Glasnot - Dom ou Maldição? escrita por Lady Midnight


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Ooi pra vc que vai ler esse capítulo!É a primeira vez que escrevo um capítulo tão grande, espero que não tenha ficado cansativo kk normalmente os meus tem de 700 à 900 palavras.kkk sou péssima com notas iniciais. Aproveitem a leitura!!



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Ao primeiro sinal do despertador Lia acordou permanecendo de olhos fechados. Tinha medo do que iria ver caso os abrisse. Duvidava se seria capaz de levantar e ir para a escola, outra escola. Estava cansada de transferências e mudanças, nunca se fixava numa escola só. Seu maior tempo de permanência fora de três anos.

Desistindo do aconchego do travesseiro, sentou-se na cama, sentindo o chão com os pés descalços enquanto procurava o chinelo. Os olhos continuavam fechados. A janela aberta permitia que o vento quente de fevereiro entrasse.

Caminhou devagar até o banheiro, tateando as paredes para não trombar em nada. Escovou os dentes e preparou-se para o banho, mudou de ideia, alguém poderia estar observando-a. Sentiu um calafrio só de pensar na ideia. Voltou para a cama e procurou o celular, lentamente abriu os olhos focando-os somente no celular, 06h10min, era hora de se arrumar. Com as mãos ao lado do corpo, apertando o colchão ela começou a olhar em volta, o coração quase saltando pela boca o peito subia e descia com velocidade. Girou 360º e não viu nada, nem ninguém.

Dia de sorte.

Foi até o guarda roupa e pegou a camiseta do uniforme, perfeitamente passada, abriu outra porta e optou por uma calça jeans escura lisa, nada que chamasse atenção. Vestiu-se e foi pentear os cabelos, certamente a parte mais difícil. Foi até a sapateira onde escolheu uma sapatilha azul-claro, voltou-se para o espelho, estava muito azul no azul, mas quem se importa? Preferia pensar que estava degrade ou isso ou trocar de sapato, o que certamente ela não faria.

Pegou o fichário em cima da escrivaninha e saiu do quarto rumo a cozinha. Já no segundo lance de escada, Lia travou. Alguns degraus abaixo via de perfil a prima mais nova, Raíssa, sentada com as pernas esticadas ocupando o degrau em que estava. Como ela sempre fazia quando os visitava, fingindo ser um pedágio. A respiração de Lia ficou ainda mais rápida e as palmas das mãos começaram a soar, não sabia se corria de volta ao quarto ou corria ainda mais rápido para a cozinha. Antes de tomar uma decisão, a criança pouco distante dela encarou-a e sorriu. Foi quando Lia pôde ver a outra metade do rosto da menina completamente desfigurado pelas queimaduras. Seus joelhos fraquejaram e ela teve vontade de chorar, mesmo assim conteve-se. Não adiantava chorar pelos mortos. Ela sabia que Raíssa fora enterrada dois meses atrás junto com a família após terem sofrido um acidente de carro, enquanto voltavam para casa depois de passar parte das férias no litoral de São Paulo.

Fechou os olhos com pressa e tornou a descer os degraus, fechou o punho livre com tanta força que as unhas começavam a perfurar a palma. Quando chegou ao fim da escada a respiração começara a voltar ao normal, virou-se para os degraus e abriu os olhos. Raíssa não estava mais lá.

Um cutucão no ombro a fez gritar de susto, virou-se e viu Marta, a governanta da casa, de olhos arregalados após ouvir o grito agudo. Lia levou a mão ao peito como uma forma de se acalmar. Marta riu da situação, era comum a menina se assustar com facilidade, apenas disse:

— Seu café da manhã já está na mesa Liliane.

— Marta, não me assuste assim, nunca mais — falou a menina num sorriso forçado — e, por favor, não me chame de Liliane. Lia está bom, maravilhoso na verdade.

— Tudo bem, Lia. Seu café da manhã está pronto e seu pai pediu que se apressasse, pois não quer que você chegue atrasada no primeiro dia de aula. Também falou que te espera no carro em cinco minutos.

— Aposto que ele tem uma reunião às 07h30min e usa minha escola como desculpa para me apressar.

Marta deu de ombros, sabendo que a menina provavelmente estava certa. Roberto não era o melhor candidato para o "pai do ano", não era presente e sua prioridade era o trabalho, quase como se não se importasse com a única filha e ser pai fosse uma obrigação. Mas ele não fora sempre assim, quando Lia era criança ele fora atencioso, carinhoso, amoroso. O verdadeiro pai coruja. Porém Marta não conseguia se lembrar quando tudo mudou. Deixou a ideia de lado e foi fazer outras coisas.

A adolescente finalmente chegou a cozinha, dessa vez sem interrupções. Deixou o fichário numa cadeira e sentou-se para aproveitar o café da manhã, bolacha integral de cacau com cereais e uma xícara de leite puro. Fechou os olhos enquanto comia e mastigou devagar, o pai que a esperasse. O sinal da escola só batia às 07h00min horas e pelo relógio da cozinha ainda marcava 06h40min. Quando estava colocando a xícara na pia, ouviu o barulho da buzina vindo do lado de fora da casa, voltou para a cadeira onde havia deixado o fichário, pegou-o e já ia saindo pela sala, quando se lembrou do celular e do estojo que haviam ficado em cima da cama.

Subiu as escadas correndo para chegar ao quarto, abriu a porta e avistou o estojo na cama, mas o celular não estava lá. Começou a vasculhar o quarto a procura do mesmo, enquanto o som de buzina ficava cada vez mais frequente, viu o brilho da capinha debaixo da cama através do espelho, ajoelhou-se para pegar, permanecendo com o estojo na outra mão. Contudo quando não conseguiu alcançá-lo, forçou-se a olhar embaixo da cama e viu novamente Raíssa encarando-a, sorrindo, mas não um sorriso dócil e simpático. Lia gritou alto novamente, agarrou o celular e saiu o mais depressa possível do quarto, desceu a escada pulando os degraus e atravessou a sala tão rápido quanto pôde. Entrou correndo no carro, quase sem ar. Na testa ela sentiu pequenas gotículas de suor, só não sabia se era pelo medo ou pela rapidez com que fizera o trajeto.

O pai não fizera perguntas, nem mesmo quis saber se havia algo errado. Ela não se importou, isso era comum da parte dele. Encostou a cabeça no vidro da janela e foi olhando o movimento da rua, viu pessoas varrendo à calçada, idosos caminhando, outros pondo o lixo na rua. Só não soube diferenciar quais eram os vivos e quais eram os mortos.

O pai deixou-a na porta da escola dez minutos antes do sinal tocar, ela desceu do carro sem dizer adeus, apenas guardando o celular no estojo. Roberto mentalmente disse adeus a ela e dirigiu-se ao trabalho, teria uma reunião em quarenta minutos.

Lia foi até a secretaria na entrada da escola, perguntar onde era a sala da 2ª série EM e o banheiro feminino. Disseram-na para subir as primeiras escadas e procurar pela sala doze, já o banheiro mais próximo era no fim do pátio a esquerda. A menina foi primeiro ao banheiro, logo na entrada viu um espelho de corpo inteiro e quatro pias. Quando entrou um pouco mais viu as cabines onde estavam as privadas, era um banheiro assustador, na verdade, qualquer banheiro que não fosse da sua casa lhe causava medo. Histórias como a loira do banheiro e outras lendas urbanas marcaram sua pré-adolescência e ver espíritos também não ajudava muito. Olhou-se rapidamente no espelho e saiu.

Subiu as escadas de cabeça baixa, trombando em um ou outro aluno, no topo foi procurar pela sala doze e sentiu-se perdida. Ao contrário do térreo, o andar de cima possuía vários corredores com bifurcações e ela não sabia para qual lugar ir. Começou procurando pela sala 1, na ideia de ir seguindo conforme os números cresciam, pegou o corredor da direita e foi olhando os números em cima das portas mas seu plano não obteve sucesso pois ao lado da sala 1 estava a sala 8. Alguém devia explicar aos pintores o que eram números consecutivos. Voltou por onde tinha vindo e pegou o corredor da esquerda, passou pelas salas 4, 9, 3 e 5. Virou a esquerda novamente e lá estavam as salas 6, 13, 2, 10 e 11, fim do corredor. Voltou para o lugar da sala 4 e dessa vez virou a direita, lá estavam as salas 7 e o laboratório da escola, fim do corredor. Devia ter pedido ajuda a alguém, mas era tímida demais para isso. O sinal que marcava a entrada para as aulas soou e Lia ficou desesperada, voltou correndo para a escada e dessa vez seguiu reto, viu a escadaria que dava acesso para outro andar, a sala de informática, a biblioteca e sala 14. Meu Deus que labirinto. Voltou às escadas e pegou o corredor da esquerda, passou pelas salas 1 e 8 e pela enfermagem que antes ela não havia notado. Virou a esquerda de novo e viu as salas 16, 17, 15 e 12.

Bingo!

Cansada, bateu a porta e pediu licença ao professor. Que ótima impressão para o primeiro dia de aula. Entrou e procurou uma carteira ao fundo, enquanto passava alguns alunos encaravam-na. Ela abaixou a cabeça. No decorrer do tempo descobriu que era aula de Literatura, a lousa estava repleta de matéria, que maravilha, pensou de forma irônica. Noventa minutos passaram num piscar de olhos e o sinal do intervalo tocou, Lia sequer sabia o nome do professor. Durante os 15 minutos de intervalo, ela não foi procurar a cantina com medo de se atrasar novamente e ninguém foi falar com ela também, que novidade.

O sinal soou novamente e a sala voltou a ficar cheia, devia ter pelo menos uns trinta, trinta e cinco alunos ali. O professor entrou com cinco minutos de atraso e desculpou-se. Escreveu na lousa Marcos - biologia 131. Claro que como era a primeira semana de aula, ele não passou matéria ao contrário do professor de Literatura, resolveu conhecer os alunos. Começou se apresentando, disse que era seu primeiro ano na escola e que estava habituado a salas barulhentas o que parecia ser o caso da sala 12. Pegou a lista de chamada e foi intercalando entre o último e o primeiro perguntando seus nomes, onde estudaram, se já conheciam a escola, nome dos pais e profissão. Ainda faltando às letras K, L, M, N, O e P, o sinal soou indicando o fim da aula e ele garantiu que na semana seguinte terminaria a chamada.

Mais 15 minutos sozinha esperando o próximo professor. Carlos - História, ela não prestou muita atenção, não via sentido em estudar gente morta e pelo visto, o resto da sala compartilhava a mesma opinião, já que não paravam de conversar. Claro que usaram a desculpa do "Mas é a primeira semana de aula, professor". Contudo em algum momento da aula um inspetor bateu a porta para entregar os horários de aula. Lia pegou-o e guardou-o sem prestar muita atenção. O sinal tocou meio dia em ponto dispensando os alunos para voltar para casa. Lia pegou o celular, nada de mensagens ou ligações, como se ela se importasse. Arrumou os materias o mais devagar que conseguiu, ficou vendo os outros alunos irem embora, marcando encontros para mais tarde, para os dias que ia vir. Viu-os fazendo amizade e sentiu um pouco de inveja.

Já mais familiarizada com a escola, chegou ao portão sem se perder e procurou o carro do pai, encontrando-o na esquina, a sua espera. Subiu no carro e eles começaram a volta para casa. Roberto olhava-a pelo canto dos olhos e claramente via as semelhanças que ela tinha com Sara, os mesmos cabelos pretos e lisos, o queixo pequeno e a sobrancelha marcada. Suspirou. Como Sara fazia falta. Chegaram a casa rápido, desceram e se prepararam para almoçar. Primeiro Lia foi ao quarto deixar os matérias, trocar a sapatilha pelo chinelo e a calça jeans por um short, prendeu os cabelos num rabo de cavalo alto e desceu as escadas, sem olhar para baixo, nem olhar para trás.

A mesa estava posta com dois pratos e dois copos, um para ela e outro para o pai, Marta não estava na cozinha. Para o almoço havia estrogonofe de frango, arroz branco, salada de alface e suco de laranja natural. O cheiro da comida fez o estômago de Lia roncar, não esperou o pai sentar-se para começar a se servir. Quando estavam terminando a refeição, Roberto decidiu puxar assunto.

— Como foi a escola hoje?

— Normal o de sempre... — falou a garota se levantando para pôr o prato na pia.

— Fez amigos? — perguntou o pai desconfortável.

— Você se importa?

Roberto ficou paralisado com a pergunta, a que ponto seu relacionamento com a filha havia chegado. Não é como se não se importasse, só não tinha tempo para ela, não agora. Além do mais não era possível mudar 10 anos de convivência em 10 segundos. Arrependida da pergunta, Lia tentou redimir-se, não podia culpar o pai por todos os problemas.

— Desculpa.. e não, ainda não fiz amigos novos. Se adaptar em escolas é mais difícil do que parece. Vou sair um pouco, estou levando celular e chaves.

E saiu. Sem rumo ou ideia do que faria a seguir. Caminhou a passos lentos pela rua, até chegar à praça de seu bairro, sentou num banco agarrando os joelhos e ficou vendo as pessoas passarem na rua. O tempo passou mais rápido que ela pôde acompanhar, num piscar de olhos o sol começara a se por. A lua começaria seu reinado de escuridão logo. Era hora de voltar para casa.


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Notas finais do capítulo

Aos erros de concordância e português, me desculpem. Mas o que acharam? :D
Mais uma coisinha, caso vc tenha ficado perdido quando a Lia está andando pela escola, eu fiz um mapinha https://fbcdn-sphotos-c-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xat1/t31.0-8/s720x720/11114086_845693565514731_3552749140915671072_o.jpg
Beijinhos e até o próximo capítulo!



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