Immortal Star escrita por Sandaishiro


Capítulo 23
Miragem do Frio


Notas iniciais do capítulo

E a segunda luta da Grande Final tem início e um fim bem "frio".



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Eu acho que deveria fazer todas as lutas da final interruptamente, porque a adrenalina que elas me passam é tão alta, que eu chego a suar. Eu realmente espero que eu consiga passar essa sensação para você.

Mas tudo bem, vou comentar só um pouco da primeira luta da final para ir para a próxima: aquela luta foi, no mínimo, épica. Não só vimos o poder que um dos Mestres Lendários — que eram cinco, até aquele momento antes da luta começar —, como também podemos ver a quantidade absurda de variações de estilos de luta que San continha. O resultado não foi um dos mais felizes... Mas ainda não posso contar o que realmente aconteceu com o assassino descarado da Immortal Star.

Tenha em mente: essa foi só a primeira luta e foi a mais curta de todas. Ela teve a mesma intensidade de "periculosidade" que as outras tiveram, mas não foram tão destrutivas ou sangrentas.

Vou falar da sangrenta primeiro.

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O público não reagiu como na luta passada. Não houveram os gritos e nem os vivas pelo nome dela. Tinham, de fato, muitos assovios. Mas era algo que estava no sangue dos homens.

Nem mesmo o Apresentador que estava com o coração disparado por causa da conclusão da primeira batalha, sequer comentou algo quando a máscara de plástico grosso caiu no chão, fazendo um barulho oco.

Para falar a verdade, nem mesmo Leon, que era xereta e se metia na vida de todo mundo, fazia ideia de quem era aquela mulher de cabelos longos loiros. Claro, Leon não sabia porque era uma mulher. Ele olhou para o lado, querendo perguntar para seu colega de trabalho se a reconhecia. Raziel olhou e tentou caçar em sua mente, tentando lembrar da figura. A mulher não lhe era estranha... Mas porque ele não se lembrava o nome?

O nome dela é Himi. — foi Bart, falando no seu microfone e deixando todo mundo ficar sabendo da nova informação. Raziel estralou os dedos sonoramente, dizendo que era ela mesma. — Himi Kausvaistein. Vocês podem conhecê-la como "Lâmina Ilusória", seu Título Único. Esse nome trazia um certo tanto de desgraça para os reinos que eram o seu alvo.

Parece que você a conhece bem, Bart. O que mais pode nos dizer sobre ela? — perguntou Pablo, sem perder a incrível característica de profissionalismo.

Himi é uma Assassina Mestra. — continuou o Soldado da Planetarium. Na verdade, ele estava usando essa oportunidade para passar a maior quantidade de informações para Mana. Se ele pudesse fazer algo para ajudá-la, ele não pensaria duas vezes. — Foi treinada pelo extinto Clã do Sangue Negro, um dos mais influentes Clãs de Assassinos do mundo, onde ela mesma fazia parte da elite. A três anos atrás, ela foi acusada de assassinar o Rei Monar Jevard, de Kirk, Capital da Seda. Como essa cidade fazia parte da Aliança protegida pelo Planetarium, um de nossos soldados foi instruído de capturá-la. — Bart fez uma pausa dramática. Não porque ele queria criar suspense no coração dos ouvintes, mas porque tinha se tocado do perigo que a sua "amada" teria que enfrentar. — O soldado conseguiu prendê-la, mas voltou da missão em estado crítico e precisou de atendimentos médicos imediatos. — essa informação, obviamente, fez todo o Coliseu engolir seco. Mulkior e Kula, principalmente. — Himi foi presa como "Perigo Maior" e ficou dois anos presa. Mas parece que alguém comprou seu perdão e ela foi libertada sem receber um julgamento final.

Então podemos dizer que será um duelo entre assassinas de alto nível? — perguntou Pablo, fazendo finalmente o público reagir com algumas torcidas e gritos.

Bart não respondeu. Ele estava tenso demais. Tinha lembrado que foi seu amigo, um companheiro de treino, que tinha voltado quase morto depois de ter uma luta contra aquela mulher. Alguém com um poder tão avassalador que tinha conseguido lutar de igual pra igual com alguém da Planetarium. Isso era assustador demais.

Não que Mana não estava perto de fazer o mesmo. Bart mesmo já tinha calculado que o poder total da garota que ele amava chegava até o soldado mais fraco de seu grupo, o que já era realmente muita coisa. Mas agora... Por que ele sentia aquele aperto firme no coração? Estava com medo? Ele? Com medo? Como poderia? Limpou o suor que escorria da testa com as costas da mão direita e se arrumou na confortável cadeira.

Fazia sentido que qualquer um que fosse o oponente de Mana, seria alguém com poder demais. Chang já tinha sido uma surpresa. Era alguém de nível Mestre e tinha mostrado que não lutava por brincadeira. Então era lógico de se pensar que todo o resto do time deveria ter pelo menos a mesma força que ele. Mas quem no mundo poderia chegar ao nível daquele velho? "Himi...", pensou ele.

A assassina loira era sim, tão poderosa quanto o Artista Marcial da luta passada. "Mas Mana é muito mais habilidosa que San.", era o novo pensando de Bart. Ele estava começando a criar esperanças próprias e não iria acreditar na derrota da mulher que tinha acordado seu coração.

Para Mana, toda aquele bate papo era totalmente inútil. Ela assistiu Himi desabotoar a grande capa que trazia consigo. Puxou a roupa e a jogou para trás, para fora do ringue. Mais assovios foram ouvidos. E foram mais altos também.

O corpo da assassina loira tinha traços sensuais de dar inveja a qualquer outra mulher que tinha orgulho de seu próprio corpo. Himi usava uma roupa ligeiramente parecida com a de Mana, mas o material usado era claramente diferente.

Ela usava um tipo de camisa sem mangas que era bem apertada ao corpo e que só ia até um pouco acima do umbigo, cor preta, dando mais ênfase aos seus grandes seios que não conheciam um "sutiã". Seus braços carregavam dois braceletes de pano preto, também bem apertados. Sua calça era algo que era geralmente utilizado em academias de musculação e aeróbica: era curta e muito apertada, tendo a mesma cor da blusa. Ela ainda vestia uma saia quase transparente extremamente curta por cima, cor negra. Usava um sapato sem salto de bico fino e sem nenhum traçado, também negro. Olhando para cima, em sua cabeça, não havia muitos acessórios. Himi dividia seu cabelo em dois cachos compridos, amarrados com um laço negro nas duas laterais da cabeça. Não usava batom, nem nenhum outro tipo de maquiagem. Uma beleza natural, assim como Mana.

Ah claro, e o mais importante em sua vestimenta poderia ser as duas katanas curtas que ela levava em suas costas. Suas armas de combate, que levavam a morte toda vez que eram desembainhadas. Suas Wakizashis eram nomeadas de "Irmãs Gêmeas do Submundo" e já foram consideradas como duas das armas mais belas do mundo.

— Você não parece feliz em me ver, Mana. — falou Himi, sorridente. O terror que era solto pelo ringue pelas meras palavras dessa assassina faziam Mana suar frio. — Achei que iria gostar de poder ter uma revanche comigo depois de todos esses anos.

— Se eu pudesse desejar algo vindo de você, seria que eu nunca mais lhe encontrasse!

— Ahahahah! Mas que frieza! Hehehe. Frieza... É bem sua cara, não é? Maga de Gelo.

Mana tentou não ser mais intimidada por aquele ser repugnante que estava à sua frente. Ela sabia que estava com um grande problema e que não tinha escolha a não ser resolvê-lo aqui e agora. Era tudo complicado demais.

Seus colegas lhe perguntariam onde ela já tinha se encontrado com Himi, e a resposta não seria das mais bonitas. Foi antes dela ter sido presa pelo assassinato do tal Rei que Bart havia falado. E antes mesmo de Mana ter entrado na sua Guilda onde tinha finalmente encontrado um lar.

Mana trabalhava como mercenária para grandes exércitos naquela época. Ganhar seu Título Único só a deixou mais famosa e seus trabalhos sempre eram pedidos pelos quatro cantos do mapa. E ela recebia bem.

Mas foi em um desses trabalhos, para um certo exército de um país turbulento e afogado em guerras civis, que ela conheceu Himi. Foi uma apresentação da pior maneira possível. Mana tinha sido contratada para matar a General do exército inimigo e Himi tinha sido contratada para PROTEGER a tal General. Então uma luta tinha sido mais do que óbvia.

Mana ainda lembra de cada detalhe. Foi uma luta nos telhados do castelo daquele reino. Estava chovendo fraco e era noite. Visibilidade ruim. E isso acabou sendo uma facada. Ela já conhecia os boatos sobre a "Lâmina Ilusória", mas todos eles eram exagerados demais. Quando Mana começou a trocar golpes com ela, percebeu que não, não eram exagerados.

Os boatos eram reais. Himi era inexistente para os golpes rápidos da arma de Mana. A mulher tinha velocidade de ataque e de movimentação beirando o supremo. Foi uma das primeiras oponentes que Mana se deu ao luxo de utilizar suas magias de gelo. Himi tinha sido pega de surpresa, mas nem isso foi o suficiente para fazer Mana se safar. Himi a machucou seriamente, e durante a batalha, Mana escorregou do telhado e caiu para trás do castelo. Uma queda de mais de seis andares com certeza mataria qualquer um.

Mas a sorte sorriu pelo menos uma vez para a "Lâmina Sanguinária" aquele dia. Mana caiu dentro dos estábulos dos cavalos de passeio da família real, sendo amortecida pelo feno do local. Vendo que seria impossível continuar uma batalha contra Himi, Mana fugiu do local. Machucada, abatida, derrotada. Ela não poderia mostrar a cara para o exército que a tinha lhe contratado, então só foi embora de vez. Saiu do reino sem dizer nada. Seis dias depois ela soube que aquele exército, que era o Exército do Povo, tinha sido derrotado, dando a vitória para o Rei. Para o General que era o seu alvo. Para Himi.

Combatentes preparados? — avisou Pablo, criando aquela já conhecia tensão no público. Mana empunhou a kodachi para perto do rosto, enquanto descia a mão esquerda para a perna. Himi, ainda sorridente, levou as duas mãos para trás e desembainhou as duas armas, deixando as lâminas refletirem o brilho maravilhoso por todo o Coliseu. — COMECEM!

ACUPUNTURA DO PRIMEIRO INFERNO!

Se tem uma coisa que Mana aprendeu depois de todos esses anos de luta, era que a velocidade que ela exibia seu primeiro movimento era mais importante do que o planejar de uma luta duradoura. Ela puxou três agulhas da bolsa acoplada em sua perna esquerda, deu um pulo para trás sem se virar e atirou as benditas armas minúsculas para o céu. Foi tudo bem rápido mesmo. Energia concentrada em uma grande velocidade também foi seu trunfo.

As três agulhas chegaram até sua determinada altura, liberaram toda a energia mágica que tinham concentrada e começaram o seu show de multiplicação. O segundo seguinte foi como ver uma chuva forte de cor cinza cair sobre uma só pessoa. E essa pessoa estava sem guarda-chuva.

— Que pontaria horrível, Mana.

A frase de Himi fez Mana piscar duas vezes. As agulhas tinham caído perfeitamente no lugar onde ela havia mirado. Era pra ser um círculo de espinhos, com Himi no meio. Mas então porque a assassina com as duas wakizashis estava a dois metros para o lado das agulhas, como se sempre estivesse estado ali?

Não. Era impossível errar o alvo, principalmente daquela distância. Existia a possibilidade dela ter se esquivado. Ela era rápida o suficiente pra isso? Tinha se teletransportado então? Não, não e não. Mana sabia. Aquilo era a verdadeira habilidade monstruosa de Himi. Ela tinha sido derrotada da mesma maneira antes. Não podia cair na mesma armadilha de novo.

Himi fez seu primeiro movimento. Voou rente ao chão na direção de sua oponente, totalmente ignorando a larga quantidade de espinhos venenosos ao seu lado. Atacou horizontalmente usando a wakizashi da mão esquerda. Mana se abaixou e deixou o golpe passar por cima de sua cabeça. Sem perder seu impulso, Himi atacou com a arma da mão direita dessa vez, usando um golpe de elevação. Mana defletiu o ataque com sua kodachi e então começou a tirar as primeiras conclusões desse embate.

Em primeiro lugar, Himi tinha uma velocidade de impulso grandiosa, mas Mana conseguia ENXERGAR os golpes. Ou seja, ela era mais lenta que Chang. A segunda conclusão é que os golpes de uma wakizashi não possuem tanta força física impregnada, então nesse quesito, ela era inferior a Shiro. Ela precisaria levar esses dois fatos em consideração se quisesse criar uma boa estratégia para derrotar aquele oponente.

CORTE DA ILUSÃO CENTENÁRIA!

Foi quando todos os cálculos que Mana tinha feito foram jogados ao lixo. Himi levantou sua wakizashi direita e passou energia mágica para lá, fazendo a lâmina da arma brilhar em um preto brilhoso. Depois desceu com um golpe diagonal, e foi aqui que tudo virou de cabeça para baixo.

A lâmina se multiplicou, assim como as agulhas de Mana. Agora haviam wakizashis vindas de frente, de ponta, de baixo, de baixo em ponta, em cima, em cima em ponta, em golpes curtos na vertical e em golpes longos na horizontal. Em suma, vindo de todas as direções possíveis.

A adrenalina explodiu pelas artérias de Mana, a fazendo melhorar todos os seus sentidos em questão de milésimos. Não havia como defender um golpe daqueles. Então ela só tinha uma coisa a fazer. Impulsionou as pernas e deu um salto longo para trás, fugindo dos cem golpes ao mesmo tempo. E então ela sentiu uma picada na perna direita. Houve dor, mas não grito. Mana olhou para baixo e viu sua perna sangrar devido a um golpe de ponta de alguma lâmina afiada. Quando foi aquilo?

Olhou para frente e não encontrou sua oponente. Ouviu um passo em suas costas. Virou o corpo usando só o peso na perna esquerda e viu Himi aplicando um rápido corte na altura de seu pescoço. Levantou a kodachi e defendeu o golpe rápido por um triz. Sentiu mais uma dor, dessa vez, no braço esquerdo. Um arranhão fazia um pouco de sangue escorrer pelo braço. Mais uma vez, ela não soube quando aquilo foi feito.

Tentou ao máximo ignorar os dois machucados e atacou Himi com um chute baixo, mirado na dobra da perna direita. A garota sorridente deu um passo para trás, se esquivando do golpe. Mas teve que dar outro quando percebeu que Mana já tinha aplicado outro golpe em uma combinação direta. O ataque com a ponta da kodachi foi esquivado perfeitamente, mas Himi se viu recuada. Se impressionou pelo fato de Mana ter atacado imediatamente mesmo com os machucados, mas isso não retirou seu sorriso.

Passou um tanto de energia mágica para a arma da mão direita e atacou girando o corpo. Aumentou a força e o impulso. Mana tentou defletir o ataque e assim que as duas armas se encontraram, o corpo da assassina da Immortal Star foi jogado para trás, quase sem equilíbrio nenhum. Ainda seguindo a onda, Himi deu um passo a frente e atacou com a wakizashi esquerda, verticalmente. Mana jogou o corpo para trás de vez, dando uma cambalhota e ficando em pé logo atrás.

Essa primeira troca de golpes já estava levando o público a loucura. A gritaria não parava nem por um segundo, e não dava pra saber o que exatamente era gritado. As torcidas dos dois times estavam com toda a força. As pessoas que ainda torciam para a Immortal Star não queriam ser derrotadas mesmo com o número menor de gritos e o volume de suas vozes sendo praticamente anulada pelo coro de ópera que os torcedores adversários faziam.

Entre essa gritaria toda, existiam os quietos. Aqueles que vieram assistir a luta para diversos motivos diferentes. Uns obscuros, outros claros como o dia. Um desses torcedores era Leon, sentado em sua cadeira de perna cruzada e tamborilando os dedos. Ele tinha se lembrado de algo, mas tinha esquecido de comentar com seu colega ao lado.

— É essa aí, não é? — disse o General, puxando a atenção de Raziel e até mesmo de Athena. — É a Mana que foi tão... "Bajulada" pelo Bart, não é?

— Sim. — respondeu Raziel, seco. Ele nunca foi um homem de muitas palavras, então Leon não se irritou com isso. — Estranho alguém fora do Planetarium chamar a atenção dele.

— Ahhhhh, com toda certeza! — continuou o General Mímico. — Bart é um daqueles riquinhos que não se importa com nada a não ser a Realeza e Nobreza.

— Não é bem assim. — cortou Athena. — Bart se interessa muito pela "força". É verdade que eu nunca o vi com curiosidade sobre coisas fora do nosso grupo, mas isso só reforça o fato de que essa tal de Mana tem algum tipo de poder especial escondido. Eu já percebi que ela tem uma percepção afiada, mas só isso não é o bastante para chamar atenção de ninguém.

Eles não falaram mais porque o embate voltou a tomar iniciativa. Mana foi a primeira a atacar novamente. Puxou duas adagas e as atirou contra a cabeça de Himi, enquanto corria na direção dela. Himi, por sua vez, aparou as duas adagas no ar com um golpe rápido de sua arma na mão esquerda e usou a da direita pra se defender do corte horizontal de sua oponente.

Assim que as duas lâminas bateram, soltando aquele típico som de ferro fino, Mana colocou sua pequena tática em ação. Atirou uma agulha que levava escondida na mão esquerda contra o olho de Himi. Isso não foi o suficiente para acertá-la. Himi colocou a cabeça para o lado e além de se esquivar da agulha, aplicou um golpe potente com a arma esquerda, dando um corte vertical.

É aqui que houve uma beleza nos movimentos de Mana. A assassina soltou a kodachi e segurou o braço da inimiga que vinha com tudo em sua direção. Depois, Mana fez mais dois movimentos conjuntos. O primeiro foi puxar com toda força o corpo de sua oponente para o lado, fazendo ela cambalear e mostrar as costas para Mana. O segundo foi puxar mais uma adaga com a mão esquerda e colocar energia mágica nela.

MALDIÇÃO DA SERPENTE!

Não teve como Himi reagir dessa vez. Ela estava sem equilíbrio e não conseguiria se defender. Levou a punhalada nas costas, na região um pouco acima da cintura. O efeito foi instantâneo. Ela cambaleou para frente por uns cinco ou seis passos e se virou para Mana, sentindo a dor.

Himi sabia muito bem que a dor não era o que lhe preocuparia. Ela tinha sido envenenada. Um veneno mágico podia não ter o mesmo tempo de duração que um veneno normal, mas ao invés disso, ele fazia com que o efeito aparecesse MAIS rápido. E também havia um outro problema: Mana sabia muito bem o que ela pensava naquele momento. Foi por isso que Himi tentou se afastar dando um salto para trás. Queria bolar seu próximo movimento e dar um jeito de não ser afetada pelo veneno. Mas ela não conseguiu nem um segundo para pensar.

Mana estava vindo de cima. Ela tinha corrido e pulado contra a oponente, tentando surpreendê-la. Conseguiu. Himi levantou o braço direito para se defender do corte voador. De fato, a defesa foi efetiva. Mas quem saiu na desvantagem havia sido Himi. Mana aplicou muito mais força naquele golpe, e isso tirou a defesa da loira por um segundo. O que foi o suficiente para Mana cair no chão e já aplicar um chute no estômago dela.

Himi ficou sem ar e teve que usar todo o esforço de seu corpo para defender de mais um corte rápido vindo da direita. Esse corte não teve toda aquela força de antes, mas também não era um golpe direto. Era uma finta de Mana. A garota atacante começou dando um golpe leve horizontal, e assim que foi defendido, passou para um ataque de ponta, fazendo força contra o corpo da defensora. Esse golpe não era muito bom para ser usado com armas curtas como a kodachi, mas quando se luta em distância muito curta, a força do atacante pode ser tão grande que mesmo uma arma de lâmina pequena pode perfurar o corpo do indivíduo. Foi exatamente o que aconteceu aqui.

Himi levou mais um furo, dessa vez bem no meio do peito. Assim que sentiu a picada, ela forçou as pernas para ir para trás, mas Mana fez sua tática mais uma vez. Dessa vez, sem soltar a kodachi. Agarrou Himi com sua mão esquerda e a aguentou na mesma posição. A assassina da Zero Soldier sentiu o corpo pesar. Era o veneno? Não sabia, porque não tinha tempo para saber. Não tinha tempo para analisar. Viu a kodachi de Mana vindo na direção de seu pescoço. Um golpe assassino.

Himi não podia usar o braço esquerdo, então usou o direito. Colocou a wakizashi na frente e defendeu o golpe mortal. Mana ignorou a defesa de seu golpe, soltou o braço dela para desbalançeá-la e depois pulou para frente, acertando um chute na lateral direita da cabeça de Himi. Essa assassina deu vários passos para trás, tonta. Não sentiu o chão no último passo dado e caiu um tombo, fora do ringue.

Houve um "WOW" sonoro, reverberando por todo o Coliseu. A súbita mudança de vantagem realmente deixou quase todas as pessoas que torciam para o time de Himi com o queixo caído. Como aquilo era possível? O "Lutador D" já tinha lutado. Foi na primeira luta! Ele tinha derrotado o oponente em menos de quinze segundos. Tinha sido tudo tão rápido que eles, os fiéis torcedores, não tinham visto e nem entendido nada. Para eles, valia o que o Telão mostrava. Tinha mostrado VITÓRIA para o Lutador D. O Apresentador tinha anunciado uma vitória para o Time Zero Soldier. E isso era tudo o que importava.

Então o que era aquilo que estava acontecendo? Os torcedores da Immortal Star gritavam felizes. O Telão Informativo tinha iniciado a sua contagem, já marcando o "9". E então os xingamentos começaram. Aquilo era uma palhaçada! Mana não poderia ser tão poderosa a ponto de derrotar um membro do Time Perfeito assim, tão facilmente! Tinha algo de errado, e nisso, Shiro, Jimmy e até aquelas pessoas com capuz e prancheta concordavam.

— Eheheh... Essa me pegou de surpresa.

Himi colocou uma das mãos na borda do ringue e se levantou. Ela ainda estava rindo. Mana nem piscou quando ouviu o comentário dela. No fundo, ela sabia que tudo aquilo tinha sido fácil demais. As duas já tinham lutado antes, então Mana sabia muito bem do que sua oponente era capaz.

Himi era uma assassina com magias de Ilusão. Era um problema enorme ter que lutar contra algo que você não sabe se é verdade ou mentira. O estilo de combate com duas armas ainda adiciona um elemento a mais, tornando tudo mais perigoso. Golpes variados, defesas sem perder postura de ataque, ilusões vinda de todos os lados... Himi tinha seu Título Único por um motivo bem óbvio.

— Acho que eu já brinquei demais. — disse Himi, subindo no ringue novamente e fazendo a contagem do Telão Informativo sumir. — Vejo que andou melhorando seu combate corporal, Mana. Parabéns por deixar meus fãs preocupados por um segundo! Ahahahahah!

— Você ainda consegue rir tendo tantas desvantagens? — perguntou a outra assassina, levantando a kodachi e se preparando para atacar mais uma vez.

— Desvantagens? Ah! O veneno? Ahahahahahahah! — essa risada foi mais demorada e parecia muito mais debochada. Mana estava tendo que se controlar para não perder o juízo. — Mana... Meu corpo é imune a venenos. No treinamento do meu clã, se você não conseguir beber um copo cheio de veneno e não vomitar, você não é nem aceita para treinar lá. — a reação de Mana foi claramente humana. Ela arregalou os olhos, impressionada. Isso porque ela acreditava que o que Himi dizia era pura verdade. O Clã do Sangue Negro era famoso, conhecido e temido até mesmo pelas pessoas normais. Imagine então se algum assassino não os conheceria? — Agora chega de papo. Meu time não gosta muito quando eu enrolo uma luta. Vamos acabar com isso, ta?

Mana foi jogada para longe. Não porque ela recebeu algum golpe direto. Ah se fosse isso. O que tinha atirado-a para longe, tinha sido o rápido aumento de aura de Himi, que causou uma explosão de ar que afetou tudo a sua volta. Até os torcedores que estavam na arquibancada mais próxima do muro de proteção receberam uma lufada de vento em seus rostos.

Agora que começaria a verdadeira batalha. Mana se irritou por dentro. Himi tinha brincado com ela até aquele ponto. Mas sua brincadeira lhe custou algumas feridas, e Himi nunca conseguiria esconder as dores. Poderia ignorar, mas não anular sua existência.

Mana não tinha o que temer. Ela já estava com bastante adrenalina injetava em suas veias, então não sentia mais nenhum medo. O fato de que elas já tinham lutado e ela havia sido derrotada não lhe passava mais na mente. Tudo o que ela pensava era no agora. Teria que lutar com tudo para a derrotar aqui, no Coliseu. Precisava trazer a vitória. Precisava saber se estava tudo bem com San. Precisava tirar o peso no olhar de Kuchiki e Mumu, que ainda pareciam estar tensos. Precisava e IRIA vencer. "Pode vir com tudo o que você tem, Himi. Não vou recuar!".

INVESTIDA ILUSÓRIA!

O corpo de Himi brilhou em uma cor cinza escurecida. A liberação de energia foi tanta que luzes preencheram as frestas do piso de todo o ringue. Mana manteve uma posição defensiva, dando mais um passo para trás. Para ela, quanto mais espaço tinha entre ela e o oponente, mais tempo ela teria para reagir.

Himi deixou o corpo cair para frente, colocando força na perna direita e voando na direção de Mana, rente ao chão. A velocidade tinha aumentado. Mana quase não teve tempo o suficiente para preparar uma defesa efetiva. Himi cruzou as duas lâminas de suas armas na frente de seu corpo, querendo aplicar um corte tesoura na altura da barriga de Mana.

Esse golpe era poderoso e tinha poucas maneiras "seguras" de se defender dele. Uma delas era atacar o centro da tesoura criada pelas lâminas das armas da oponente, fazendo o golpe não se completar. Foi esse método que Mana escolheu. Aplicou um corte rápido na altura das duas wakizashis. Foi um golpe preciso e perfeito.

Mas faltou o "plim". Faltou o barulho das lâminas se tocando. Faltou o impacto. Faltou explicação para a mente de Mana. No momento que as armas iriam se encontrar, o corpo de Himi desapareceu no ar. Assim, "puff". Uma hora estava ali, outra hora não estava mais. E dessa vez, Mana sabia que não tinha sido velocidade. Quando sua lâmina passou por onde estaria o corpo de Himi, ela sentiu um teor mágico ali. Era uma ilusão!

— Para onde você está mirando?

Acerto. Sangue. Grito por parte do time Immortal Star. Foi a primeira vez que eles abriram a boca pra falar qualquer coisa. Até aquele momento, eles não sabiam se comemoravam ou não, então se mantinham na deles. Mas depois de verem essa cena...

Kula não conseguiu segurar a lágrima triste que desceu pelo seu rosto e pingou no chão empoeirado. A cara de Mulkior mostrava mais susto. Na verdade, com uma certa mistura de desespero.

Todos estavam assim, tirando os torcedores da Zero Soldier. Jimmy chegou a se levantar para gritar o nome da colega. Bart quase gritou pelo seu microfone. Mas engoliu o grito, se controlando no último milésimo de segundo.

Todos viram Mana ser empalada pelas costas pelas duas wakizashis de Himi, na altura dos seios, mas no meio do peito. Mana só foi sentir a dor em si, depois que estava indo com a cara ao encontro do chão frio. No momento de sua queda, ela cuspiu uma grande quantidade de sangue, lavando o piso de vermelho. Estava paralisada e só a dor a mantinha consciente.

O que tinha acontecido? Era tudo o que passava em sua cabeça. Ela atacou Himi que vinha até sua frente. Mas era uma ilusão. Ou não? Não, não... Era MESMO uma ilusão. Ela sentiu a energia mágica se desfazendo em sua lâmina. Então como... Ela chegou nas costas em tão pouco tempo? Impossível ela ter velocidade o suficiente para correr para trás dela enquanto sua magia corre na frente. Ela precisaria, tecnicamente falando, se teleportar.

Mas Mana era uma maga também. Ela sabia que todas as magias de teletransporte consomem uma grande quantidade de energia mágica e requerem uma boa concentração. Shiro poderia dar um discurso só sobre isso, já que ele levou anos para aperfeiçoar sua magia de entrar nas sombras.

"MANA, LEVANTE-SE!". A assassina machucada ouviu o apelo de sua colega de time. Cerrou os dentes e mandou energia para todo o seu corpo de uma só vez. Sua percepção se aprimorou e ela sentiu que Himi vinha com tudo contra ela, mesmo no chão. Forçou o braço esquerdo contra o piso e empurrou o corpo, rolando para o lado.

Houve um barulho metálico seco. Foi de Himi que tentou perfurar a perna da oponente caída, mas errou por muito pouco. Mana forçou o corpo a ficar de pé, e quase desmaiou quando a dor fez seu cérebro entrar em choque. Sangue corria rápido do machucado. Ela não podia lutar daquela forma.

Fechou os olhos. Claro, era uma loucura fazer isso naquela situação. Himi não era boazinha o suficiente para esperar sua oponente se recuperar. Ainda mais quando o dito cujo ainda fecha os olhos no meio da partida.

A assassina loira firmou as mãos e deu dois passos para frente. Parou e recuou mais dois novamente. Estava sentindo algo diferente. Mana estava liberando uma forte aura. O ar começou a ficar mais frio. Era quase possível "enxergar" o vento. Himi olhou para o chão e viu os pisos sumirem, dando lugar para um tapete de energia azul claro. Ela riu novamente quando levantou a cabeça e viu uma poderosa energia mágica rodeando sua oponente machucada.

Ela estava usando suas habilidades da Classe Secundária. Claro, faria sentido. Ela sabia que não poderia enfrentar Himi de igual, então precisaria usar de artifícios diversos para ter alguma vantagem. "Não vai ser o suficiente, Mana!", era o que ela quase gritou, antes de Mana levantar a mão direita e passar uma certa quantidade de energia mágica pra lá.

CICATRIZAÇÃO CONGELANTE!

Mana encostou a mão cheia de energia no machucado do peito, e dali daquele ponto, começou a surgir uma camada sólida de gelo, trancando o furo e parando o sangramento. Depois, ela levou a mão para trás e fez o mesmo com o furo nas costas. Era uma magia difícil de se controlar, principalmente porque o usuário necessitava ter um bom controle de energia para não sentir o frio intenso do gelo no corpo.

Ah sim, e aquela magia não era de "cura". Mas trancava qualquer machucado o fazendo parar de sangrar. Pelo menos, enquanto o usuário tivesse energia mágica. O gelo também fazia um outro milagre: livrava o usuário de quase toda a dor sentida. Era isso que Mana estava precisando naquele momento.

Ficou de pé finalmente, olhando a oponente. Himi exibia aquela cara irritante. Não importa como se visse, era óbvio de quem era a vantagem ali. Mana estava começando a sentir o mesmo desespero que teve quando a enfrentou da primeira vez. Mas naquela vez, as circunstâncias eram muito diferentes. E ela iria provar isso agora.

ESFERA DE ÁGUA!

Ficou segurando a kodachi na mão direita e com a esquerda, concentrou um pouco de energia mágica, criando uma esfera feita totalmente de poder mágico. A esfera logo entrou em uma transformação rápida, assim como a Esfera de Fogo de Kula. Mas ao invés de se avermelhar e entrar em combustão, essa esfera ficou azulada e começou a criar bolhas dentro dela. Algo respingava no chão enquanto Mana puxava o braço para trás e logo em seguida, jogava aquela bola de água comprimida contra Himi.

A esfera não tinha tanta velocidade assim, e para Himi especialmente, aquilo parecia até uma palhaçada. A assassina de espadas duplas jogou o corpo para frente e a cabeça para o lado, se esquivando da bolha e se preparando para mais uma investida. Mas foi a vez de Mana sorrir.

Assim que a esfera de água estava passando pela lateral da cabeça de sua oponente, Mana apertou a mão esquerda, enviando um novo comando para sua magia previamente disparada. Isso, o Anjo de Fogo nunca fez. Não que ela não sabia, claro. Controlar uma magia mesmo depois de disparada é uma coisa que todos os magos PRECISAM saber.

Por exemplo, se Kuchi atira fogo em algo que pode ser altamente flamejante, como uma casa de madeira, se ela não controlar o fogo perfeitamente, toda a casa vira cinzas sozinha, com a força da natureza. Os magos sempre tinham maneiras muito diferenciadas de lutar, e eram mais distintas ainda quando esses mesmos magos usavam elementos diferentes.

O que Mana fez foi brilhante. O sinal que ela mandou para sua magia foi que ela explodisse. E acredite, uma bolha de água comprimida explodindo tem a força de uma marreta.

Himi foi atingida na cabeça, indo ao chão tonta. Um golpe surpresa magnífico. Ainda no chão, ela sentiu sua oponente vir correndo em sua direção. As duas eram lutadoras que não davam tempo para seus oponentes se recuperarem.

Himi forçou o corpo e a aura e então ficou de joelhos, defendendo um corte vertical de Mana. Estava ficando frio demais para Himi, e isso era devido ao fato da liberação poderosa da aura de Mana. Quanto maior era a aura dela, mais frio ficava. E quanto mais próximo do corpo de Mana, pior ainda.

A assassina de espadas duplas girou o corpo e aplicou uma rasteira em Mana. Não funcionou. Essa assassina deu um pulo curto para trás, esquivando perfeitamente. Puxou duas adagas e as atacou na direção da assassina que ainda estava de joelhos. E então aquilo aconteceu de novo.

As adagas passaram quase um metro de distância do corpo de Himi, que agora estava em pé e pronta para atacar novamente. O que estava acontecendo? "Minha mira sempre foi boa!", era o que pensava Mana. Mas novamente, havia algo estranho naquilo tudo. Não poderia ser coincidência que todos os projéteis jogados contra Himi fossem inúteis. Tinha que ter algum tipo de truque.

CERCA DA CONJUNÇÃO!

Himi deixou sua energia mágica explodir mais uma vez, causando uma densa liberação de sua aura para todos os lados do ringue. Mana ficou em uma posição defensiva, mas nada veio em sua direção. Bem, não "diretamente".

Ela tinha sido cercada em apenas dois segundos, por várias "Himis" que corriam ao redor dela. Era uma magia de multiplicação de corpo. Mas era tudo feito de energia. Uma ilusão em massa. Por mais que Mana soubesse bem que só uma daquelas "Himis" era a verdadeira, ela não conseguiu identificar só pela sensação de fluidez de energia arcana. E nem pela aura! Essa magia conseguia esconder perfeitamente o corpo real da usuária!

Mana deixou seus olhos correrem por cada um daqueles corpos de energia. Ela precisava saber se alguma delas poderia ter alguma diferença. Precisava saber se elas tinham uma movimentação diferente... Algum sinal diferente. Qualquer coisa! E então elas atacaram.

Todas ao mesmo tempo, sem piedade. Mana olhou para os dois lados rapidamente e logo se abaixou, deixando passar dois ataques por cima de sua cabeça. Agora... Como ela se esquivaria do resto? Um corte pela direita. Mana puxou o braço para trás, não deixando a lâmina inimiga lhe acertar. Um golpe por baixo, na altura do tendão. Mana levantou o pé e o desceu rapidamente para dar impulso para seu corpo se esquivar de outro golpe perfurante na altura de seu pescoço. E então dor.

Um corte médio no antebraço direito. Mana se virou para aquele lado, imaginando que a verdadeira Himi estaria ali. Atacou com sua kodachi, ignorando as supostas "sombras" que lhe atacavam por baixo e por cima ao mesmo tempo. Mana atingiu o corpo daquela que tinha lhe cortado... Mas não encontrou nada. Sua lâmina passou pelo corpo daquela Himi como se cortasse o vento.

Outra dor. Levou um corte na perna esquerda, mas não foi muito profundo. E lá vinham mais cinco ou seis ataques. Aquela magia era realmente infernal.

Mana deu um pulo para trás, saindo da roda de ilusões. Mas não foi o suficiente para ela sair impune. Ao aterrissar, sentiu que havia levado outro corte no braço, dessa vez perto da mão esquerda. Os clones corriam em sua direção freneticamente. Não dava pra ser rodeada de novo. Seria suicídio.

Foi então que teve uma ideia. Concentrou mais energia mágica na mão esquerda e a bateu contra o chão em sua frente.

PILAR DE GELO!

Da frente da Lâmina Sanguinária surgiu um denso, grande e grosso pilar feito totalmente de gelo sólido. Todos os clones mágicos de Himi pularam para diferentes lados, se esquivando da magia. A verdadeira teve que admitir que essa magia foi bem rápida e se tivesse a atingido em cheio, poderia ter causado problemas. Mas dane-se, isso não aconteceu. Todos os clones circularam o pilar e... Não encontraram o oponente.

As Himis começaram a procurar Mana pela arena e não a encontraram. Como? Era impossível desaparecer do campo de visão dela. Era realmente uma pena que Himi não tinha a visão privilegiada da plateia ou até mesmo dos seus amigos de time. Só assim ela conseguiria encontrar Mana, que estava em cima do pilar de gelo que tinha acabado de ser criado. Mana aproveitou os segundos de confusão de sua oponente para concentrar energia e ter certeza de que estava mirando bem dessa vez.

ACUPUNTURA DO PRIMEIRO INFERNO!

Mais uma vez, a assassina acuada usa sua magia de chuva de agulhas. Todos os clones de Himi estavam ao redor do pilar, a procurando. Então foi fácil mirar a descida mortal das pequenas agulhas afiadas. Mana atirou uma agulha energizada para cima, que depois de voar muito pouco, entrou em efeito e se dividiu em outras cem. A chuva cinza atingiu todos os clones ao mesmo tempo, e um deles deu um grito curto de dor.

Himi tinha sido atingida e dava passos para trás, sentindo como se tivesse atiçado abelhas com um pedaço de pau em seu casulo. Ela tinha agulhas pelos braços, ombros, peito e costas. Soltou uma das wakizashis para puxar as agulhas do corpo, começando pelas que estavam em seu braço direito.

Mana, que ainda estava em cima do pilar tendo uma boa visão do campo, apontou o braço esquerdo para a figura dolorida de Himi e com o braço direito levantado, começou a concentrar energia mágica de novo. A reação da loira foi imediata. Olhou para cima e viu algo se formando acima da cabeça de sua oponente. Aquele braço estendido em sua direção lhe dizia claramente que algo a mais viria até ela, e pela concentração, não seria pequeno como as agulhas.

Himi se apressou para arrancar as agulhas restantes do seu corpo, e quando puxou as que estavam no peito, ela teve que se segurar para não berrar. Não conseguiu conter duas lágrimas que desceram dos seus olhos em reação a dor.

ESTALACTITE DE GELO!

A magia de Mana estava pronta. Em cima da sua mão direita que continuava levantada, surgiu um tipo de barra grossa feita totalmente de energia mágica. Essa barra cresceu e tomou uma forma não linear, parecendo mesmo uma estalactite ou espinho difuso de gelo. E era grande. E pontiagudo. Duas das coisas que deixavam qualquer magia perigosa o suficiente para a pessoa que iria ter que lidar com ela, necessitava saber.

Mana segurou sua magia em mãos por menos de um segundo. Mirou e disparou contra sua oponente. Himi já estava preparada. Com uma wakizashi só em mãos, ela sabia que precisaria forçar aquela magia para sua lateral. Defender de frente seria idiota e mortal. A assassina se preparou com a espada levantada. E então teve uma surpresa.

Mana não tinha escolhido atirar essa magia porque seria novidade aos olhos dos torcedores ou de sua oponente. Essa magia tinha uma característica bem única: sua velocidade. Sua forma servia para que ela voasse rápido, ignorando a resistência do vento. E foi o que aconteceu.

Em descida, a estalactite pareceu ser ainda mais rápida. Voou como uma lança da morte em direção ao meio do peito de Himi, que jogou o braço para cima em desespero. A lâmina da wakizashi bateu de frente contra a magia, fazendo-a desviar com o impacto. Mas Himi ainda saiu perdendo. A estalactite comeu sete centímetros de seu braço direito, deixando um talho na carne que fez uma cachoeira de sangue.

Himi deu mais passos para trás, não aguentando a nova dor. Ela não conseguia acreditar que estava recuando para uma oponente como Mana. Levou a mão esquerda no corte no braço, vendo que não se tratava de um ferimento leve. Aquilo diminuiria e muito sua força no braço direito, sem contar com o fato de estar perdendo uma grande quantidade de sangue.

Mana caiu no chão quando sua própria magia, o pilar gigante de gelo, se desfez. Mais uma vez, ela não poderia esperar sua oponente se recuperar do dano recebido. Impulsionou o corpo para frente e correu o mais rápido que pode contra Himi, empunhando sua destemida kodachi.

Himi estava de joelhos no chão, mas ao ver sua oponente se aproximar, ela mandou energia ao corpo e ficou de pé, defendendo a primeira investida de Mana, que tinha dado um ataque baixo. Mana girou o corpo e deu um passo para sua própria diagonal, ficando do lado de Himi. Girou só mais um pouco e desceu com um novo corte, vertical dessa vez. Himi aparou o golpe com o braço esquerdo, defletindo a kodachi para o lado. Aproveitou e aplicou um corte rápido e leve na altura do estômago de Mana.

Não foi efetivo. Essa assassina deu um pequeno passo para trás, se esquivando do novo golpe e já aplicando impulso no corpo para mais um ataque. Um ataque duplo. Mana começou com um corte na altura da cabeça da oponente e depois que esse golpe foi defendido, abaixou o corpo e a lâmina, acertando um corte horizontal na perna direita de Himi. Foi a gota d'água.

— CHEGA! — gritou Himi em alto e bom tom. O grito fez os ouvidos de Mana doerem por dois segundos inteiros, deixando um zunido irritante. Mas ela não se preocupava com isso. O que era realmente preocupante era ver Himi concentrando um amontoado de energia mágica por todo o corpo. Sua irritação também era tão visível quanto a alteração de sua própria aura. — ILUSÃO DE SHIVA!

A energia concentrada fluiu toda de uma vez, saindo do corpo de Himi e criando uma certa distorção no ar ao seu redor. Mana pulou para trás, em posição defensiva. Mas novamente, nada veio ao seu encontro.

A energia que rodeava o corpo de Himi se concentrou toda em volta das duas laterais do seu tronco, onde começou a formar algo. Algo no cérebro de Mana tinha lhe enviado um choque de lembrança. Ela já tinha visto essa magia antes. Foi com aquela magia que ela obteve sua derrota na batalha no telhado. Ela sabia o que estava pra vir!

Do corpo de Himi, nasceram mais quatro braços feitos de energia mágica. A garota se abaixou para juntar sua wakizashi caída, e foi quando que, nos quatro braços extras, apareceram mais quatro espadas. Agora Himi era uma aberração de seis braços empunhando seis wakizashis. Seria um retrato muito bonito de uma Deusa se ela não estivesse quase descontrolada pela fúria que sentia.

Himi odiava ser levada contra a parede em lutas daquele tipo. Principalmente pra alguém que ela já derrotou uma vez. Sua raiva era clara. Agora as seis lâminas brilharam com as luzes do Coliseu, e todas as seis estavam morrendo de sede. E só um líquido iria saciar sua sede.

Himi deixou seu corpo todo energizado e partiu para cima de Mana. Estava na hora de encerrar aquela bobeira. Atacou com os três braços da direita. Mana já sentiu o perigo imediato daquela investida. Eram três golpes vindo em ângulos diferentes. Mana deu um passo para trás e defendeu só um deles, que era o que vinha de ponta na direção de seu pulmão direito. Três golpes na esquerda. Um na altura do pescoço, dois na lateral de seu braço. Se abaixou, deixando a primeira passar pelo vento e depois levantou a kodachi em um golpe para cima, batendo contra as duas outras espadas.

Esse era o terror dessa magia. Himi era uma usuária de ilusões, mas todas as seis wakizashis eram reais! Não adiantava tentar entender como aquela magia funcionava. O que Mana precisava era saber como iria derrotá-la. Mas então Himi começou a atacar pra valer.

Usou a energia em seu corpo para aumentar a velocidade dos golpes. Começou a atacar seis vezes por segundo. E cá entre nós: nenhum ser humano consegue se defender de tantos golpes vindos em direções aleatórias ao mesmo tempo. Pois então. Mana estava incluída nessa situação.

Começou a defender e dar passos para trás, fugindo de alguns golpes. No começo, ela tinha se saído bem. Mas então levou um corte na perna direita... Outro no braço direito... Outro na mão esquerda... Outro no pé direito... Outro leve na lateral do pescoço... Uma perfuração leve na barriga... Um corte bem pequeno e quase invisível no casco da cabeça... Dois cortes na frente do peito, quase no mesmo lugar... E um bem perigoso na altura da sobrancelha, quase acertando seu olho direito.

Mana perdeu o equilíbrio depois de levar tantos golpes e não conseguir tempo para respirar entre um golpe e outro. Himi estava a atacando de um jeito que seria impossível se afastar sem levar quatro a cinco cortes perigosos. A decisão de dar um passo para trás por vez e defender pouco a pouco tinha sido uma boa estratégia por parte de Mana, mas isso também a fez não ter tempo o suficiente para se concentrar e lançar qualquer magia.

O último golpe — e o que quase definiu a luta — foi uma perfuração total na perna esquerda de Mana bem antes dela cair perto da borda do ringue. Uma perfuração tripla. As três wakizashis estavam atravessadas em sua perna, causando uma dor impossível de ser aguentada. Mana gritou o quanto pôde, mas ainda lutou para ficar em pé. Isso não durou muito tempo.

CICLONE DA DEUSA DA IRA!

O golpe de Himi tinha sido realmente estranho de se ver. Mas todos tiveram que admitir que tinha sido certeiro e mortal. Inicialmente, Himi puxou suas três wakizashis de uma vez, fazendo Mana cair de joelhos no chão, levando a mão esquerda até o machucado. Sem se afastar, Himi energizou as seis lâminas em suas mãos e depois abriu os dois braços. Com eles abertos, ela partiu para cima de Mana, que estava logo à sua frente, e girou o corpo em trezentos e sessenta graus, desenhando um círculo perfeito com as suas lâminas.

A assassina machucada não conseguiu se defender desse golpe. Ela levou seis cortes potentes no corpo, que criaram linhas de sangue de braço a braço, passando por seus seios e estômago. Mana foi jogada fora do ringue, inerte. Sangrando. E só então que os gritos dos torcedores voltaram a ser o principal barulho do Coliseu. Aplausos de pé.

Bart também estava de pé, mas não aplaudindo. Ele quase bateu o rosto no vidro que dava visão total do ringue, querendo ver onde tinha caído sua amada. A assassina estava caída em um ângulo em que ele não conseguia ver seu corpo, e isso estava o tirando do sério. Pablo nem prestou atenção no Comentarista preocupado. Só deixou sua voz ser ouvida por todos, apoiando a torcida.

Um desfecho impressionante, senhoras e senhores! — começou. — Uma luta com várias mudanças de vantagens, nos deixando sempre com o coração na mão, não sabendo quem triunfaria no final! Uma luta realmente digna de um final do nosso grande Coliseu!

Mana tossiu ainda caída. Sentia frio em todo o corpo, e a dor no peito estava infernal. Viu que seus olhos não estavam funcionando como deveriam. Demorou a entender que tinha caído no chão de barriga para cima e o sangue na garganta era devido a algum ferimento interno que tinha subido até ali.

A garota forçou o corpo para o lado, ficando de bruços e cuspindo sangue em uma série de tossidos não rítmicos. Seus olhos voltaram a ter um pouco de foco, e ela viu Mumu e Kuchi ao longe, correndo em sua direção. Daquele ângulo ela também conseguia ver as tendas médicas que foram armadas ali fora para a rapidez no atendimento pós-batalha. A tenda em que San tinha entrado há alguns minutos atrás ainda estava fechada. Ela não ouvia nada dali, não sabia se ele estava sob tratamento. Ou se já estava bem e se recuperando. Ou se...

Não. Mana tentou não pensar negativamente naquele estado. Tentou sentir aquela energia mágica que saia de lá por causa dos clérigos que forçavam suas magias de cura no corpo de seu parceiro. Nada. Mana não sentia nem a própria energia direito. Estava meio tonta, parecendo que tinha acabado de acordar e se levantado rápido demais.

Tentou se levantar forçando os braços contra o chão. Daí que doeu de verdade. Os cortes no peito eram sérios, profundos e, se ela não fizesse nada, mortais. Mana levou a mão em um dos cortes e depois a trouxe para frente dos olhos, vendo seus próprios dedos ensanguentados. Agora ela estava sentada, tentando retomar o fôlego.

Quanto tempo mais ela duraria contra Himi? Aquela batalha estava indo para um poço fundo demais, quase sem volta. Sua oponente tinha uma força tremenda, quase tão grande quanto a de Bart. "Será que foi assim que San se sentiu na batalha anterior?", pensou ela. No momento seguinte, ela levantou a cabeça e viu o número "5" aparecer no Telão Informativo.

Foi tudo tão rápido. Forçou o corpo a se levantar. Se pegou pensando no Lobo Solitário novamente. Na luta dele pela vida. Levou a mão à cabeça, querendo descobrir porque ele não queria sair de seus pensamentos. Foi a luta intensa dele? Aquilo realmente tinha acordado o espírito de luta dela. Ou era a preocupação de nunca mais vê-lo novamente? Poderia ser... Poderia ser mesmo.

— MANA! — gritou o mago de ferro de seu time, ofegante. Ele tinha chegado antes de Kuchiki, que chegaria no segundo seguinte. — Você está muito ferida! Acha que consegue continuar?

— Não sei. — respondeu ela, com uma voz fraca. — Mas eu preciso.

— Mana, por favor! — a voz de choro da maga fez Mana se virar e a encarar. — Não se sacrifique do mesmo jeito que San! Eu sei que você está com a cabeça cheia depois de ter visto ele perder a batalha anterior... Mas você tem que enxergar seus próprios limites!

— É verdade... — disse a assassina. Mana subiu no ringue com uma certa dificuldade, sentindo o peito e a barriga mandarem uma mensagem para seu cérebro. Uma mensagem de pura agonia. Mas ainda sim, assim que ficou de pé no ringue, ela sorriu se virando para os dois companheiros. — Eu sei onde estão meus limites. E eles ainda estão longe.

O contador parou e Pablo voltou a dar continuidade ao combate, anunciando contentemente que todos ainda teriam muito tempo de espetáculo para assistir. Kuchi não tinha gostado do que tinha ouvido e nem mesmo do sorriso que sua amiga tinha dado antes de voltar a caminhar para o centro do ringue. Aquele não era um sorriso de felicidade. A expressão dela poderia estar alegre, mas ela sabia que escondia uma dor imensa.

A maga sabia que Mana sofria tanto fisicamente, quanto psicologicamente. Olhou para trás, encarando a tenda médica de San. Ninguém havia saído dela até agora, e ninguém havia entrado. O que estava havendo lá dentro? San PRECISAVA estar vivo, se não, os médicos já teriam saído de lá. Talvez ele tenha se ferido tanto que o tratamento dele seja mais intenso do que o esperado. Era o que mais fazia sentido naquela situação tenebrosa.

Mumu ficou do lado da parceira e colocou uma mão no seu ombro. Kula olhou nos olhos dele. Palavras foram desnecessárias. Ela entendeu o que ele queria dizer. Sentiu o que ele estava sentindo. Os dois já conseguiam compartilhar seus sentimentos apenas com expressões.

Kula voltou a encarar o ringue. Apertou as mãos, torcendo o máximo que podia para sua amiga. E querendo se livrar do pensamente que invadia sua mente, sobre aquele sorriso de Mana ser do tipo "Adeus".

CICATRIZAÇÃO CONGELANTE!

Ao chegar um pouco mais próximo de sua oponente, que continuava exibindo os seis braços que dificultavam a luta, Mana concentrou energia mágica na mão esquerda e fez mais uma vez sua magia de congelamento do próprio corpo, estancando o sangue. Agora ela estava com toda a frente do corpo em gelo, o que iria reduzir muito sua velocidade e um pouco de sua percepção. Se já era difícil acompanhar Himi com todo o seu poder, imagine agora?

— Eu tenho que admitir, Mana... — dizia Himi, com um largo sorriso no rosto. — Se é uma coisa que você tem, é coragem. Subir ao ringue novamente depois de levar esse ataque em cheio... Não, não. Eu diria que é mais "burrice" do que coragem!

Mana não respondeu e não se irritou. Do que adiantaria? Tinha que se manter calma se quisesse virar o jogo. Foi isso que San tinha lhe dito no dia anterior. "De novo! San, San, San! Por que você não para de me atormentar?", foi o que a mente de Mana começou a gritar.

Mas então ela abriu os olhos e olhou para trás. Encontrou os rostos assustados dos dois magos de seu time e a tenda. A maldita tenda que ainda estava fechada. "Era isso!". Mana tinha se lembrado de algo muito importante que havia desaparecido de seus pensamentos por causa da adrenalina do combate. A Estratégia!

San tinha criado táticas diversas para cada um dos membros do time para que lutassem de formas diferenciadas, tentando atender as diversas situações que poderiam ocorrer no campo de batalha. O garoto tinha sido muito especifico em certas magias e quando usá-las. Deu um discurso enorme falando do desperdício de energia de Kuchi. E também falou do jeito óbvio dos ataques de Mana. Era isso! Ela precisava se lembrar de cada palavra agora.

" — Pra inicio de conversa... — disse San, quando estava sentado na mesa de madeira, junto com os outros três integrantes do time que estavam com todas as atenções viradas para ele. — Eu devo dizer que você treinou muito bem seus movimentos de ataque da kodachi e das katars. Seus golpes estão precisos e contém um tanto de estilo único para combinações. Mas por mais que isso seja bom, pode se tornar uma faca de dois gumes. Fica mais fácil de ler os ataques. Mas esse não é o seu maior problema. O real problema é sua pequena variação de armas que usa para distração. A parte boa é que é um problema facilmente resolvido. Outra coisa: é normal querermos usar toda nossa energia quando nos vemos em uma situação complicada. É normal... E errado. Nessas situações, não temos controle da nossa energia mágica e ela acaba sendo desperdiçada, podendo nos levar a uma derrota sem volta. Então Mana, quando você começar a se sentir em desvantagem, poupe sua energia mágica o máximo que conseguir. Eu vou te dar umas coisas para você levar no combate que vão te ajudar a ganhar tempo para passar a fluidez do combate ao seu favor."

Mana partiu para cima de sua oponente, fazendo com que todo o Coliseu se surpreendesse. Todos achavam que ela já estava com um pé na cova, cansada e machucada a ponto de não poder nem ficar de pé. Bem... Eles estavam CERTOS. Os danos que a assassina de kodachi tinha levado eram sérios e precisavam de tratamento intensivo. Mas não agora. Mana não iria descer daquele ringue daquele jeito. Ela precisava colocar o plano absurdo de San em prática.

Levou a mão na bolsa atrás de sua costas. Uma bolsa nova, que ela tinha preparado só para essa situação. Pegou o que queria e trouxe para frente em um só movimento, jogando-o contra Himi. Essa assassina, por sua vez, não iria ser pega desprevenida por algo tão óbvio. Viu um tipo de uma esfera muito pequena, branca, voando em sua direção. Movimentou os três braços da direita, cortando a esfera ainda no ar. E então veio a explosão.

Não de calor, destrutivo. Uma explosão de fumaça. Densa, branca e sufocante. Mana tinha jogado uma bomba de fumaça, coisa que não fazia há anos. A fumaça cresceu rápido e envolveu metade do ringue, fazendo com que as duas assassinas sumissem aos olhos dos torcedores, que decidiram não cessar seus gritos. Himi se viu envolta daquela fumaça e tentou encontrar Mana olhando para todos os lados. Era uma distração e tanto, mas não funcionaria nela. Himi queria rir, mas se fizesse isso, inalaria um pouco daquela fumaça.

— Acha que eu sou idiota? Só porque eu não consigo te localizar com os olhos, não quer dizer que eu não te "sinta"!

Ao falar isso, Himi se virou para a própria direita, com as seis lâminas preparadas. Ela sabia que Mana estava lá, parada. Não a via. Mas também não precisava. Era impossível esconder toda aquela liberação de aura congelante de Mana, de uma percepção afiada com a da "Lâmina Ilusória".

Himi investiu em um ataque total, querendo fatiar sua oponente. Mas assim que deu o primeiro passo, ela gritou de dor. Tinha pisado em algo pontudo que lhe arranhou a lateral do pé direito, fazendo o sangue verter imediatamente. Himi tentou enxergar o que havia no chão para ter causado o desconforto, mas a fumaça impedia.

Assim como Himi, Mana também sabia onde sua oponente estava através de sua presença maligna. Puxou cinco agulhas e atirou contra a oponente, que até percebeu o golpe, mas não tinha sido rápida o suficiente para se defender. Himi tinha levado quatro agulhadas na perna, e isso a deixou ainda mais furiosa. Tentou colocar o pé para o lado e sentiu que havia mais uma daquelas coisas pontudas e cortantes no chão ali também. "Ela me cercou de minas de espinho!".

A dedução certa de Himi a fez analisar sua própria situação em uma velocidade impressionante. Ela sentiu mais uma movimentação à sua frente, sabendo que Mana tinha atirado mais alguma coisa em sua direção. Se ela não podia ir para nenhum lado, então precisava sair por cima.

Himi forçou as pernas e deu um salto bem grande, para cima. Isso a fez sair da cortina de fumaça, aparecendo para todos os espectadores do Coliseu mais uma vez, que festejaram por vê-la bem. Mas parece que Mana também tinha calculado isso. Assim que Himi estava no ar, Mana já tinha preparado e jogado sua próxima carta.

SOMBRA DE LOKI!

Da fumaça da diagonal de baixo de Himi, uma kunai apareceu em alta velocidade, mirada provavelmente na cabeça da pobre coitada. A loira sabia muito bem como essa magia funcionava. Não iria ser burra como a outra oponente de Mana tinha sido.

Himi fez dois movimentos com duas wakizashis. Os dois cortes no ar bateram primeiro na kunai física e depois na mágica, jogando as duas pequenas armas uma para cada lado. Mas algo prendeu a mão direita de Himi. Havia algo enrolado em sua wakizashi. Naquela situação, ainda no ar, não havia muita coisa que ela pudesse ter feito. Mas ela viu. Sua wakizashi estava com uma linha enrolada no ligamento da lâmina com o punho.

Por sempre segurar suas armas com o máximo de vontade, no momento que aquela linha foi puxada, Himi veio ao chão com tudo. O impacto foi barulhento, e olha que ela nem conseguiu gritar quando sentiu vários tipos de dores ao mesmo tempo. Dor de impacto, dor de corte, dor de raiva.

A fumaça estava desaparecendo naquele momento, e Himi pode-se ver ao chão envolta de espinhos largados aleatoriamente por aquela área. Tentou ficar de joelhos, observando a maldita linha que a tinha puxado. Uma linha de aço quase invisível estava enrolado em sua arma. "Quando isso aconteceu?".

Himi levou um chute na cabeça. Seu corpo voou para frente, raspando o chão por quase um metro. Se remexeu e viu Mana vindo de novo. As duas eram muito parecidas nesse quesito. Não davam tempo para o oponente sequer entender o que estava acontecendo. Ficou de joelhos e atacou Mana com uma sequência de quatro cortes horizontais, que foram esquivados graças a um pulo para trás da atacante.

Himi aproveitou esse segundo para ficar de pé novamente. Sentiu sua wakizashi sendo puxada mais uma vez, e viu que a tal linha ia até a mão esquerda de Mana. "Realmente, quando que ela conseguiu enrolar isso aqui?", pensou a loira.

Mana puxou mais uma vez, fazendo Himi ceder um passo. Ou, nesse caso, avançar um passo. No fim, quem conseguiu rir ainda tinha sido o membro da Zero Soldier. Ela percebeu qual era a jogada de Mana. O que ela estava tentando fazer com aquela droga de linha de aço era impedir os movimentos do braço direito dela, diminuindo os ataques de suas wakizashis pela metade. Ideia boa, mas não seria efetiva.

Himi não deu outro passo sequer. Passou mais energia para o corpo e aumentou sua força física, puxando a linha para si. Com um só puxão, Mana veio voando em sua direção, ainda segurando a linha. Era o que ela mais queria. Ainda sorrindo, Himi puxou os três braços para trás, preparando um corte devastador. Mana não teria como se esquivar em pleno ar, e mesmo que se defendesse de uma das espadas, as outras duas a atingiriam em cheio, já que o golpe seria planejado para atingir três pontos distintos. A assassina de kodachi tinha cavado o próprio túmulo.

LÂMINA DO ZERO ABSOLUTO!

Foi o que Himi tinha pensado antes disso acontecer. Mana já tinha pulado em sua direção concentrando energia mágica na sua arma, mas Himi não ligou pro que viria. Ela imaginou que seu golpe triplo seria muito mais rápido e mortal, além de não ser defensável.

Mana precisou discordar. Com a kodachi energizada, ela atacou primeiro, mirando no braço do meio que vinha em direção ao seu pescoço. Assim que as duas lâminas se encontraram no ar, a magia de Mana entrou em efeito e congelou toda a wakizashi e o braço atacante de Himi.

Para quem estava fora do ringue, mais especificamente os guerreiros que assistiam a luta, ficou claro que Mana não tinha feito um golpe efetivo. Pois do que adiantava congelar um dos braços dela, se ela tinha três? A resposta veio automaticamente, quando os outros dois braços de Himi simplesmente pararam em pleno ar. Não completaram seu ataque.

Mana caiu em frente a sua oponente que mantinha os olhos em expressão de pavor. Não houve torcida por parte de ninguém naquele momento, já que quase nenhuma pessoa que estava assistindo aquilo tinha entendido o que estava acontecendo. Por que cargas d'água Himi pararia seu ataque a dois centímetros do corpo de Mana? Não fazia sentido!

— Sua cara de espanto me diz muito. — começou Mana, enquanto concentrava mais energia mágica nas mãos. — Achou mesmo que eu não entenderia o truque por trás dessa sua magia de multiplicação de braços? — Himi deu um passo para trás. Ela iria dar mais, mas uma de suas espadas ainda estava presa por um fio de aço, e soltar a arma não era uma opção viável. — TURBILHÃO DO OCEANO!

PÓS-IMAGEM DA INEXISTÊNCIA!

Essa foi uma cena memorável. Houve muito tumulto depois dessa troca de golpes, mas para ela ser entendida totalmente, deve-se começar a explicação do começo. Primeiro: por quê Himi não completou os golpes com os outros dois braços que não foram congelados? A resposta era simples, ao mesmo tempo que complicada. A magia de multiplicação de braços de Himi era poderosa e perigosa, mas ainda sim se tratava de sua especialidade, que são ilusões. Logo, aqueles braços eram ilusórios... Ao mesmo tempo que não são.

Aquilo era uma "refração" de velocidade dos dois braços dela. Himi conseguia atacar tão rápido, que em conjunto com sua própria energia mágica, ela poderia atingir três ângulos diferenciados. Mas para isso, ela NECESSITAVA que seus dois braços originais estivessem "funcionais". Mana percebeu isso depois que levou aqueles três cortes na parte da frente do corpo. Eram três linhas retas uma em cima da outra. Mas por mais incrível que parecesse, a linha do "meio" parecia ser mais profunda e dolorosa. Essa foi a dica que ela precisou pra determinar que o braço do meio era o original e sem ele, os outros dois não poderiam ser autossuficientes.

Mas essa teoria precisava ser comprovada antes de se tentar algo drástico. San foi bem específico nessa parte, quando passou a estratégia para todo mundo. "Nunca ajam sem terem certeza absoluta que seus movimentos não serão enganados pelas suas próprias conclusões.", era o que ele tinha dito. Fazia mais do que qualquer sentido.

Então para comprovar seus pensamentos, ela tentou enrolar o fio de aço pela wakizashi do braço do meio direito de Himi, escondendo a linha nas sombras de sua adaga energizada. Bingo. Ao ser enrolado, Himi não conseguiu mais atacar livremente com os outros dois braços direitos. Agora sim, ela poderia tentar algo mais difícil e poderoso. Não seria desperdício de energia se ela tivesse certeza que sua magia acertaria o alvo, correto?

Então Mana enganou Himi puxando a linha e a afrouxando. Himi viu que conseguiria puxar a oponente se usasse mais força, e assim o fez. Próximo plano de Mana: parar o outro braço de Himi. Para isso, a Lâmina Sanguinária energizou todo o braço com a kodachi, aumentando não a força, mas a velocidade. Precisava atacar primeiro. Ela SABIA que Himi ia atacar com o braço esquerdo, que ela tinha livre, então era só mirar no ataque do meio. Bingo de novo. Assim que esse braço foi congelado, os outros dois pararam como se estivessem no mesmo efeito do congelamento do outro membro.

Agora Himi estava sem as duas armas para se defender ou atacar. Esse era o momento mais perfeito que Mana poderia esperar. Ela concentrou uma boa quantidade de energia mágica nas duas mãos, colocando-as em frente ao corpo, como se fosse uma posição de reza, mas com as mãos separadas. Desse espaço que as duas mãos ficavam, um tipo de mini ciclone foi criado, mas ele não era feito de ar. Ele era feito de uma mistura poderosa de energia mágica com água. Depois, Mana apontou as duas mãos ao mesmo tempo para sua oponente, e aquele pequeno ciclone rotativo de sua mão cresceu exponencialmente, se tornando um tipo de turbilhão feito totalmente de água.

A magia saiu reta e atingiu Himi no meio do peito, a fazendo sair do chão no mesmo momento do impacto. Um acerto direto, perfeito. E... Não, não foi.

Assim que o corpo de Himi reagiu ao impacto, parecendo que seria jogado para muito longe dali, a assassina loira gritou algo e liberou uma grande quantidade de energia por todo o corpo, como se algo dentro dela explodisse para fora. Nesse exato momento, Mana viu o mais terrível. Viu o corpo de sua oponente desaparecer como se nunca estivesse estado ali.

O turbilhão de água continuou avançando, sem ter no que parar. Chegou até a borda do outro lado do ringue e depois desapareceu sozinho. Impossível? Talvez. Teletransporte? De novo, isso? Não, não. Himi tinha feito algo, mas não tinha nada a ver com teletransporte!

O fio que Mana segurava foi levemente movido, o que salvou a vida dela. Mana se virou e deu um pulo para o lado bem a tempo de se esquivar de um corte horizontal de Himi, que não pareceu tão triste assim por ter errado seu alvo primário. Mana tinha se esquivado do corte na altura do pescoço, mas ganhou um no braço esquerdo, na altura do ombro.

A assassina ferida deu três passos desordenados para trás, mas manteve o equilíbrio e continuou de pé, agora com a mão direita no novo corte em sua pele. Encarou mais uma vez sua oponente. Percebeu que ela estava respirando em uma velocidade elevada, assim como ela mesma. Sua última magia deve ter consumido mais do que esperado.

Mana não tinha entendido como funcionava aquilo. Não tinha tempo para pensar. A magia de Himi criava uma ilusão corporal dela mesma em qualquer lugar que ela quisesse, escondendo seu corpo verdadeiro por alguns poucos segundos. Era uma de suas magias mais fortes e ela não imaginava que teria que usar ali.

As duas estavam ofegantes, e pelo mesmo motivo. Usaram uma grande quantidade de energia mágica de uma vez só, ambas acreditando que seria a melhor opção para lhes dar a vitória. Elas não perceberam, mas o público se mantinha mais quieto devido a tensão da troca de golpes. Elas pareciam empatadas. Estavam lutando com tudo, e uma não queria cair pela outra.

Realmente, na visão das pessoas comuns era exatamente isso que parecia. Mas gente como Shiro, Raziel e Bart sabiam muito bem que Mana estava muito mais ferida e cansada. A vantagem ainda era de Himi, e isso só não preocupava mais Kula e Mulkior porque eles viam a expressão forte de Mana. Ela ainda não tinha terminado. Ainda haveria luta. Aquele duelo sanguinolento continuaria até que uma não estivesse mais consciente... Ou viva. Afinal, eram duas assassinas. Matar fazia parte delas.

Mumu se virou para trás ao ouvir um barulho que ele estava esperando por muito tempo. Alguém estava saindo da tenda médica onde San estava sendo tratado, pela primeira vez. O mago correu o mais rápido que pôde na direção do médico que retirava suas luvas de borracha ensanguentadas e as jogava em uma lixeira bem ao lado da tenda. Kuchi não conseguiu desgrudar os olhos do ringue, então não seguiu o amado.

— Doutor! — gritou o líder do time, chamando a atenção do médico em questão, que esperou no mesmo lugar até que o mago se aproximasse. — Como ele está?

— Mal. — foi uma resposta curta e grossa. E ruim. — Seus ferimentos foram graves demais. Ossos quebrados e cortes profundos eram só a ponta do problema. Seu amigo tem tecidos musculares rompidos, seu braço direito está com todas as artérias sanguíneas desligadas, seu pulmão está falhando o tempo inteiro, sua circulação e bombeamento do sangue está diminuída e o pior de tudo, sua cabeça está... — o médico fez uma pausa dramática e dolorosa. Ele estava com as mãos na cintura olhando para o mago, mas baixou a cabeça por um segundo e respirou fundo. Odiava aquela parte, de explicar sobre as condições críticas do paciente para seus amigos ou familiares. Porque ele sabia que a reação deles sempre era a mesma: tristeza e choro. — Sua cabeça está em um estado tão grave que nem a indução direta de magias de cura está fazendo efeito. Existe um tipo de barramento mágico nos bloqueando e atrapalhando consideravelmente o tratamento.

— Barramento mágico? NÃO!!! A maldição!

— Mas eim? — o médico levou um susto com a exclamação súbita de Mulkior e chegou a dar um passo para trás. — Do que você está falando?

— O oponente dele era um usuário de Magia de Maldição. — começou a explicar Mulkior, colocando uma mão debaixo do próprio queixo, em modo pensativo. — O último golpe que San tomou parecia ser realmente poderoso e foi na cabeça. Será que a maldição de Chang pode ainda estar sob efeito?

— É possível. Estamos esperando um outro médico chegar para tentarmos novamente um certo tratamento mais poderoso. Mas o que eu posso te dizer por enquanto que seu amigo está... Vivo. — a pausa em sua frase foi devido ao fato de que ele quase escolheu outra palavra pra descrever a situação de San. Ele iria dizer "Meio Morto". — A força vital desse rapaz é algo que nos impressionou. Ele está em um estado onde seria mais "humano" aplicar uma dose de algum mortífero e fazê-lo parar de sofrer, mas ele se recusa a sequer entrar em estado de coma. Os relaxantes musculares não estão funcionando e ele estava sentindo até mesmo os furos das nossas agulhas enquanto costurávamos os cortes mais profundos. É como se ele continuasse lutando dentro de si para se manter acordado. Vivo.

— Ah, pelo menos é-

A conversa poderia ficar boa, mas foi impossível continuá-la e ignorar o que tinha acabado de acontecer. Era no ringue. Alguém tinha elevado sua energia mágica a um ponto tão alto, que o vento tinha triplicado de velocidade e agora era difícil até de respirar.

Mumu se virou e teve que colocar a mão em frente aos olhos, protegendo-os da poeira que voava em forma aleatória por todo o Coliseu. A ação do mago foi imitada por muitos espectadores, principalmente aqueles que estavam mais próximos do ringue, na parte baixa da arquibancada. Quando chegou ao lado de sua parceira, o mago de ferro não conseguia acreditar no que via.

Aquela energia mágica estava saindo do corpo de Himi. Como ela conseguia ter tanta energia ainda, era um mistério. Mana não tinha arredado um passo sequer, mantendo o semblante destemido e segurando sua pequena espada em sua frente. Ela não sabia o que sua oponente planejava liberando tanta energia assim de uma só vez, mas com certeza seria a coisa mais poderosa que ela teria que enfrentar em sua vida. Talvez a segunda, se contar com o duelo contra Bart.

Mas a real preocupação de Mana era o fato de que Himi tinha perdido o sorriso chato e irritante do rosto. Sua expressão continha só fúria agora. Talvez agora sim dava para ver a verdadeira Himi. A assassina que era conhecida por suas habilidades destrutivas e mortais. Mana era o alvo. E tudo virou de cabeça para baixo quando outra explosão de energia aconteceu.

MUNDO PERDIDO!

Essa era a magia que mais consumia energia mágica de Himi. Era uma técnica considerada por ela mesma como perigosa até para ela mesma, já que criava desvantagens junto com vantagens. Quando ela soltou sua energia, um círculo mágico foi criado embaixo dela, que cresceu instantaneamente e envolveu todo o ringue. Mana deu dois passos para trás, mas parou e manteve a guarda levantada quando entendeu que aquilo era uma magia do tipo "Campo Mágico".

A primeira sensação foi a mais aterrorizante: o calor. Até aquele momento, devido a aura congelante que exalava do corpo de Mana, a temperatura estava um pouco baixa ali no ringue, com direito àquela fumaça que saia da nossa boca quando respiramos. Mas assim que o campo envolveu o ringue, o ar gélido simplesmente desapareceu, dando lugar para um calor dos infernos. Um calor seco, desértico.

Levem essa última instância a sério. Deserto foi o que se tornou o campo de batalha. Mana se viu com os pés enterrados em uma areia grossa e quente, lhe tirando a concentração no mesmo instante. O que era aquilo? Olhou ao redor, e viu que ela estava no meio de uma tempestade de areia, em um deserto sem fim. Não via mais Mumu e Kuchi, nem as arquibancadas. Pior: não SENTIA eles. Havia uma liberação infinita de poder mágico por todos os lados, e isso fazia seus sentidos irem à loucura. E aliás... Onde estava Himi?

Mana não a sentia mais. "Isso não é possível!", pensou ela. E com razão. Himi estava liberando tanta energia mágica, que era como se ela tivesse vestido um casaco feito de velas coloridas. Era impossível esconder toda aquela energia. Mas então, cadê ela?

Mana ouviu algo atrás, e se virou, já em posição defensiva. Nada. Não havia nada lá. Procurou com os olhos. Areia, areia e mais areia. Aquilo tudo era uma ilusão? Mana sabia que as magias dessa classe mágica afetavam diretamente o cérebro do oponente, criando as supostas ilusões. Mas aquilo ali estava bem mais forte do que isso. O calor, sensação térmica e o tato. Nenhuma das outras magias que Himi tinha usado até ali tinha dado esse desconforto em Mana.

Barulho atrás novamente. A assassina se virou e levantou a kodachi, protegendo a cabeça. Não houve nenhum ataque. Sua oponente ainda não havia aparecido. O que ela estava tentando fazer? Criar insegurança? Desespero?

Barulho atrás, pela terceira vez. Mana se virou por pura reação e então, dessa vez, houve um ataque. Mas foi em suas costas. Mana sentiu a lâmina da inimiga lhe cortar as costas diagonalmente, fazendo o seu corpo gritar de dor e se tornando mais pesado do que já estava.

Mana se virou de novo, nervosa. Não encontrou Himi. Levou outro corte, na batata da perna direita. A assassina do time Immortal Star cambaleou para o lado, deu um salto para se afastar e empunhou sua arma em ataque. Mas do que adiantava se ela ainda não via a oponente? Era impossível se esconder ali!

Mana puxou três agulhas de sua bolsa e atirou para frente, sem mirar. Viu as três sumindo a uns três metros de distância, por causa da areia que dançava livremente pelo ringue.

Levou mais um corte, na barriga. Tentou atacar cegamente, de onde Himi teoricamente deveria estar. Cortou o ar. "Eu vou morrer se isso continuar assim!". Mana começou a se concentrar. Fechou os olhos para aumentar a velocidade de acumulo de energia. Do que lhe adiantaria os olhos se Himi se mantinha invisível naquele campo? Criou um círculo de energia pequeno envolta dos seus pés, como se fosse seu próprio campo mágico. Aquilo não fez a areia desaparecer, mas por causa de sua própria liberação de ar congelante, o calor incomodava menos.

Mana tentava entender aquela magia esquisita quando sentiu algo diferente. Algo tinha "invadido" seu espaço privado, atravessando seu próprio campo. Um pé. Do seu lado esquerdo. Mana, abriu os olhos e girou o corpo levantando a perna. O resultado foi um chute bem dado no braço de alguém.

A atacante não viu Himi, mas viu que ela tinha cambaleado para o lado, criando passos na areia em sua frente. Era isso! Mana não tinha entendido a magia, mas saberia como enfrentá-la.

Pensou rápido em uma solução. Só havia uma, na verdade. Mas logo ESSA solução, iria um pouco contra os avisos de San. Algo se moveu por trás de Mana, e ela voltou a fechar os olhos mais uma vez para se concentrar na aura em sua volta. Quando a areia foi atingida pela aura, um "pé" já estava muito próximo de seu corpo, então tudo o que Mana fez foi saltar para trás. Ela sentiu o ar cortando bem à sua frente, na altura do nariz. Mais um pouco, e ela teria levado um corte feio no rosto.

Mana não parou ali. Saltou mais uma vez para trás, tentando se manter afastada. Ela precisava de um segundo sem ter que se preocupar com o avanço invisível de sua oponente. Levou a mão direita até a luva comprida em seu braço esquerdo e a puxou. Depois fez o mesmo, trocando de mão e braço. Percebeu que sua pele estava muito branca. A falta de sangue já era evidente, e dali pra frente, cada novo corte que ela levasse, por menor que fosse, seriam todos fatais. Estava na hora de virar o jogo.

Até agora não tinha sido comentado, mas TODOS que estavam assistindo a luta estavam reclamando. Isso porque eles não estavam mais... Bem... VENDO a luta.

A arena estava rodeada por um tipo de furacão de areia amarelada, que parecia uma típica tempestade desértica em miniatura. A visão estava impossível. Muitas pessoas tiveram que colocar óculos ou manter as mãos em frente aos olhos afim de protegê-los dos milhares de fragmentos que voavam livremente pelo Coliseu.

Mesmo os guerreiros não entendiam muito bem o que estava acontecendo lá dentro. Pessoas muito sensitivas com energia mágica como Kuchiki e Athena sabiam que Himi estava rodeando um só lugar e atacando Mana sem parar. Mas mesmo elas tinham dificuldade de saber como essa assassina estava.

Parecia que o poder de Himi estava envolvendo tudo, puxando para um centro de um buraco negro sem fim. Era sinistro porque aos olhos de todos, Himi deveria controlar Ilusões e aquilo ali não estava nem um pouco parecido com isso.

Mas houve algo que todo mundo viu. Foi tão rápido que uns acharam que tinha sido só impressão. Mas aí a voz de Pablo foi ouvida, em uma frase perguntando algo como "Alguém mais viu isso?".

Esse "algo" foi um raio roxo que correu o ciclone de areia. Depois as pessoas viram de novo. Os que já tinham visto a primeira vez confirmaram suas suspeitas e começaram a comentar. Os murmúrios triplicaram quando houve o terceiro raio, que foi mais intenso. Ai que a coisa começou a se tornar sinistra.

O furacão começou a ganhar outra cor. Foi ficando mais escuro, como se ele estivesse absorvendo nuvens escuras repletas e prontas para uma tempestade chuvosa daquelas. Mas além disso, os raios começaram a se tornar relâmpagos, aumentando ainda mais a ideia das nuvens de chuva e multiplicando por inúmeras vezes a atenção dos espectadores.

Finalmente depois, a energia mágica de Mana pôde ser sentida. A aura dela começou a aumentar. Exponencialmente. Foi crescendo tão depressa que era até assustador. Ficou no mesmo nível que aquela aura intensa que Himi estava liberando, parecendo querer confrontá-la até nisso. Para muitos, o que acontecia dentro daquele ringue ainda era um mistério. Mas para outros, as coisas começaram a fazer mais sentido. E Bart estava sorrindo.

Mana não precisou mais manter os olhos fechados. Estava rodeada de uma aura gigantesca e poderosa, que emanavam de suas duas katars. Sua liberação de energia mágica era quase incontrolável. Mana estava com outra coloração nos olhos, demonstrando que ainda liberava seu poder congelante, além de estar envolvida por uma aura roxa enegrecida devido à sua arma lendária.

O que San tinha lhe avisado era pra não gastar muita energia de uma só vez. Mas o que mais ela poderia fazer? Uma hora ou outra ela mesmo cairia de cara naquela areia quente e sua oponente lhe cortaria a cabeça sem mais nem menos. Ela precisava atacar Himi com tudo de uma vez. Precisava tirar ela de combate antes que isso se torne um pesadelo sem fim.

Seu peito ia pra frente e voltava em um ritmo acelerado. Cansaço. Dor muscular, dor nos ossos, dor em tudo. Mana era boa em ignorar as dores físicas, mas não as psicológicas. Ela não via mais fora do ringue, então não sabia se a tenda de San já havia sido aberta. Queria saber como ele estava. Haviam muitos médicos lá, então é claro que ele estava bem.

Mas então, o que era aquele aperto no peito? Aquela preocupação? Isso nunca tinha lhe acontecido antes! Principalmente em se tratando daquele xarope que sempre pegava no seu pé. O sarcástico que falava o que queria e quando queria. O chato que não muda de expressão quase nunca. Por que agora?

Mana deixou de pensar naquilo momentaneamente. Não porque queria ignorar aqueles pensamentos. Mas porque ela conseguia ver Himi dando passos lentos em direção à ela. Estava vindo de frente mesmo, esperando atacar com tudo. Andava passo a passo, não fazendo nenhum barulho. Mas como dito antes: Mana estava VENDO ela.

O problema maior aqui é que a assassina do Time Zero Soldier continuava jurando estar invisível. E assim ela foi, na cara e na coragem. Puxou os dois braços para trás, mirando dois cortes mortais. Um no pescoço e outro na altura da barriga. Colocou energia nas wakizashis, e impulsionou o corpo.

Mana estava com uma cara perigosa, com toda aquela energia mágica sendo liberada e concentrada de uma vez só, mas parecia continuar a olhar para o nada. Logo, isso reforçou o pensamento de Himi, que ela estava invisível ainda. Essa luta já estava cansativa até mesmo para ela. A diversão já tinha acabado. Então a última coisa que faltava a ser feita, era acabar com a vida da oponente. Atacou.

DESCIDA DE KALKI!

Foi uma pena que só Himi conseguiu ver esse golpe. Os que estavam fora do ringue só puderam sentir. Mana passou energia para a sua katar da mão direita, mas ao contrário do que estamos acostumados a ver, invés da lâmina simplesmente criar aquela aura própria concentrada, aqui ela se incendiou! Sim, a katar de Mana pegou fogo. E melhor: fogo negro.

As chamas que variavam do preto para o roxo escuro pareciam queimar até mesmo a areia do deserto infinito de Himi. Essa assassina, que não conseguiu parar o seu avanço a tempo, não acreditava que Mana pudesse usar qualquer magia que a faria localizar exatamente de onde ela viria. E além disso, as duas lâminas das espadas de Himi já estavam a uns seis centímetros de distâncias de chegarem ao seu destino. Então para que se preocupar? Bom... Ela não obteve essa resposta de uma forma amigável.

Mana atacou rápido, mas não foi isso que preocupou Himi. Foi a intensidade e poder desse golpe. O golpe da assassina de katar foi horizontal, mirado no meio do peito da oponente. Nessa linha, uma das wakizashis estava em seu caminho. E daí? Isso não seria problema. A katar encontrou a wakizashi no ar, e metade de uma lâmina saiu voando para o alto por causa disso. Desnecessário dizer que Himi tinha acabado de perder uma das armas que tanto amava.

E isso ainda não era o problema. A katar flamejante de Mana atingiu em cheio o alvo, ou seja, o peito desprotegido de Himi, abrindo um talho feio. Sangue voou para todas as direções, deixando até mesmo Mana lavada com sangue do inimigo. Himi berrou como se fosse a última coisa que faria na vida. Todo o público ouviu o grito mortífero dela como se fosse o último suspiro de uma fera. Metade dos espectadores levaram um susto com isso.

O primeiro a ver o que estava acontecendo foi Raziel e seus olhos experientes. Ah sim, o ciclone de areia? Ele estava diminuindo de intensidade e o campo estava ficando visível novamente. Ainda havia muita energia mágica espalhada pelo ar, mas pelo menos, o pessoal já conseguia ver as duas lutadoras novamente. Não houve torcida no começo, porque eles precisavam ter certeza do que estava acontecendo ou pelo menos o que já tinha ocorrido.

Ninguém viu as chamas negras na katar de Mana, pois elas se apagaram um segundo depois de saírem da carne da oponente. Mas todos conseguiam ver o sangue gotejando daquela arma, criando uma pequena poça no que restava de areia no ringue. E claro, era impossível não ver Himi caindo de costas no chão, sangrando mortalmente. Abraçando um sono profundo e sem volta.

Foi então que os torcedores da Immortal Star puderam dar mais um grito de alegria. A diferença de tonalidade entre as duas torcidas era tão óbvia que dava até pena. Para ajudar nessa situação, Mumu e Kuchiki também se juntaram ao bando que gritava loucamente.

Mana estava com os braços caídos e cansados. Olhou para o lado, vendo seus dois companheiros com os braços levantados e com caras alegres. Kula ainda tinha lágrimas nos olhos, mas sua felicidade em ver Mana ainda viva lhe trouxe novas emoções e energias.

Os olhos da assassina passaram por seus colegas de time, vendo aquela barraca que criava um certo aperto em seu coração. Nenhuma mudança. Permanecia fechado, lacrado. Quanto tempo já tinha passado desde San entrou lá? Era horrível saber de tempo e horário quando se está no meio de uma luta mortal.

Assim que o Telão Informativo começou a contagem por Himi demorar pra se levantar, a voz de Bart encheu o Coliseu com uma animação incomum.

Que magnífica demonstração de resistência a combatente Mana nos demonstrou! — dizia ele. Até mesmo Pablo o olhou estranhamente. — Mesmo estando dentro de um Campo de Efeito tão poderoso ao ponto de nos deixar praticamente cegos, ela resistiu e contra-atacou com excelência! O que estamos vendo aqui é o verdadeiro poder da Lâmina Sanguinária! Um grande show, sem dúvidas!

Leon estava rindo em sua cabine, quase perdendo o próprio fôlego. Athena não podia culpá-lo. Era estranho ver Bart falar como uma criança apaixonada, tentando esconder o fato atrás das palavras bem pensadas de um Comentarista de Batalhas. Até mesmo ela teve que se conter para não cair na gargalhada. O nobre Bart, guerreiro impiedoso que só conhecia a força. Caidinho por uma assassina digna de um Título Único.

Até mesmo a soldado da Planetarium admitia e reconhecia a força de Mana. Bart queria trazê-la para treinar com o intuito dela se tornar um novo membro do grupo, e julgando pelo o que Athena já tinha visto ali, era bem possível que Mana passaria pelos testes primários. Ela iria comentar exatamente isso com Raziel, mas quando olhou para o lado, encontrou os olhos do General fixos no ringue. Sua expressão não era boba. "A luta não acabou ainda?", foi o que Athena concluiu ao ver o rosto sério de Raziel. Voltou a olhar para o ringue, ignorando as risadas do outro General ao seu lado.

Faltando três segundos para o contador chegar a "0", Mana teve um dos maiores sustos que já levou na vida. Em primeiro lugar, era bom resaltar que mesmo caída, o Campo de Efeito de Himi não tinha desaparecido totalmente. Ele tinha sim, diminuído de poder. Mas ainda estava lá, com areia voando para todos os lados. Era como o fim da tempestade. Ou o começo de uma.

O susto veio quando Mana ouviu uma risada. Uma risada sinistra, louca. Himi, ainda no chão, abriu os olhos como se fosse um vampiro acordando do seu torpor, pronto para sair do seu caixão. A risada era simplesmente aterrorizadora. A voz dela tinha engrossada, e demonstrava total falta de consciência.

Mana foi esperta. Não tinha diminuído sua energia nem por um segundo. Ela não seria pega desprevenida novamente. Himi puxou as pernas e se levantou em um "gato", um movimento onde você joga as pernas para cima e impulsiona o corpo com os braços, usando o peso do movimento para se colocar de pé novamente.

Mana deu um passo para trás, levantando os braços novamente. A luta ainda não tinha terminado e isso era devidamente ruim. Como ela conseguiu se levantar daquele jeito tendo um corte tão profundo na carne? A abertura no peito de Himi continuava a vomitar sangue, mas a assassina loira continuava rindo loucamente. E concentrando energia!

A mulher de katar viu que estava desperdiçando chances. Ignorou o fato de sua oponente ainda poder se levantar e partiu para o ataque mais uma vez. Deu dois cortes rápidos, na altura da cabeça dela. Himi esquivou os dois apenas balançando o corpo, sem sair do lugar. Foi um movimento totalmente diferente do que ela já tinha usado até ali naquela luta. Mana girou o corpo e continuou atacando. Aplicou uma rasteira, depois um corte na altura do braço e um golpe de ponta no umbigo. A rasteira foi esquivada facilmente, o corte no braço foi defendido pela única wakizashi em sua mão esquerda e o golpe de ponta foi esquivado por um leve passo para trás.

Himi não estava atacando, só se defendendo. E concentrando energia ainda. Mana aumentou a velocidade dos golpes passando um pouco de energia mágica para os braços. Atacou mais quatro vezes. Dois golpes foram na altura do rosto, e os dois pegaram de raspão. Um golpe cortou a perna esquerda de Himi, mas o outro foi defendido também.

Mana estava realmente sem reação. Estava vendo alguém com um corpo muito ferido conseguir evitar seus golpes com velocidade aumentada. E ainda por cima, ela sabia que isso não era o pior. Algo muito ruim estava para vir.

— AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!

O grito desesperador de Himi fez sua energia ser espalhada como uma onda de impacto que empurrou Mana uns quatro passos para trás. Isso não foi tudo o que aconteceu. Essa onda carregava uma imensa quantidade de energia mágica, e foi transformando toda a areia do campo em outra coisa. Uma coisa mais sinistra ainda. Mais quente. Mais mortal.

O deserto do ringue acabou se transformando em fogo vivo. Foi tão de repente quanto a primeira vez. Mana estava rodeada de chamas incandescentes. Calor fixado em seu corpo, a fazendo perder a concentração por pequenos segundos. Suor escorrendo como uma cachoeira. O que era aquilo? Ela tinha mudado o campo novamente... Mas não houve uma invocação de magia!

Olhou para frente, vendo Himi com a cabeça baixa e dando passos em sua direção. "Ela deve ter usado uma magia sem invocação, mesmo nesse estado.", foi o que ela concluiu. E tinha sido exatamente aquilo. Por pura fúria, Himi tinha usado sua magia de mudança de terreno. As chamas remetiam a total raiva de seu ser, querendo queimar tudo até sobrarem apenas cinzas. Ao mesmo tempo em que Mana sabia que sua oponente tinha enlouquecido, ela sabia que usar uma magia sem invocação lhe consumia muito mais energia mágica.

Himi poderia estar esgotada agora. Além disso, Mana não poderia ficar naquele campo por mais de um minuto. Se não, ela viraria churrasco de assassina. Atacou.

E logo no primeiro passo ela entendeu o quão ruim seria lutar em um campo pegando fogo. O calor atrapalhava demais, mas o fato de que o suor em suas mãos a fazia se sentir incomodada e desconcentrada era pior ainda. Por sorte, ela não estava usando sua kodachi, pois seria muito provável que a arma escorregasse de sua mão na hora de um corte.

Mana deu um golpe pulando para cima de Himi. Queria acabar de vez com a oponente, sem gastar mais energia nenhuma. Péssima escolha de pensamento. Não por querer economizar energia, mas sim, por atacar de frente, sem ter analisado totalmente sua situação.

Quando pulou, ela viu a imagem do corpo de Himi se dividir em três. Ilusão? Mais ou menos. Mágica? Não, nada disso. Aquilo era a distorção de imagem que o calor fazia. Só que em um nível muito mais elevado.

Mana atacou o vento, com sua katar passando uns cinco centímetros do corpo de sua oponente. Himi levantou a cabeça, ainda rindo como uma lunática. E então deu um corte. Um só. Foi incrível. A velocidade foi maior do que antes. Mana não viu a wakizashi lhe cortar o ombro direito. A lâmina quente de Himi fez Mana cambalear para trás.

Himi foi quem partiu para cima. Deu três cortes na mesma velocidade que o primeiro. O que era aquilo? Porque diabos ela tinha aquela velocidade toda só agora? Mana não defendeu dois dos cortes, que lhe atingiram na perna e no pescoço. Foi aí que o cansaço extremo voltou a tomar conta dos pensamentos da assassina de katar. Ela já estava em seu limite de energia vital. Não ia aguentar em pé mais nenhum segundo com aquele calor e os golpes em uma velocidade triplicada.

Depois dos novos golpes, ela saltou para trás, querendo retomar a concentração. Tentou ignorar o calor. Quase conseguiu. Fazendo isso, conseguiu se manter ereta e olhando fixadamente para sua oponente.

Himi soltou mais uma risada enlouquecida e partiu para cima de Mana... Ainda MAIS rápida. Mana levantou as duas katars e se concentrou totalmente na defesa. Um corte no pescoço, defendido. Um corte no estômago, defendido. Dois golpes nas pernas, defendidos. Um golpe vindo de cima, mirado na cabeça, também defendido. Indo bem até aqui, certo? Pois é, até "aqui".

Um corte nas costas, três no peito, dois no braço esquerdo e mais dois no ombro e braço direito. Mana já tinha perdido a consciência por um segundo depois do terceiro corte em seu corpo. Não dava pra aguentar mais. E então, o tão aguardado "pior" chegou.

ONDA CORTANTE DA DEVASTAÇÃO!

Himi deu um passo para trás, levando também o braço com a wakizashi junto com a perna. Carregou energia mágica na lâmina da arma, fazendo ela vibrar e brilhar. Mana estava caindo naquele momento. Ia ficar de joelhos e no momento que encostasse no chão, iria se sentir dentro de uma frigideira fervendo. Iria.

Mas sua oponente não estava mais com a razão em sua mente. Talvez o calor chegou a afetar ela mesma. Himi estava descontrolada e furiosa, e provavelmente se mataria se a luta continuasse.

Não haveria tempo para isso. Depois de carregada, a Lâmina Ilusória desenhou um arco vertical em sua frente, movimentando sua espada de baixo para cima. Desse movimento, uma onda reta e densa voou rápido na direção de Mana. A pobre coitada nem viu o que lhe atingiu. A magia se transformou em um corte de uma espada gigante, abrindo a pele e carne do peito de Mana, do ombro até a cintura.

Houve um silêncio sepulcro. A maioria das pessoas que prestavam muita atenção, viram Mana voar em câmera lenta. Ela foi longe. A intensidade daquela magia a fez voar mais de dez metros, saindo do ringue e caindo fora dele, quase na reta do time Zero Soldier, que se mantinha bem afastado do ringue, observando quietamente através de suas máscaras. Só eles viram Mana cair morta, rolando duas vezes no chão com restos de areia.

Demorou exatos quatro segundos de puro silêncio antes de Himi dar outro grito como se fosse uma fera monstruosa. Estava babando e jorrando sangue da onde ainda tinha ferimentos. Mas continuava liberando energia mágica. Ela não estava sentindo dor e talvez nem o calor. Era o único jeito dela continuar em pé naquele estado. A visão não assustava os espectadores de longe. E então vieram os gritos da torcida. A felicidade deles poderem finalmente soltar suas energias pelos gritos era quase hilária.

Por outro lado, os torcedores de Mana tinham entendido aquele desfecho. Tinha sido muito óbvio. Aquele golpe deveria ter matado a garota, ou pelo menos tirado ela de combate por bastante tempo. O contador começou, exibindo um grande "10" no Telão.

Kula caiu no chão de joelhos, não acreditando em seus próprios olhos. Em toda a luta, ela não conseguiu abrir a boca. Era diferente da luta de San. A preocupação aqui era maior. Ela já tinha visto do que as duas assassinas eram capazes... Então porque Himi sempre levava a melhor no final? Quem era aquela guria?

Sete segundos restantes. O fogo do campo estava se dissipando. A energia mágica de Himi estava decaindo. A assassina ainda em campo respirava rapidamente, mas ainda exibia o sorriso maléfico. Ela poderia se portar como poderosa e demoníaca, mas não poderia esconder o fato de que também não aguentava mais. Aquele era o seu limite também. Seu descontrole acabou fazendo ela gastar o dobro de energia mágica e ela estava exausta e sofrendo uma hemorragia. Felizmente para ela, só uma pessoa daquele Coliseu inteiro sabia o quão mal ela estava. E essa pessoa era ela mesma.

Três segundos. Himi gritou de novo, sendo acompanhada pelos seus torcedores. Ela não os ouvia, na verdade. Estava com os tímpanos ensanguentados, tapados. Ela também não sentia o gosto na boca. Seu paladar, audição, visão e até mesmo o tato estavam sumindo de pouco a pouco. Ainda sim, ela viu.

Uma mão. Não ouviu o "WOHHHHHHHHHH" do público e também não viu Mulkior levantando Kuchi e apontando para o outro lado do ringue. Mas a mão sim.

Era do lado em que Mana tinha caído. Kula se levantou e tentou olhar para onde seu parceiro apontava. Mulkior estava com a boca e os olhos abertos, espantado. Tremia também. Essa reação foi contagiosa. Afetou Shiro, Jimmy, Athena, Regi e até mesmo (ou melhor, PRINCIPALMENTE) Himi.

— Como... Você...

Himi ainda falava para si mesma quando viu a cabeça de Mana aparecer na borda do ringue. A assassina de katar estava se apoiando na borda, usando toda a força que tinha para subir de volta ao ringue. Quando o Telão Informativo marcou "1", ela estava no ringue novamente, de bruços.

Aquilo, como todos imaginavam, não era humanamente possível. Mana sangrava fervorosamente pelo novo corte no peito, e ela estava tão ferida que aquilo deveria ser todo o resto de sangue que ela ainda tinha. Quando ela caiu no chão, sua consciência tinha, de fato, se apagado. Ela tinha sonhado.

Não havia dor e nenhum machucado naquele sonho. Muito pelo contrário. Não sentia mais o calor intenso. Em vez disso, sentiu uma brisa gelada soprando em seu rosto.

O sonho começou com ela deitada em algo extremamente macio. Abriu os olhos e viu só um azul infinito, perfeito. Se virou e viu que estava deitada em algo branco e palpável, mas não era um colchão. Tinha formas uniformes, onduladas. Eram nuvens, ela sabia.

Ela estava sonhando que estava dormindo nas nuvens. Lá não tinha calor, não tinha lutas, não tinha dores. Ouvia música também, mas estava ao longe. O que era aquilo tudo? Era o Paraíso? Era isso que ela já tinha ouvido falar. Um lugar prometido de eterno descanso para os mortos. Ela tinha morrido? Acabou? Todo o sofrimento finalmente se foi?

— Eu estava esperando por você.

A voz calma e doce fez Mana derramar uma só lágrima. Não importava quanto tempo passasse e nem quantas pessoas ela conhecesse e conversasse. Aquela voz seria única. Inesquecível. Que passassem anos, décadas! Ela nunca se esqueceria daquela voz potente que fazia seu coração tremer.

Mana se levantou de sua cama nas nuvens e se virou em direção à voz. E lá estava ele. ELE! Vestido em um roupão branco fino, sem nenhum detalhe. Só a simplicidade e pureza do tecido. Tinha asas brancas, lindas. O vento fraco soprou e fez algumas de suas penas voarem livres pelo infinito, deixando a situação ainda mais teatral. Era um anjo. Não. Era "o" anjo.

Estava com o mesmo rosto dele. Expressões idênticas. Sorria igual. Mana também retribuiu o sorriso. Seu peito se encheu de felicidade. Poder vê-lo outra vez era um pedido que ela se fazia todas as noites. Sentia tanta falta de seus carinhos. De seus abraços apertados. Outra lágrima caiu. Seus beijos doces, suaves. Saudades de tudo e mais um pouco.

Ele estendeu a mão para ela. Atrás dele tinha um portão. Bonito, grande. Dourado. Não havia letreiro nenhum, mas ela sabia do que se tratava. Era um convite. Ficaria com ele? Para sempre? Era tão fácil assim? Era só pegar na mão dele e ir? Deixar tudo para trás? Será mesmo que ela tinha esse direito?

— Está indo para o lado errado.

Alguém segurou o braço dela e a puxou. Era totalmente ao contrário do que ela estava sentindo até agora. A voz que disse aquilo era da mesma pessoa que estava lhe puxando, a afastando do seu anjo amado.

A mão em seu braço queimava, apertava. Calor começou a vir de suas costas, como se alguém tivesse acendido uma lareira ali atrás. Mana virou a cabeça muito lentamente, e encarou o outro "ele". Estava machucado, com roupas totalmente rasgadas e pingando sangue de todos os lugares. Olhou de novo para o anjo, que matinha a mão estendida e com rosto sereno. Não parecia bravo. Mana tentou falar algo, mas nada saiu de sua boca. Não havia voz.

— Deixe-a vir pra cá. — disse o anjo, estático.

— Nem a pau. — respondeu o homem machucado. Ele puxou Mana para mais perto, a afastando ainda mais do anjo. — Ela não pertence à esse mundo.

— Ainda não. Mas assim que ela atravessar esse portão, ela poderá sentir o descanso eterno. Ela já sofreu demais. Se machucou demais. Viveu ferida desde quando nasceu. Deixe-a descansar. Ela merece.

— Não! — bradou o homem sem asas, deixando sangue escorrer por sua boca. Nem mesmo respingando o líquido vermelho, aquele lugar se sujava. Parecia ter um encantamento mágico de "pureza eterna". — Ela pertence a mim! Ao meu mundo! Não vá se achando na razão só porque você conhece um pouco do passado dela! Ninguém conhece mais ela do que eu! Eu não vou entregá-la à você!

Mana se sentia confusa e tonta. Queria falar, queria gritar. Mas não saiam palavras de sua boca. Ela olhava para um e depois para o outro. Eles se encaravam. Pareciam querer começar uma briga. Um combate por ela. Era como um conto de fantasia. Uma princesa tendo a mão decidida pelo cavaleiro mais bravo. Ela começou a ter um misto de emoções, e não sabia o porque chorava tanto. Ela queria estar com um, mas também sentia a obrigação de estar com o outro. Foi entre essa batalha interna que ela ouviu:

— Você a ama? — perguntou o homem que ainda lhe segurava o braço. Mana olhou primeiro para ele, depois olhou para o anjo, como se estivesse realmente interessada na resposta. O anjo, ainda com a mão estendida balançou a cabeça afirmativamente. Mana abriu um sorriso. Sabia que essa seria a resposta dele. Por um segundo se sentiu inclinada a ir com ele, para um paraíso sem fim, sem dores. Mas o homem ensanguentado não queria soltar seu braço. — Se você a ama de verdade, então deveria saber que o melhor para ela, é a deixar voltar comigo. Foi você que a deu um motivo para viver. Então não dê um para ela morrer.

O anjo mudou sua expressão pela primeira vez. Abaixou o braço e a cabeça ao mesmo tempo. Mana se sentiu fraca. Sua felicidade estava sumindo. Olhou para trás e viu que o homem mantinha seus olhos fixos no anjo. As palavras dele eram mais pesadas do que o ser de asas. Levavam o peso da verdade. A assassina voltou a olhar para o ser de branco e o pegou sorrindo. Mas dessa vez, era diferente. Seu sorriso tinha um outro significado. Qual era? Mana sabia que era diferente! Então qual era? Porque ela sentia, mas não descobria?

— Cuide dela.

Foi quando o anjo foi desaparecendo em pequenas partículas de luz. Virou milhões de pontos de luz, como se fosse pó estelar. Mana levantou o braço na direção dele e tentou gritar o seu nome. Não saiu nada. Tentou gritar mais alto, com tudo o que tinha. Não adiantou. Só ficou a tristeza, a saudade. A vontade. Começou a chorar novamente.

Quando finalmente o homem todo machucado soltou seu braço. Mas o calor de suas mãos foram até seu rosto. Ele segurou o rosto dela com as duas mãos e o levantou, fazendo-a olhar em seus olhos. Aliás, no SEU olho. Por algum motivo, aquele homem não tinha o olho esquerdo. Mana, ainda com lágrimas nos olhos, queria entrar em desespero. Estava perdida. Se sentia sozinha. Cansada demais para pensar. Triste demais para agir. O homem se manteve com a mesma expressão. Ele era muito bom nisso.

— Está na hora de finalizar isso tudo. — disse ele, sem soltar as mãos do rosto dela. — Você trouxe "ela" com você, não é? Está aí, escondida em algum lugar nas suas roupas. Use-a. É o melhor momento para isso. Mostre pra mim o quanto você melhorou.

O público voltou a ter reações diversas quando Mana ficou de pé, mas não ereta. Estava no fim. Tinha ultrapassado o seu próprio limite. Mas lá estava ela, de pé novamente. Pablo engasgou ao ver aquela figura fantasmagórica se levantando com aquele machucado tão sério no peito. Quase esqueceu de dar continuidade ao combate.

Bart estava ainda mais aflito e chocado. Tinha ficado muito nervoso quando viu sua amada receber o último golpe em cheio. Ele sabia que tinha sido o fim para ela. Mesmo que sobrevivesse, ela não estaria mais em condições de continuar a luta. Ele estava pronto para encerrar a luta ele mesmo se caso "algo" desastroso acontecesse. Mas esse algo aconteceu mesmo e lá estava ela, de pé novamente no ringue.

A maioria das pessoas, sejam elas guerreiras ou não, procuravam quais expressões deveriam fazer. Até os torcedores mais simples sabiam que Mana estava em pé novamente por algum tipo de milagre, ou magia. De fato, não havia mais energia mágica em seu corpo. Kuchiki confirmou isso. Suas duas katars também não exibiam mais nenhum pingo de energia mágica, mostrando o óbvio. Então o que ela ia fazer? Como iria lutar?

Himi também estava exausta, mas ainda conseguiria utilizar uma magia se usasse todo seu poder mágico de uma vez só. Então porque continuar essa luta? E o que ela estava fazendo agora?

Mana estava se abaixando, abrindo um zíper detrás de sua bota comprida. Não retirou o calçado por completo. Ela só queria uma coisa que sempre levava com ela para lá e para cá. Levou a mão direita no cabo de alguma coisa e retirou algo metálico, depois fechou o zíper. Forçou o corpo a mantê-la em pé e ereta, e por mais que parecesse impossível, conseguiu.

Mas isso tirou outro susto do pessoal. Ao se manter de pé, olhando para frente, as pessoas com melhor visão e principalmente Himi, que estava bem à sua frente, perceberam que Mana estava... Inconsciente. Sua pupila estava branca, parecendo uma cega. Estava assustador de verdade.

E para provar isso, Himi, que até agora se mantinha em sua "pós loucura", deu um passo para trás, tremendo. O seu medo não era pela força física ou mágica de sua oponente. O que a assassina mestra tinha medo era do fato de Mana continuar se levantando em qualquer tipo de situação, querendo continuar o combate.

Mana deu um passo para frente. Levantou uma nova arma, mostrando para todo o Coliseu. Era normal assassinos levarem inúmeras armas escondidas em seus corpos e aquilo não era proibido no ringue. A arma de Mana chamou a atenção de quase todos os espectadores, mas foram Regi e Mulkior que se tocaram de algo muito mais profundo nela.

A garota quase morta estava segurando uma faca de lâmina grossa e encurvada. A lâmina era trabalhada e desenhada, arcada na parte cortante e ondulada na outra. Tinha um cabo de madeira fina com presilhas de ouro. E ainda na lateral da lâmina, um tipo de desenho sem forma específica estava entalhado no aço. Era uma faca artesanal e deveria custar muito caro.

Himi não estava nem aí pra isso. Prestou atenção no rosto de sua oponente, percebendo que Mana respirava pesadamente e em maior velocidade. Era óbvio que mesmo que ela tentasse se mostrar forte, ela já estaria exausta depois de receber tantos golpes em cheio. Ainda tremendo, Himi apertou o cabo de sua wakizashi e voltou a forçar todo o corpo para continuar lutando. Ela também já estava exausta e tinha dores em todos os lugares possíveis do corpo. Mas precisava continuar. Ela tinha um alvo a ser eliminado. Apertou os dentes, depois abriu a boca em um urro e só então partiu para cima de Mana, fazendo o público vibrar novamente.

Himi deu um golpe potente logo de início. Pulou e desceu com um corte vertical poderoso. Mana defletiu o golpe de uma maneira muito peculiar. Ela levantou a faca com a lâmina reta para cima, mas assim que as duas armas se encontraram fazendo aquele característico som de ferro, Mana afrouxou o braço e deixou a arma de sua oponente "correr" pela lâmina de sua faca.

Himi foi ao chão, sabendo exatamente o que tinha acontecido. Mesmo em seu momento de extrema fúria, ela ainda tinha deixado um pouco de consciência na cabeça para se manter viva. Ela sabia que Mana tinha usado uma técnica de defesa parecida com uma arte marcial que ela não conseguia se recordar o nome. "Sivut"? Era algo assim!

Mas o próximo movimento foi mais brilhante ainda. Himi estava agachada e pronta para se levantar com um golpe de baixo para cima. Mas ela viu Mana balançando sua faca acima da cabeça. Isso fez ela prestar atenção na faca, esperando um golpe. Foi aí que Himi levou uma joelhada no queixo, fazendo-a perder o equilíbrio. A assassina loira caiu de bunda no chão, um pouco tonta. Teve que se jogar para o lado, para se esquivar de um corte horizontal da faca de Mana.

Essa assassina, por sua vez, assim que errou o golpe, já emendou outro. Desceu a faca de ponta, querendo pregar sua oponente no chão. Himi colocou energia nas pernas e deu um salto para trás, ficando de pé logo em seguida. O que estava acontecendo? Os golpes de Mana estavam todos... Incalculáveis!

Ainda irritada, Himi partiu para cima novamente, dando um golpe duplo. Um corte horizontal na altura do pescoço primeiro e depois uma estocada na altura do coração. Isso acabaria com qualquer oponente... Se tivesse acertado.

Mana se esquivou do primeiro corte balançando o próprio corpo para trás e o segundo, ela girou o corpo e aparou o golpe com sua faca. Agora Mana estava de lado para sua oponente, e tentou lhe acertar uma cotovelada no nariz. Himi se esquivou por muito, muito pouco. Se afastou um passo e logo avançou de novo, dando um corte mais rápido, em diagonal. Mana fez ao contrário. Deu um passo para frente e bloqueou o movimento do oponente, levantando a mão esquerda e segurando o braço descente de Himi.

Mas a reação dessa assassina ainda era mais rápida. Levantou o punho esquerdo e aplicou um soco na cara de Mana. Soltou o braço, cambaleou para trás, mas ainda sim, Mana não deixou de aproveitar que estava tão próxima de sua oponente e ela ainda conseguiu acertar um corte pequeno no pulso da oponente que segurava a wakizashi.

Mesmo sentindo a dor, Himi não parou. Tentou acertar outro golpe de ponta no estômago da oponente. Esse golpe também foi defletido quase da mesma maneira que o primeiro golpe. Mana usava a fluidez do golpe do inimigo para se defender, utilizando o mínimo de energia possível.

Mais uma vez, Mana criou uma finta. Fingiu um soco com sua mão esquerda, mirando no rosto de Himi. Essa se abaixou para se esquivar do golpe, mas assim que seus joelhos se dobraram, ela recebeu outra joelhada no rosto. Nesse golpe, Himi quase foi ao chão novamente, mas talvez sua extrema raiva tenha lhe dado forças para gritar outra vez e partir para cima. Agora ela estava totalmente fora da casinha. Começou a atacar ao mesmo tempo que gritava.

— MORRA! MORRA! MORRA! MORRA! MORRA! MORRA!

Himi aplicou cinco, seis, sete e então oito cortes quase sem nenhuma precisão. Estava desesperada. Parecia que quanto mais ela atacava, mais machucada ficava.

Mana defendeu três dos oitos golpes. Os outros, ela teve que dançar para tentar se esquivar, mas levou três cortes em lugares diferenciados pelo corpo. Mas não sentiu nada. Como iria? Nem acordada ela estava! Mana estava realmente lutando inconsciente, sendo carregada pelo puro instinto e a vontade da vitória.

Por mais que isso provasse uma bravura e uma resistência absoluta, os mais sábios sabiam que aquilo era puro auto sacrifício. Ela estava morrendo a cada esquiva. Se machucando a cada passo, a cada movimento do braço ou da perna. Mana não poderia continuar lutando, mas lá estava ela. Dirigida por uma força sobrenatural. Uma vontade do além.

Cambaleou para trás depois do oitavo corte, que lhe atingiu na testa. Impulsionou o corpo para frente e atacou duas vezes. Golpes sem anexo, sem sentido. Um chute na canela de Himi que a fez se abaixar, e outro corte no ombro, quase no pescoço.

Himi gritou mais do que deveria, com um misto de fúria e dor. Fez algo que um verdadeiro animal faria: voou na direção da presa com os braços e pernas abertos. Ela derrubou Mana no chão, fazendo cuspir saliva para cima. Himi deu outro berro monstruoso. Soltou os ombros da oponente e segurou a wakizashi acima da cabeça com as duas mãos. Iria encerar aquilo de uma vez por todas.

Nesse momento houve um sonoro "NÃO!" vindo de Mumu e Kuchi, que sabiam o que estava por vir. Mana não conseguiria esquivar daquele jeito, e defender daquela posição era algo meio irreal. Himi desceu o golpe de ponta, mirando a cabeça de Mana. Iria ser o último golpe. Nem mesmo um demônio sobreviveria com dez centímetros de ferro cortante no cérebro.

Golpe, impacto, sangue. A wakizashi de Himi encontrou um alvo, de fato. Mas não tinha sido a cabeça de Mana. E sim, seu braço esquerdo. Mana sacrificou o próprio membro para não levar um golpe fatal, e sinceramente falando, foi a melhor coisa que ela poderia ter feito naquela situação.

O sangue pingou em seu próprio rosto, mas isso não a fez parar o combate. Não. Ainda havia o que ser feito. A faca estava em sua mão livre. Então porque não usar? Foi assim que Himi deu outro grito, mas não havia raiva dessa vez. Era um total e desesperador grito de dor. Mana colocou toda a lâmina de sua faca no abdômen de sua oponente, depois fez força e a jogou para o lado. Himi caiu no chão sangrando mortalmente. Rolou três vezes, querendo se afastar o máximo que podia.

Não que sua oponente tivesse forças para ir atrás dela. As duas assassinas agora sangravam, exaustas. A torcida tinha parado seus gritos pois não sabiam o que aconteceria dali pra frente. Todos estavam tensos.

— Isso foi sem sentido... — disse Mulkior, mais confuso do que desesperado. Kula saiu do seu transe onde só prestava atenção em sua amiga e olhou o parceiro. Limpou uma lágrima que persistia com as costas da mão. — Essa batalha está esquisita!

— Do que você está falando, Mumu?

— Os movimentos de Mana sempre foram limpos, precisos, rápidos. — respondia ele. — Eu me impressionei com a leveza e técnica tanto das suas habilidades com a kodachi quanto das katars. Mas com essa faca... Todos os movimentos dela mudaram abruptadamente! É como uma mudança total de arte. Sabe... Tipo o...

Mulkior foi se virando para trás enquanto falava. Não completou o que dizia porque ele viu a tenda onde San estava sendo curado. A tenda estava sendo abandonada por cinco médicos, que saíram bufando e tomando fôlego. O mago, de boca aberta, puxou sua parceira para trás, que tinha entendido imediatamente o porque daquilo. Os dois correram até um dos médicos e lhe perguntou o óbvio.

— Ele está vivo sim. — respondeu primeiramente o médico. Ele estava suado, e limpava a testa com uma pequena toalha de rosto branca. — Conseguimos estabilizar sua circulação sanguínea e regenerar boa parte dos ossos e carne em seu corpo. Mas sua situação ainda é séria e ele deve ficar em observação por mais vinte e quatro horas. Além disso, ele provavelmente vai ficar uns três ou quatro dias sem poder se mexer. Ou uma semana, talvez. Vai depender de sua força vital.

— E o dano em sua cabeça? — perguntou Kuchiki. Ela também sabia que aquele último golpe que San tinha recebido era o mais grave de todos. — O crânio dele...

— Regeneramos o crânio. — respondeu o médico, sem deixar a maga de fogo sequer completar a pergunta. Ele era o médico, sabia muito bem da condição do paciente e da preocupação de seus acompanhantes. — A cabeça dele está curada, mas...

"Mas..." não foi completado. Igual a última vez, a conversa tinha sido interrompida pelo um acúmulo considerável de energia mágica pelo ringue. Todos se viraram em direção ao dito cujo, só para se assustarem com o fato das duas mulheres AINDA demonstrando que tinham forças o suficiente para continuar aquele "rasga-rasga".

O público voltou a rotineira gritaria, e agora fazem declaração de que aquele seria o encerramento. O último golpe de cada uma. Estavam todos animados, esperando o melhor resultado. Era engraçado que até mesmo as pessoas normais conseguiam determinar aquilo.

Bem, eles estavam certos mesmo. As duas combatentes mal se aguentavam de pé. Estavam tirando energias de algum lugar que não existia. Himi continuava em sua possessão das trevas, babando e falando pra si mesma coisas como "Por que você não morre? Morre! Morre!". Enquanto Mana ainda estava calada, com a boca fechada e olhos abertos. Sua cabeça estava pesada e pingando sangue graças ao ferimento na testa. Mas lá estava ela. Concentrando energia em sua faca.

Seria a última troca de magias. Todos sabiam. Todos esperavam. Pablo anunciou o fato e foi imensamente retribuído com vivas e urras. Bart se levantou da cadeira, não aguentando o nervosismo. Muitas pessoas acompanharam-no, também se levantando de seus assentos. Seria o final. O último golpe de cada uma. Um término épico de uma batalha épica.

As duas auras se elevaram até o limite. O ar começou a reagir. Frio e calor se misturavam no ringue conforme o vento ia rodeando as duas assassinas. A lâmina de Himi começou a vibrar enquanto a de Mana ganhou uma coloração azul. As duas decidiriam isso com um golpe de duas armas. Esse era o coração dessa classe. Seriam dois golpes assassinos. Uma troca de golpes digna de excelência.

LÂMINA DA ILUSÃO MORTAL!

Por mais que as duas mulheres tenham carregado suas energias ao mesmo tempo, elas não levaram o mesmo tempo para terminar e por fim, utilizar. Então quem disparou na frente foi Himi. Com sua lâmina vibrando com todo o resto da energia mágica de sua manipuladora, a wakizashi de Himi se tornou totalmente negra, exibindo uma grande aura da morte.

A garota começou a correr na direção de sua oponente, ainda gritando loucamente. Quando ela estava no meio do caminho, Mana levantou a cabeça e seus olhos não exibiam mais a falta de vida de antes. Ela estava consciente novamente, e pronta para se defender. Sua cabeça estava uma confusão danada, com dores e sentimentos que ela queria encontrar algum buraco bem fundo e jogar tudo dentro. Mas não dava pra fazer aquilo. Não agora. Apertou a faca. Focou o oponente. Era agora ou nunca.

LÂMINA DE ÁGUA SERRADA!

Gotas de água começaram a molhar o chão embaixo de Mana. A lâmina da faca teve o azul intensificado, para um segundo mais tarde ficar envolvida de uma aura de energia tão densa que chegava a parecer física. A magia de Mana criava uma nova lâmina que sobrescrevia a já existente, adicionando energia e um novo efeito. Esse efeito era derivado de cada elemento mágico controlável. Kula tinha feito algo parecido com isso energizando a esfera de ferro de Mulkior na sua luta passada, o que fez o mago conseguir criar uma arma única que queimava tudo que cortava.

O atributo que as magias de água davam para Mana eram bem diferentes. Envolver uma lâmina com esse tipo de energia faz com que a arma em questão corte barreiras de energia. Isso era extremamente útil quando se luta contra magos. Mas não viria a calhar aqui.

Mana decidiu não se mover. Não tinha forças pra isso. Levantou sua faca e preparou sua defesa, querendo manter o corpo instável na hora do impacto. E então ele veio. O choque de duas magias.

Poderia ter sido muito mais destrutivo se as duas guerreiras estivessem com toda sua energia. Mas ainda sim, foi lindo de se ver. Não houve nenhum barulho metálico no momento do impacto. Na verdade, a única coisa que todos conseguiram ouvir foi uma explosão, e depois uma onda de energia azul enegrecida se espalhar por todo o ringue. Na hora do choque, todo o ar ao redor do ringue se extinguiu de uma só vez, deixando os outros membros dos dois times tendo dificuldades para respirar por uns três ou quatro segundos. Não houve nenhum grande brilho ofuscante, então todos tiveram a sorte de saber exatamente o que aconteceu naquela troca de golpes violenta.

Em primeiro lugar, era bom lembrar que nenhuma das duas aguentou o recuo que suas magias criaram quando se tocaram. Então um segundo depois do choque, as duas voaram em direções opostas, caindo e rolando pelo chão. Nesse quesito, também era bom lembrar que esse recuo foi criado única e exclusivamente pela magia de Himi, que continha mais energia mágica. Isso fez com que Mana voasse para tão longe, que ela quase bateu com as costas em um dos pilares de contenção que protegiam as arquibancadas. Por outro lado, a magia de Mana tinha destruído a última wakizashi de sua oponente cortando a lâmina dela pelo meio, e ainda com força, fez Himi receber um golpe horizontal na parte alta do peito.

Era normal os torcedores não levantarem sua voz com o máximo de vontade naquele momento. As duas assassinas estavam caídas e não se mexiam. O suspense era tanto, que se alguém se concentrasse muito bem, poderia ouvir a respiração de todas as pessoas ao seu redor ou até mesmo o batimento de seu coração disparado.

O que acordou todos do transe foi o Telão Informativo. Ele exibiu dois números, separados com uma grande linha. Eram dois "10". Eles começaram a cair ao mesmo tempo. O Apresentador foi gentil o suficiente para dizer que se as duas não se levantassem até a finalização do contagem, um empate seria dado. Mas infelizmente para alguns, esse resultado estava um pouco longe de acontecer.

Himi começou a se me mexer quando o marcador mostrou o número "7". Ela cuspiu sangue para o lado, quase se afogando. Estava machucada demais e sem um mísero de energia mágica em seu corpo. E tinha sangrado o suficiente para matar duas pessoas de hemorragia. Quando ela se virou e ficou de joelhos, os torcedores da Zero Soldier foram a loucura. Gritaram e gritaram. Sabiam que o tempo estava do lado deles.

Mas o contador de Himi não parou. Ela precisava ficar de pé para isso. Foi quando começou um coro quase orquestral. "Himi! Himi! Himi!". Parecendo ser energizada por sua torcida, a assassina loira começou a ficar de pé. Forçava o corpo o máximo, abrindo ainda mais as feridas e tendo uma dor que estava a matando, literalmente falando. Himi se levantou totalmente quando o contador marcou "3". A gritaria foi extrema.

Tentou procurar Mana com os olhos, mas não a via. Na verdade, Himi não via nada. Estava tudo escuro. Alguém tinha coberto o Coliseu inteiro? Ela não ouvia a gritaria também. O que tinha acontecido? Por que tudo estava ficando tão frio novamente? Tentou virar a cabeça para o lado. Não conseguiu. Ainda no escuro. Tentou falar alguma coisa. Impossível. Abrir sua boca era mais difícil do que abrir a de um jacaré. E suas mãos? Imóveis. Nada mais se mexia. O frio foi se intensificando. Ela queria um cobertor. Desejou dormir. E assim o fez.

Os gritos pararam quando Himi foi ao chão novamente, batendo com tudo no piso branco empoeirado do ringue. Tinha sido logo depois que ela se levantou, então o "3" ainda estava estático na tela. Assim que ela caiu novamente, o contador seguiu de mãos dadas com o de Mana. Sem mais gritos, sem mais torcidas. Um raro silêncio tomava toda a arena. O Telão Informativo marcou dois "0", um do lado do outro. E então veio a inesperada notícia de uma pessoa não tão inesperada assim.

Contador zerado! Nenhuma das duas combatentes consegue continuar a luta! — Pablo tinha dado dois segundos de espera para criar um momento mais apropriado para dar a notícia que todos já sabiam. Era o trabalho dele. Ninguém o culpou. — A segunda luta da final do Torneio acabou em EMPATE!!!

Era realmente estranho uma luta terminar e não poder ouvir aqueles gritos tão altos que chegavam a doer os ouvidos. Os dois magos da Immortal Star acabaram de perceber tal coisa. A luta em dupla deles tinha dado esse resultado também, mas nenhum dos dois estava em condições de prestar atenção naquele detalhe.

Que por falar em condição, assim que o resultado foi anunciado, os dois partiram a toda velocidade para o corpo inerte de Mana. Ela, diferente de Himi, não tinha se movido.

Os médicos das duas equipes já estavam de prontidão antes mesmo da contagem se iniciar, por isso correram com uma maca atrás dos dois magos. Kuchi e Mumu chegaram gritando pelo nome da amiga, que não exibiu nenhuma reação com a aproximação deles. Os dois se abaixaram e puderam ver de perto todo o estrago em seu corpo. Estava ruim.

Na verdade, usar "ruim" como palavra aqui não era o mais certo. A magia de gelo de Mana que ela usava para estancar os ferimentos havia sumido, já que aquilo necessitava que o usuário mantivesse energia mágica no corpo para alimentar a magia. Então, sem aquilo para lhe proteger do vazamento de sangue... Deu pra entender, não é?

— Deem licença!!

Um dos médicos de prontidão afastaram os dois magos, largando a maca no chão ao lado de Mana. Ele já estava com as típicas luvas de borracha e foi imediatamente examinar a pulsação da garota colocando dois dedos em seu pescoço. Um segundo após, o outro médico, que na verdade era uma mulher, se aproximou do colega como se esperando um diagnóstico.

— Ela está sem pulso! Rápido! Aplique a injeção número três nela!

A mensagem do doutor fez Kula não aguentar as lágrimas e ela voltou a chorar. Mulkior foi até a amada e a abraçou carinhosamente, dividindo a preocupação dela. Primeiro San, e agora Mana. Esse Torneio estava mortal demais. Mumu pensou em algo pior, mesmo naquele momento. "E se fosse Kuchi que estivesse ali?". Esse pensamento começou a se misturar com outros cem em sua mente, e ele foi se perdendo em dúvidas e medo. Só acordou novamente quando o mesmo médico gritou para a médica.

— NADA! Ela perdeu sangue demais! Não vai aguentar a injeção de revitalização! Precisamos de magia imediatamente! LEONA!!!

O grito do médico fez uma mulher que já estava andando até a cena do acontecido mudar para uma expressão de susto e começar a correr de verdade. Doutora Leona era o nome dela. Se abaixou e olhou o corpo ferido de Mana por um rápido segundo. Kuchi a viu morder os lábios, sinal de preocupação.

A médica mirou as duas mãos para o corpo falecido da amiga de time deles e mandou toda sua energia mágica para lá, usando uma magia de cura de alto grau. Mana foi rodeada por uma aura branca de efeito, que era muito conhecido por qualquer guerreiro que já tinha ido em uma enfermaria mágica.

A magia de cura tinha efeitos imediatos. Começou a fechar os ferimentos graves no peito da assassina. Enquanto isso, o mesmo médico continuava com os dedos no pescoço dela, balançando a cabeça negativamente. A doutora entendeu o recado. Se concentrou de novo e usou mais uma vez sua magia mais potente de cura. Todos os médicos curandeiros daquele Coliseu eram treinados a ponto de serem reconhecidos como uma das melhores equipes médicas de todos os tempos. Mas mesmo com eles em cima de Mana, fazendo de tudo para reanimá-la, a assassina parecia fria naquele chão sujo.

— Eu vou tentar de novo! Me deem um segundo! Só um se-

— Doutora! — o médico gritou e a fez o olhar com seriedade. Naquele momento, ela quase se juntou a Kula, quase criando um grupo especial do choro. — Ela está sem pulso e não está reagindo ao aceleramento celular, nem a reanimação. Seu coração parou e não há ar em seus pulmões. — Mumu e Kuchiki congelaram. As duas médicas ali presentes deixaram os ombros caírem, sabendo muito bem o que aquilo significava. A que tinha chegado antes, estava com a cabeça baixa. O médico olhou para os dois magos com uma expressão triste. — Me desculpem, fizemos tudo que podíamos. Ela não aguentou.

Se existia uma sensação de "parar o tempo", Kula Chikigane tinha acabado de sentir aquilo. Ela estava abraçada à Mumu, mas quando ela ouviu o médico, seu corpo se transformou em gelatina. Ela escapou do aperto de seu amado e foi derretendo ao chão. Ela não chorava. Não por falta de lágrimas. Isso ela tinha bastante. Mas porque ela mesmo tinha entrado em um estado de choque. Sua mente gritava mentiras para ela. Com os olhos arregalados, ela foi ao chão, chorando em silêncio. Seus braços perderam a força e sua cabeça estava pendendo, a fazendo olha para cima, para o céu que já tomava uma outra coloração por causa da hora.

Já o líder do time, ao se ver livre dos braços da maga de fogo, deu um passo para frente e depois caiu no chão também. Ele não estava chorando. Se arrastou mais um pouco, querendo se aproximar de Mana. Ela continuava lá no mesmo lugar, inerte. Parecia dormindo. Mas seu peito não crescia e diminuía. Não havia respiração. "Não pode ser...". Se aproximou mais um pouco. Não ouviu mais nada.

O Apresentador falava algo naquele instante, mas e daí? O que era vitória, empate, derrota? Aquilo era inútil! Tudo era! O mago de ferro se manteve olhando para a companheira de time e futura companheira de guilda. Não dava pra acreditar que ele perderia um membro da guilda sem nem ao menos ter começado ela ainda!

Mumu pensou em mexer nela, mas parou a mão no meio do caminho. Ele poderia ser esporádico na maioria das vezes, mas não era burro. Não era sonhador. Acreditava naquilo que achava o certo acreditar. Os médicos tinham dado um ultimato para Mana, e agora conversavam sobre "horário da morte" e "causas e origens de sangramento". Anotavam tudo em papéis.

Então era isso? Eles não tinham mais que fazer o trabalho deles? Eram médicos, cacete! O trabalho deles era salvar pessoas! Então por que não estavam tentando mais!? Mumu quase se levantou e pegou um dos médicos pelo colarinho. Queria os obrigar a curar Mana, para que só então, as lágrimas de sua amada maga parassem de cair.

Mas o mago estava sem forças. Não chorava, mas seu corpo estava tão mole, que se o vento soprasse forte, ele voaria pelo céus como um cartaz de papel. Tanto é que quando alguém lhe apertou o ombro, Mulkior sentiu como se fosse um compressor.

Mas era uma mão amiga. Ele sabia que aquilo era um ato doce, para acalmar seu coração. Só existia uma pessoa que estaria ali em seu lado até mesmo naquela hora. Ela estaria em seu lado em todas as horas, sejam as felizes ou as tristes. Era esse futuro que ele queria.

Mumu levantou a mão direita com o intuito de segurar a mão em seu ombro, mas quando chegou com a mão até o local, a pessoa já tinha soltado seu ombro. O mago de ferro, ainda de joelhos no chão, procurou Kuchi com os olhos. Olhou para trás e viu a garota no mesmo lugar que estava quando começou a chorar, mas ela estava com os olhos arregalados, olhando para frente. Para algo mais a frente de Mumu. O homem congelou. "Algo mais além dele" só tinha Mana! Era isso que ela olhava? Será que ela mostrou algum sinal de vida?

Mulkior se virou de uma só vez, querendo encontrar a amiga se levantando e pedindo desculpas por preocupar os dois. Mas não era isso, infelizmente. Mumu subiu com a cabeça lentamente, encarando uma outra pessoa. Alguém conhecido. Um colega que lhe surgiu nesses tempos complicados. Alguém que ajudou a resolver coisas que não eram seus problemas. Mas ao mesmo tempo, alguém que ele não esperava ver ali. Alguém que não era pra estar ali, pra falar a verdade.

— S-... — Mumu tremia quando tentou dizer o nome dele. — SAN!

— EI! - gritou um médico, se aproximando. — O que você está fazendo? Enlouqueceu?

— Você deveria estar em coma! Como... Como você está em pé aqui? — falou outra médica, que era a doutora que tinha usado as magias de cura em Mana. Ela estava com uma cara de assustada que lhe daria um prêmio.

— Afastem-se. — disse San, dando um passo em frente, se aproximando do corpo inerte de sua parceira. A voz dele era grossa, imponente. O que só piorava o medo que as pessoas ao redor sentiam, já que ele estava completamente enfaixado, cheio de hematomas e com sangue brotando de suas ataduras. As ataduras em seu olho esquerdo já estava deixando escorrer sangue, como se ele estivesse chorando.

— San, como você... Como você veio...

— Isso não importa. — disse San, cortando Mulkior. — Eu não vou repetir. Afastem-se.

— San, o que você quer fazer!? — disse Kuchi, finalmente saindo de seu mundo paralisado pela triteza. Ela se aproximou de Mumu e o ajudou a ficar de pé. Agora o casal estava parado um do lado do outro, boquiabertos com a visão de uma múmia que bradava por espaço.

— Vou salvá-la.

Essa frase criou muitas emoções diferenciadas nas pessoas. O casal de magos ouviu mais passos correndo naquela direção, e eles não precisavam se virar pra saberem que eram mais médicos. Eles vinham reclamando com San, falando que ele não deveria estar de pé. Que na verdade, não deveria nem estar acordado, pra começo de conversa!

Quando um dos médicos se aproximou dele e o pegou pelo braço, querendo levá-lo de volta para sua maca, San bateu no braço dele e o agarrou pelo pescoço, o levantando do chão com uma só mão.

— NÃO ME ATRAPALHE!!! — o grito de San lhe deu forças o suficiente para jogar o médico a uns três metros para trás, fazendo-o cair desajeitadamente no chão. Vendo que todos ficaram assustados com sua reação, San voltou a andar, se agachando bem do lado de Mana. — Se me atrapalharem de novo, eu vou atacar para matá-los! É meu último aviso!

— Mas San, o que você quer fazer? Ela... A Mana... Ela já...

— ELA NÃO MORREU! — bradou a múmia novamente, fazendo Mumu se calar. O mago já tinha passado por muita coisa na vida e visto muitas pessoas e muitas auras. Já passou por situações tenebrosas, onde ele jurava que perderia a vida. Mas enfrentou tudo de frente, como se não tivesse medo da morte. Mas naquele momento, Mumu sentiu um frio na espinha, como se a própria Morte tivesse lhe encostado seu dedo esquelético em suas costas. — Eu não vou deixar ela morrer. É a única coisa que eu posso fazer para compensá-la! Eu vou trazê-la de volta!

San levantou a mão direita e a estralou no ar. Seus dedos se remexeram como se tivesse vida própria, se contorcendo e estralando. A cena era atípica. Depois veio a aura. Isso, Kuchi e Mumu nunca iriam esquecer, por mais que os anos passassem em suas vidas. San ativou sua Arma Lendária, fazendo as costas de suas duas mãos brilharem intensamente. Um segundo depois, todo o seu corpo criou uma cota de energia negra intensa, que parecia derreter o chão à sua volta.

Ainda com a mão no ar, ele concentrou um grande amontoado de energia em seus dedos e depois desceu com tudo exatamente no meio do peito de Mana, dando um golpe tão poderoso que todo o corpo falecido da assassina reagiu, fazendo seus braços e suas pernas se levantarem por meio segundo. San enfiou os cinco dedos de sua mão no peito desprotegido de sua parceira, como se quisesse esmagar seus ossos.

Os médicos viram aquilo como uma barbaridade. Uma afronta a um corpo que já tinha encontrado a paz eterna. Um abuso. Um dos médicos, que parecia ser o chefe dos outros, não iria deixar alguém abusar de um cadáver logo na frente de tantas pessoas, em seu local de trabalho. Ele deu um passo para frente e congelou.

San tinha sentido o passo e olhado em sua direção. O olho dele... O olho direito de San estava vermelho vivo, como se fosse algum tipo de vampiro. Aquele olhar mandou uma onda de terror tão tenebrosa que fez o médico realmente congelar de medo, ficando paralisado ali mesmo.

San voltou a olhar para baixo, tentando se concentrar na tarefa que tinha em mãos. Kuchi se sentia confusa e ainda triste. Não sabia o que estava acontecendo e achava sinceramente que San tinha enlouquecido de vez por ver sua parceira morta. Mumu já sentia uma coisa diferente. Ele queria acreditar em San. Achar que talvez ele conhecesse alguma maneira milagrosa de trazer a amiga deles de volta.

Foi quando as linhas vermelhas começaram a aparecer no corpo de San... E DE MANA. A energia liberada pela aquela ação estava começando a afastar os médicos, mas manteve os dois magos ali, estáticos. O que estava acontecendo? Por que a força de San estava aumentando tanto, tudo de uma vez só? San abriu os olhos com fervor e gritou:

TRANSFERÊNCIA VITAL!

San tinha feito algo que nunca fez na vida. Aliás, duas coisas. A primeira, era usar toda sua energia mágica de uma só vez em uma só magia. Isso era algo difícil de se fazer, mas como ele tinha um controle perfeito de manipulação de energias, essa tarefa era mais simples. A segunda coisa, foi testar essa magia pela primeira vez.

Ele era contra fazer testes de magias, golpes ou técnicas antes de ter certeza absoluta de que elas já estariam perfeitamente utilizáveis no campo de batalha. Mas ele não tinha escolha. Já estava atrasado. Ele sabia que talvez aquilo não desse certo. Mas arriscaria do mesmo jeito. Não amedrontaria na frente dela. Tinha prometido para ele mesmo.

Seu braço brilhou forte com uma luz vermelha, e ele sentiu sua magia fazendo efeito. Estava passando aquela aura em seu corpo para o corpo de Mana. Todos assistiam em silêncio, ainda com seus olhos bem abertos e quase babando. Muitas pessoas das arquibancadas não viam o que acontecia lá, então isso só aumentava o suspense de alguns torcedores que queriam saber o que tinha acontecido com a assassina.

Mas eles não viram o que os médicos e os dois magos puderam ver. Tinha sido realmente algum tipo de milagre. Um movimento. Um pequeno movimento dos dedos de Mana. Como se fosse um espasmo. Bem rápido, bem curto, bem leve. Mas ainda sim, todos viram. Não tinha sido uma mera ilusão. Não dessa vez.

E San também percebeu isso. Forçou sua energia a correr mais rápido, e a energia o obedeceu. Ele estava começando a tremer e respirar rápido. Desde que tinha se levantado ao parar de sentir a aura de Mana, ele sentia dores que não saberia descrever. Mas ele precisou ir até lá. Ir até ela. Andou tão silenciosamente, que nem o médico que estava na entrada de sua tenda sequer viu ele passando. Viu Kuchi chorando e passou a mão na cabeça dela. Viu Mumu agachado e colocou a mão no seu ombro. Ele queria ter dito para os dois: "Não se preocupem". Mas talvez aquilo lhe dariam um choque ainda maior. E nem San sabia se o que ele estava tentando daria ou não certo.

Mas o movimento dos dedos de Mana lhe deram força. Estava funcionando! Por isso ele acelerou o processo, passando sua energia vital para sua parceira. Se sentiu tonto. Mulkior e Kula viram Mana se mexer de novo. Os dois se aproximaram daquele ritual sinistro, com a esperança a flor da pele. Viram novamente Mana dar um sinal de vida, mexendo a cabeça como se estivesse tendo um pesadelo. Ela tinha expressões de dor, o que poderia ser qualquer coisa, naquele momento.

San se prontificou a usar o resto de sua energia. Ele estava tonto e a maga de fogo viu ele cambaleando para o lado e tentando manter o foco. Foi nesse exato momento que ela entendeu o que San fazia. Ele estava passando sua energia vital para Mana! Mas isso era impossível! Ninguém no mundo inteiro poderia transferir ou até mesmo curar alguém usando energia vital! Não dava! Ia contra as Leis Arcanas! Leis Médicas! Ia até contra o bom senso!

San começou a sangrar pela boca e por seus ferimentos que estavam enfaixados. Ele estava morrendo. Estava dando seu lugar para Mana. Era isso! Ele não tinha ficado maluco por se levantar e caminhar até aqui, quando era pra estar deitado em uma maca por três ou quatro dias. Ele tinha ficado maluco por dar sua vida por livre e espontânea vontade por sua parceira, sem ter certeza se Mana reviveria ou não.

Kula quase engasgou com a própria saliva porque tentou gritar um "PARE!", mas foi outra coisa que a fez se manter calada. San sentiu uma mão segurando seu braço que passava energia. Segurou e depois apertou com toda a pouco força que lhe continha. San olhou para baixo e encontrou os olhos avermelhados da assassina.

— Já chega... Né... — disse Mana, com a maior fraqueza do mundo. Se Mumu e Kuchi já se assustaram com aquilo, imagine os médicos?

— Não vou parar até ter certeza que você voltou pra cá. — disse San, sem mudar a expressão.

— Idiota. — disse ela, fechando os olhos. — Quer se matar? — ela os abriu novamente, vendo que San não precisava responder aquela pergunta. Ela percebeu que ele estava pronto pra dar sua própria vida à ela. O coração da garota se encheu de sentimentos misturados, incompletos e confusos. Na incerteza, ela continuou falando. — Chega! Como você acha que eu vou conseguir viver sem você? — San parou e finalmente mudou a expressão de seu rosto. Estava confuso porque não esperava aquilo. Ficou olhando Mana nos olhos, muito profundamente. — Não me abandone aqui nesse mundo de novo.

San parou sua transmissão de energia e abaixou a cabeça. Relaxou os dedos e começou a puxar a sua mão de volta. Mana sentiu uma dor absurda, uma que ultrapassou todos os limites que seu corpo jamais aguentaria. Deu um grito alucinante, que poderia ter acordado até mesmo os mortos.

Mas era um grito! Mortos não gritam! Todos os médicos pareceram ser tocados por aquele grito e tornaram a correr até os quatro integrantes do time Immortal Star. De confusão, os médicos tinham o bastante. Não tinham entendido nada. Um corpo já falecido tinha acabado de voltar a vida na frente de seus olhos. Aquilo, para a medicina e até mesmo para o campo de magia, era um verdadeiro milagre.

O garoto tinha acabado de quebrar inúmeras leis de uma só vez. Ele precisaria ser questionado severamente. Foi então que ele caiu de costas no chão, derramando mais sangue ainda. Os médicos se dividiram em dois, para resgatá-lo. Gritaram alto para que mais médicos viessem e ajudassem. Colocaram os dois em macas e correram para as tendas médicas. Houve muita gritaria por parte dos médicos, pedindo por mais suporte. Foi em questão de minutos que mais três médicos e curandeiros apareceram, entrando dentro das tendas e as fechando para começar um tratamento intensivo nos dois.

Mulkior e Kula ficaram de mãos dadas, como se estivessem orando. Agora seus peitos lhe encheram de felicidade, por ver Mana abrir os olhos e reclamar com San, assim como ela sempre fazia. Ela estava viva, e ele precisava estar também. Só assim eles poderiam encontrar calmaria em seus corações.


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Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo, a luta mais destrutiva que o Coliseu dos Deuses já teve o prazer de assistir.



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