã, que prestava atenção na professora.

“Pensando bem… sobre a noite de Natal, acho que o que ela quer comigo é só físico… não é amor. É como o que ela tinha com o Amemiya-sensei. E eu não sei lidar com isso… eu preciso ficar longe dela ou eu não vou aguentar. Essa situação está muito difícil pra mim. Vai ver ela gosta de outra pessoa… porque pelo jeito, não é de mim que ela gosta de verdade…” – Abaixou a cabeça distraída e bateu-a na mesa com tamanha força, que metade da turma a olhou.

– Itaaaaa!! – Levou as mãos à testa. – G-g-gomen nasai!! – Falou, ruborizada, para a professora, que apenas olhou para o alto fazendo que não com a cabeça e continuou a explicação.

Mei cobriu os olhos e baixou o rosto, enquanto a vergonha alheia tomava seu ser. Em seguida, olhou pasma para sua irmã.

“A Yuzu está estranha…”

– Tudo bem Yuzucchi? – Sussurrou Harumi.

– Tô bem, tô bem! – Respondeu, constrangida, esfregando a testa.

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A chuva continuava a cair na escola, enquanto as alunas recolhiam seus pertences após o final da aula. Yuzu e Harumi conversavam com entusiasmo no mesmo momento em que Mei arrumava suas coisas para ir para a sala do conselho. Ela ficou observando Yuzu sair da sala sem, nem ao menos, se despedir.

“Ela nunca vai embora sem falar comigo…”

– Meimei? – Himeko aproximou-se.

– Sim?

– Vamos?

– Vamos, claro. – Sacudiu a cabeça na tentativa de espantar os pensamentos e seguiu com Himeko para a sala do conselho estudantil.

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Era quase noite quando Mei finalmente chegou em casa. Yuzu estava na cozinha quando ouviu a porta bater.

– Estou em casa!

O cheiro de comida estava chegando até a sala. Mei colocou suas coisas na cadeira e se dirigiu até a cozinha.

– O cheiro da comida está muito bom. – Mei falou, se aproximando de Yuzu, que desviou dela e abriu a geladeira. A morena apenas respirou fundo e baixou a cabeça.

“Sim, ela está me evitando…”

– Que bom.

– Vou esperar na sala. – Pegou os talheres e os pratos e saiu.

– OK.

Mei estava sentada à mesa, quando Yuzu trouxe a comida e elas se serviram. Durante o jantar, mais uma vez, o silêncio foi o dono do ambiente na casa dos Aihara. A loura levantou-se, pegou seu prato vazio e levou para a cozinha, deixando Mei estupefata, sentada na sala.

“Isso não pode continuar assim…” – Pensou a irmã mais nova, que foi se levantando com o prato vazio em mãos.

Yuzu estava no fundo da cozinha, em pé, mexendo no armário. Mei colocou o prato na pia e observou a outra Aihara que, assim como ela, ainda vestia o uniforme da escola. Mei mordeu seu lábio inferior e caminhou até a loura. Yuzu notou a presença da morena perto demais.

– Yuzu… – Agarrou-a pelos pulsos e prensou-a contra a parede.

– Chega, Mei! Me larga!! – Puxou os braços das mãos de sua meia-irmã e a empurrou. As lágrimas já começavam a se formar em seus olhos.

– Mas ontem…

– Eu estava enganada com relação a você… eu estava enganada com relação a tudo… isso é muito difícil pra mim. Eu… não sei de mais nada… – As lágrimas desciam pelo seu rosto como cascatas. Yuzu correu até a sala, vestiu o blazer do uniforme e pegou sua bolsa, batendo a porta da rua atrás de si. Mei foi até a entrada da cozinha e ficou olhando para a porta de saída, incrédula.