Pretty Little Liars - Maldosas Readaptação escrita por Maya Cavalcante


Capítulo 1
Como Tudo Começou


Notas iniciais do capítulo

Sera Mudado Apenas os Nomes dos Personagens:-Alison DiLaurentis > Anahi Potilla-Aria Montgomery > Ashley Greene-Hanna Marin > Kristen Stewart-Emily Fields > Dulce Maria-Spencer Hastings >Avril Lavigne-Melissa Hastings > Angelique Boyer-Jason DiLaurentis > Austin Mahone-Mona Vanderwall > Maite Perroni-Chassey Bledsoe > Zoraida Gomez-Phi Templeton > Estefânia Vilarell-Ian Thomas > Diego Gonzales



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Imagine que estamos alguns anos atrás, no verão, entre o sétimo e o oitavo ano. Você está bronzeada de tanto tomar sol à beira da piscina, está usando seu suéter da Juicy (lembra de quando todo mundo tinha um?) e pensando em seu pretê, o garoto que estuda naquela escola cujo nome nós não mencionamos e que trabalha na Abercrombie do shopping.Você está comendo seu cereal matinal favorito, Cocoa Krispies, do jeitinho que mais gosta — mergulhado no leite desnatado — e vê a cara dessa garota na lateral da caixa de leite.

DESAPARECIDA.

Ela é bonitinha — provavelmente mais que você — e tem um ar briguento.

Daí você pensa:

"Hum, talvez ela também goste de Cocoa Krispies empapado". E pode apostar que ela também acha o menino da Abercrombie bem lindo.Você se pergunta como alguém tão... hum, tão parecida com você, desapareceu. Você achava que só as meninas que participam de concursos de beleza acabassem na lateral de caixas de leite.

Bem, pense melhor.

Ashley Greene afundou seu rosto no gramado da casa de sua amiga, Anahi Portilla.

— Delicioso — murmurou ela.

—Você está cheirando a grama? — perguntou Dulce Maria por trás dela, batendo a porta do Volvo de sua mãe para fechá-la, com um dos braços longos e sardentos.

— É um cheiro bom. — Ashley jogou o cabelo cheio de mechas cor-de-rosa para trás e respirou o ar morno do fim de tarde. — Cheiro de verão.

Dulce deu tchauzinho para a mãe e ajeitou os jeans horrorosos que usava pendurados em seus quadris estreitos. Dulce era da equipe de natação desde a Liga Infantil e, apesar de ficar incrível de maiô, jamais poderia vestir nada justo demais, nem remotamente bonito, como as outras meninas do sétimo ano. Isso porque os pais de Dulce insistiam que a beleza vinha de

dentro para fora (embora Dulce tivesse certeza de que ser obrigada a esconder uma camiseta baby look que diz GAROTAS IRLANDESAS FAZEM TUDO MELHOR no fundo de sua gaveta de calcinhas não era algo que ajudasse alguém a construir o caráter).

— Ei, meninas. —Anahi deu uma pirueta no jardim. Naquela tarde, seu cabelo estava preso num rabo de cavalo desleixado e ela ainda usava sua saia xadrez da festa de final de ano da equipe enrolada na cintura para parecer mais curta. Anny era a única menina do sétimo ano que conseguira entrar para o time da escola. Pegava carona para casa com as meninas mais velhas do Colégio Rosewood Day que ouviam o rapper Jay-Z em suas Cherokees o mais alto possível e espirravam perfume nela antes que descesse do carro para que ela não chegasse em casa cheirando a cigarros, o que revelaria que todas haviam fumado.

— O que eu estou perdendo? — perguntou Avril Lavigne, aparecendo por um buraco da cerca viva para se juntar às outras. Avril morava na casa ao lado. Ela jogou seu longo cabelo num rabo de cavalo louro escuro e deu um gole em sua garrafa esportiva roxa.

Avril não havia ido para o time principal com Anny no outono, então tinha que jogar com as meninas do sétimo ano. Ela passara um ano se esforçando como louca no campo de hóquei, para aperfeiçoar suas manobras, e as meninas sabiam que ela havia praticado dribles no quintal antes de elas chegarem. Avril odiava que alguém fosse melhor que ela em qualquer coisa.

Especialmente se esse alguém fosse Anny.

— Esperem por mim!

Elas se viraram a tempo de ver Kristen Stewart saindo da Mercedes de sua mãe. Ela tropeçou na própria mochila de livros e acenou toda animada com seus braços gorduchos.

Desde que os pais de Kristen se divorciaram, no ano anterior, ela vinha aumentando de peso gradativamente, o que fazia com que suas roupas ficassem cada vez menores. E, embora Anny tenha revirado os olhos nessa hora, o restante das meninas fingiu que não percebeu. É isso que as boas amigas fazem. Anny, Ashley, Avril, Dulce e Kristen haviam se conhecido no ano anterior quando seus pais as inscreveram para trabalhar aos sábados à tarde nos projetos de caridade do Colégio Rosewood Day — todas, menos Avril, que foi trabalhar lá porque quis. Mesmo que Anny não soubesse nada sobre as outras quatro, todas elas a conheciam. Ela era perfeita. Linda,

espirituosa, inteligente. Popular. Os meninos queriam beijar Anny e as meninas — mesmo as mais velhas — queriam ser ela. Então, na primeira vez em que Anny riu de uma das brincadeiras de Ashley, fez uma pergunta sobre natação para Dulce, disse a Kristen que sua camiseta era adorável ou comentou que a caligrafia de Avril era muito mais bonita que a dela, elas não puderam evitar e ficaram, bem... deslumbradas. Antes de Anny, as garotas se sentiam como as calças jeans de cintura alta e pregas de suas mães — estranhas e notadas pelas razões erradas.

Mas, depois, Anny fez com que se sentissem como as roupas esportivas mais perfeitas do mundo, feitas pela Stella McCartney — aquelas que são tão caras que ninguém pode comprar.

Então, mais de um ano depois, no último dia do sétimo ano, elas não eram apenas as melhores amigas do mundo, eram as meninas do Rosewood Day.

Muita coisa acontecera para que fosse assim. Todas as vezes em que dormiram nas casas umas das outras, todas as viagens para o campo tinham sido uma nova aventura. Até mesmo quando se reuniam na sala de estudos para, teoricamente, fazer o dever de casa, sempre acontecia algo memorável (ler a carta melosa do capitão do time do colégio para sua professora particular de matemática no sistema de alto-falantes da escola havia se tornado um clássico). Mas havia outras coisas que todas elas queriam esquecer. E havia um segredo em especial, sobre o qual elas não queriam nem falar a respeito.

Anny dizia que eram os segredos que mantinham as cinco unidas como melhores amigas por toda a eternidade. E isso era verdade. Elas seriam amigas para sempre.

— Estou tão feliz que este dia acabou — gemeu Anny, depois de empurrar Avril com delicadeza de volta pelo buraco da cerca viva. — Vamos para a sua casa de hóspedes.

— Estou tão feliz que o sétimo ano acabou — disse Ashley, e então ela, Dulce e Kristen seguiram Anny e Avril até o galpão recém-reformado, onde a irmã mais velha de Avril, Angelique, havia morado durante todo o ensino médio. Por sorte, ela tinha acabado de se formar e viajado para passar o verão em Praga, então o lugar era todo delas naquela noite.

De repente, elas ouviram um guincho:

— Anahi! Ei, Anahi! Ei, Avril! — Anny se virou para olhar em direção à rua.

— Isso não — sussurrou ela.

— Isso não — Avril, Dulce e Ashley repetiram.

Kristen fez cara feia.

— Droga.

"Isso não" era o jogo que Anny havia roubado do irmão dela, Austin, veterano em Rosewood Day. Austin e seus amigos jogavam nas festas da escola, enquanto avaliavam as garotas. Ser o último a dizer "isso não" queria dizer que você ia ter que ficar a noite toda com a menina mais feia, enquanto seus amigos ficavam com as bonitas, e quem ficasse com a feiosa era, na verdade, tão tonto e feio quanto ela. Na versão de Anny, as meninas diziam "isso não" toda vez que alguém feio, careta ou pobre chegasse perto delas.

Desta vez o "isso não" era para Maite Perroni — uma imbecil cujo passatempo era tentar ficar amiga de Avril e Anny — e suas duas amigas esquisitas, Zoraida Gomez e Estefânia Vilarell. Zoraida era a garota que havia hackeado os computadores da escola e depois ensinado ao diretor como aumentar a segurança deles; e Estefânia ia a todos os lugares com um ioiô — não é preciso dizer mais nada. As três encararam as garotas do meio da rua quieta e suburbana.

Maite estava montada em sua scooter, Zoraida estava em uma mountain bike preta e Estefânia estava a pé — com seu ioiô, claro.

— Vocês aí, querem vir com a gente e assistir Fear Factor? — perguntou Maite.

— Desculpe — Anny disse, com candura. — Estamos meio ocupadas.

Zoraida franziu a testa.

— Vocês não querem ver os caras comendo os besouros?

— Que nojo! — Avril sussurrou para Ashley, que então começou a fingir que comia piolhos invisíveis da cabeça de Kristen, como um macaco.

— Ah é, bem que a gente queria. — Anny tombou a cabeça. — Faz um tempo que a gente vem planejando passar a noite juntas. Mas quem sabe da próxima vez?

Maite olhou para a calçada:

Tá, tudo bem.

— A gente se vê. — Anny deu meia-volta, revirando os olhos, e as outras garotas fizeram a mesma coisa.

Elas passaram pelo portão dos fundos da casa de Avril. À esquerda delas, estava o quintal de Anny, onde os pais dela estavam construindo um gazebo capaz de abrigar vinte pessoas para aqueles seus piqueniques metidos a besta.

— Graças a Deus, os pedreiros não estão aqui. — Anny deu uma olhada numa empilhadeira amarela.

Dulce mudou o tom de voz:

— Eles andaram dizendo gracinhas para você de novo?

— Calma aí, delegada — disse Anny. As outras deram risadinhas. Algumas vezes, elas a chamavam de Dulce Delegada, porque ela virava um pitbull para defender Anny.

Dulce costumava achar graça naquilo também, mas ultimamente não ria mais com elas.

O ex-celeiro estava logo à frente. Era pequeno e aconchegante e tinha uma janela grande, que dava para os grandes espaços livres da propriedade, que possuía seu próprio moinho. Em Rosewood, na Pensilvânia, um subúrbio pequeno que fica a mais ou menos trinta quilômetros da Filadélfia, é mais provável que se viva numa casa de fazenda com vinte e cinco quartos, com piscinas azulejadas em mosaico e hidromassagem do que em uma casa pré-fabricada.

Rosewood cheirava a lilases, a feno, a neve fresca e a lenha queimada no inverno. A região estava cheia de pinheiros altos, quilômetros e mais quilômetros de fazendas familiares bem rústicas, e raposas e coelhos bem fofinhos. Havia um shopping, propriedades em estilo colonial e uma porção de áreas ao ar livre, perfeitas para comemorar aniversários, formaturas e para festas que gostamos de dar sem motivo algum. E os meninos de Rosewood eram lindos e chegavam a brilhar de tão saudáveis. Pareciam todos saídos de um comercial de cuecas, de perfume ou de um catálogo esportivo da Abercrombie. Aquela era a nata da Filadélfia .Várias famílias ricas e tradicionais, com dinheiro antigo e escândalos mais antigos ainda.

Conforme as garotas se aproximavam da casa de hóspedes, ouviram risinhos vindos de lá.

Alguém guinchou:

— Eu já disse para você parar!

— Ah, meu Deus — Avril gemeu. — O que é que ela está fazendo aqui?

Quando espiou pelo buraco da fechadura, Avril viu Angelique, sua irmã mais velha, o orgulho e a alegria de seus pais, a filha perfeita, no sofá dando uns amassos em Diego, seu namorado gostosão. Avril meteu o pé na porta e a forçou a abrir. A casa de hóspedes cheirava a musgo e a pipoca recém-estourada.

Angelique se virou.

— Que droga... — ela disse. Então, notou as outras e sorriu. — Ah, oi, meninas.

As meninas deram uma olhada em Avril. Ela sempre reclamava que Angelique era uma cobra venenosa, então, ficavam sempre alerta quando Angelique parecia gentil e doce.

Diego se levantou, espreguiçou-se e deu um sorriso forçado para Avril.

— Ei — disse ele.

— Oi, Diego — Avril respondeu numa voz muito mais alegre. — Eu não sabia que você estava aqui.

— Sim, você sabia — Diego sorriu, como se estivesse paquerando. — Você estava nos espionando.

Angelique arrumou seu cabelo loiro comprido e a faixa de seda preta na cabeça, encarando a irmã.

— E aí, quais as novidades? — perguntou ela, um pouco acusadoramente.

— É só... eu não queria me intrometer... — Avril cuspiu as palavras. — Mas era para nós ficarmos aqui essa noite.

Diego bateu no braço de Nikky, brincando com ela.

— Eu só estava implicando com você — provocou ele.

Uma mancha vermelha subiu pelo pescoço dela. Diego tinha cabelo loiro, que estava sempre desarrumado, olhos cor de avelã, com um olhar sonolento, e os músculos do abdome realmente valiam um aperto.

— Uau — falou Anny, numa voz alta demais. Todas as cabeças se voltaram para ela. — Angelique, você e Diego formam um casal perfeito. Eu nunca falei, mas sempre pensei isso. Você não concorda Avril?

Avril piscou.

— Hum — disse ela, baixinho.

Angelique encarou Anny por um segundo, confusa, e então se virou para Diego.

— Posso falar com você lá fora?

Diego engoliu sua cerveja Corona, enquanto as meninas assistiam. Eles bebiam secretamente das garrafas dos armários de bebidas de seus pais. Ele jogou fora a garrafa vazia e deu a elas um sorriso irônico, enquanto seguia Angelique para fora.

Adieu, senhoras. — Diego deu uma piscada antes de fechar a porta atrás dele.

Anny fez um gesto como que tirando pó das mãos.

— Outro problema resolvido por Anahi P. Você vai me agradecer agora, Avril?

Avril não respondeu. Ela estava muito ocupada olhando a janela da frente do celeiro Vaga-lumes começavam a iluminar O céu, que estava ficando púrpura.

Kristen andou até a tigela de pipoca abandonada e pegou um punhado grande.

— Diego é tão gostoso. Ele é até mais gostoso que o Robert. — Robert Pattinson era um dos caras mais bonitos do ano delas, e tema das constantes fantasias de Kristen.

— Você sabe o que eu ouvi? — perguntou Anny, se jogando pesadamente no sofá. — Que na verdade Robert gosta de garotas que têm um bom apetite.

Kristen se animou.

— Verdade?

— Não — Anny bufou.

Kristen jogou o punhado de pipoca de volta na tigela, bem devagar.

— Então, garotas — falou Anny. — Eu sei de uma coisa perfeita que nós podemos fazer.

— Eu espero que a gente não vá correr pelada de novo por aí. — Dulce deu risadinhas.

Elas tinham feito aquilo um mês antes — num frio de rachar — e, embora Kristen tenha se recusado a tirar a camiseta e a calcinha que tinha um dos dias da semana bordado, o restante delas havia atravessado correndo um árido milharal sem absolutamente nenhuma peça de roupa.

Você gostou bastante daquilo — murmurou Anny. O sorriso se apagou dos lábios de Dulce. — Mas não, eu estava deixando isso para o último dia de aula. Eu aprendi como hipnotizar as pessoas.

— Hipnotizar — repetiu Avril.

— A irmã do Justin me ensinou. — Anny olhou as fotos de Angelique e Diego em porta-retratos em cima da lareira. Seu namorado da semana, Justin, tinha o mesmo cabelo cor de areia de Diego.

— Como se faz? — perguntou Kristen.

— Desculpe, mas ela me fez jurar guardar segredo. — Anny se virou para ficar de frente para as meninas. —Vocês querem ver se funciona?

Ashley franziu a testa, pegando um lugar numa almofada cor de lavanda que estava no chão.

— Eu não sei...

— Por que não? — Os olhos de Anny passaram rapidamente por um porquinho de pelúcia que pendia da bolsona de tricô púrpura de Ashley. Ela estava sempre carregando coisas estranhas para todo o lado: animais de pelúcia, páginas sem sentido arrancadas de velhos romances, cartões-postais de lugares que ela nunca tinha visitado.

— A hipnose não faz você dizer coisas que não quer? — perguntou Ashley.

— Existe alguma coisa que você não queira contar para a gente? — retrucou Anny. — E por que você ainda traz esse porquinho para tudo quanto é lugar? — Ela apontou para o bichinho.

Ashley sacudiu os ombros e puxou o porquinho de pelúcia para fora da bolsa.

— Meu pai comprou Pigtunia na Alemanha para mim. Ela me dá conselhos sobre a minha vida amorosa. — Ashley enfiou a mão dentro do boneco.

— Você está enfiando sua mão pelo traseiro dele — Anny gritou e Dulce começou a dar risadinhas. — Além disso, por que você quer carregar por aí algo que o seu pai lhe deu?

— Não é engraçado.—Ashley virou a cabeça rapidamente para encarar Dulce.

Todas ficaram quietas por alguns segundos, e as meninas se encararam sem expressar nenhuma reação. Isso vinha acontecendo muito nos últimos tempos: alguém — normalmente Anny —mencionava algo, e outra pessoa ficava triste, mas todas eram tímidas demais para perguntar o que raios estava acontecendo.

Avril quebrou o silêncio.

— Ser hipnotizado? Hum... soa engraçado.

Você não sabe nada sobre isso — Anny foi logo dizendo. —Vamos lá, eu poderia fazer com vocês todas de uma vez.

Avril puxou o cós da saia. Dulce soprou o ar através dos dentes. Ashley e Kristen trocaram um olhar. Anny sempre vinha com uma novidade — no verão anterior, foi fumar sementes de dentes-de-leão para ver se eram alucinógenas, e, no último outono, tinham ido nadar no lago Pecks, apesar de terem achado um corpo lá uma vez — mas a verdade era que elas, muitas vezes, não queriam fazer as coisas a que Anny as obrigava. Todas amavam Anny, mas algumas vezes também tinham ódio dela — por controlá-las de todas as formas em nome do feitiço que tinha espalhado sobre elas. Às vezes, na presença de Anny, não se sentiam exatamente verdadeiras. Elas meio que se sentiam como bonecas, com Anny controlando cada movimento que faziam. Cada uma delas já desejara, pelo menos uma vez, ter coragem de dizer não a Anny.

— Por favoooooooooooooor? — perguntou Anny, irritada. — Dulce, você quer fazer isso, certo?

— Hum... — a voz de Dulce tremeu. — Bem...

— Eu farei — intrometeu-se Kristen.

— Eu também — disse Dulce, rapidamente.

Avril e Ashley concordaram com a cabeça, de má vontade. Satisfeita, Anny apagou todas as luzes, com um movimento, e acendeu várias velas com perfume de baunilha, na mesinha de centro. Então, se afastou das meninas e sussurrou.

— Certo, pessoal, apenas relaxem — ela cantarolou, e as meninas se arrumaram num círculo sobre o tapete. — Seus batimentos cardíacos estão mais lentos. Tenham pensamentos calmos. Eu vou contar de trás para a frente a partir de cem e, assim que eu tocar cada uma, vocês estarão sob meu poder.

— Assustador — riu Dulce, se sacudindo.

Anny começou.

Cem... noventa e nove... noventa e oito...

Vinte e dois...

Onze..

Cinco..

Quatro..

Três...

Ela tocou a testa de Ashley com a parte mais carnuda do polegar. Avril descruzou as pernas. Ashley moveu o pé esquerdo.

Dois... — Ela tocou Kristen vagarosamente, depois Dulce, e então caminhou em direção a Avril. — Um.

Os olhos de Avril se abriram de repente, antes que Anny pudesse alcançá-la. Ela ficou em pé, num pulo, e correu para a janela.

— O que está fazendo? — sussurrou Anny. —Você está estragando o clima.

— Está muito escuro aqui. — Avril alcançou a janela e abriu as cortinas.

— Não. — Anny relaxou os ombros. —Tem que estar escuro, é assim que funciona.

— Ah, vamos lá, não é assim. — A cortina prendeu e Avril deu um gemido junto com o puxão para soltá-la.

— Não. É assim.

Avril colocou as mãos nos quadris.

— Eu quero que fique mais claro. Talvez todo mundo queira.

Anny olhou para as outras. Elas ainda tinham os olhos fechados.

Avril não ia desistir.

— Não tem sempre que ser como você quer, sabe, Anny?

Anny soltou uma risada aguda.

Feche as cortinas!

Avril revirou os olhos.

— Por Deus, tome um calmante.

— Você acha que eu deveria tomar um calmante? — perguntou Anny.

Avril e Anny se encararam por alguns momentos. Era uma daquelas brigas ridículas que podia ser sobre quem viu primeiro o novo vestido polo da Lacoste na Neiman Marcus, ou se as luzes cor de mel no cabelo de alguma menina eram ousadas demais, mas, na verdade, a briga tinha a ver mesmo com outra coisa. Algo muito maior.

Finalmente, Avril apontou para a porta.

— Saia.

— Está bem. — Anny caminhou para fora.

— Que bom! — Mas, depois de alguns segundos, Avril foi atrás dela. O ar da noite azulada estava parado, e ainda não havia nenhuma luz acesa na casa principal. Tudo estava quieto demais, até mesmo os grilos estavam calados, e Avril podia ouvir a própria respiração.

— Espere um segundo! — gritou ela, depois de um momento, batendo a porta atrás dela. — Anny!

Mas Anahi havia partido.

Quando ouviu a porta bater, Ashley abriu os olhos.

— Anny? — chamou ela. — Meninas? — não houve resposta.

Ashley olhou ao redor. Kristen e Dulce estavam jogadas no carpete, e a porta estava aberta. Ashley foi até a varanda. Não havia ninguém lá. Ela andou na ponta dos pés até os limites da propriedade de Anny. Os bosques se espalhavam à frente, e tudo estava silencioso.

— Anny? — murmurou. Nada. — Avril?

Do lado de dentro, Kristen e Dulce esfregavam os olhos.

— Eu tive o sonho mais estranho da minha vida — declarou Dulce. — Quer dizer, acho que foi um sonho. Foi muito rápido. Anny caiu num poço muito fundo, e tinha umas plantas gigantes.

— Eu também tive esse sonho! — disse Kristen.

Sério? — perguntou Dulce.

Kristen fez que sim com a cabeça.

— Bem, mais ou menos. Havia uma planta gigante nele. E acho que vi Anny também. Podia ser sua sombra... mas, definitivamente, era ela.

— Uau! — sussurrou Dulce. Elas se encararam com os olhos arregalados.

— Meninas? — Ashley voltara. Estava muito pálida.

—Você está bem? — quis saber Dulce.

— Onde está Anny? — Ashley franziu a testa. — E Avril?

— Não sabemos — respondeu Kristen.

Bem nesse momento, Avril abriu a porta com violência e entrou de volta na casa.

Todas as meninas deram um pulo.

— O que foi? — perguntou ela.

— Onde está Anny? — sussurrou Kristen.

— Eu não sei. — Avril murmurou de volta. — Pensei... Eu não sei.

As meninas ficaram em silêncio. Tudo o que podiam ouvir eram os galhos das árvores se movendo além das janelas. Parecia o som de alguém raspando unhas longas contra um prato.

— Acho que quero ir para casa — falou Dulce.

Na manhã seguinte, elas não tinham nenhuma notícia de Anny. As garotas se telefonaram para conversar, uma conversa a quatro desta vez, em vez de cinco.

— Você acha que ela está brava com a gente? — perguntou Kristen. — Ela estava estranha a noite toda.

— Provavelmente está na casa da Alexandria — cogitou Avril. Alexandria era uma das amigas de Anny, do time de hóquei sobre a grama.

— Ou talvez ela esteja com Maia... aquela garota do acampamento — propôs Ashley.

— Eu tenho certeza de que ela está em algum lugar se divertindo — disse Dulce, calmamente.

Uma a uma, as meninas receberam ligações da Sra. Portilla, perguntando se tinham notícias de Anny. No começo, todas as meninas deram cobertura a ela.

Era uma regra delas: tinham dado cobertura a Dulce quando ela perdeu a hora num fim de semana e não voltou para casa às onze da noite; tinham acobertado Avril quando ela pegou emprestado o casaco Ralph Lauren da Angelique e depois o esqueceu, acidentalmente, no banco do trem; e assim por diante.

Mas quando cada uma desligava depois de falar com a Sra. Portilla, um sentimento amargo crescia em seu estômago. Alguma coisa parecia terrivelmente errada.

Naquela tarde, a Sra. Portilla ligou novamente, desta vez em pânico. À noite, os Portilla chamaram a polícia, e na manhã seguinte, havia carros de polícia e vans das equipes da imprensa acampados no normalmente imaculado jardim dos Portilla. Era o sonho de qualquer noticiário local: uma garota rica e bonita, perdida numa das cidades de classe alta mais seguras do país.

Kristen telefonou para Dulce, depois de assistir às primeiras notícias sobre Anny.

— A polícia entrevistou você hoje?

— Sim — sussurrou Dulce.

— Eu também dei entrevista.Você não falou a eles sobre...— Ela fez uma pausa. — Sobre A Parada da Emma, falou?

— Não! — ofegou Dulce. — Por quê? Você acha que eles sabem de alguma coisa?

— Eu... eles não poderiam! — sussurrou Kristen, depois de um segundo. — Nós somos as únicas que sabemos. Nós quatro e... Anny.

A polícia interrogou as meninas, assim como praticamente todo mundo de Rosewood, do instrutor de ginástica de Anahi no segundo ano ao cara que uma vez vendeu Marlboros a ela no Wawa. Era o verão antes do oitavo ano, e as meninas deveriam estar paquerando garotos mais velhos em festas à beira da piscina, comendo espiga de milho nos quintais umas das outras e fazendo compras o dia inteiro no Shopping Center King James.

Em vez disso, estavam chorando sozinhas em suas camas de dossel, ou olhando para o nada, encarando as paredes cobertas de fotos. Avril entrou numa de arrumar o quarto, revendo sobre o que realmente havia sido sua briga com Anahi e pensando no que poderia saber a respeito dela que nenhuma das outras sabia.

Kristen passou horas no chão do quarto, escondendo pacotes de Cheetos vazios embaixo do colchão. Dulce não conseguia parar de pensar numa carta que havia mandado a Anny antes de ela desaparecer. Será que Anahi recebeu? Ashley sentou-se em sua escrivaninha com Pigtunia.

Lentamente, as meninas começaram a telefonar umas para as outras com menos frequência. O mesmo pensamento assombrava as quatro, mas não havia nada mais a ser dito entre elas.

O verão acabou, e veio outro ano escolar, que foi seguido pelo começo de outro verão.

E nada de Anny. A polícia continuou com as buscas, mas sem alarde. A mídia perdeu o interesse e se voltou para a obsessão que rondava um triplo homicídio ocorrido no centro da cidade. Até mesmo os Portilla se mudaram de Rosewood, mais ou menos dois anos e meio depois que Anny desapareceu.

No que diz respeito a Avril, Ashley, Roberta e Kristen, algo nelas também mudou. Agora, se elas passavam pela velha rua de Anny e davam uma olhada para a casa dela, não entravam mais no modo "choro instantâneo". Em vez disso, começaram a sentir algo mais.

Alívio.

Claro, Anahi era Anahi. Ela era o ombro onde chorar as mágoas, a única que você gostaria de ver ligando para o seu pretê para saber como ele se sentia sobre você, assim como também era dela a palavra final sobre se o seu novo jeans fazia sua bunda parecer maior.

Mas as meninas também tinham medo dela. Anahi sabia mais sobre elas do que qualquer outra pessoa, incluindo as coisas ruins que queriam enterrar — como um corpo. Era horrível pensar que Anny podia estar morta, mas... Se estava, pelo menos seus segredos estariam seguros.

E estavam.

Pelo menos, por três anos.


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