Immortal Star escrita por Sandaishiro


Capítulo 20
Guerra em menor escala - Parte Final


Notas iniciais do capítulo

E finalmente temos a conclusão da pequena guerra que se iniciou em Riven, mas que nos trará muitas surpresas ainda para o futuro!



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Com raiva? Duvido que esteja.

Eu disse que poderia ter terminado de contar sobre as lutas... Mas nem todas. Mas acho que você já teve suspense demais. Chega de criar caso. Está na hora de você ver a conclusão dessa "guerra".

Mas só pra comentar sobre o que eu disse anteriormente... Algumas lutas marcaram a história não do mundo todo, mas de certas pessoas em específico. Mana ficaria pra sempre com as palavras do Soldado da Planetarium em sua cabeça... Se sobrevivesse a enrascada em que tinha se metido. E certos pontos serão de extrema importância para o desenvolvimento próprio de alguns personagens chaves, onde eles irão demonstrar isso com palavras e ações... Mas não agora.

Agora você precisa saber como as outras lutas terminaram, e o que elas escondem.

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Regi tentou chamar por Kula mais uma vez, e de novo, não obteve resposta. Isso foi logo depois que ela acertou o capacete de um dos soldados que estava interruptamente tentando passar uma faca grossa e dobrada em suas costas. O impacto foi poderoso e o homem caiu no chão sem nenhum pingo de consciência, além de estar babando uma espuma branca sinistra pela boca. "Menos um. Faltam quatro.".

A situação da ferreira não era tão boa assim, mas ela estava tendo menos problemas do que sua parceira. Olhou para o lado e viu Kuchiki tentando ficar de pé enquanto sua oponente avançava perigosamente em sua direção. Esse momento foi inapropriado para tirar os olhos dos seus próprios inimigos.

Regi foi atingida na perna direita por um oponente que usava uma machadinha pequena e mortalmente afiada. Era uma arma que a garota particularmente odiava. Ela balançou a marreta e aplicou um golpe horizontal nesse mesmo oponente, mas diferentemente dos outros quatro que já estavam no chão derrotados, esse parecia ter alguma habilidade.

O homem se jogou para trás, evitando o golpe e logo em seguida fazendo mais um ataque frontal. Tentou aplicar um golpe rápido no peito da ferreira, que quase foi efetivo. Regi girou a própria arma em sua mão e deixou o cabo bem perto no pé do seu oponente, para só depois atingi-lo quando ele se aproximar.

Foi um sucesso. O cabo da marreta atingiu o pé do homem que o fez perder o equilíbrio e cair de cara no chão sujo e empoeirado. Regi não esperou outro segundo. Girou novamente a arma e deu um impulso com tudo para o chão.

Mas dessa vez, o ataque dela não funcionou por causa de um outro soldado rebelde que estava só esperando uma boa oportunidade para atacar. Esse outro soldado estava arremessando facas curtas, e uma dessas atingiu o meio das costas da ferreira.

Regi gritou e cambaleou para frente, além de pisar em cima do oponente caído e quase ir ao chão depois disso. Ela se virou com as costas arcadas e viu o maldito que tinha lhe acertado. Ainda com dor, ela levou a mão até atrás das costas e retirou a faca encravada ali. Por sorte, era uma faca curta e não tinha entrado muito fundo na carne. Sorte até demais.

Kula teve que se jogar para trás com toda a força que lhe restava. Foi um ato que ela se arrependeu depois. Não porque o ataque de sua oponente retirou alguns fios do seu cabelo mesmo ela estando razoavelmente longe, mas sim, porque quando ela caiu no chão para rolar, o ferimento no peito doeu como se tivesse algo entrando em sua carne, comendo um pedaço e cuspindo para fora do corpo.

A maga se levantou e caiu logo em seguida. Estava de joelhos agora. E lá vinha sua oponente de novo. Era impossível não levar uma luta dessas a sério, mas Kuchi já estava achando tarde demais para pensar em pedir ajuda de sua parceira. Além disso, ela não fazia a mínima ideia de como Regi estava se saindo com os outros soldados. Talvez ela também estivesse precisando de ajuda. De fato, a situação era horrível.

A maga de fogo cerrou os dentes e juntou energia mágica mais uma vez. Não podia continuar sendo cortada magicamente como antes. Havia algum tipo de truque na arma de sua oponente e ela precisava descobrir qual era. A mulher correu e pulou, balançando a grande naginata sob sua cabeça e pretendendo atingir Kuchi com um ataque vertical, acabando com essa luta de uma vez.

ONDA DE FOGO EXPLOSIVA!

Kula nem precisou mirar para usar sua magia de área. Sua oponente estava no ar e indefesa contra um ataque vindo de todas as direções. Tudo o que a mulher de kimono bonito conseguiu fazer foi colocar sua arma na frente para defender o impacto primário. A onda explodiu toda uma certa área ao redor de Kuchi, criando uma densa quantidade de pó pelo redor.

A mulher inimiga foi jogada para longe, mas ainda no ar, girou o corpo em uma cambalhota e caiu de joelhos no chão. Tinha se queimado levemente, mas sua expressão era mais de surpresa do que de raiva. Sinceramente, ela não esperava que Kuchi ainda pudesse reagir depois de levar um corte tão profundo no peito. E onde foi a maga?

A poeira estava cobrindo toda aquela área e a mulher não conseguia mais ver sua oponente. Mas a sentia. Ela estava concentrando energia mais uma vez. Kuchiki saiu daquela área envolta em pó dando um grande salto para trás. Ela estava com bastante energia acumulada.

MANIPULAÇÃO DAS CHAMAS - BRANCO CICATRIZANTE!

A mão esquerda da maga de fogo brilhou de tanta energia concentrada, depois entrou em combustão. Primeiramente era uma chama simples, vermelha e intensa. Depois, foi mudando de cor até virar uma chama branca e bonita. Com aquela chama, a garota passou a mão esquerda no ferimento sério em seu próprio peito, fazendo o corte se fechar instantaneamente.

Como a poeira ainda não havia abaixado, a oponente da maga não tinha visto essa ação, então ficaria mais surpreendida ainda quando visse que o seu golpe fulminante havia desaparecido.

Agora a maga de fogo se sentia um pouco melhor, mesmo sabendo que aquilo era uma cura temporária. Ela precisava atacar com tudo se quisesse terminar a batalha rápido, ou sua vida e de sua parceira estariam em risco. Ela não podia morrer e nem deixar com que Regi morresse. "Como ficaria Mumu se soubesse disso?", pensou ela. Kula quis sorrir por pensar nele até mesmo naquela situação cabreira. Foi quando ela sentiu que alguém tinha chego em suas costas.

Pela primeira vez na batalha, ela sentiu a aura de Regi, talvez por ela ter se aproximado tanto. A maga virou a cabeça e viu que a sua parceira estava um pouco machucada, mas não parecia abatida ainda.

— Regi, você está bem? — perguntou a maga, sem se virar mais. Ela não podia perder a concentração em sua própria oponente.

— Não muito, mas é por pouco tempo. — respondeu a ferreira, fazendo o mesmo que a maga. — Você está enfrentando uma oponente complicada. Só agora que eu percebi quem é.

— Espere, você sabe quem é ela?

— Sim. O nome dela é Kim-Yuna-Hwan, uma das mais poderosas guerreiras do Templo de Xiangmei, no norte desse Reino. — a resposta de Regi foi clara, mas em seguida ela teve que respirar rápido para voltar a superar as dores pelo corpo. Se ela adquirisse mais machucados, sua luta não demoraria muito mais... E o resultado seria desastroso. — Ela foi reconhecida mundialmente há pouco tempo atrás, depois que conseguiu essa naginata mágica que está usando agora. Se eu não me engano, ela ganhou o Título Único de "Vento Invisível" por causa que os golpes daquela arma criam rajadas cortantes de vento toda vez que é balançada. O vento é tão denso e concentrado que se torna uma verdadeira lâmina afiada. E já que não se dá pra ver o vento... Bom, acho que você entendeu.

— Você parece saber mais dela do que eu esperava. — respondeu Kuchi, concentrando mais energia mágica no corpo. A poeira já havia sumido e a tal da Kim já estava andando em sua direção para continuar a batalha.

— Claro que sei. Fui eu que construí aquela naginata. — respondeu Regi, fazendo Kula quase se afogar com a própria saliva. A maga não sabia se reclamava ou se ria. Com certeza a situação não era boa o suficiente para dar gargalhada, então a garota de vermelho tentou manter a calma e continuou ouvindo o papo de sua parceira. — Essa arma é poderosa, mas ela não é onipotente. Ela cria rajadas de vento, mas só em uma única direção por movimento. Então não tente se esquivar para trás ou para os lados. E tome cuidado com os avanços rápidos dela.

— OK, obrigada pelas informações. Tome cuidado! — disse Kuchi, começando a correr na direção de Kim.

Agora que a mulher do templo conseguiu ver que a maga tinha se curado. Kim realmente ficou surpresa, mas como ela estava em um modo de combate concentrado, sua mente decidiu ignorar o fato para se focar novamente em atacar sem parar.

Esse era o estilo de combate dela. Dizer que Kim era da Classe dos Lanceiros era errado. Ela tinha sim, algumas bases dessa classe, mas por causa de sua arma, toda uma nova gama de habilidades e movimentos são criadas.

No Templo de Xiangmei, onde essa arte é ensinada, ela é chamada de "Naginatajutsu", baseando-se em artes marciais básicas de lança e bastão. Além dos ataques com a arma, um aluno dessa arte também aprende algumas habilidades corporais, como socos de impulso e chutes de derrubar. Então teoricamente, a Classe de Kim era uma mistura de Artista Marcial com Lanceiro, criando uma espécie de soldado com uma densa variedade de golpes.

Se Kuchiki soubesse disso tudo, ela teria respondido a própria pergunta que ela tinha se feito: "Por que essa oponente era tão poderosa?". Kim não era simplesmente uma aluna nesse templo. Ela NASCEU nele. Seu pai é um dos praticantes seniores do local, e por causa de seu treinamento puxado e diário, ele decidiu se mudar para o templo. Então Kim foi obrigada a passar por um certo regime quase militar enquanto morava lá. Aprendeu etiqueta, literatura, filosofia e até mesmo uma outra língua usada por antigos mestres que vinham de outras regiões. Desde criança, teve um treinamento rígido para o corpo e a mente. Hoje em dia, ela se orgulha de ser aluna de lá, e seu Título Único só trazia mais honra ainda para seus pais e seus mestres.

ESFERA DE FOGO!

E essa mesma honra estava em jogo nesse momento. Kula, enquanto corria, mirou uma de suas bolas de fogo para a oponente e atirou. E errou. Ou pelo menos foi isso que Kim achou. A esfera em chamas bateu no chão, bem em frente a usuária de naginata, criando novamente uma pequena explosão de poeira.

Kim ignorou totalmente a cortina de fumaça suja e atravessou a poeira com um golpe de ponta com sua arma. Kuchi não estava lá. O plano da maga tinha sido perfeito. Criou uma nuvem de poeira para fazer sua oponente perder a visão dela por um segundo. Nesse segundo, ela se jogou com tudo para o lado, e nesse exato momento, ela estava a uma distância extremamente pequena da lateral do corpo da garota de kimono.

Kim se viu em uma posição terrível, principalmente porque Kuchi já estava com sua mão direita apontando para ela.

LANÇA-CHAMAS INCANDESCENTE!

Depois de concentrar energia mágica na palma de sua mão, a maga de fogo disparou sua mangueira infernal de chamas contra o corpo da pobre mulher. Kim não estava em uma posição para se defender, então tudo que fez foi colocar o braço esquerdo na frente do rosto, para que o fogo não lhe atingisse os olhos.

As chamas foram "borrifadas" na mulher por dois segundos. Depois, Kim deu um salto muito grande para trás, escapando de ser literalmente cozinhada.

Kuchi puxou a mão para trás de volta e já estava se preparando para avançar. Ela ia usar a mesma estratégia da oponente. Iria continuar atacando sem parar, criando brechas na defesa dela até poder acertar um golpe em cheio. Como foi esse.

Kim estava sentindo seu corpo queimar, e a dor estava fazendo ela perder a concentração da batalha. Não havia como lutar contra a dor de uma queimadura. Talvez fosse por isso que existiam tantos Magos de Fogo pelo mundo. Esse elemento é perfeito para o ataque, pois o efeito secundário é deveras vantajoso para o usuário.

A mulher treinada no Templo apertou os dentes. Passou a mão no rosto e concentrou energia mágica. Ela não iria ser derrotada só com aquilo. Aquela luta estava longe de terminar. Kuchi ia avançar, mas decidiu ficar em uma posição defensiva quando viu sua oponente colocar sua naginata para trás e enchê-la de energia mágica. "Aí vem algo grande!", pensou a maga. Sua percepção mágica nunca estava errada. E não foi dessa vez que ela errou.

AVANÇO DO FURACÃO!

Kim começou a girar a naginata em cima de sua cabeça, criando um redemoinho de vento que começou a puxar tudo em redor. Pedras começaram a se levantar. Armas e pedaços de roupas dos soldados caídos voaram em todas as direções, perigosamente. Poeira e destroços dançaram no céu com se fosse uma tempestade no deserto. Ao redor do corpo da mulher, um verdadeiro tornado tinha ganhado forma. O vento estava tão forte que até mesmo Regi e os outros soldados ao redor tiveram que se segurar em algo para não serem puxados.

Kuchi estava mais próxima ainda, mas por mais incrível que pareça, ela não era puxada. Kula Chikigane era uma maga talentosa. Quando a magia de Kim começou a puxar coisas, ela envolveu o próprio corpo com sua energia mágica, criando uma contra medida do vento poderoso, que também estava sendo criado através de mágica. E magia só poderia ser contrariada com outra magia.

Foi exatamente isso que ela teve em mente quando a mulher de kimono fez um movimento para frente, mandando o tal tornado na direção de Kuchi. Assim como sua magia já dizia, o furacão começou a avançar devagar, querendo engolir tudo que estivesse no caminho.

A maga de fogo pensou em duas opções antes de agir. A primeira opção era fazer com que todo o seu corpo fosse forçado a dar um grande salto para o lado, pois ela duvidava que o tornado iria persegui-la. Mas essa opção foi logo descartada porque se Kuchi retirasse sua cota de energia mágica do corpo, ela seria sugada imediatamente pelo furacão, fazendo com que seu plano fosse por água abaixo. Então só sobrava a outra opção.

Mas era perigoso. Ela precisaria enfrentar essa ventania de frente. Não ia adiantar jogar uma magia "contra" o tornado. O vento acabaria fazendo a sua magia se dispersar e ela ainda seria atingida em cheio. Então a segunda opção de Kuchi era usar uma magia que ela não estava acostumada ainda. Uma magia de proteção. A maga já estava com energia mágica concentrada o suficiente para usar a tal magia... Mas ela não tinha tanta certeza de que daria certo.

Tinha que dar! Era a única forma dela sair inteira desse desastre. Ela precisava arriscar. Se ela aprendeu alguma coisa durante o Torneio do Coliseu, foi que a sorte sempre está do lado de quem tem a maior força de vontade. "E eu não estou lutando só por mim!".

O último pensamento de Kula fez ela levantar a mão direita para cima e deixar a mão esquerda para baixo. Suas duas mãos brilharam intensamente quando toda a energia concentrada foi passada para esses locais.

MANIPULAÇÃO DAS CHAMAS - ROXO PROTETOR!

Duas chamas se acenderam ao mesmo tempo. Uma em cada mão. O brilho se intensificou e se tornou roxo. As chamas que foram criadas ficaram da mesma cor, parecendo fogo do submundo. Depois, Kuchi fez as duas mãos se baterem em sua frente, criando uma espécie de impacto mágico que reverberou a sua volta.

E daí veio o efeito real da magia. Duas chamas roxas apareceram e ficaram rodeando o corpo da maga, como se fosse uma lua em órbita com um planeta. As chamas eram sinistras, ao ponto de serem facilmente confundidas com fogo-fato.

Tudo aconteceu muito rápido. O Anjo de Fogo afastou as pernas e cruzou os braços na sua frente. O tornado já estava ali. E "bateu" contra a garota. Aos que olhavam de longe, a cena poderia ser descrita como bizarra. O vento, que era pra ter engolido a garota e feito ela girar e depois voar em qualquer direção aleatória em uma velocidade anormal, simplesmente bateu nos braços da maga e começou a empurrá-la. Como se ela fosse a coisa mais pesada do mundo.

O furacão a empurrou por uns sete metros de distância e depois sumiu, como qualquer outra magia normalmente faz. E lá estava Kula. Com os braços cortados e sangrando, mas inteiros. Tudo o que restou foi a cara pálida de Kim, que não conseguiu acreditar no que tinha acabado de ver.

A pessoa que mais aproveitou esse cenário enlouquecido foi Regi. Ela estava trocando golpes com o cara da machadinha, mas quando o tornado começou, os dois tiveram que se jogar no chão para não serem engolidos pelo vento. Quando eles viram que conseguiam se mexer novamente, o cara ficou olhando para o tornado empurrando Kuchi.

Mas não Regi. Ela aproveitou o momento, vendo que seu oponente estava com a atenção em outro lugar, correu e depois de estar próxima o suficiente, aplicou um golpe certeiro na lateral do corpo da pessoa. O impacto foi profundo, quebrando duas ou três costelas de uma vez e provavelmente acertando o pulmão, pois ele caiu no chão sem ar e cuspindo sangue sem parar.

"Agora faltam só mais três.", pensou a ferreira. Ela se abaixou para se esquivar de outra faca arremessada pelo maldito bom de mira. Ele seria o próximo.

Ao mesmo tempo que Regi estava quebrando a costela de um azarado, Kula estava reganhando o fôlego e tentando se concentrar novamente. Ela também tinha percebido que sua oponente estava com a guarda baixa. E quem poderia culpar Kim? A mulher rebelde não fazia ideia do que tinha acontecido ali. Como diabos um ser humano enfrenta um furação de frente? Isso era ridículo até mesmo para ser levado em consideração!

Mal sabia ela que o controle de chamas de Kula era poderoso o suficiente para fazer as chamas mudarem inclusive a composição do ar em volta do usuário. As chamas roxas da maga de fogo conseguiam queimar as partículas mágicas ao redor do corpo dela. O que significava que ela criava uma barreira natural para combater outras energias mágicas que tentavam acertar seu corpo, seja lá de que direção elas viriam.

Como dito antes, o tornado de Kim era real, mas era feito totalmente de energia mágica. Foi por isso que a maga não foi engolida por ele. Quando o furacão encostou nos braços de Kuchi, as chamas roxas dela já haviam diminuído muito o poder da magia em si. Diminuído sim, anulado completamente, não.

Foi por isso que nesse exato momento, a maga de fogo estava com os braços em puro sangue. Ela não poderia se dar o luxo de utilizar sua magia de fogo branco novamente. Aquilo consumia uma quantidade considerável de energia mágica, e mesmo que ela tivesse o suficiente, a maga ainda estaria com um problema em mãos: sua oponente. Kim não estava tão machucada e não parecia estar cansada, então "não atacá-la" poderia ser um erro grotesco.

Foi por isso que logo depois que sua respiração voltou ao normal, Kuchi concentrou energia mágica novamente. Aproveitou que Kim ainda estava de olhos arregalados e estupefata com a situação à sua frente. Não havia hora melhor para atacá-la.

PILAR DE FOGO!

A escolha de magia da maga de fogo poderia ser considerada como perfeita. Essa não era a magia mais poderosa que ela tinha em mãos. Mas era a que mais pegava seus oponentes desprevenidos. Se ela tivesse usado o seu Torpedo de Fogo, por exemplo, Kim teria tempo para se tocar que ainda estava em batalha, se preparar e se defender da magia.

Agora com uma magia que mandava uma linha de energia pelo chão até chegar embaixo do oponente para depois criar uma explosão redirecionada para cima... Tem que se admitir que o oponente precisaria ser rápido e perceptivo para escapar dessa magia.

Kim era habilidosa sim. Ela viu que Kuchi bateu com as duas mãos abertas no chão, mas sem nada acontecer. A mulher de kimono se preparou, esperando que algo viesse em sua direção. Tinha que ser uma magia, claro. Mas nada veio.

Não importava. Kim voltou a concentrar energia mágica em sua naginata, esperando para ou se defender, ou voltar a avançar e atacar a oponente. Era impressionante que a maga tenha defendido sua magia de frente, mas aquilo não queria dizer que o tornado era a magia mais poderosa que ela tinha em mãos. Foi nesse ponto que aconteceu.

Kim sentiu algo chegando em seus pés. Ela olhou para baixo com medo, e viu que um círculo vermelho estava se formando em volta de seu corpo, pelo chão. Infelizmente para ela, já era tarde demais. O pilar ascendeu como o fogo de um forno mágico. A explosão elevou as chamas para mais de dois metros do chão, fazendo Kim gritar por sua vida, o mais alto que pode.

Aquilo fez os dois únicos soldados restantes do exército sentirem um medo correr em suas espinhas. Os dois olharam para o lado, vendo Kim cair no chão pegando fogo e rolando, na tentativa de se apagar.

E mais uma vez, perder a atenção de sua oponente causou a morte de outro soldado. Quando Regi estava preste a atacar o soldado que atirava facas, houve o grito. O tal soldado olhou para trás, vendo que sua colega estava caída. A ferreira não esperou. Ela deu dois passos para o lado e juntou a machadinha do outro soldado que estava lutando contra ela há um minuto atrás. Mirou bem e atirou a arma, que acertou o soldado das facas exatamente na dobradura da perna direita.

O homem caiu no chão gritando de dor, e foi a última coisa que ele fez. Regi correu e acertou o pobre coitado no peito com sua marreta, fazendo o soldado perder a consciência imediatamente. "Só mais um.".

Regi olhou para o lado, procurando seu oponente. Ele não estava tão longe. Usava uma espada simples e um escudo de ferro. E ele também era um pouco habilidoso. Tinha defendido todos os ataques diretos dela. Mas isso porque Regi tinha que se concentrar em muitos oponentes ao mesmo tempo.

Agora era só ele e ela. Um duelo. Nenhum dos dois usava magias. E era assim que Regi gostava. Uma troca de habilidades únicas. A ferreira apertou o cabo de sua arma e correu contra o oponente mais uma vez.

Kula também havia começado a correr. Ela estava longe de Kim, que nesse momento, ainda estava rolando pelo chão. A mulher do exército rebelde tinha obtido sucesso em apagar o fogo que consumiu mais da metade de sua roupa e tinha queimado seriamente sua pele. A ardência que ela sentia agora era inimaginável.

No meio de suas tentativas de vencer a dor, Kim viu sua oponente correndo em sua direção. Ela queria finalizar a luta de uma vez por todas. A mulher de naginata usou sua arma como apoio e ficou de pé novamente. Kuchi parou a corrida, se impressionando com a força de vontade da oponente. A luta ainda não havia acabado. Não seria tão fácil. Nunca era. E então veio a explosão no céu.

Todos os quatro ali restantes viram uma esfera branca subir aos céus e causar uma explosão mágica fenomenal. Se aquilo tivesse sido atirado à noite, teria iluminado um terço da cidade como se fosse um sol nascente. Era impossível ignorar a explosão de luz. Tinha subido do chão, como se fossem fogos de artifício. E tinha sido atirado de muito perto, ao nordeste.

Os quatro permaneceram em suas posições, só vendo o show de luzes se espalhar pelas nuvens do céu aberto. Kuchi e Regi foram as primeiras a se perguntar do que aquilo se tratava, mas também foram as primeiras a ignorarem aquilo e se concentrar na luta. Já Kim e o outro soldado se olharam assustados. Eles sabiam muito bem o que aquilo significava.

— A missão foi completada! — gritou Kim, com todas as forças que ainda lhe restava. — Todos os que podem ouvir... RETIRADA!!!

A maga e a ferreira foram pegas de surpresa. Não souberam como reagir. Ficaram só em suas posições, paradas. O soldado restante que seria o próximo alvo de Regi correu até um outro soldado que estava tentando ficar de pé. Ele ajudou o amigo e começou a correr para longe dali. Regi pensou se corria ou não atrás deles. Olhou para Kula e percebeu que a maga estava fazendo exatamente o mesmo que ela.

Havia confusão na expressão das duas mulheres. Alguns outros soldados estavam tentando se levantar também, mas estavam muito machucados. Outros nem se mexiam mais. A única coisa que fez a mente das duas voltar a funcionar foi quando Kim dirigiu a palavra para as duas.

— Não temos mais intenção de atacar esse local. — disse ela em alto e bom tom. — Eu não sei quem vocês são, mas claramente não são soldados reais. Então se vocês estão aqui só para proteger esse local, provavelmente não se importarão que nos retiremos. Se for ao contrário... — Kim apertou sua arma mais uma vez. — Eu ficarei aqui e lutarei contra vocês duas até a morte para dar tempo dos meus soldados recuarem! — aquilo tinha sido mais uma intimidação do que um pedido. Mas havia a vontade nas palavras e nos olhos da guerreira. Kuchi engoliu saliva quando ela mexeu sua naginata novamente.

— Vão embora. — disse Regi. Ela viu que sua parceira estava ferida demais e não estava em posição de manter uma conversa saudável. Logo, ela poderia se deixar levar pelo impulso e continuar batalhando. Regi sabia que não tinha ordens nenhuma de caçar os rebeldes. Tudo o que as duas tinham que fazer era manter o depósito de suprimentos dos soldados intocado e... Isso foi feito. Além disso, a nobreza contida nas palavras de Kim tocaram o coração da ferreira. Lutar por vontade de ver sangue era uma coisa, mas querer ficar no lugar de seus camaradas para salvá-los já era algo que quase ninguém fazia. — Não iremos persegui-los e nem atacá-los desde que vocês abaixem suas armas e se retirem pacificamente.

Não houve resposta de Kim. Ela só abaixou sua naginata e correu até outro dos soldados que estava mais próximo dela. Ordenou que os que conseguiam se mexer ajudassem os outros a fugir e que não deveriam mais atacar ninguém.

Enquanto isso, Regi andou até sua parceira, vendo que Kula estava mais mal do que aparentava. A ferreira ajudou a garota a se sentar para descansar. Assim que todos os soldados estavam começando a ir embora, Kim se virou para trás e abaixou sua cabeça formalmente. Era um gesto simples. Era um "Obrigado.".

"Obrigado" não era uma palavra que Mulkior gostaria de falar naquele momento. Ele teve que colocar forças nas pernas mais uma vez e se jogar para o lado, se esquivando de outro tiro destrutivo da shotgun de Lelouch. Um único tiro deixava uma marca bem feia na parede de pedra do castelo, demonstrando o tamanho poder da arma.

O atirador puxou o cano inferior da arma e engatilhou outro tiro. Mirou para o mago que ainda estava tentando se levantar e deu outro tiro. Mumu se virou e levantou o seu pseudo escudo, defendendo o impacto direto mais uma vez. Seu braço voou para trás e o escudo saiu de sua mão, batendo no chão bem longe dali. Agora o mago de ferro estava desarmado. Mas não indefeso.

Mulkior ignorou sua falta de arma e partiu para cima do atirador. Lelouch, pego de surpresa pelo avanço do oponente, deu um passo para trás e carregou outro tiro. Ele colocou sua arma para frente e disparou, mas seu oponente impulsivo já estava próximo demais. O mago segurou no cano da shotgun e tirou a mira do atirador, fazendo o tiro se perder no nada pelo corredor.

— Armas de fogo também são feitas de ferro! TRANSFORMAÇÃO REVERSA!

Segurando a arma do oponente, Mulkior concentrou energia mágica em sua mão e fez o que deveria ser feito. Desarmar um inimigo era uma estratégia básica de qualquer combate e quase sempre encerrava a luta. Se não fosse pelo rápido avanço do mago, talvez essa luta tivesse demorado bem mais. Mas agora já era.

Mumu transformaria a shotgun de Lelouch em uma esfera de ferro e ainda usaria a mesma esfera para criar outra arma e ameaçar o atirador, encerrando a batalha. Foi isso que todos acharam que aconteceria? Estavam errados. Não aconteceu.

Mulkior viu que sua mão brilhou com energia, mas a arma de Lelouch ainda estava lá, inteira. O mago ficou totalmente sem reação. Enquanto que o atirador foi obrigado a abrir um largo sorriso.

— São feitas de ferro sim... Mas são mágicas. Então sua habilidade de retransformar minhas armas é totalmente inútil! TRANSFORMAÇÃO DE ARMAMENTO - SUBMETRALHADORA!

Novamente, a arma de Lelouch brilhou e começou a mudar de forma. Como ela estava ficando menor, Mumu sentiu o ferro em suas mãos desaparecendo, fazendo ele perder o equilíbrio por um segundo. Foi esse mesmo segundo que foi perfeitamente aproveitado pelo atirador.

A arma dele se transformou em uma MP5 cinza com preto. Ele puxou o pino de ignição e trocou o tipo de tiro, deixando em "auto". Mirou no peito do mago e descarregou o pente. Mulkior não teve tempo para se jogar dessa vez. Ele levou em cerca de vinte tiros diretos no peito, caindo e rolando no chão logo em seguida.

Por mais incrível que pareça, foi esse dano que fez o Líder da Immortal Star se lembrar como era ruim entrar em uma batalha sem sua fiel companheira, a armadura feita pela sua família. Ele quis xingar David naquele momento, mas do que adiantaria? Ele estava em outra batalha agora. Não poderia se dar ao luxo de perder a concentração diante de outro oponente poderoso.

Ele fez força e se levantou mais uma vez. O peito dolorido. Se mexer tanto fez a dor do golpe que o Cavaleiro Negro tinha lhe acertado no ringue da arena, no dia anterior, voltar a incomodar. Sangue estava começando a lavar sua roupa.

O mago de ferro estava se sentindo como se tivesse caído em uma cama de espinhos. Olhou para frente, tentando deixar só o inimigo como sua prioridade em sua mente.

Lelouch estava retirando o municiador de sua metralhadora e jogando no chão. Mumu teve uma conclusão fenomenal naquele momento. Assim que o municiador caiu no chão empoeirado do corredor, ele desapareceu em forma de partículas mágicas. E além disso, a mão esquerda do atirador brilhou um pouco para que outro municiador aparecesse no lugar. Era energia mágica!

As duas magias eram, de fato, diferentes. Mumu não precisava "alimentar" suas armas para continuar as usando. Já Lelouch recolocava um pouco de energia mágica para poder usar suas armas novamente. Ele não tinha percebido isso com a shotgun porque provavelmente Lelouch não "descarregou" totalmente a arma antes de transformá-la!

Claro, toda Classe tinha que ter uma desvantagem. Mesmo as magias mais úteis e poderosas não eram "perfeitas". San mostrou isso para o Coliseu inteiro quando destruiu uma magia gigantesca com apenas... Um dedo? Melhor dizer que foi com uma magia menor e concentrada.

Mumu sorriu e retirou mais três esferas do bolso. Ele se lembrou novamente que não tinha muitas sobrando. Não poderia fazer uma batalha demorada. Isso cortava totalmente qualquer plano de prolongar a luta até que Lelouch estivesse sem energia para recarregar a arma. Ele precisaria fazer o oponente recuar e ficar sem tempo para mirar e atirar com precisão. Era a única forma de ganhar aquele combate.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL DOIS - ESCUDO-TORRE!

O mago de ferro colocou uma quantidade mediana de energia mágica na mão esquerda, ao mesmo tempo que forçou o braço pra aguentar um determinado peso. Ele precisaria daquilo. Duas das esferas de metal brilharam em sua mão e logo começaram a ganhar forma. Cresceram de forma fenomenal. Não só envolveu toda sua mão, como todo o seu braço e metade de seu corpo.

O que o mago de ferro tinha criado era um escudo do tipo "torre". Se tratava de um escudo pesado, de forma retangular, comprido e principalmente resistente. Esses escudos eram usados na linha de frente em guerras, geralmente usados por muitos soldados ao mesmo tempo, que estando lado a lado e juntando seus escudos, eles conseguiam formar uma muralha reforçada e locomotiva.

Para o atirador inimigo, isso pouco importava. Lelouch mirou a cabeça de seu oponente e atirou com sua submetralhadora sem ter dó nem piedade. Mulkior abaixou a cabeça, a escondendo atrás do escudo, colocou uma das pernas para trás e firmou os braços. Os tiros pegaram no escudo e não fizeram absolutamente nada. Foi como atirar uma pedra em uma parede de ferro.

Antes mesmo de Lelouch pensar sobre aquele escudo ser um problema, Mumu firmou os braços mais uma vez e partiu para cima do atirador. O avanço foi uma surpresa. Lelouch não conseguiu desviar e foi atingido em cheio pelo escudo, o fazendo cair para trás e rolar duas vezes pelo chão. Irritado, ele se levanta, coloca mais um municiador na arma e puxa o gatilho mais uma vez.

Os tiros foram acertando o escudo, mas dessa vez, Mumu não ficou parado. Ele viu que aguentava. Então tudo o que ele fez foi continuar avançando, mesmo com os tiros da metralhadora acertando o ferro grosso do equipamento defensivo do mago.

Mas Lelouch não era burro. Ele se abaixou e começou a mirar nas pernas do oponente. Os tiros passaram por baixo do escudo, raspando a perna direita do escudeiro. Quando esse sentiu a dor, ele se abaixou, colocando o escudo no chão e criando uma verdadeira parede em sua frente. A mira dos "Cem Gatilhos" não poderia ser subestimada.

Não importava quantos tiros Lelouch desse, o escudo não se danificava. Era realmente uma boa peça de concreto que mais parecia diamante. A irritação do atirador ficou maior quando Mulkior começou a usar uma estratégia de avanço magnífica. O mago esperava os intervalos entre o recarregamento da arma do atirador para que ele levantasse o escudo do chão e andasse para frente. Isso o fez acertar o escudo no corpo de Lelouch mais uma vez.

E eles já estavam quase no fim do corredor. Naquele momento, os dois não ouviam mais nenhum barulho vindo de fora, pois estavam totalmente concentrados um ao outro. Além de uma visão fenomenal, Lelouch também tinha uma audição impressionante. Ele estava tão concentrado, que conseguia ouvir a respiração profunda de seu oponente. Era uma respiração rápida e pesada. Espere. Rápida... Pesada... Sim!

Lelouch concentrou mais energia nas mãos. "Ele está exausto!", pensou ele. E tecnicamente falando, seu pensamento não estava errado. O escudo de Mumu era incrivelmente pesado e não podia ser manuseado tão facilmente. Imagine ter que aguentá-lo enquanto leva uma saraivada de balas de uma submetralhadora? Isso deixaria qualquer um morto. O atirador não poderia deixar essa chance passar batido.

TRANSFORMAÇÃO DE ARMAMENTO - PISTOLAS!

Não foi nenhuma novidade de visual. Lelouch fez sua metralhadora brilhar e depois se separar em dois focos de energia mágica distanciados. Um em cada mão. Logo em seguida, o que era possível ver se tratava das mesmas armas que ele tinha usado no início do combate. Suas duas GLOCKs brilhosas eram o que ele mais precisava para fazer a manobra que ele estava pensando.

Inicialmente, ele precisava de espaço. Deu um grande salto para trás e começou a atirar só com a pistola direita, fazendo Mumu se manter no casulo de ferro. Uma GLOCK carregava treze balas. Ele tinha usado cinco durante o salto para trás. Tinha oito sobrando. "Vai ser perfeito", pensou Lelouch.

Depois, começou a correr em direção à Mumu e seu escudo impenetrável. Enquanto corria, ele continuou disparando só com a pistola da direita. Correr e atirar ao mesmo tempo era algo impossível de se fazer com armas como a shotgun ou uma metralhadora. Foi por esse motivo que ele precisou trazer suas pistolas novamente ao show.

Mas do que adiantaria se nem mesmo o impacto dessa arma estava causando algum dano àquele escudo? Bom, esse não era o plano de Lelouch.

Ele correu e atirou só para manter Mulkior fixado naquele ponto. Para deixá-lo parado, só esperando o tempo de recarga da arma. Mas não haveria recarga. Não haveria tempo para nada. Dois metros antes de chegar no oponente, Lelouch deu um pulo para o lado e começou a correr pela parede. Sim. Ele estava literalmente correndo pela parede. Isso era possível graças à velocidade e a um treinamento de controle de peso no corpo. Mas ele só conseguiria dar no máximo uns cinco ou seis passos.

Era mais do que o bastante. Pela parede, ele passou pelo lado de Mumu, vendo o mago ainda atrás de seu escudo achando que seu plano de avanço continuava dando certo. Mulkior Musubi VIU seu oponente aparecendo pelo seu lado.

Os dois trocaram um olhar muito rapidamente. Depois Lelouch apontou a pistola esquerda para o mago que não teria tempo o suficiente para virar aquele escudo pesado. Um tiro seria o bastante, se pegasse na cabeça ou no coração.

— Te peguei! — disse o atirador, fazendo sua mira.

— Não, eu te peguei! TRANSFORMAÇÃO DE METAL - LANÇA!

Lembram quando eu disse que Mulkior tinha se levantado com dores, e depois de ver seu oponente usando energia mágica para recarregar, ele colocou a mão em sua bolsa de esferas, retirando TRÊS delas? Pois é. Duas delas o mago de ferro tinha utilizado para criar o tal escudo-torre que estava em sua mão esquerda. E a outra que sobrara? O que tinha acontecido? Oras, ele manteve na mão direita.

Um ataque surpresa. Seria difícil acertar um atirador que tem tendências a permanecer a uma certa distância. E para o mago, que era especializado totalmente em um combate a curta distância, isso era uma tremenda desvantagem.

Então o membro da Família de Ferreiros teve uma grande ideia. Pra que tentar se aproximar quando era mais fácil deixar seu inimigo fazer isso? Foi por isso que ele teve que guardar uma das esferas. Ele fez Lelouch não ter outra escolha a não ser querer pular por cima ou pelos lados, para tentar acertá-lo. Tiro e queda.

Bom... Não foi bem uma "queda". Quando Lelouch estava fazendo sua Corrida Lateral, Mumu transformou rapidamente a esfera da mão direita em uma lança pontiaguda, ao mesmo tempo em que ele movimentou o braço para frente na direção do atirador, criando um ataque de ponta. Tudo aconteceu rápido. Inclusive o ataque do mago começou ANTES mesmo da lança estar completamente formada.

Mas ainda sim, foi uma tática bem sucedida. A lança atravessou o atirador na altura do ombro esquerdo e o grudou na parede, a mais de um metro do chão. Lelouch gritou quando sentiu a dor, e soltou a arma da mão esquerda, para que ele pudesse segurar a lança. Ele tentou retirá-la usando a força, mas fazer isso contra a força física de Mumu era... Impossível.

Tremeluzente, Lelouch tentou mirar com sua arma restante para o mago que não queria largar a lança. Disparou três vezes, mas como ele estava preso e sentindo uma dor agonizante, todos os três tiros erraram o alvo.

Para o Garra de Ferro, a vitória estava a um passo ao seu alcance. Era só transformar o grande escudo em alguma outra arma cortante e tirar a cabeça daquele rebelde. Foi uma luta curta, mas emocionante.

— Não me... Subestime! — disse o atirador preso. Até mesmo sua voz tinha perdido a força e estava saindo tremida. Mas ao contrário de sua voz, sua energia mágica não estava se enfraquecendo. — TRANSFORMAÇÃO DE ARMAMENTO - GRANADA DE LUZ!

A arma da mão direita de Lelouch brilhou rápido e começou a converter em uma coisa menor e redonda. Mumu desistiu de transformar seu escudo naquela hora. Ele não tinha ouvido o que seu oponente tinha falado, mas toda aquela concentração só poderia significar que algo de ruim estava pra vir.

Antes mesmo dele poder fazer qualquer coisa mais inteligente, a pistola do atirador tinha acabado sua transformação. Tinha se tornado em algo oval, cinza com uma listra branca e com um pino metálico que estava sendo removido naquele mesmo instante. Não importa o que seria.

Mulkior fez força no braço esquerdo para levantar o escudo e o trazer para sua frente. Mas o peso atrapalhou. Não deu tempo.

Tudo que Lelouch precisou fazer foi soltar a granada de sua mão. Ela bateu no chão duas vezes antes de explodir. Mas não foi bem uma explosão de impacto que levou tudo para os ares. Lelouch não queria morrer junto. Foi uma explosão de luz. Como o mago não fazia ideia do que era, ele ficou acompanhando a granada cair e explodir. Um erro terrível.

O flash intenso lhe pegou desprevenido, tirando temporariamente sua visão dos dois olhos. A ardência fez Mumu recuar, soltando a tranca da lança que segurava seu oponente contra a parede.

O atirador caiu arrastando a parede até o chão, deixando um rastro de sangue quente pelas pedras do corredor. Era a chance dele. Ele juntou sua pistola que estava no chão ainda. Mirou para o oponente cego e... Não atirou.

Não porque ele não conseguiu. Mas porque mesmo cego, Mumu balançou sua lança para o lado, quase acertando o pescoço do seu oponente. Mulkior não conseguia vê-lo, mas conseguia senti-lo. O atirador, ainda com medo de ser acertado por um novo balanço da lança do mago, rolou pelo chão, se levantando logo em seguida. Ele precisava ganhar distância novamente. Começou a correr para longe.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - CHICOTE!

E não foi para muito longe. Como dito antes, Mumu estava sentindo Lelouch. A percepção dele não era tão precisa e potente quanto a de sua parceira, mas ainda sim, ele havia treinado bastante seus sentidos para localizar um inimigo e não ser pego em um ponto cego.

A lança de sua mão se tornou um chicote marrom escuro, feito de uma liga metálica dobrável. Com um só movimento, Mulkior fez o chicote voar em direção ao homem fugitivo, o enrolando pela perna. Lelouch foi ao chão com tudo. Naquele momento, ele não sabia se ficava com raiva ou se ficava espantado. Olhou para trás, ainda no chão. Mulkior estava com um olho aberto e outro fechado, e a expressão de dor ainda continuava em seu rosto. Ou seja, ele ainda permanecia cego de um dos olhos.

O atirador de elite sabia muito bem que o efeito da granada de luz tinha sido extremamente reduzido pois ele mesmo não tinha colocado muita energia mágica em sua última magia. Não dava tempo. Ele se virou, ficando de barriga para cima. Mirou dali mesmo.

Atirou mais quatro vezes. Dois dos tiros acertaram o peito e o ombro de Mumu, mas logo depois disso, o próprio mago se jogou para trás de seu escudo, se livrando dos dois outros tiros. "Tsc!", disse Lelouch.

Mirou para outro lugar. Mirou para o chicote de ferro que o prendia. Atirou duas, três vezes. Foram tiros precisos dessa vez, acertando o mesmo lugar. O chicote se rompeu, dando liberdade para ele se levantar novamente. Mesmo com as dores, ele continuou correndo pelo corredor ensanguentado. Com a mão em cima do machucado no ombro. Ele olhou rapidamente para o enorme furo ali. Era sério. Aquilo estava afetando tanto sua mira quanto sua mobilidade.

Chegou a uma distância segura e se virou novamente. Seu oponente já estava de pé, com o enorme escudo em sua frente. Ele era teimoso. Não iria desistir tão facilmente. E aquele escudo... Algo precisava ser feito com aquilo. E algo IRIA ser feito. Chega de bancar o bonzinho. Era hora de mostrar do que ele era feito.

Lelouch começou uma grande concentração de energia. A aura envolta de seu corpo se intensificou, fazendo o chão tremer ao seu redor. Mulkior, que estava avançando lentamente por causa da meia cegueira, foi obrigado a parar. Ele estava vendo Lelouch segurar sua única pistola para frente e mandar toda aquela energia mágica concentrada para lá. Não era bom...

Mas o que ele poderia fazer? O escudo-torre ainda estava intacto. Não importava qual arma ele conseguisse transformar, não seria o bastante para ultrapassar a defesa do seu grande escudo. Mumu tinha usado aquele equipamento poucas vezes, mas em todas essas vezes, o escudo aguentou todos os tipos de ataques sem ser vencido. Era uma grande peça de valor, e olha que era uma Magia de Nível Dois. Nada iria vencer aquela defesa de ferro sólida.

Nem mesmo toda aquela energia de Lelouch, que já estava fazendo a pistola brilhar e mudar de forma. Estava ficando maior. BEM maior. Pareceu mais comprido. Pareceu mais sinistro. Pareceu mais poderoso e principalmente perigoso.

TRANSFORMAÇÃO DE ARMAMENTO - LANÇA MÍSSIL!

E realmente era tudo aquilo que pareceu. A pequena pistola de Lelouch tinha se transformando em uma explosiva RPG-7, um lança míssil capaz de destruir um prédio de menor escala com apenas um tiro. Ainda protegido pelo seu valioso escudo, Mumu estava vendo seu oponente ficar de joelhos, tomando uma posição fixa.

O atirador colocou a arma sob o ombro direito, segurando-a com a mão direita, e com a esquerda, ele levantou um pino de ferro retangular que ficava bem no meio da arma. Era uma mira. E isso era o que Lelouch estava fazendo agora. Calculando e mirando.

Como Mulkior não se mexeu, o atirador profissional entendeu que o seu oponente pretendia tentar se defender até mesmo daquilo. Ele não fazia ideia do poder destrutivo daquela arma. Mas estava preste a saber.

Lelouch puxou o gatilho e o míssil de energia concentrada disparou criando um barulho ensurdecedor. A arma tinha um coice incrível. Assim que o atirador puxou o gatilho, ele mesmo foi empurrado para trás.

O míssil não era tão rápido quanto pareceu. Mas eles não estavam tão afastados assim um do outro, então não demorou nem dois segundos para acontecer o impacto. Como já esperado, o filho de nobre se escondeu atrás de seu grande escudo, colocando todo o peso do corpo contra sua muralha de ferro. Ele sabia que teria que aguentar um grande impacto, já que a energia concentrada era grandiosa. E no fim, era grandiosa DEMAIS.

O impacto foi literalmente explosivo. O míssil bateu no escudo de ferro e criou uma explosão digna de ser presenciada... De longe. A explosão "comeu" uma área enorme, destruindo paredes, tetos, portas, chão, objetos e escudos de ferro. Sim, nem mesmo o poderoso escudo-torre de Mumu foi capaz de aguentar tamanha potência.

O mago de ferro voou de uma forma impressionante. Ele chegou a entrar dentro de um outro cômodo do castelo destruindo uma parede inteira por onde passou. Logo no impacto do míssil, Mulkior perdeu a consciência por um segundo e só foi "acordar" quando bateu na parede e entrou no tal cômodo. Tudo o que ele conseguia fazer era sentir as dores.

Havia escombros em cima de seu corpo e ele não estava enxergando nada. Escuridão e dor eram duas coisas que quando unidas, criavam um tipo único de desespero na mente de uma pessoa. O mago tentou mexer o braço esquerdo e sentiu como se houvesse uma faca atravessada em seu ombro. Estava quebrado? Provavelmente. Tentou o braço direito. Mexia e não doía... Tanto. Mexeu mais uma vez e viu que realmente tinha coisas em cima dele.

E porque ele não conseguia ver nada? Ignorou. Usou a força restante para tirar as tais coisas que estavam em cima dele. Viu que foi horrível para fazer força com um braço só. Empurrou um escombro que estava em cima do seu peito, fazendo-o ter dificuldades para respirar. Era parte da parede. Ou porta. Ou janela. Ele não sabia. Tentou se levantar e viu que suas pernas estavam presas também.

Ao virar a cabeça, ele conseguia ver um buraco com luz, ao longe. Era por onde ele tinha passado. Ou assim ele esperava. Tirou um tipo de ferro de cima das pernas e viu que podia se mexer novamente. Ferro? Mumu acariciou o aparato. Ele, acima de qualquer outra pessoa, sabia reconhecer MUITO bem o que era ferro. Parecia um tipo de cano. Onde ele tinha ido parar?

A cabeça dele estava embaralhada e sua audição estava com um zunido terrível por causa da explosão. Mas pelo menos, ele conseguiu ficar de pé. Ainda não dava pra mexer o braço esquerdo. E então ele se irritou. Não admitia que aquilo fosse o final de sua luta. Deu um passo. O corpo inteiro doeu. Amaldiçoou sua condição física e continuou caminhando. Carregando o tal cano de ferro na mão direita. "Eu não vou ser derrotado!", dizia ele.

Lelouch ficou com os dois olhos arregalados quando viu seu oponente, que deveria estar em pedaços, saindo do buraco pela parede por onde ele tinha entrado. Aquilo não era pra acontecer. O míssil dele tinha energia mágica o suficiente para deixar o mago em pó. O cenário do corredor era uma prova viva disso. Não tinha sobrado nada a não ser o chão no local do impacto. Até mesmo o escudo havia simplesmente desaparecido. E não foi porque ele saiu da mão do seu manipulador, e sim, porque tinha virado migalhas, literalmente.

O atirador estava de joelhos, respirando rapidamente para reganhar o fôlego. Tinha gasto muita energia mágica de uma só vez. Por isso mesmo que ele estava puto da vida de ver seu oponente ainda inteiro. Mulkior saiu do buraco carregando um cano de ferro usado em levantadores de peso profissionais.

Os dois não sabiam, mas onde Mumu tinha "entrado", era a academia dos soldados que trabalhavam no Castelo. Estava tudo escuro porque o local estava em reforma e as janelas estavam sendo reconstruídas naquele momento. Era pra haver tochas lá, mas a explosão criou um tipo de tremor que chegou a derrubar tudo e até mesmo apagar as tochas.

Não importava mais. Mulkior estava fora de si. Ele apertou o ferro nas mãos, colocando energia no objeto. Iria atacar para valer. Ele não queria usar outra magia forte como essa, mas era obrigado. Ele não poderia ser derrotado dentro do Castelo Real que era vinculada de sua Família. Não depois de ter adquirido a ordem de ficar no lugar de um dos Generais do Exército Real. Não depois de prometer para Kuchiki que tomaria cuidado e voltaria são e salvo.

Lelouch sentiu a liberação de energia do oponente e logo se colocou de pé novamente. O maldito era resistente e impertinente. Aquela batalha não acabaria até um dos dois estar ou desmaiado ou morto.

"Mas era isso mesmo que eu estava procurando!", pensou Lelouch. Sua arma estava descarregada, e colocar energia o suficiente para criar outro míssil ali seria cansativo e demorado. Ele precisava de outra arma. Uma que consumisse menos energia.

Por algum motivo, o atirador sabia que seu oponente não tentaria usar aquele escudo maldito de novo. Então ele não precisava se preocupar tanto com poder destrutivo. Mas também não poderia subestimar alguém que tem um Título Único. Começou a concentrar energia mágica na arma. Sorriu. Já sabia o que iria fazer.

— Lelouch! Finalmente te achei! — disse alguém aparecendo pela falta de parede nos corredores. Uma pessoa apareceu bem entre os dois lutadores. Estava armado com uma pistola, demonstrando que era do mesmo grupo do oponente de Mumu. Mas ele também estava bem machucado e sua voz estava enfraquecida devido ao cansaço. Parecia que ele tinha corrido uma maratona. — Precisamos sair daqui! Nossa Líder enviou o sinal de retirada!

— Espera, ahm? O quê? — Lelouch foi pego desprevenido. Ele não esperava uma interrupção daquelas. E pela cara de Mulkior, ele também compartilhava do mesmo sentimento.

— O Sol Sinalizador foi disparado no ar há uns minutos atrás e nosso pessoal já está fazendo a fuga planejada. — continuou o soldado machucado e cansado. — Além disso, um cara dos soldados reais apareceu na linha de frente e estava aniquilando todo mundo num piscar de olhos! O poder dele é imensurável! Nós temos que bater em retirada!

A informação teve que ser processada muito rapidamente. Lelouch queria continuar o combate, mas ele não era tolo. Ele, que já havia participado de inúmeras guerras, sabia que se ficasse ali e lutasse até o fim, ele acabaria perdendo. Não por ser derrotado por Mulkior, mas sim, porque ele não teria para onde fugir depois.

O atirador xingou o próprio azar e desistiu de lutar. Mas isso não tinha nada a ver com a vontade de ferro do membro da Família Musubi. E Lelouch SABIA disso. O mago de ferro não deixaria aqueles dois homens feridos fugirem assim facilmente. Foi exatamente por isso que Lelouch pediu para que o soldado desse cobertura para ele.

O soldado agiu rápido. Se virou na direção oposta e apontou a pistola para Mulkior. Disparou três vezes. Mas mais rápido do que o soldado, foi a reação do mago. Ele se jogou para o lado, se escondendo em uma dobradura do corredor e escapando dos tiros. O soldado machucado continuou a atirar, criando uma cobertura perfeita para que Lelouch pudesse se aproximar e começar a fugir.

Mulkior ficou escondido na parede até que os tiros parassem. Ele olhou cautelosamente e viu que nenhum dos dois rebeldes estava mais ali. "Ah não vão fugir não!". O mago andou até o buraco imenso da parede que o soldado havia usado para aparecer. Dava pra ver a lateral do castelo. Haviam muitos corpos espalhados e o cenário estava simplesmente caótico. Muitos soldados reais estavam ajudando outros companheiros caídos, e havia muito choro e desespero espalhado por aquele lugar. Um típico cenário de guerra.

Mumu começou a procurar os dois fugitivos com os olhos. Quando os encontrou, viu que eles já estavam a uma grande distância. Isso era um problema porque o mago sabia que não conseguiria correr tão rápido para alcançá-los. E além disso, o outro soldado atirador acabaria o acertando no caminho.

Mas não importava! A luta não poderia acabar daquela forma! Não havia tido um vencedor ainda! O mago deu um passo para frente e decidiu seguir aqueles dois de qualquer forma. Ele precisava terminar aquilo de qualquer jeito.

— Mulkior! — uma voz masculina e imponente gritou por seu nome, vindo de muito atrás. O mago se virou e encontrou seu pai saindo da grande porta do salão. Por sorte, aquele local não havia sido atingido pela explosão. — Acabamos de receber notícia da retirada dos rebeldes... Espere, onde você vai?

— Vou atrás... De um deles. — respondeu o mago, quase sem forças para sequer falar. A dor estava crescendo.

— Você está machucado demais e eu não te ordenei para capturar ninguém. Eu sei que você estava lutando aqui fora e fez seu dever, protegendo o Salão Real.

— Isso não importa! — a voz dele tinha ficado mais forte devido a raiva. Se virou para o pai e continuou. — Eu não vou ter minha honra de guerreiro manchada por um rebelde fujão!

— Sua honra é mais importante do que sua Família e do que sua amiga maga? — aquela pergunta tinha atingido o filho em cheio. Ele olhava para o pai com total confusão em seus olhos. Mentalmente, se perguntou o que uma coisa tinha a ver com a outra, e antes mesmo que ele pudesse fazer esse pensamento se tornar palavras saídas de sua boca, o pai do mago de ferro continuou falando. — Nossas tropas já estão se reorganizando nas saídas do Castelo, mas não temos ninguém para verificar o que aconteceu com Regi ou sua amiga. Eu preciso que você mesmo vá verificar o local que elas ficaram protegendo e me traga o relatório imediatamente. Como elas não apareceram ainda, elas podem estar feridas e...

O mago não esperou o resto da conversa. Se virou e começou a correr. Sim, correr. Com o braço quebrado e todas as dores que ele estava sentindo naquele momento, era quase impossível atingir uma grande velocidade de locomoção. Mas mesmo assim, ele estava correndo.

"Sua amiga" era SIM, mais importante do que a sua honra. Regi também ficava acima de qualquer rixa que ele pudesse ter criado naquele momento. Nem por um segundo ele esqueceu que Kula e Regi estavam em um lugar perigoso, provavelmente lutando contra o exército rebelde para proteger o local especificado. Ele tinha total confiança nas duas mulheres e sabia que elas não seriam derrotadas por simples soldados.

Mas depois de lutar contra Lelouch, algo havia sido criado em sua mente. "E se elas encontraram um oponente do mesmo nível?". Afinal de contas, pelas palavras daquele soldado ferido que apareceu do nada, a "Líder" deles havia dado a retirada. Logo, poderia haver sim, outra pessoa tão forte quanto ou até mais do que Lelouch. Foi então que ele viu.

Parou de correr. Ficou ali parado feito estátua, os olhos quase se enchendo de lágrimas. Elas estavam vindo. Regi estava trazendo Kuchi em seus ombros, e as duas estavam caminhando bem lentamente. Mumu não sabia se sorria ou se chorava. Deu outro passo em frente. Viu que elas também pararam. Kula estava com a cabeça abaixada, mas depois que Regi disse alguma coisa, ela levantou e encarou seu parceiro de longe.

Diferentemente do mago de ferro, a garota não aguentou as lágrimas. Tudo o que ela precisava ver naquele momento para reganhar suas forças era ele. Kula ficou de pé sem a ajuda da ferreira e começou a correr em direção ao seu amado. Ver a garota correndo em sua direção fez Mumu esquecer que tinha acabado de sair de uma luta complicada. Ele impulsionou o corpo para frente e começou a correr também.

Regi ficou parada, só presenciando a cena. E ela viu algo que realmente lhe pegou de surpresa. Os dois magos correram e se abraçaram no meio do caminho. Foi um abraço forte e demorado. Kuchi não conseguia parar de chorar. Parecia que ela não o via há anos. Então os dois se ajoelharam ao mesmo tempo, pois seus corpos não estavam mais aguentando.

Ainda abraçados. Não queriam se separar nunca mais. E então quando finalmente se soltaram, olhando nos olhos um do outro. Percebendo o cansaço um do outro. Parecia que um estava lendo a mente do outro, tentando ver pelo o que eles tinham acabado de passar. Ficaram se olhando por mais ou menos cinco segundos. Criaram um mundo quieto, onde só os dois existiam. Não ouviam mais os gritos. Não ouviam mais nada. Eles estavam a sós.

Mumu levou a mão direita no rosto quente e lacrimejado de sua parceira, aproximou seu próprio rosto e a beijou demoradamente na boca. Foi ESSA cena que fez Regi ficar surpresa. E com um sorriso tão grande que parecia que ela tinha acabado de ganhar um prêmio. E de certa forma, ela realmente tinha. Foi andando até os dois pombinhos, e quando chegou perto o suficiente para ser notada, disse:

— Eu sabia que meu instinto feminino não havia errado sobre vocês dois!

Mana ficou consciente. Mas ainda estava com os olhos fechados. Cansada demais. Seus ouvidos estavam doloridos. A respiração estava sendo feita devagar, para não forçar o peito. E ela estava se sentindo um pouco enjoada. Estava em movimento. Espera... Como?

Sentiu seu corpo em locomoção. Talvez seus sentidos estivessem afetados demais pelas dores que sentia no corpo. Precisou abrir os olhos para confirmar. Foi difícil, mas conseguiu. Ela estava apoiada em algo. E estava vendo o chão passando sob seus pés. Percebeu que tinha algo cobrindo ela, como se fosse uma capa de chuva. O chão estava mudando de padrão a cada segundo. Então ela estava realmente em movimento.

Mas não era ela que estava correndo. A assassina fechou os olhos mais uma vez e se concentrou. Precisava fazer sua consciência ficar normal outra vez. Abriu os olhos de novo e analisou melhor sua própria situação.

Ela estava nas costas de alguém. Estava sendo carregada! No susto, ela tentou se empurrar, mas viu que estava cansada demais até para isso. Quem estava ali? Quem é que a carregava daquele jeito? E onde ela estava?

Olhou para os lados. Lugar aberto. Lojas. Casas. A estrada. Algumas pessoas andando e se afastando. Não era o Castelo? Mas... Ela estava no castelo e... A mente de Mana doeu ao tentar se lembrar. Bart! Isso era o que estava em sua mente naquele momento. O Soldado do Planetarium havia lhe trancado em uma sala de jantar e ela havia desmaiado! Era tudo o que ela se lembrava. Será que...

Não! Ela se lembrou que Bart queria lhe levar para a casa dele e fazer... Sei lá! Qualquer coisa que aquele maluco gostaria de fazer era com certeza ruim e perigoso! Mana tentou se mexer novamente, tentando ver quem a estava carregando.

— Se você se mexer assim de novo, eu não vou te aguentar e vou deixar você cair de bunda no chão. — disse a pessoa que estava carregando a assassina. Mana paralisou. Aquele jeito de falar... A voz... A brincadeira sem graça... Só havia uma pessoa capaz de fazê-la mudar de sentimentos em uma velocidade tão absurda assim.

— SAN! — gritou ela.

— Você não precisava ter gritado no meu ouvido.

— Mas o que você está fazendo aqui? Que lugar é esse? O que aconteceu com o Castelo? Onde está Bart? — ela estava perguntando tudo de forma rápida e extremamente confusa. Se impressionou com o fato de conseguir ter forças o suficiente pra retrucar.

— Wow, calma, calma. Uma coisa de cada vez. — disse ele, virando uma esquina. Ele não estava correndo, mas seu passo era rápido. Além do mais, ele estava tentando não balançar muito o corpo para que Mana não sentisse mais dores do que já deveria estar sentindo. — Aliás... Bart? Que Bart? O do Torneio?

— Sim, eu o encontrei no Castelo. — a voz de Mana diminuiu um pouco de tom devido ao cansaço. Mas mesmo assim, ela continuou falando. — Ele me trancou em uma sala e me atacou, dizendo que... — ela hesitou, porque ainda não acreditava no que tinha ouvido da boca do Soldado de Netuno. San virou a cabeça, esperando pelo resto da explicação. Seu olhar era sério. — Ele disse que ficou fascinado por mim depois de ver minhas lutas no Coliseu. Iria me fazer entrar para o Planetarium mesmo se a gente não ganhasse o torneio. Ainda me falou que ele não conseguia mais tirar os olhos de mim e... Disse que queria me fazer a Rainha dele.

— E daí ele te atacou porque você não aceitou tamanha estranheza? — perguntou o garoto, ainda olhando para frente. Mana não conseguia ver qual era a expressão facial de seu parceiro naquele momento. Se tivesse visto, iria ficar impressionada.

— Sim, exatamente. — Mana apoiou a cabeça no ombro de San. Ela estava quase perdendo a consciência novamente. — O poder dele era... Avassalador. Eu não tinha chances de vitória. Mas consegui envenená-lo. Foi isso que o fez sair da sala, me deixando lá trancada. Achei que ele iria voltar e... Me raptar. Eu desmaiei logo depois de ver que ele colocou um feitiço na porta. É tudo que eu consigo me lembrar e... EI! — a voz dela se alterou novamente. — Como você conseguiu me encontrar?

— Bom, é uma longa história, na verdade. Tem certeza que quer ouvir tudo agora?

— Tenho.

— Logo depois que eu te joguei pela janela, eu fui atrás de uma outra entrada pela lateral do castelo. — começou San. Pelo jeito, seria mesmo uma explicação longa. Mana só torcia para que ela se mantivesse acordada até seu parceiro terminar de contar. — Enquanto corria, eu vi uma parte da parede do castelo explodir, muito ao longe. Mas a explosão não veio de fora. Veio de algo de dentro. Eu corri até esse lugar, mas fui parado por uns três soldados reais. Tive que ter uma luta rápida com eles, e logo em seguida continuei o meu caminho. Cheguei até a parte destruída e vi que estava um tanto alto. Era no segundo andar. Eu arranjei um jeito de correr e pular até lá, e vi que se tratava de um quarto. Aliás, ERA um quarto, porque algo havia literalmente explodido dentro dele. Daí eu vi um guarda do castelo passando pelo corredor fora desse quarto, se aproximando de alguém que estava fora do alcance da minha visão enquanto carregava uma lança. Por um segundo, eu achei que era você, e por isso, eu pulei e ataquei o soldado. Daí quando eu vi quem era, me surpreendi. Era o ninja branco da White Lotus.

— SHIRO? — mais uma vez, ela se exaltou. Isso não foi realmente bom, porque fez seu corpo doer mais uma vez. Ela tossiu duas vezes. Isso fez San acelerar o passo. Ele não queria ver mais sua parceira daquele jeito.

— Sim, ele mesmo. — continuou o garoto. — Eu vou entrar em detalhes sobre isso depois, porque nem eu sei o que ele estava fazendo lá. — San virou outra esquina e parou por uns instantes. Ele viu soldados reais vasculhando uma parte da rua. Eles estavam em busca dos Rebeldes que fugiram, e não seria bom dar de frente com eles. Virou e entrou em um beco estreito para continuar seu caminho. — Bom, depois de conversar um pouco com ele e com uma guria que tava com ele, eu tive uma ideia. Despi o soldado que eu tinha acabado de matar e me disfarcei dele. Isso me daria liberdade o suficiente para correr pelos corredores do Castelo sem levantar suspeitas. Só que isso se provou bem ruim quando eu bati de frente com um bando do exército rebelde que JÁ tinha invadido os corredores. Eu não tinha tempo para explicar pra eles que eu não era um inimigo, e dois deles já me atacaram sem nem perguntar. Eu tive que lutar contra esse povo.

— San, eles eram apenas civis! Como você pode fa-

— Eu não matei ninguém. — cortou San. Ele sabia bem o que Mana estava preste a falar. A garota, ao ver a resposta do parceiro, se calou e esperou pelo resto da história. Ela sabia que ele não mentiria. — Deixei muitos feridos, mas nenhum perto da morte. Mas foi exatamente por esse fato, de eu ter que me segurar, que eu acabei sendo bastante ferido. E não tente olhar para o meu corpo agora. — San tinha dito aquilo porque Mana estava realmente preparada para se puxar e tentar ver San de frente. Com a ordem, ela não se mexeu mais. Apenas por impulso e por, talvez, tristeza, ela apertou levemente os ombros grossos de seu parceiro. — Eu consegui fugir deles depois, indo direto para o terceiro andar. Foi na escadaria que eu ouvi os rebeldes dizendo que estavam de retirada. Ignorei. Por algum motivo, eu já sabia que aquilo iria acontecer. — ele parou de falar mais uma vez, ficando escondido entre uma parede e outra. Uma tropa passou ao longe, correndo. Pareciam com pressa e determinados. San verificou os arredores exatamente três vezes antes de voltar a andar e seguir seu caminho. — Depois de pegar um corredor para a esquerda, já no terceiro andar do Castelo, eu achei um traço de sangue. Haviam gotas vermelhas espalhadas uniformemente pelo tapete caro do corredor, o que me fez estranhar imediatamente. Para ter um rastro de sangue ali, só poderia haver duas alternativas: algum soldado fugiu lá para cima depois de ser machucado durante o ataque ou alguém que já estava naquele andar acabou lutando e se machucando. Por causa dessa segunda opção, eu acelerei o passo.

Mana não precisou perguntar o por que daquilo, pois sabia que provavelmente San achou que a pessoa machucada em questão seria ela mesma. Afinal de contas, ele sabia que ela estava correndo pelo terceiro andar, e provavelmente foi por causa disso que ele disse que pegou o caminho da esquerda logo depois da escadaria, já que ela deveria estar para aquele lado.

Mas agora ela gostaria de perguntar: "Por que você se apressaria por mim?". Mas essas palavras não chegaram até sua boca. Elas ficaram ali, corroendo sua mente como se fosse ácido. O batimento de seu coração acelerou e ela se sentiu com um pouco de calor. Apertou os ombros dele mais forte, mas não foi o suficiente para que San pudesse sentir qualquer dor.

O cansaço dela estava um pouco pior agora. Ela não estava raciocinando direito e estava começando a piscar muito. Mas ela não podia dormir. Não queria! Continuou lutando para manter sua consciência ativa. Percebeu que não sentia mais a parte debaixo do seu corpo. De sua barriga para baixo, estava tudo dormente. Pelo menos dormência era melhor do que dor intensa.

Ela virou a cabeça, encarando a rua à frente. Ela tinha muita gente, e todas pareciam assustadas. Não era de se estranhar, claro. Um ataque rebelde DENTRO da cidade era algo alarmante e perigoso. Olhou para a direita. Casas e lojas. Se virou para a esquerda. Mais casas, mais lojas. Onde estava o Coliseu? Estava para trás? Se sim, por que eles não estavam indo para ele? Antes mesmo de saber a resposta, San continuou sua explicação.

— Eu segui o rastro de sangue, que levava até uma porta dupla grande, bonita e... Protegida magicamente. Óbvio que aquilo chamaria minha atenção mais do que qualquer outra coisa. Eu ataquei a porta para tentar destruir a barreira. Não consegui. Tinha energia mágica demais nela e a única forma de destruir algo assim, é usando uma magia mais poderosa ainda. E... Bom, você sabe bem o quão "mágico" eu sou, não é? — San sorriu com o próprio sarcasmo. A assassina entendeu o motivo, mas continuou imóvel e calada. Não era muito por opção. Ela estava conservando todas as forças só para se manter sã. — Como eu não consegui destruir a porta e achar outra saída demoraria demais, eu parti para a parede. Ela não estava protegida. Criei um buraco grande o suficiente para eu poder espiar para dentro do cômodo que aquela porta protegia, e adivinha quem eu vi caída no chão, imóvel? — agora tudo fazia sentido. Foi assim que ele encontrou Mana. A garota tinha entendido essa parte e foi tudo o que ela conseguiu saber. Cansada demais. Corpo parecia pesado, mesmo estando dormente. Cabeça com dor. Enxaqueca. Fechou os olhos. San virou a cabeça quando viu que ela tinha soltado as mãos de seus ombros. — Descanse. Mais tarde eu conto o resto.

Quem recobrou a consciência dessa vez tinha sido Shiro. Já fazia algumas horas que ele tinha desmaiado enquanto era carregado pela pobre garota empregada que tinha sido pega no meio da maior confusão de sua vida.

O ninja abriu os olhos rapidamente, como se tivesse levado um susto. Tentou ficar de pé e deu um grunhido quando sentiu uma picada imensa no braço direito. Ele olhou o membro e viu que ele estava engessado com um tipo de massa especial utilizada em fraturas. Percebeu que sua audição e seu olfato estavam afetados devido à... Alguma coisa!

Piscou duas vezes e tentou observar a sua volta. Só então percebeu que tinha uma mulher alta ao seu lado. Estava com um jaleco branco. Uma máscara na boca. Médica. E então ele viu a agulha. A médica estava segurando uma seringa com algum tipo de líquido azulado. O susto foi maior ainda quando ele viu que ela estava levantando o lençol de sua cama, na altura da cintura.

— EI, EI, EI! — gritou ele, fazendo o maior dos movimentos bruscos que ele conseguia. Ele mesmo viu que tinha sido uma péssima ideia, pois todo o seu corpo doeu ao mesmo tempo. — Onde é que você vai enfiar isso aí? Aliás... Que porra é essa?

— Silêncio! E pare de se mexer! — disse a médica, com uma grossura na voz poderosa o suficiente para fazer o ninja ficar com calafrios. Ela segurou o braço esquerdo dele com força, parando o tremelique de Shiro. — E diminua o tom de sua voz! Isso aqui é um consultório médico, e não a casa da sua avó!

— Que escândalo por causa de uma agulhinha, Shiro. Me deu até vergonha, agora. — a voz era feminina e era impossível para que Shiro não a reconhecesse. Ele se virou e olhou ao redor. Viu que estava de fato, em um consultório médico, mas não lembrava COMO tinha chego ali. E adicionalmente, aquele lugar estava uma bagunça. Tinham quatro macas espalhadas quase que aleatoriamente pela sala quadrada, junto com muitas mesas de aparatos cirúrgicos ao lado das tais macas. Em todas as camas hospitalares, residia uma pessoa. E foi uma dessas pessoas que tinha acabado de falar com o ninja.

— MANA!?!? — ele gritou de novo ao ver a assassina na maca ao lado da sua, e mais uma vez, ele levou um aperto da médica nervosa. Mana estava com o peito totalmente enfaixado, mas não estava com uma cara de quem está para morrer. — AI!!! CARALHO! — disse ele, ao ser injetado na região do abdômen. — Mas o que diabos está acontecendo aqui? O que foi que você injetou aí?

— Eu já disse para ficar quieto! — falou a médica, com a mesma imponência de antes. Seja lá quem fosse, era alguém osso duro de roer. — Eu apliquei um regenerador natural de cálcio em seu sistema sanguíneo. O osso do seu braço não pode ser curado magicamente, então eu estou fazendo seu corpo acelerar o processo de cura.

— Eita merda! Foi tão feio assim? Achei que ele só estava quebrado! — como Shiro não queria ser apertado de novo, ele controlou o tom de voz, o diminuindo. Isso pelo menos fez com que a tal médica largasse de seu braço e tirasse a máscara na boca.

— Foi. — respondeu ela, diretamente. — O osso foi partido em dois e foi separado propositalmente, fazendo todo o seu braço perder algumas camadas de músculo. Eu consegui regenerar o ferimento em si, mas vais ter que ficar com o braço desse jeito por pelo menos uma semana. Vais precisar ter mais três sessões de exames, tomando o mesmo remédio que eu acabei de te aplicar.

— Caramba, eim Shiro? — era San. Ele estava do lado da cama de Mana, sentado em um banco e com o braço esticado em uma haste, tomando sangue na veia por uma bolsa de sangue. Ele também estava enfaixado em vários locais, mas não parecia ter ferimentos sérios. — O que aconteceu pra seu braço ficar assim? Escorregou no banheiro enquanto tomava banho?

— Só porque você quer! — Shiro nem se irritou com a cara de sarcasmo de San. Tentou falar no mesmo tom, sem perder o foco. — Foi aquele puto do Raziel. Ele atravessou a espada dele no meu braço, e depois eu tive que fazer uma saída forçada pelas Sombras... E eu acho que foi por isso que ficou desse estado. ALIÁS! Foda-se o meu braço! O que diabos vocês estão fazendo aqui? E que lugar é esse?

— Estamos na enfermaria de minha mãe. — disse outra voz feminina, que estava do lado oposto de Shiro. O ninja se virou e viu que se tratava da garota que tinha lhe ajudado quando fugia do castelo. Também foi nesse momento que ele se lembrou que o "plano" era mesmo vir aqui e se esconder. A memória de Shiro estava começando a ficar mais clara. — Que bom que você conseguiu acordar. Eu fiquei preocupada quando você desmaiou no meio do caminho.

— Ah... Putz! Foi mal, é... Ahm... — ele abaixou a cabeça e forçou sua memória. Não adiantou. — Como é mesmo seu nome?

— Nathalia. E você é o Shiro, não é? — a garota sentiu algo como se um peso tivesse sido tirado de suas costas. Desde que o viu pela primeira vez, invadindo seu quarto no Castelo, ela queria ter se apresentado formalmente para ele. O ninja tinha criado uma curiosidade estranha dentro de sua mente. Algo que ela nunca sentiu antes. Ficou vermelha quando viu que o ninja a olhava diretamente. Abaixou a cabeça para evitar o seu olhar e continuou falando. — Você precisa descansar agora. Não pode ficar se mexendo ou vai acabar abrindo suas feridas de novo.

— Ah. Claro. É, tem razão. — Shiro também virou a cara, querendo esconder a vergonha. Sentiu um pingo de suor escorrendo de sua testa. Se ajeitou lentamente na cama, de uma forma que ele não sentisse a dor da picada da injeção. Olhou para a tal médica. "Essa deve ser a mãe dela. Haja nervosismo!", pensou ele. Se virou de novo e olhou para as outras duas macas que estavam do outro lado da sala branca. Uma das pessoas da maca, a que estava mais a direita, Shiro não conseguia ver por causa de uma coberta que tampava a pessoa por inteiro. Mas a outra, estava Kula, a maga de fogo do mesmo time de Mana e San. A garota estava sendo tratado naquele momento pela médica, que também lhe aplicava uma injeção. Assim, como Mana, Kuchi estava enfaixa no peito e com algumas ataduras no rosto e nos braços. Ela não parecia estar com nenhum ferimento grave também. E se formos por eliminação, a outra maca com a pessoa encobertada provavelmente seria o último membro do time... E agora sim tudo não fazia sentido. — Afinal de contas, o que vocês estão fazendo aqui?

— Sendo tratados, assim como você. — respondeu Mana, sem nem olhar para a cara de bobo do seu "Rival".

— Acho que ele quer saber como viemos parar aqui e o que estávamos fazendo no Castelo. — respondeu San, se segurando para não rir do comentário de Mana e da cara engraçada de Shiro. — Bom, eu vou resumir pra você. Fomos até o Castelo porque vimos que ele estava sendo atacado, e já que uma colega nossa estava lá dentro no exato momento, decidimos ir salvá-la.

— Ah! — disse Mana, se lembrando de uma coisa importante e dando total ignorância a atenção de Shiro, que queria saber o que estava acontecendo. — E Regi? Ela está bem?

— Está sim! — disse Kula, do outro lado da sala. — Eu e ela nos juntamos para proteger um lugar lá no Castelo. Tivemos que batalhar contra uns Rebeldes e saímos um pouco machucadas, mas deu tudo certo. Ela disse que ficaria lá para ser tratada pelos médicos do Castelo.

— Continuando... — falou San, assim que viu que Mana se acalmou mais ao ouvir a resposta da colega de time. — Esse ataque foi uma tremenda confusão. Todos se separaram e tiveram que lutar de uma forma ou de outra. Depois que eu te achei, eu corri pelo corredor, fui pro terceiro andar e encontrei Mana. Tive que destruir uma parede sólida pra isso, e é por isso que minhas mãos ficaram desse jeito. — San levantou só o braço esquerdo, já que o direito estava com uma agulha enfiada nele, passando o sangue. Shiro viu que a mão de San estava totalmente enfaixada, e o sangue parecia querer sair das ataduras. Mana apertou as duas mãos, querendo sentir a dor do parceiro. Queria dividir a dor, tirar um pouco a dele e passar para ela. Mal sabia a assassina que tudo o que San precisava, era o sentimento de agradecimento dela mesma. — Depois de libertá-la, eu precisei encontrar uma rota de fuga, e aí que eu vi o caos geral. Como o exército rebelde estava batendo em retirada, iria ficar mais difícil para passar despercebido. Mas como eu tava disfarçado, eu acabei me infiltrando ENTRE os soldados reais e fui avançando para fora do Castelo, com a desculpa que eu estava levando uma empregada que foi atacada pelos rebeldes. Como todos estavam aturdidos e preocupados, ninguém deu bola pra mim e eu saí pela lateral direita do castelo.

— Foi quando você nos encontrou, correto? — era Kuchi. Ela também prestava atenção na explicação do companheiro, pois só agora ela estava sabendo o que tinha acontecido com os dois.

— Exatamente. — disse San, se ajeitando na cadeira. — Eu não tinha tempo para explicar para os três o que havia acontecido, então só falei pra eles virem para cá. Disse mais ou menos onde era e passei a senha. Por sorte, Kula foi bem obediente e inteligente ao acreditar totalmente em mim e não fazer perguntas. — a garota se sentiu vermelha ao ser elogiada. San não esperou nenhuma reação dela para poder continuar. — Eu não poderia sair junto com os dois, pois levantaria suspeitas, então tive que dar a volta por trás do Castelo. Foi onde eu encontrei novamente o seu amigo lutador, Mana.

— Jimmy? Você encontrou com ele de novo? Mas espera... Os rebeldes não deveriam estar recuando nesse momento? — perguntou Mana.

— Sim, ele deveria mesmo. Mas ele não podia. — San sorriu. — Ele estava protegendo sua Líder. — o garoto viu que o olhar de todos que prestavam atenção na explicação se tornou confuso. — Jimmy estava lutando... Não, não. Ele estava DERROTANDO uma tropa de soldados sozinho, pois sua Líder, a Peeh, estava caída desmaiada no chão. Ela estava bastante machucada, mas não sei o porquê... Ainda. Eu estava com pressa, mas não podia abandonar o cara. Então eu deixei Mana encostada na parede do Castelo e pulei pro combate.

— Com as mãos nesse estado? Você enlouqueceu? — perguntou a assassina do seu time, se sentindo mais culpada do que antes. As perguntas foram mais para disfarçar sua própria raiva de não estar consciente naquele momento para ajudá-los.

— Mana, todo o meu corpo é uma arma. Se eu não posso usar as mãos, eu ainda tenho minhas pernas. — respondeu San, querendo continuar a explicação. — Mas então... Depois de derrotarmos os soldados, eu disse para Jimmy pegar Peeh e me seguir. Ele também foi obediente, não fazendo perguntas inúteis em um momento tenso. Eu e ele demos a volta no Castelo e saímos pelo mesmo lugar que entramos, pois não tinha ninguém montando guarda lá ainda. Mas logo depois que saímos, eu expliquei para ele onde mais ou menos ficava essa clínica, e disse que eles estariam seguros aqui. Nos separamos um pouco depois para não levantar suspeitas, assim como foi com Kula e Mulkior.

— Peeh... Esse não é o apelido da Vice-Líder da Diamond Wall? — perguntou Shiro. San respondeu apenas balançando sua cabeça afirmativamente. — Ah, eu sabia. Conheço a figura. Nossas Guildas já se encontraram no campo de batalha duas vezes. — Shiro pareceu ficar irritado ao falar "guildas". — Aquela mulher é perigosa demais.

— Sim, e está no quarto ao lado, se você quiser trocar uma ideia com ela depois. — disse o garoto explicador, com um sorriso leve no rosto. Shiro o mandou pro inferno, fazendo San rir um pouco. — O que me lembra... Shiro, você me deve uma explicação. O que o Líder Investigativo da White Lotus estava fazendo no Castelo exatamente na hora do ataque rebelde? Vai me dizer que você também está envolvido com os Rebeldes?

Shiro negou esse fato. Se esticou em sua maca e respirou fundo. As dores estavam sumindo pouco a pouco, provavelmente devido a algum tipo de anestesia que lhe foi aplicado ou até mesmo por causa da injeção. Ele sabia que não tinha escapatória. E do que adiantava mentir ali ou inventar alguma história macabra?

O ninja iria cortar os laços com a White Lotus, e ainda planejava uma vingança extrema. Ele fechou os olhos para se concentrar. Depois, começou a explicar tudo para os pacientes. Foi nesse mesmo momento que a médica, mãe de Nathalia, saiu do quarto dizendo que iria verificar os outros pacientes.

Shiro contou tudo. Sobre como a Guilda tinha reunido todos os três Líderes espiões para uma única missão. Falou que era uma missão quase suicida. E principalmente, falou em como ele foi terrivelmente traído pelos seus colegas de trabalho. A explicação estava cheia de nervosismo e palavrões, mas foi claramente dita e claramente entendida.

Mana foi a pessoa que mais sentiu depois de ouvir todo o fato. Ela era a única pessoa dali, além de Shiro, que já tinha feito parte de uma Guilda. Por um segundo, ela imaginou como se sentiria se fosse traída pelos seus companheiros. Com isso, ela entendeu perfeitamente a fúria e o desejo vingativo que o ninja possuía.

San perguntou se ele tinha alguma ideia de quem poderia ter contratado a guilda para tal missão. Era arriscado demais, logo, seria um contrato "caro". Shiro não sabia, pois o cliente pediu por anonimato. O ninja revelou que sentia uma estranheza sob essa missão, pois parece que ela tinha sido feita com o propósito de eliminar os três integrantes espiões.

— Não faz sentido termos sido contratados para uma missão de dificuldade máxima só para descobrirmos que o filho do Rei morreu. — disse Shiro, continuando sua conversa. — Ninguém no mundo se beneficiaria sabendo disso!

— Mas ao mesmo tempo, a White Lotus também não se beneficiaria em mandar matar seus três melhores espiões. — disse San, complementando um dos pensamentos do ninja. — Talvez o seu caso, Shiro... Seja muito mais complicado e profundo que você possa imaginar.

— A informação sobre a nova coroação é mais importante. — respondeu Mana. — Com isso em mãos, alguém poderoso o suficiente poderia criar um Golpe de Estado para tomar posse do Trono, e isso resultaria em uma Guerra sem precedentes.

As palavras da assassina foram o suficiente para calar a sala médica por uns instantes. Nathalia, que continuava ali, era a mais perdida de todos. Parecia um debate perigoso demais para ela. Mas por algum motivo, ela não queria sair do lado do cara que ela mesmo tinha ajudado.

Shiro fechou os olhos e tentou repousar. Era coisa demais para ser pensada em um dia só. Por sorte, ele estava seguro ali, pelo menos por enquanto. Com a Líder dos Rebeldes sendo tratada na sala ao lado, esse consultório poderia se tornar o lugar mais problemático do mundo em um segundo.

Foi quando Mulkior, que estava inconsciente até o presente momento, acordou. Seu braço esquerdo estava enfaixado e dormente, além dele não conseguir se mexer muito devido às ataduras em seu corpo. Seus ouvidos também estavam doendo e continuavam com um zunido irritante.

Depois de responder três vezes a mesma coisa para Kuchi, que estava perguntando se ele estava bem, ele quis saber qual era a atual situação. Seus três companheiros de time tiveram que contar tudo de novo para o mago de ferro.

O fato de Mana ter enfrentado um soldado do Planetarium e que a Líder do Exército Rebelde estava hospitalada ali no quarto ao lado deixaram o mago com a boca caída. Mulkior teve várias reações diferentes durante a conversa, mas a parte da morte do único herdeiro do trono e a nova coroação o deixaram pensativo demais. Ele sabia que algo desse gênero atingiria sua Família diretamente. "E é por isso que Regi e meu pai estavam naquela Reunião.", pensou ele.

A conversa foi longe, e fez só todo mundo ficar ainda mais pensativo. Todos precisavam descansar, mas agora que estavam com aquela dúvida em suas mentes, seria difícil tirar um cochilo descente.

Riven não era só o país mais poderoso do mundo em questões políticas, mas todos os outros reinos DEPENDIAM desse para continuarem a fazer seus negócios. Uma guerra interna, envolvendo exércitos pessoais contra os soldados reais geraria um caos absurdo, fazendo os Reis mais cobiçados de outros reinos terem ideias e vontades de tomarem Riven para si. Isso faria um envolvimento direto do Planetarium, e outras Alianças acabariam mobilizando tropas para a proteção ou até mesmo posse de territórios. O que isso resultaria? Guerra Mundial.

Não dava pra sequer imaginar algo dessa escala acontecendo ali, bem no meio dos feridos. Um silêncio momentâneo fez todos recuperaram o fôlego e organizarem os pensamentos.

Quem tinha voltado a falar era San, explicando o porque eles deveriam se manter ali naquela clínica por mais um tempo e depois irem para o Coliseu, já que teriam uma luta dali a duas horas. Além disso, Mana ainda puxou um outro assunto bem fora de tópico quando toda a explicação terminou. Foi algo que pegou os integrantes daquela sala de surpresa.

— Mumu. Kuchi. — disse ela, fazendo o casal de magos se virar para ela. — Eu já me decidi. Eu vou ficar com vocês e ajudar na criação da sua Guilda.

— AHHHHHHHHHHH!!! SÉRIO??? — os olhos da maga de fogo chegaram a brilhar naquele momento. Ela não gostava muito de ficar matutando sua cabeça em coisas complicadas como dominação de nações. Então a mudança total de assunto foi como um presente pra ela. Principalmente que agora ela poderia ficar sempre do lado de uma grande amiga como Mana.

— Sim. — continuou a tal grande amiga. — Por causa do ataque de hoje, eu descobri que mesmo que eu fuja e me esconda, alguém com determinação ou loucura o suficiente, pode acabar me encontrando. Ficar sozinha só vai me fazer ser pega de guarda baixa. E além disso... Eu não conseguiria mais aguentar a solidão e as fugas. Se vocês dois me deixarem ficar por perto, eu juro fazer de tudo para levar a guilda para o topo. — as expressões de cansaço ou dor de Mulkior e de Kula simplesmente desapareceram. Os dois responderam ao mesmo tempo algo como "Mas é claro que você pode!", e isso tirou um sorriso meigo do rosto de Mana. Ela se sentia livre. Sem um outro peso nas costas. Ficou muito pensativa no começo, pois sua única experiência em uma Guilda não tinha sido muito legal de ser lembrada. Mas ela não podia ficar com aquilo na cabeça para sempre. Olhou para o lado e encontrou os olhos fixos de San. — Desculpa, San. Mas não vou seguir o seu conselho e voltar a uma vida de fugas. Eu vou ficar com eles.

— Bom... Não é como se eu já não soubesse que isso iria acontecer mesmo. — San fechou os olhos e se virou. Quando os abriu novamente, estava encarando os dois magos, do outro lado da sala. — Mesmo querendo ter uma vida mais tranquila, eu duvido que conseguiria. Assassinos nunca conseguem descansar, a não ser quando morrem. Você não precisa se desculpar, Mana. Sua decisão é a mais sensata. Então... Mulkior e Kula. Teria espaço para mais um?

O dia poderia ter sido cheio, mas essa conclusão, nas mentes dos dois magos, tinha sido perfeita demais. Kula queria sair de sua maca e correr até Mana para abraçá-la, mas decidiu fazer isso logo depois que estiverem bem. Mulkior deu as "boas vindas" aos dois integrantes, sorrindo. Não havia outras pessoas que lhe dariam mais confiança do que aqueles dois. Lutar junto com eles fez o mago de ferro perceber que conseguiria alcançar um patamar muito maior do que ele mesmo esperava.

Mana olhou para o seu parceiro, com curiosidade. Lhe perguntou o que tinha feito o garoto mudar de ideia. San riu antes de responder. "Acho que foi porque eu sou uma pessoa que sempre acaba procurando problemas." foi o que ele respondeu. Para ele, não adiantaria muito criar expectativas de uma vida pacata. San acabou se acostumando demais às batalhas, e seu sangue sempre pedia mais adrenalina.

E acima de tudo, aquele time tinha criado algo em seu coração. A preocupação de Kuchi, a perseverança de Mumu e a força de vontade de Mana fizeram ele mudar de opinião sobre entrar ou não em uma Guilda. Ele já tinha se divertido muito sozinho. Então estava na hora de ver como seria tentar se divertir com outras pessoas.

Naquele momento, ele ainda não podia admitir. Ou talvez não QUERIA admitir. Ele mesmo sabia que não era a hora certa para aquilo. Mas no fundo, sabia que exista outro bom motivo para querer ficar nessa guilda.

— Aliás Shiro... — era Mulkior. Ele tinha se arrumado na cama para poder olhar para a maca do ninja, que estava bem ao longe. Quando ele percebeu que Shiro também se arrumou na cama para atender o chamado, o mago continuou. — Você agora é um ninja abandonado. Não tem pra onde voltar, não é? — ainda meio perdido nos próprios pensamentos, Shiro balançou a cabeça afirmativamente. Ele mesmo não sabia qual seria o próximo passo a ser dado e sua vida parecia estar indo para uma estrada com muitas pedras no caminho. — Então eu tenho uma proposta para você.

A cidade ainda parecia alarmada. Os soldados ainda corriam para lá e para cá, procurando suspeitos e controlando o povo curioso. O céu não estava mais tão bonito, dando indícios de uma chuva lá para as seis horas.

O Castelo Real estava fechado a qualquer um. Até mesmo os nobres estavam proibidos de entrar. A única exceção eram as Famílias Reais e os soldados, que faziam várias varreduras pelos corredores. Faziam contagem de mortos, análise de danos e aprisionamentos dos rebeldes que caíram no campo de batalha e tiveram a "sorte" de não serem mortos imediatamente.

Tudo estava um caos, mas para Raziel, as coisas poderiam estar bem piores. Ele sabia que seus soldados tiveram sorte de enfrentarem um exército rebelde destreinado. Pois se aquilo tivesse sido feito com um exército de verdade, organizado e bem comandado, Riven teria caído. Foi por esse medo que o Rei demandou reforços das tropas do Oeste e do Norte, que naquele momento, já deveriam estar marchando rumo a Capital.

O General andava de um lado à outro, comandando tropas para uma reorganização emergencial. Suas ordens eram diretas e altas, mas na verdade, ele se mantinha calmo. Não simplesmente porque ele era o Comandante dali, mas porque mesmo nas horas críticas, Raziel conseguia se manter com o cérebro fixo em sua função, não deixando seus sentimentos envolverem ou atrapalharem seu trabalho.

Não era surpresa nenhuma para ninguém quando podemos levantar o fato de que aquele General era possivelmente a pessoa mais poderosa do mundo. Alguns o considerava como um "ser perfeito", pois ele tinha classe, nobreza, inteligência, beleza, habilidades sociais e principalmente poder bruto, tudo acima do normal. Nem mesmo seu pai, um dos principais Nobres da Realeza de Riven, tinha comando total sobre Raziel.

— Você parece estranhamento inquieto, General. — disse um homem se aproximando pelo lado de Raziel, que parou de proferir ordens e se virou para encarar a pessoa.

— Bart Evans. — disse Raziel, voltando sua atenção para os soldados que andavam carregando toras de madeira para a lateral esquerda dos muros do castelo, onde havia um grande buraco feito na parede.

— Admito que é um pouco estranho ver você me chamando pelo nome completo. — o nobre soldado ficou do lado do General, como se estivesse em um mesmo patamar de importância. — E então? O que aconteceu?

— Fomos atacados por um exército rebelde que mal sabia segurar uma espada e um escudo direito, exatamente durante uma reunião importante organizada pelo Rei e todos os grandes nobres da Capital. Provavelmente temos um inimigo bem debaixo do nosso nariz, que sabe o que está acontecendo dentro e fora do nosso Reino e não sabemos quem é ainda. E você me pergunta o que aconteceu?

— Não estou falando disso. — Bart desabotoou o colarinho de sua roupa, deixando-o mais a vontade. — Você está com uma cara diferente. Eu já te conheço há tempo o suficiente para saber que algo estranho aconteceu.

— Ele está bravo porque deixou um ninja escapar mesmo estando com a espada encravada no braço do cara. — era uma outra voz. Vinha de trás de Raziel, e o General soube quem era sem nem precisar se virar. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar do mundo. Esse novo homem se aproximou dos dois, levantando a mão para Bart, no fim de cumprimentá-lo.

Diego Fierrer! — disse Bart, apertando a mão do homem. — Não sabia que estava na cidade!

— Ah sim, cheguei ontem. — Diego retirou seu maço de cigarros do bolso de trás da calça e acendeu seu fedorento tabaco na boca. — Pelo menos uma pessoa nessa cidade que me chama pelo nome, e não por "Plutão"!

— Diego, conseguiu completar sua missão? — a pergunta direta de Raziel tinha cortado totalmente a moral do reencontro dos dois soldados do Planetarium. Diego deu uma longa tragada no cigarro e depois jogou a fumaça para o ar.

— Completada com sucesso. — respondeu Plutão. — Os presos foram locomovidos sem nenhuma suspeita pelo subterrâneo e colocados pacificamente no alojamento indicado. Katherina já está cuidando das coisas por lá.

— Katherina pareceu um tanto feliz quando eu fui ver ela hoje de manhã. — disse Bart, se afastando um pouco do colega. Ele odiava o cheiro de cigarro. — Diz ela que o experimento saiu melhor do que esperado.

— É, foi o que ela me falou também. E ela parecia mais contente ainda ao contar o "plano" para os presos. — continuou o fumante. Diego deu outra tragada profunda, olhando para o céu que parecia estar se fechando. Depois voltou a atenção para o colega. — Ah propósito, Bart... Você está suado e com a respiração descontrolada. Estava treinando?

— Ah, não, não! Ahahahah! — o sorriso de Bart foi prazeroso, pois ele se lembrou do encontro de sua vida com a mulher que, teoricamente, mudaria sua vida para sempre. — Eu estava lutando mesmo. Mais especificamente falando, "testando um futuro promissor". — Diego levantou uma sobrancelha de dúvida, enquanto Raziel o olhou de canto do olho, mas sem perder o foco das ordens. — Eu preciso apresentar uma certa mulher para vocês!

O que aconteceu mais naquele dia foi algo totalmente bizarro e até um pouco engraçado. Depois da longa conversa no consultório sobre a entrada da Guilda, Jimmy apareceu no quarto dos feridos e uma nova gama de conversas estava acontecendo. Ele tinha chegado ali com Peeh, e disse que ela não passava por nenhum risco de vida, mas que precisaria de pelo menos um dia inteiro de repouso total. Logo após isso, ele disse que precisava sair, para reencontrar o Exército Rebelde em um ponto marcado, para uma reunião estratégica. Eles precisavam chegar a uma conclusão rapidamente, já que a notícia que Jimmy levaria para eles era que não havia NINGUÉM preso no calabouço do castelo.

Todos ali naquela sala se assustaram. Como assim? Uma prisão sem prisioneiros? Jimmy disse que não sabia o porquê. Ele só sabia disso porque Peeh tinha tido um momento de consciência, um pouco antes da médica aparecer para atendê-la e colocá-la para dormir graças aos fortes medicamentos aplicados em seu corpo. Mas antes de desmaiar, ele ordenou que o lutador de Muay Thai fosse até os outros comandantes dos rebeldes e lhe passassem essa mensagem.

Depois dele ter saído do consultório tendo total cuidado para não ser visto, as pessoas ali presentes começaram a discutir o fato. San e Mana explicaram para os demais qual era o objetivo dos rebeldes ali, fazendo-os estarem por dentro da situação pela visão dos atacantes. Então, pensando sobre o que Jimmy disse, todos ficaram ainda mais confusos.

Tentem organizar os fatos. Primeiramente, "alguém" de dentro do Castelo vai até os rebeldes e lhes diz que todos os parentes sumidos das pessoas estavam sendo mantidos nas jaulas do calabouço subterrâneo do Castelo da Capital, e lhes diz ainda o horário certo para que eles ataquem, pegando todo mundo desprevenido. Um ataque surpresa perfeito. Tirar a atenção dos soldados reais para que os presos fossem libertados. Mas aí alguém chega no tal calabouço e o vê vazio. Totalmente vazio. Uma coisa era os tais familiares presos não estarem lá... Mas não ter NENHUM presidiário? Isso era impossível! Eles não poderiam ter sido libertados durante a confusão. Não. Não fazia sentido.

Mulkior foi a primeira pessoa a falar algo como "Se não havia ninguém lá para ser libertada, então todo o ataque foi totalmente desperdiçado!". Ele não poderia estar mais certo. Centenas de pessoas, sejam elas soldados ou não, morreram no campo de batalha hoje. E tudo por causa de um "engano"? Quem iria acreditar em tal tolice? E como ficariam as pessoas assim que soubessem disso? Seria outro motivo para mais um caos ser gerado.

O mago de ferro ficou realmente furioso com aquele fato. Ele prometeu ter uma conversinha muito séria com a senhorita Líder dos Rebeldes assim que ela estivesse consciente de novo. Precisava ouvir essa história diretamente da boca dela, com nenhum detalhe faltando.

Essa parte ali foi a bizarra. Agora vem a engraçada.

Talvez essa palavra não deveria realmente ser utilizada aqui. Mas se trata do seguinte: quando deu três e meia da tarde, todos os integrantes do time Immortal Star se levantaram de suas camas hospitalares, se equiparam, concentraram seu espírito e foram para o Coliseu. Eles tinham um combate. E estavam machucados. A única pessoa que estava apta a ter uma luta total era San, o que fazia tudo se tornar ainda mais preocupante.

Mas o que eles podiam fazer? Estavam cientes de que aquilo poderia ter acontecido. Foram para o meio de uma guerra sabendo que eram obrigados a entrar em outro campo de batalha logo depois. Mas agora já era tarde demais para se lamentarem. Chegaram no Coliseu ainda faltando uns quinze minutos para o início do Torneio. Mas logo na entrada, eles foram surpreendidos.

A quantidade de soldados que estava por ali era realmente impressionante. O time foi barrado logo na entrada por soldados, que não acreditaram nos quatro integrantes que diziam que eles eram participantes do torneio. Um Capitão foi chamado, e esse quase piorou as coisas ainda mais. Eles estavam nervosos ainda por causa do ataque, então estavam com uma vontade de ferro de querer prender todo mundo que parecesse suspeito.

Por causa da discussão em voz alta que teve ali, os organizadores foram alertados e correram até o local. Eles confirmaram que aqueles quatro combatentes eram sim, um dos times oficiais do atual torneio do Coliseu.

Ainda sob as reclamações do Capitão do Exército, os quatro integrantes conseguiram adentrar os corredores largos do Coliseu mais uma vez. Dentro, estava uma correria desenfreada. Gritaria de médicos, soldados correndo, enfermeiras tropeçando e empurrando e muitas e muitas pessoas sendo transportadas em macas. Parecia um hospital que estava enfrentando uma epidemia.

Um dos organizadores do Coliseu, que tinha ficado com o time para levá-los até seu quarto, explicou que naquele dia não haveria lutas na arena, pois todas as alas médicas estavam sendo utilizadas para tratar dos Soldados Reais feridos no recente ataque contra o castelo. Então as semi finais aconteceriam somente no dia seguinte, mas todos os participantes restantes, ou seja, os quatro times combatentes, tinham ordens específicas para não saírem do Coliseu, sob NENHUMA hipótese.

Quando entraram no quarto, os quatro integrantes queriam rir em alto e bom tom. Para eles, aquilo era perfeito. Eles estavam cansados e machucados. Lutar daquele jeito contra um time que já tinha passado por outras três lutas complicadas, assim como eles, seria um desafio grande e perigoso demais. Ter mais um dia de descanso era o que eles mais precisavam naquele momento. Era uma pena eles serem proibidos de saírem do Coliseu, mas todos os quatro decidiram não reclamar dessa regra imposta para não levantar nenhuma suspeita lá fora.

Ficaram no quarto conversando outros assuntos, coisas que um não sabia do outro. Muitas histórias dos passados de cada um foram contados, fazendo os quatro se conhecerem muito melhor. Agora que eles seriam companheiros de Guilda, aquela conversa acabou se parecendo mais como uma reunião de família.

No dia seguinte, todos os integrantes acordaram ligeiramente tarde. Estavam descansados e prontos para o combate. Quando saíram do quarto, viram que ainda havia muita correria e muito barulho, mesmo que tenha diminuído um pouco daquele caos do dia anterior.

Naquele dia, eles tinham mais liberdade para saírem, mas decidiram não fazer isso. Era melhor conservar cada porcentagem de energia e se concentrar na batalha que estava ali em frente. Permaneceram a maior parte do seu tempo no quarto, continuando as conversas inacabadas do dia anterior. Os que falavam mais eram Kuchi e Mumu, que pareciam cada vez mais próximos um do outro. San passou a maior parte do tempo comendo frutas e contando histórias sinistras sobre seu passado. Nesse dia, Mana se manteve mais como ouvinte.

Então chegou a hora. Estava tudo pronto para a volta do grande torneio. A gritaria agora não era feita nos corredores. O povo tinha voltado com tudo. A maioria estava descontente por ter perdido um dia.

E que por falar nisso, as arquibancadas pareciam bem menos povoadas. Não era de se estranhar. Por causa de um ataque daqueles, muitas pessoas decidiram sair da cidade, temendo um novo confronto dos dois exércitos. Outros não podiam sair do lado de seus familiares que foram pegos no meio da guerra, e estavam hospitalizados e recebendo tratamento em diferentes partes da cidade, inclusive ali. Não tinha como você ter energia para torcer tendo sua mãe de cama, machucada.

Mas mesmo com menos pessoas, aquilo continuava sendo um espetáculo com uma multidão barulhenta. Parecia que todos aqueles que faziam mais barulho se mantiveram ali de propósito.

É senhoras e senhores... — começou o célebre Apresentador. Para os combatentes, aquela voz estava começando a se tornar mais chata do que informativa. — Mesmo com tantos problemas em nossa grande e amada Capital, o Coliseu não pode parar! Mas não podemos ser desalmados com nossos habilidosos soldados que caíram durante a defesa de nosso Castelo. Bravos guerreiros que deram suas vidas para proteger seu Rei. Para eles, senhoras e senhores, eu lhes peço gentilmente um minuto de silêncio.

Foi mágico. Toda aquela barulheira desorganizada sumiu no mesmo instante. Pessoas se levantaram com seus chapéus sob o peito. Outros se sentaram com a cabeça baixa. Inclusive alguns chegavam a ficar de pé batendo continência, por puro respeito pelos camaradas caídos. Foi um momento de puro sentimentalismo, que fez muitas pessoas chorarem em seu próprio silêncio.

Um minuto depois, todos já estavam esperando pela volta da voz animada de Pablo, que os presenteou da mesma forma espalhafatosa de sempre.

Muito obrigado, meus caros espectadores e combatentes. Com certeza nosso ato gentil chegará a alma desses homens e mulheres mortos pelo súbito ataque de rebeldes em nossa Capital. — houve uma breve pausa por parte dele mesmo, que estava olhando lá de cima de sua janela. — Eu vejo que muitos espectadores não vieram prestigiar as nossas semi finais. Será que foi por medo? Comentarista Bart, o que você tem a nos dizer sobre tudo isso?

Eu entendo o medo das pessoas de saírem de casa hoje. — a voz de Bart reverberou por todo o Coliseu, e fez Mana ter calafrios. A voz dele era a última coisa que ela gostaria de ouvir na vida, se possível. — Mas ninguém precisa mais se preocupar. Não haverá mais ataques em nossa bela Capital, e os responsáveis por esse ataque já estão presos e sendo interrogados. Se possível, gostaríamos que todos voltassem às suas atividades normalmente, e principalmente, que viessem assistir o Torneio que parece que ficará muito mais interessante! — o anúncio do soldado de Netuno acalmou muita gente. Era o trabalho dele, e ele estava o fazendo com mérito. Mas havia uma gafe em seu discurso. Eles não haviam capturado os "responsáveis" pelo ataque. Mas só quem sabia disso ali, era o time Immortal Star. Mas quem era louco o suficiente para contrariar um membro da Planetarium?

Muito bem lembrado, meu caro amigo! — voltou a falar Pablo. Sua voz parecia ter ganhado o ânimo de sempre. — Hoje começamos as duas grandes semi finais! O quão empolgados será que estão os times? — ao invés dos times fazerem algum barulho, foram os espectadores que iniciaram os gritos novamente. — E vamos começar logo a primeira luta do dia! Do lado esquerdo, vencendo três difíceis batalhas, derrotando inclusive dois dos times prediletos para serem os vencedores desse torneio, o Time Immortal Star! — os gritos se intensificaram. Haviam mais bandeiras dessa vez, e os cartazes não pareciam tão improvisados. A cada dia que passava, a fama do time aumentava um pouquinho. E era exatamente isso que Mulkior queria. Os quatro integrantes se dirigiram até seu lugar de sempre, na frente da grande arena de batalha, esperando para encarar os membros do time adversário. — E do lado direito, um outro poderoso time que teve lutas ainda mais complicadas, chegando a quase uma derrota em sua última partida. Mas ao mesmo tempo, nos impressionou em seu primeiro dia por derrotar o time oponente com apenas dois membros! Entre no ringue o Time Scarlet Party!

A gritaria era do mesmo nível do que da entrada do outro time. Também tinham muitos cartazes sendo levantados e faixas e bandeiras batendo contra o vento. Mas mesmo com toda aquela bonita torcida... O time não apareceu.

Exatamente. O time, que era pra estar esperando para fazer sua entrada triunfal, não apareceu. A gritaria continuava e ia diminuindo pouco a pouco, conforme os segundos iam passando. Um minuto. Nada do time aparecer. Mais gente ia ficando quieta. Outro minuto se passou. Nada. O público se calou. Não apareceu ninguém, nem mesmo um membro. O que estava acontecendo? Muitas pessoas nas arquibancadas estavam fazendo exatamente essa pergunta naquele momento.

Senhoras e senhores, acabamos de receber um comunicado aqui. — disse Pablo, depois de receber um bilhete de um assistente do Coliseu. — Parece que o time Scarlet Party não se encontra em seu quarto e todos os membros estão desparecidos desde ontem. Pelas regras do Torneio, devemos esperar exatamente quinze minutos para a aparição dos membros. Se isso não acontecer, o time será desclassificado por desistência, e a vitória será dada ao time adversário!

Um contador de quinze minutos apareceu no Telão Informativo. Outra gritaria se iniciou, mas pela primeira vez naquele torneio, foi totalmente feita de xingamentos e reclamações.

Muitas pessoas, nervosas, começaram a andarilhar pelas arquibancadas, criando um tipo de alvoroço com mais descontentamento ainda. Isso fez os agentes organizadores do Coliseu tomarem uma iniciativa rápida, pedindo para que todos se acalmassem. Não adiantava de nada eles xingarem aquele pessoal, pois o atraso era totalmente culpa do próprio time.

Foi entre esse alvoroço que San disse para o pessoal que, agora que ele se lembrava, o time Scarlet Party era onde Jimmy estava. E naquela hora, o lutador deveria estar a quilômetros de distância da Capital. Vendo por esse ponto de vista, era possível que todos os integrantes daquele time eram membros do Exército Rebelde, já que Peeh tinha dito algo sobre "usar o Torneio como camuflagem para o exército". Faria sentido sim. Mas... E agora?

Houve mais uma gritaria alta, com muito mais xingamentos e declarações diretas contra o Coliseu. O tempo foi passando, até toda aquela bagunça chegar a ultrapassar o limite do aceitável. Os quatro integrantes se viraram ao mesmo tempo, encarando o Telão que ficava no alto. A contagem tinha chegado ao zero. Eles voltaram a se olhar, não sabendo o que dizer um ao outro.

Bem meus caros espectadores... — era Pablo, como se não fosse óbvio. — Parece que houve mesmo uma desistência por parte do Time Scarlet Party. Eles estão desclassificados por não chegarem ao ringue no tempo determinado por nossas regras. Sendo assim! — sua voz tomou um forte impulso, pronto para anunciar algo grandioso. — Tenho o prazer de anunciar o nosso primeiro finalista desse grande torneio do Coliseu! O Time Immortal Star!

Houveram mais xingamentos misturados com comemorações. Na verdade, a gritaria estava tão misturada, que era impossível saber da onde vinha cada coisa. Muitas pessoas já estavam se levantando de seus lugares, totalmente fulas da vida com o acontecimento. A maioria estava com uma expressão confusa, porque nunca imaginariam que algo desse estilo pudesse acontecer no maior torneio do mundo.

E que por falar em expressões... O rosto de cada um dos membros do tal time finalista poderia ser descrito em uma única frase: "Mais eim???".


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Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo, temos um vislumbre do time adversário, também finalista.



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