Fator Gama escrita por Enki


Capítulo 3
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Eu to me dedicando a essa história agora, mas meus planos por hora são terminar a linha central da história em 3 meses. Contando a partir desse mesmo (agosto). Por isso, ta bem ruinzinho na minha opinião. Alguns elementos eu vou trabalhar depois, quando eu tiver os eventos centrais da história definidos.



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A casa era só um quarto com cama e sofá e um banheiro. Uma caixa, um bloco para morar. Nickolas havia me deixado ali dizendo que aquele lugar era de outra pessoa, mas eu dividiria com ela. Sentei na cama paciente esperando minha anfitriã chegar. O colchão era duro e podia sentir as molas de ferro me sustentando. Talvez fosse melhor dormir no sofá. Ou no chão mesmo. Levantei e fui ao banheiro. Eu precisava de um banho, mas não havia chuveiro. Parei em frente ao espelho. Cinco anos que eu havia perdido de minha vida. Cinco anos em que eu havia me tornado uma estranha. Não reconhecia a mulher que via. Meu cabelo continuava longo, mas estava acabado, com fios quebrados e finos demais. Meus lábios estavam ressecados e cortados. Tinha cicatrizes de cortes por todo o corpo. Minha pele estava escura, queimada pelo sol e meus olhos... meus olhos eram brancos. A íris branca igual de Nicolas. Meus olhos deveriam ser verdes, porque estavam brancos? Toquei meu rosto, não conseguia acreditar que aquela era eu mesma. Quem eu era? O que eu era?

Sentei no chão, com o rosto entre as mãos e comecei a chorar. Não ouvi quando a porta do bloco que era minha casa se abriu e me assustei com um grito quando a minha anfitriã entrou no banheiro.

— Porra! Não fica sentada nos cantos assim, garota! Quase que morro com o susto que você me deu! — Ela se afastou e sentou na cama.

Era uma mulher negra, com uma pele amarelada que afazia parecer ser feita de bronze. Ela era linda, com os cabelos cacheados raspados de um único lado e batons vermelhos ao redor da boca. Olhava para mim com uma mistura de curiosidade, decepção e desconfiança.

— Você é a garota que Nick falou que iria ficar por uns tempos comigo? — Perguntou. — Qual seu nome?

— Me chamo Susanna.

— Susanna hein? Gostei. Eu sou Elisa. — Ela se levantou. — Seguinte, amor, esse aqui é o meu lugar. Então não me incomode, não me atrapalhe, não traga homens para cá, nem tralhas desnecessárias. Estou fazendo um favor de te receber aqui, porque ninguém mais iria receber uma estranha a essa altura. Isso aqui não é a sua casa, mas a minha. Estamos entendidas?

— Perfeitamente.

— Ótimo. Então me conte. Como é lá fora na superfície?

— Árido. Nunca foi lá?

— Morro de vontade, mas eles não deixam. A maioria de nós não sai, apenas os descartáveis.

— Descartáveis?

— É. Como nós duas provavelmente. Os descartáveis são pessoas que já tiveram seu DNA alterado pela radiação. Pessoas que não tem mais um código genético puro. Não estamos contaminados, mas não podemos mais contribuir para a perpetuação da espécie. Por isso, não tem problema delas irem lá para fora. Não faremos falta se morrermos. Somos Descartáveis.

— Existem muitos nessa condição.

— Não havia inicialmente. Mas as crianças que nascem hoje em dia. A maioria delas é uma descartável. Estéreis, pessoas deformadas, dementes... Aquelas com vida útil está cada vez mais raras, em menor quantidade.

— E o que fazem lá fora? Quero dizer, vocês parecem estar se virando muito bem aqui embaixo. Por que sair ao invés de esperar mais 50 ou 60 anos até a superfície se tornar habitável.

— Comida. Não existem mais plantas. Os grãos não podem mais ser cultivados, a terra é infértil, tudo o que restou para comer é carne. Então os caçadores vão lá para cima atrais de comida, animais para matar. Temos processos de descontaminação para tirar as toxinas radioativas deles.

— E água?

— Escassa. Pânico foi construída perto de um lençol freático para que não morrêssemos de sede. Mas não sabemos quando tempo essa situação vai durar, então evitamos usar a água de lá o máximo possível.

— Sem banhos então. — Concluí.

Elisa riu.

— Temos banhos a seco. Toalhas molhadas e um sabão que não precisa ser retirado do corpo. Em alguns lugares, você pode encontrar um banho a pó, mas esse eu não sei como funciona. Nunca estudei a maquinaria dele. Agora, me desculpe, estou cansada. Tive muito trabalho por hoje. Quero descansar um pouco. — Ela pegou uma muda de roupa, foi até o banheiro e fechou a porta.

— Se você não vai lá fora, no que você trabalha?

— Eu sou operadora da rede elétrica da cidade. Hoje foi um dia difícil. Estamos tendo problemas de sobrecarga nos transformadores. Preciso desliga-los por alguns minutos para esfriarem, mas está ficando complicado. Acho que o problema está vindo da usina lá em cima.

— Mas não te deixam ir para verificar. — Conclui.

— Não. Isso está sendo uma dor de cabeça. — Ela saiu com um pijama e se deitou na cama. — Não tenho muito o que fazer. Amanhã vou tentar resolver o próximo curto que vai ter. Agora preciso descansar. Preciso levar você até a ala médica. Nickolas quer que você faça mais alguns exames. Depois eles devem arranjar algum trabalho para você também. Bem vinda a Pânico, Susanna, e boa noite.

—Boa noite.

Elisa dormiu. Meia hora depois, a energia caiu.

Na manhã seguinte, Elisa me levou apressada a ala médica da cidade. Com a queda de energia no dia anterior, ela precisava voltar cedo ao trabalho e resolver o problema. Tudo estava um tumulto muito grande pela falta de luz em boa parte dos setores da cidade. A própria ala médica, que já deveria ser uma confusão normalmente, estava ainda mais bagunçada. Os pacientes mais críticos estavam todos em um galpão uma vez que não havia hospitais para eles ficarem. Elisa me levou até Nickolas e depois nos deixou. Ele também não estava sozinho. Andava com um menino de uns doze anos provavelmente. O garoto sorriu para mim, não parecia ligar muito para o mais recente problema. Tinha os olhos brancos também. Nickolas me cumprimentou e, sem me apresentar seu acompanhante, saiu andando.

— Relaxa, ele é assim mesmo. —O garoto respondeu ascendendo a lanterna e seguindo o homem.

— Estou muito deslocada pra me importar com os modos dele, menino. —Respondi sorrindo em resposta.

— Não me chama de menino! Não sou mais criança. Meu nome é Cal.

— Muito bem, Cal. Eu falo certo na próxima.

— Não fale com ela. — Nickolas interrompeu puxando o menino para frente dele. Lançou-me um olhar nada amigável, com certeza ainda não confiava em mim. Acho que eu também não confiaria numa estranha nas atuais situações. — Escute, precisamos fazer um teste com você para ver em que profissão você se enquadra. Não temos gente à toa aqui. Todos precisam contribuir, ou você está fora da cidade.

— Achei que iriam apenas fazer um exame médico.

— Também. Faremos um exame psicológico e um teste de proficiência. Não estamos acostumados a receber pessoas de fora. — Ele aproximou a boca de um rádio comunicador em sua mão e chamou a médica.

Lana era o nome dela pelo que eu tinha escutado Nickolas falar no rádio. Uma mulher loira, com pele pálida de tão branca. Era séria, até mais que Nickolas. Tinha aquele jeito elegante e refinado que algumas mulheres têm, o que era intimidador e admirável ao mesmo tempo. A única a não me lançar um olhar de julgamento. Ela me levou até um dos quartos de blocos onde não soube dizer se era sua casa ou seu consultório. Provavelmente os dois. Nickolas ficou do lado de fora, ao lado da porta, aguardando com o menino Cal.

— Sente-se, Susanna. — A medica com albinismo começou olhando um relatório em sua mesa. — Então você era policial?

— Sim.

— Qual sua memória mais antiga? — Ela pegou uma pequena lanterna direcionou o feixe de luz ao meu rosto, olho a olho. — Sorria, por favor.

— Não é uma lembrança. — Respondi depois de pensar um pouco. — É um cheiro. Roupas. De bebê.

— Caminhe contando em voz alta dez passos por favor. Você teve filhos?

— Não que me lembre. — Caminhei.

— Certo... — Ela olhou outra vez para o relatório. — Não sei onde colocar você. Não tem força suficiente para ser uma construtora. Podia pedir para alguns departamentos aplicarem alguns testes e talvez você pudesse ser uma pesquisadora ou mecânica, se você tiver conhecimento suficiente para isso. Do contrário, só temos alguns setores de recursos humanos disponíveis. Talvez... — Ela foi até a porta e chamou Nickolas. Assim que o homem entrou no bloco, Lana comentou.— Acho que ela podia ser uma caçadora.

— Do que está falando? — O homem se assustou.

— Estamos com uma vaga... E nossa equipe está defasada demais para sair lá fora. O que aconteceu com Pavel, as feridas dele eram terríveis.

— Eu sei. Também estava lá quando elas aconteceram, Lana.

— Exatamente. Nós precisamos de apoio.

— Ela nem deve saber como segurar uma arma. Não vai durar um dia lá fora.

— Nickolas, você pode parar de falar como se eu não estivesse aqui? — Pedi. — Eu era policial, preciso falar isso o tempo todo? É obvio que eu sei segurar uma arma e atirar. Durei um bom tempo lá fora antes de vocês me encontrarem.

— Não, sem condições. Eu não confio nela. — Ele insistiu.

— Desde que eu entrei nessa cidade estão me olhando torto. Ninguém confia em mim e eu não ligo nem um pouco. Mas se forem para ficar me importunando, prefiro ficar longe dessa gente. Agradeço que tenham me recebido e deixado ficar em “Pânico”, mas o máximo que puder ficar fora da cidade, não vou reclamar.

— Você não sabe como é lá fora.

— Não mesmo. Mas o mundo já está uma merda desgraçada mesmo. Não espero nem um momento bom lá fora e, ainda assim, prefiro ir.

— Você quer voltar lá, não quer? É mais do que está dizendo, mais do que “não quero ficar aqui na cidade”. Por que você realmente quer ir?

— Para saber o que realmente aconteceu comigo. O que eu fiz nos últimos cinco anos e porque acordei naquele deserto sem memória. Se eu voltar lá, tenho certeza de que posso...

Um ensurdecedor estrondo se fez ouvir por toda a cidade. Toda a luz se apagou imediatamente e o chão tremeu, até mesmo as coisas sobre a mesa da médica quase caíram no chão. Vimos uma iluminação amarela pela janela e sentimos o ambiente aquecer.

— O que foi isso? — Lana perguntou assustada.

— Os transformadores explodiram! — Cal entrou exasperado pela porta. — Pavel estava lá, com a Eliza.

Corremos para fora e, mesmo a quilômetros de distância, podíamos ver o fogo e a fumaça crescendo a partir da zona de transmissão. Era impossível que aqueles dois estivessem vivos se estivessem perto do incêndio que se alastrava. Pior que isso. O fogo estava se espalhando em direção a cidade e até a fumaça poderia asfixiar a todos ali em um lugar fechado como era a cidade. Se aquilo não parasse logo, seria impossível que qualquer um sobrevivesse alí.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam, ouvir o que vocês pensam sobre o que escrevo é muito importante para mim. Se gostaram, favoritem e acompanhem. Obrigado a todos que leram e fiquem bem! (Sim, eu copei e colei do apost passado, porque... porque sim. hahaahahah)



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