As roupas ficavam largas demais em seu corpo magricela, qualquer tipo de esporte o deixava ofegante e sempre caia e rasgava os joelhos da calça. Seu cabelo não tinha um corte legal e nem podia deixar crescer como o do seu melhor amigo, pois ficaria parecendo um mendigo. Sua pele parecia que era desbotada e nem sabia definir que cor eram seus olhos.
João passou a mochila pelos braços e estava se sentindo uma tartaruga com aquela coisa enorme nas costas. Odiava seu corpo, sua aparência, sua voz, odiava tudo nele. Não conseguia que nenhuma garota passasse meia hora sequer com ele. A única do sexo feminino que falava com o garoto era sua mãe e a namorada do seu melhor amigo, Karina. Mas nenhuma das duas contava.
Sua mãe sempre falava que alguém iria gostar dele exatamente do jeitinho que ele era, o garoto duvidava disso. Já Karina mandava ele calar a boca e parar de drama.
Essa era a triste realidade de João Spinelli, era quase digno de pena, se não fosse o último mês da sua vida…

Era a última aula e Bianca não via a hora de sair correndo, mas nos últimos 10 minutos para o sinal bater, a professora de artes pediu silêncio e chamou a atenção de todos.
– Como a maioria de vocês estão com a média bem baixa.- Começou ela olhando para alguns alunos, incluindo Bianca- Eu quero passar um trabalho para toda a sala.
Todos resmungaram e lamentaram, os trabalhos da professora eram sempre os mais malucos e fora de nexo possível.
– O tema é transformação humana.- Falou a professora escrevendo as duas palavras na lousa.- Eu quero que vocês tragam uma pessoa e a mude, da água pro vinho.- Fez uma pausa para ver se os alunos estavam entendendo.- Mas não apenas o cabelo, a roupa, mas em tudo, estilo, cabelo, postura, linguajar e até a maneira de pensar.
– Mas professora isso é impossível.- Falou Bianca indignada com o que a mulher estava pedindo.
– Bom Bianca, tem alunos aqui que nem vão precisar se dar o trabalho de realizar essa tarefa.- Olhou para Ruiva e sorriu.- Mas não é o seu caso.- A mulher abriu o diário e encarou a garota novamente.- No bimestre anterior você tirou zero, então, se pretende passar de ano, sugiro que faça ser mais do que possível.
Bianca suspirou e esperou bater o sinal para sair da sala.

(...)
No outro dia de manhã Bianca se juntou as duas meninas e, como imaginava, o assunto era o trabalho de artes.
– Aquela mulher me odeia, como ela fala a minha nota para sala inteira ouvir?- Bufou Bianca.
– Ela odeia todo mundo, não se sinta exclusiva.- Jade e Bianca não eram as melhores amigas, mas tinham que se suportar pois tinham muitos amigos em comum.
– É só um trabalho Bi, você vai tirar de letra.- Falou Ruiva tranquilizando a garota.
– Espero mesmo que você esteja certa.- Falou Bianca bufando.- Eu fiquei até tarde da noite pensando em quem poderia “transformar”, mas não achei ninguém.
– Olha Bianca, eu pensei em um cara, mas pode ficar com a minha ideia, você precisa mais do que eu.- Disse Ruiva simpática.
– Ai amiga, você faria isso por mim?- Questionou Bianca emocionada.
– Ok meninas, meu teor de açúcar está altíssimo.- Jade se levantou e deixou as duas garotas sozinhos.
Bianca colocou o dedo na garganta fazendo um gesto dizendo que a garota lhe enojava.
– Deixa ela.- Falou Ruiva.- Então, eu pensei no João Spinelli.
– Aquele magrelo amigo da Ká?
– Esse mesmo.
– Não sei se ele toparia.- Bianca não parecia confiante.- Ele é tão na dele.
– De uma chance para o cara.- Incentivou Ruiva.- Aproveita e vai falar com ele, ele tá bem ali sentado sozinho.
João estava com um celular na mão, sentado sozinho jogando joguinho e distante de tudo que nem notou quando Bianca chegou e se sentou perto dele.
– Olá.- Falou Bianca assustando o rapaz que caiu do banco sujando a roupa de terra.- Desculpa, não queria te assustar.
– Bianca Duarte? É você mesmo?- Questionou João surpreso.
– Sim, sou eu.- Bianca estava achando o cara muito esquisito.
– Por que você está falando comigo?- Nenhuma garota iria falar com João, muito menos uma das garotas mais popular da escola.- Já sei, quer que eu faça o seu trabalho de física novamente? Por que não mandou a Ká pedir para mim?
– Não, não, não é nada disso. Na verdade, eu queria que você fosse o meu trabalho de artes.- Falou Bianca e fez uma das sobrancelhas do rapaz arquear.
– Trabalho de artes?
– Sim… Já ouviu falar em transformação humana?- Bianca sorriu tentando parecer tranquila.