Diga Adeus à Inocência escrita por Mahfics


Capítulo 48
16.


Notas iniciais do capítulo

Se eu não conseguir postar um capítulo amanhã quero desejar um ótimo Ano Novo para vocês ♥ Que ele seja recebido com muita alegria na casa de vocês ( ou em qualquer lugar que vocês pretendem recebê-lo). Agradeço de coração os comentários de vocês ♥ Se não fossem vocês Diga Adeus à Inocência não teria estória para contar em 2016.
Boa- leitura!



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A vida é cheia de primeiras vezes e em uma noite consegui quebrar duas: atropelei uma pessoa e fui presa. Não estou preocupada em ficar anos na cadeia, porque acredito que mereço isso – só estou mais tranquila em saber que a Helen não morreu e de ter conseguido assistir seu resgate, Juliana seguiu para o hospital e eu, cadeia. Minha ligação foi para a minha mãe e creio que ela já deve estar aqui na cidade ou chegando. Estou com vergonha de olhar para ela ou de falar com ela. De acordo com o delegado, não vou pegar uma pena – mesmo se condenada -, graças ao judiciário de nosso país que considera isso como culpa consciente. Talvez tenha que responder na justiça caso a Helen faça a denúncia. Posso ter esperança de fiança.

– Mas o senhor tem que acreditar em mim. – escuto a voz de minha mãe – Ela é uma boa menina e tenho certeza que ela não teve a intenção de atropelar uma pessoa hoje.

Aproximo-me da grade.

É horrível ficar aqui, parece que as paredes começam a se aproximar mais até dar a sensação que você será esmagado por elas.

– Ser boa não a livra da irresponsabilidade. – escuto a voz do delegado.

Eles estão se aproximando. Encosto a cabeça na grade e respiro fundo. Consegui afundar minha vida na merda agora. Villa Lobos é uma praga.

As portas metálicas são abertas com um estrondo, mas não os vejo ainda, estão em meu ponto cego. Posso escutar seus passos.

– Tenho uma ótima equipe de advogados. – minha mãe insisti – Iremos entrar com um recurso.

Finalmente, posso vê-los. Os olhos da minha mãe queimam os meus, ao mesmo tempo que esbanjam decepção. Tenho vontade de bater minha cabeça na parede e ficar por aqui mesmo, deixando as paredes me engolirem.

– Não vamos precisar de advogados, senhores. – uma terceira voz de sobressai.

Ergo o olhar para identificá-la e encontro os olhos do Malic – só que não são os seus olhos propriamente ditos, são olhos mais afeminados. Franzo o cenho. O que a mãe dele faz aqui?

– Creio que o senhor tem alguém pior para prender do que a Bianca. – ela observa – O senhor mesmo comentou que ela não está tão bêbada para receber uma pena mais rigorosa. Digamos que foi acidental. – ela me encara.

Encaro minha mãe. Alguém pior para prender.

– Helen não prestará queixa. – ela informa – Mesmo Bianca quase a matando, não foi a verdadeira assassina.

Como assim? Não estou entendendo mais nada. Minha mãe parece ter a mesma reação que eu e nossas caras nos denunciam, pois o delegado começa a explicar a situação rapidamente:

– Você não atropelou a Helen por embriaguez ou excesso de velocidade, o atropelamento foi algo proposital de outra pessoa. – ele retira uma chave do bolso – Havia outra pessoa com a Helen e foi essa pessoa que a empurrou para a frente de seu carro. Era impossível evitar o atropelamento.

Aquela pessoa na viela...

– Eu vi essa pessoa – encaro-os -, sua sombra, mas ela ficou um bom tempo lá parada.

Como se estivesse se certificando que a Helen estava morta.

– Por favor. – a mãe do Malic encara o delegado e depois a grade.

Com um pouco de força, ele puxa a porta para o lado e me libera. Encaro minha mãe com o olhar baixo, além do medo.

– Vamos conversar em casa. – ela sussurra.

Engulo seco. A Helen não morreu, mas eu morro.

Voltamos para a parte da frente da delegacia, onde minha mãe se encarrega de assinar papeis e pegar meus bens. Meu carro ficará detido por alguns dias e minha carteira é apreendida.

– A Helen está bem? – encaro a mãe de Malic.

– Não, mas ficará. – ela mantém a postura ereta e a feição rígida.

– Vamos embora. – minha mãe se aproxima, segurando em meu braço.

– Gostaria – a mãe de Malic a interrompe -, de trocar algumas palavras com a sua filha.

Mamãe ergue uma sobrancelha e me lança um olhar estreito.

– Apenas uma conversa. – a mulher insisti.

– Onde? – minha mãe ergue a sobrancelha e solta meu braço.

– No meu carro. – a mulher dá de ombros – Mas posso levá-la ao meu apartamento.

– Poderá levá-la para casa de novo ou devo esperar?

– Levo.

– Fique com o celular ligado. – mamãe me entrega um saco plástico com meu celular e a bolsa.

Observo-a sair da delegacia a passos rápidos e determinados. Aguardo alguma instrução da mãe de Malic.

– Creio que não fomos devidamente apresentadas – ela me estende a mão -, Madallena.

– Bianca. – aperto-a.

– Vamos para o meu carro, por favor.

Saímos da delegacia e entramos no primeiro carro estacionado rente a guia daqui. Coloco o sinto e me remexo. Fico desconfortável ao lado dela. Ela entra, joga a bolsa para trás e liga o carro. Seguimos pela avenida.

Faz-se um silêncio constrangedor.

– O que a senhora gostaria de falar?

Ela me encara rapidamente.

– Desculpa ter passado aquela primeira impressão no apartamento do Malic, você me pegou em um dia ruim. Meus filhos conseguem me tirar do sério e o Malic o faz constantemente. Quando essa moça ligou falando do filho, já previ como seria o futuro disso tudo e bem, ele se concretizou. – ela suspira – Eu sabia que o Malic não iria cuidar dessa criança, francamente, ele não sabe cuidar dele mesmo.

Isso é um fato. Madallena mantém o olhar para frente – contudo, não consegue esconder seu devaneio.

– Ele já falou sobre a Helena?

– Sim. – murmuro – Mas o que tem ela com isso tudo?

Ela suspira.

– Você é jovem, Bianca, ainda não teve a oportunidade de conhecer as malesas da vida. – ela me encara rapidamente – Como mãe tenho a obrigação de proteger meus filhos e, nesse momento estou te tratando como uma filha minha. – ela respira fundo- O principal assunto é: tenho medo que esse amor de Malic por você seja algo doentio, uma brincadeira da cabeça dele.

Meu coração acelera. O que?

– Depois da morte dela, ele mudou da água para o vinho. Seu comportamento não era mais o mesmo e o remorso que sentia correu completamente seu ser. Ele ficou obcecado com tudo que dizia a respeito do assassinato e sobre os suspeitos, virou quase um investigador particular, enlouqueceu. Tive que levá-lo em psicólogos e terapeutas durante um ano, ele tinha pesadelos com a Helena e falava que via sua alma pela casa. – ela sorri amargamente – Todo o amor que ele não teve por ela em vida se transformou em dor e remorso em morte.

Malic não comentou que havia ficado tão mal com a morte dela.

– Ver você no apartamento dele foi um choque. Eu estava vendo a minha filha, minha menina. Aquele dia estava muito nervosa para ter um tempo para pensar, mas isso mudou no casamento da Helen, quando ele desistiu de tudo e foi embora. Sabia que estava indo atrás de você e eu tinha certeza que ele te encontraria nem que você estivesse no inferno. – ela diminui a velocidade do carro – Foi então que percebi o quão medonho é esse amor que ele sente por você.

As batidas de meu coração diminuem junto com o carro, causando uma dor aguda em meu peito.

– Malic transformou toda a dor que sentiu com Helena em amor por você. Mas não um amor saudável como o de um namorado normal, o amor que Malic sente por você é doentio, possessivo e até mesmo perigoso. Você nunca percebeu? O jeito aquisitivo dele em cima de você? Principalmente com outros homens.

Ai Meu Deus. Tento obrigar a mente a não conciliar as coisas que o Malic já fez com o que ela está falando. Infelizmente, faz sentido. Quero chorar.

– Você é a Helena para ele e não, Bianca. – ela para o carro e segura minha mão – Não estou fazendo isso para te assustar, longe disso. Estou te avisando. O Malic pode parecer ser um menino gentil e carismático, mas essa é apenas uma face dele.

Engulo as lágrimas com dificuldade.

– Tentamos fazê-lo voltar para seus tratamentos psiquiátricos, mas ele se recusa. Em sua cabeça, está curado. Porém, não está. Saia dessa alucinação enquanto a tempo, filha. – ela aperta minha mão – Você não sabe do que ele é capaz. Eu sei.

Uma dor aguda se pronuncia em minha garganta.

– Se ele é tão ruim assim, por que deixaria ele casar? – minha voz sai embargada.

– Julguei que com o casamento e com o filho, ele se afastasse de você e esquecesse essa alucinação. Estou, completamente, errada. Está mais grave do que eu imaginava. Senti a necessidade de te avisar, alertar e salvar.

Engulo o choro mais uma vez. Olho para fora da janela e noto que estamos em frente à casa da minha vó. Como?

Abro a porta do carro e coloco o pé para fora.

– Mais uma coisa. – ela ressalta.

Volto o pé para dentro e encaro-a.

– Também existem pessoas que odiavam a Helena aqui e conseguiram acabar com ela. – ela diz com a voz tão embargada quanto a minha – Esse ódio já conseguiu alcançar você e acredito que em uma proporção muito maior que o de minha filha. Essa cidade é um inferno com seu passado, Bianca. Não consegui salvar minha filha, mas estou aqui para salvar você.

Paraliso.

– Saia daqui enquanto ainda é inocente na vida. – ela conclui.

Mesmo paralisada, consigo escorregar para fora do carro e caminhar até o portão – graças à Deus minha vó mantém o hábito de deixá-lo destrancado para que eu consiga entrar depois das festas caso perca a chave. Arrasto os pés até a varanda e não consigo continuar.

Posso chorar aqui.

Escoro o ombro na parede e permito que meu corpo desabe em lágrimas. Por que isso aconteceu comigo? Por quê? Que tipo de desgraça eu possa ter cometido para receber esse castigo?

A voz de minha mãe do lado de dentro me assusta. Enxugo as lágrimas e engulo o choro, abro a porta e entro.

– Para a cozinha. – ela diz, séria.

Obedeço em silêncio e sento à mesa.

Não demora muito para ela e minha vó começarem a falar. Não me importo em escutar, sei que mereço escutar muito mais que isso. Contudo, não assimilo nada do que estão dizendo. Minha cabeça só se prende ao que Madallena me disse.

“- Aí. – murmuro enquanto observo ele passar na frente do carro e abrir a porta – Por que não arrancou meu braço?

– Por que você não agarrou ele ali mesmo? – ele devolve um olhar frio. “

“- Eu amo você e não importa o quanto eu negue isso para mim mesmo, sou apaixonado por você desde que trombamos na trilha e me apaixonei mais quando você foi naquela festa e eu sempre me apaixono por você, todo dia amo mais um detalhe seu. “

“- Minha ausência não significa minha vontade. – ele sussurra – Em momentos de pura loucura o rosto de Helen se transformavam no seu, podia escutar sua voz no apartamento e até sentir seu toque. Era insuportável lembrar de você e não poder vê-la, além do ódio que me consumia em lembrar do seu beijo em Matthew. Se você queria me atingir com aquilo... Acabou me matando. “

“- Isso- ele acerta um soco no queixo de Heitor, que cambaleia para trás e escora as costas na parede-, é pra aprender a não mexer com a namorada dos outros. “

” *Vcs podem ser parecidas, mas sei que são pessoas diferentes. * “

“*Amo as duas, td bem? Cada uma tem um tipo de amor e desfecho* “

“- Não quero ser apenas uma sensação. – ele estreita os olhos – Não quero ser algum abstrato para você. “

As lágrimas borram minha visão e não consigo encontrar um argumento que vá contra o que a Madallena me disse. Como isso pode ser possível? Soluço e desencadeio meu pranto. Deito sobre a mesa e cubro meu rosto. As duas param de falar.

– Acho que estamos pegando pesado demais com ela. – posso escutar vovó comentar.

Aos poucos minha audição vai ficando abafada até eu escutar apenas chuviscos da realidade. Não quero saber o que elas estão falando, só quero me esconder embaixo da cama e nunca mais sair. Ele nunca me amou de verdade, ele ama a personagem que criou para mim. Helena. Talvez ele nem me enxergue como Bianca.

– Bianca... – minha mãe toca meu ombro e sou capaz de escutar novamente.

Viro e abraço-a, afundando minha cabeça em sua blusa. Gostaria de voltar para seu útero.

– Aí, mãe, dói tanto. – sussurro.

Ela acaricia minha cabeça.

– Você é uma boa menina. – ela sussurra – Vamos resolver tudo isso.

Não vamos, não. Não o que quero resolver.

“- Eu amo você. - um sorriso débil se forma em meus lábios e antes que eu possa responder, ele me beija. A adrenalina toma conta de meu corpo e eu quero gritar. “

Malic foi um sonho. Daquele que você não querer abrir os olhos, mesmo já acordada, para não perde da memória o que sonhou. O tipo de sonho que você quer ter noites seguidas, que você nunca cansa. Você tem medo de acordar. Hesitação em esquecer os deliciosos detalhes. Quer viver todas as emoções possíveis. O mundo real não mais tão convidativo quanto a cama e o sonho. Tudo que você faz te lembra o devaneio. E eu... Aconteceu que eu

Abri os olhos.


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Notas finais do capítulo

Sobre ela atropelar: Juro de coração que pesquisei na internet e com um pai de uma amiga que é advogado sobre o que deveria acontecer com a Bianca, por falta de certeza (porque a Bianca foi meio que vítima tanto quanto a Helen) resolvemos deixar o carro e a carteira apreendidos.