P.o.v Hannah

Era tarde e estava um calor abafado que só se sentia em épocas festivas. Estava com dificuldades em concentrar-me. A escuridão do pequeno quarto oprimia-me como um par de mãos grandes, que me mantinham presa à cadeira.

Há horas que já devia ter ido para a cama , mas era imperativo acabar de ler aquele livro.

Ouvi um movimento atrás de mim e virei-me na cadeira, zangada, à espera de ver Allison. Mas as palavras de reprimenda nunca chegaram a surgir. Em vez disso, dei por mim a olhar para um homem tão alto, que nem conseguia estar direito.

-Outra vez...-o homem continuava a fitar-me- Está sempre a acontecer...

-O que foi hannah? - Era a voz de ally. Estava assustada e abanava-me, enquando me segurava pelo ombro.

Abri os olhos e vi o rosto assustado, perplexo e ainda inchado de sono de ally.

-Um homem.....

-Por amor de deus o que se passa?

Virei-lhe as costas, a respirar pesadamente, tentando recuperar o fôlego. Tinha o coração a bater descompassadamente.

-Foi só um sonho.Um pesadelo.- Mas a memória do homem no me quarto ainda estava muito viva, como um pesadelo de criança.

-Pregaste-me um susto de morte.

-Desculpa.-afastei os cobertores para trás e balançei as pernas para fora da cama. Fechei os olhos e esfreguei o rosto, mas o homem continuava lá, a queimar-me as retinas.

Levantei-me.

-Onde vais?

- Vou à casa de banho.

Caminhei suavemente pela madeira e abri a porta que dava para o corredor. A imagem mantinha-se tão clara e forte na minha cabeça.Que presença tao poderosa.

Hesitei ao chegar à porta da casa de banho como fazia todas as noites desde há quase quatro semanas atrás e osmeus olhos foram atraídos para a divisão ao fundo do corredor. A porta estava completamente aberta, com o luar a inundar o espaço para lá dela. Virei as costas com o coração despeçado e suor frio a cubrir-me a testa, dando de caras com ally.

-Estás melhor?-perguntou num tom afetado.

-Estou...-desviei o olhar- O que me querias perguntar?

-Só ia perguntar se tinhas visto o meu gato.

-Não.- Quando começei a pensar no assunto, lembrei-me que não só o gato da ally estava desaparecido como a minha raposa tambem.- Tu tambem não sabes do summer , pois nao?

-Não, porque raio haveria eu de saber?-ripostou no tom aspro de sempre.

-Vês ? Tambem não tenho do teu gato allison.

Ela franziu o sobrolho e comprimiu os lábios numa linha rígida.

-Vou ver à rua...

-Espera...-a porta fechou-se bruscamente- Não me deixes sozinha....

Voltei a focar-me no quarto. As cortinas deveriam estar corridas , mas não estavam.Lá dentro, existia apenas um terrivel vazio. Era sempre do silêncio que a minha depressão surgia. Questionava-me se o conhecia, se havia alguma coisa familiar no rosto comprido e cabelo disperso.

Virei-me e senti que alguem tinha pousado a mão no meu ombro.

Olhei para trás. Era ally. Estava extremamente pálida.

-Ally...estás bem?-tentei não tremer, mas o meu sistema nervoso tomou conta de mim- O que se passou?

- Dois rapazes.nus.na floresta.

Deixei escapar um suspiro longo de alívio.

-Allison, não tenho paciencia para estas brincadeiras.

Ela fechou os olhos e parecia estar a contar até dez. Quando voltou a abri-los , estava zangada e olhava-me furiosa.

-Vai te lixar, eu nao estou a mentir hannah-rosnou.

Aproximei-me da porta principal e espreitei lentamente pela ranhura, abrindo-a rapidamente.

Olhei em volta e nao havia evidências de presença humana, perto da nossa casa.

Fechei a porta atrás de mim.

-Tou farta que estejas sempre a gozar comigo.

Passei por ela e entrei no quarto. Sentia-me aliviada por aquela presença já ter abandonado o espaço.

Deitei-me na cama novamente,aproveitando para me recordar da nossa mãe.

Era uma senhora adorável, com caracóis castanhos muito cerrados, os quais ela apanhava num rabo-de-cavalo. Tinha a pele pálida e cheia de sardas , os seus olhos eram de um verde claro e não me lembro de a ver a usar maquilhagem uma unica vez.

Fui puxada para fora dos meus para fora dos meus pensamentos quando senti um toque.

-Estás ai.

Peguei na minha raposa e deitei-a a meu lado , tentando ignorar a pergunta na minha cabeça, para a qual eu não tinha resposta.

Estaria eu a ficar maluca?