As mãos de Emma suavam quando apertou a campainha da casa da morena, estava nervosa, decidiu de última hora que iria até a mulher e falaria tudo o que sentia e pediria pra que elas ficassem juntas. Ouviu o barulho de passos atrás da porta da mansão e prendeu a respiração sem ao menos perceber.

A mulher abriu a porta e avistou Emma a olhando em expectativa, estava surpresa com a visita.

“Emma?”

“Hey...” cumprimentou mordendo levemente o lábio e apreciando a beleza da mulher a sua frente. “Eu vim aqui para dizer...”

Regina arqueou uma sobrancelha esperando a mulher terminar de falar.

Emma tinha ensaiado tantas vezes o diálogo que teriam, as palavras, mas assim que seus olhos avistaram a morena a sua frente parecia que todas as palavras haviam se esvaído de sua mente. Respirou fundo mais uma vez antes de começar a improvisar.

“Eu sei que você disse que não tínhamos nada, que aquilo não significou nada para você, mas... Eu amo você, Regina. Eu tentei esquecer tudo, eu tentei seguir em frente, mas eu não consigo, eu amo você, eu penso em você o tempo todo e não consigo tirar você da minha cabeça.”

Regina olhava para Emma atônita com toda aquela situação, nunca iria esperar aquilo da loira, ouviu seu nome ser chamado dentro da sua casa e fechou os olhos por alguns segundos antes de mirar Emma que a olhava confusa.

Ela também ouvira.

“Emma...” começou a falar, mas antes que continuasse a loira a cortou já havia entendido o recado.

“Você está com outra...” afirmou.

Regina não desmentiu, apenas a olhou com semblante culpado. O que deveria falar? Que era verdade? Não achava justo com Emma.

“Ok, acho que é minha deixa para eu ir embora.” Deu um sorriso forçado antes de começar a se afastar da casa da morena que ainda a olhava.

Seus olhos estavam marejados, e sentia seu peito se rasgar, queria chorar, mas não faria isso na frente de Regina. Ela deveria saber que estava sendo uma idiota por se declarar por alguém que já tinha deixado claro que não queria nada com ela, que nunca ia acontecer.

You can't hear me cry

See my dreams all die

From where you're standing

on your own

Segurou o choro até chegar em casa, seu peito doía ao imaginar Regina beijando outros lábios, abraçando outra pessoa, sussurrando que amava outra, cada imagem uma pior que a outra invadia sua mente nublando seus pensamentos coerentes, as lágrimas escorriam enquanto ela apertava mais o volante do carro, enfiando as unhas nele, tentando aplacar a dor que tinha dentro de si.

Chegou a casa e jogou a chave em cima da mesa, a primeira coisa que fez foi procurar em seu armário uma garrafa de bebida. O que era melhor para afogar as dores de um amor não correspondido do que whisky? Encheu o copo com uma dose maior do que o normal e virou, a bebida desceu queimando sua garganta na primeira vez, mas nas outras começou a não sentir mais nada, sua mente estava completamente tomada pelo álcool.

Não sentia nada, não havia mais dor, apenas um mundo de torpor.

Deitou-se no sofá e ficou fitando a televisão que passava um programa qualquer, um programa que ela não fazia ideia de qual era, mas a fazia rir como nunca antes.

O álcool certamente era o melhor remédio, talvez.

Já havia se passado uma semana, depois que Emma se embebedou prometeu nunca mais beber de novo, a dor de cabeça e a falta de disposição para trabalhar não compensavam por algumas horas de alegria. Ou talvez sim, se fosse para tirar aquela dor que ainda sentia.

Estava cansada, Storybrooke não era um lugar difícil de trabalhar quando não tinha vilões para derrotar, ou filho para resgatar, normalmente o dia de trabalho de Emma era fazer patrulha e mexer com papelada. O grande problema de tudo era que Emma não conseguia se concentrar, uma maldita semana e ela não conseguia pensar em nada além de Regina; Regina com outro alguém; Regina beijando outro alguém; Regina rindo com outro alguém; Regina beijando outro alguém. Era um inferno, uma tortura.

Sua irritabilidade na última semana assustava a todos, ela não tinha paciência, tudo a irritava, e tudo a incomodava profundamente.

Assim que chegou a sua casa finalmente se jogou no sofá, Henry ficaria com Regina aquela noite, o que significava que Emma não teria nada pra fazer além de ficar repassando tudo em sua cabeça.

Olhou para os cantos da casa, lembrando-se de Regina e ela, os beijos ainda estavam vivos em sua memória, os toques, as palavras, e as conversas enquanto comiam qualquer besteira que Emma insistia para Regina experimentar.

It's so quiet here

And I feel so cold

This house no longer

Feels like home

Quando começaram a se envolver era apenas sexo, Regina havia avisado, nunca seria mais que isso. Emma aceitou prontamente, mas nunca imaginou que seu coração pudesse se apaixonar por ela. Não esperava por aquilo, quando Regina cansou dela e terminou tudo Emma não estava esperando, foi um dia depois de Regina dizer que gostava dela, ela remoía aquelas palavras em sua mente. Obviamente achando que poderia ter sido uma mentira, ou impulso. Emma não sabia o que pensar sobre a morena, ela a deixava confusa.

When you told me you'd leave

I felt like I couldn't breath

My aching body fell to the floor

Then I called you at home

You said you weren't alone

I should have known better

Now it hurts much more

As semanas se passavam lentamente, Emma evitava ver Regina, não queria vê-la porque sabia o quanto ia doer, afinal doía sem ao menos vê-la, imaginava o quanto ia maltratar seu coração olhar para a morena sabendo que ela estava com outra pessoa.

Seus pais notaram sua ausência constante, as palavras vagas, e o olhar sempre perdido, e tentavam em vão fazer a loira falar. Era óbvio que Emma não poderia dizer, afinal, ninguém sabia sobre aquilo, era um segredo, como contaria que estava apaixonada por Regina?

Emma se sentia uma tola por ainda pensar nela após semanas, por ter se deixado apaixonar sendo que sabia que nunca iria passar de sexo para a morena. Mas quem poderia comandar o coração? Como fazia para esquecer alguém quando se amava tão profundamente?

Emma suspirou fundo e tirou a jaqueta do encosto da cadeira para enfim ir embora da delegacia, ficar horas lá sem fazer nada só a fazia pensar mais e mais na situação.

You caused my heart to bleed and

You still owe me a reason

Cause I can't figure out why

Chegou ao apartamento onde morava e a primeira coisa que notou foi o vazio que sentia ao entrar naquele lugar, antes era o primeiro lugar que buscava para poder ficar sozinha, agora sempre que entrava ali, sentia um frio, um vazio tão grande que sua vontade era voltar e ficar na delegacia. Aquilo lá não parecia mais uma casa.

Why I'm alone and freezing

While you are in the bed that she's in

And I'm just felt alone to cry

Ouviu duas batidas na porta e esperava por Henry, só não fazia ideia do porque ele bateria, já que tinha a chave de casa. Foi até a porta e a abriu.

Não era Henry.

Seu coração acelerou ao ver quem era, o sorriso tímido no rosto da mulher, Emma a encarava chocada demais para dizer algo.

Regina vendo a reação de Emma decidiu tomar as rédeas da situação.

“Então, posso entrar, Swan?” indagou um pouco divertida tentando tirar a tensão da situação.

“Ok” respondeu apenas abrindo a porta e indo o mais longe o possível da morena.

Regina notou aquilo e suspirou pesadamente ao fechar a porta.

“Emma, olhe sobre aquele dia, me desculpe... Eu...” começou a falar enquanto Emma continuava parada olhando para ela no meio da sala, distante de Regina.

“Não, sério. Regina, não quero suas desculpas.”

Ela não entendia que aquilo não ajudava em nada? Três semanas e ela estava indo muito bem, ou tentando ao menos. Até Regina aparecer, e bagunçá-la novamente. Ela apenas queria que Regina seguisse em frente, e a deixasse em paz. Que fosse muito feliz com sua nova namorada, ou seja lá o que elas eram.

“O quê? Por que não?” indagou surpresa.

“Porque você não tem a menor obrigação de corresponder meus sentimentos.” Respondeu simplesmente.

E recebeu como resposta uma risada de Regina.

“É isso que você acha?”

“É isso que eu acho sim.” Balançou a cabeça confirmando.

Ela só podia estar caçoando com a cara de Emma, e a loira não estava gostando nada daquilo.

Regina sorriu novamente e tentou se aproximar de Emma que entrou em pânico indo mais para trás.

“Você é uma tola, Emma Swan”.

A loira revirou os olhos.

“Conte-me uma novidade que eu não sei.” Irritou-se. Aquilo era bem óbvio.

“Mas não pelos motivos que você acha.” Emma arqueou uma sobrancelha com a resposta. “Você é uma tola por achar que eu não correspondo seus sentimentos.”

“Como é?” sentiu seu coração acelerar com a frase e a aproximação de Regina não ajudava em nada.

Ela sorriu e vendo que não tinha mais para onde Emma fugir a encurralou na parede, tocou seu rosto levemente e sentiu o corpo da morena arrepiar. Sentia tanta falta daquela pele macia, daquela boca, contornou os lábios macios da loira e suspirou.

“Eu também amo você.” Disse atraindo um olhar desacreditado da loira para si. “É sério, eu te mandei embora, te afastei porque...” engoliu em seco, suas mãos entrelaçaram nas de Emma antes de continuar. “Porque era mais fácil, eu não achava que merecia alguém como você, então eu me afastei, eu deixei que pensasse coisas que não eram reais, eu sabia que você iria me esquecer...” O olhar de Emma encheu-se de lágrimas ao ouvir aquilo. “Mas eu não conseguia te esquecer, eu te fiz sofrer, me desculpe.”

Emma não sabia o que dizer, aquilo tudo era surreal demais. Ela pensava não ter um final feliz, que talvez tivesse nascido para ser apenas a salvadora e nada mais, depois de Regina pensou que talvez isso fosse a coisa certa. Mas ali estava ela parada se declarando e ela só conseguia pensar em socar a cara dela, e ao mesmo tempo beijá-la.

“Eu realmente estou com vontade de socar você por me fazer acreditar naquilo.” Disse tentando soar séria, mas seu semblante vacilou com o sorriso que queria dar de alegria.

Regina gargalhou e a puxou para mais perto roçando seus lábios nos dela.

“Eu senti muita falta do seu beijo”.

Emma sorriu e capturou seus lábios num beijo lento, um beijo cheio de saudades.

“Acho que podemos discutir nosso relacionamento outra hora, certo?”

Regina a olhou por alguns segundos antes de concordar com a cabeça.

“Então, certo, pois agora quero apenas beijar você.”