Eu sempre me considerei só mais uma garota comum. Vivendo uma vida comum com uma rotina comum cheia de coisas comuns, mas sem nada de especial. Naquele tempo, eu ainda acreditava que qualquer outra vida com mais ação e aventuras seria mais emocionante que a minha. Imaginava como seria ter a agitada vida das personagens de meus livros, repletas de espetaculares cenários inacreditáveis e histórias magníficas,com seres inusitados, romances emocionantes e marcantes, cheias de magia e histórias de amor.

Não que eu ainda acreditasse nessa conversa de um grande amor que sobrevive a dificuldades e tragédias, ou naqueles grandes clichês como de um ódio que transforma-se em um enorme amor profundo e eterno. Ou aquele amor proíbido que atravessa as barreiras e vence os obstáculos, e muitos outros em que o casal principal sempre consegue acabar junto no fim. Também não era como se não quisesse acreditar, apenas já não conseguia mais.

Mas eu ainda adorava os livros e suas histórias. Pensei que seria incrível viver naquele mundo de ficção onde tudo é possível e mudar minha entediante existência. Pensei.

Antes, achava que não tinha problema pensar assim, afinal sabia que era impossível realmente acontecer. Por muito tempo eu acreditei nisso, até que meu mundo virou de cabeça para baixo e então, tudo o que mais desejei foi voltar a vida sem graça que levava antes, pois naquela eu me sentia protegida, não sofria por coisas irreais e nem sentia essa dor dilacerante que tornou-se insuportável demais para eu resistir e lutar, principalmente quando já não via mais motivos para isso. Naquela antiga vida tão comum, eu me sentia segura. Me sentia real e viva, não como agora quando apenas continuo respirando. Sobrevivendo sem viver.

O louco é como tudo aconteceu tão rápido. Fui mais uma garota comum por dezessete anos e bastou um dia para que de repente tudo mudasse completa e drasticamente. E mais louco ainda é pensar em como naquele dia achei que seria o pior e o mais devastador de toda a minha vida, nem imaginava como aquele estava longe de ser esse fatídico dia, aquele era só o começo. E na única coisa em que estava certa em pensar, foi como aquela minha vida acabou. Não admiti, mas soube que uma parte de mim morreu naquele mesmo dia, foi muita ingenuidade minha pensar que já não tinha mais o que perder.

É irônico pensar como eu sempre gostei de ler essas histórias de romance e ficção científica, jamais imaginaria que minha vida se tornaria uma. Mas na verdade, sei que não vivi um romance, já que em um romance, os dois personagens se amam, e na minha história, esse amor foi unilateral. É, isso é o mais irônico... e cruel também.

Contudo, não me deixo pensar nisso como um arrependimento e sim como uma lição. É mais fácil pensar como algo pelo qual tinha de passar para aprender e mudar do que como uma tragédia, injustiça ou castigo. Afinal, eu não sabia qual dos três seria pior. Ainda assim, não acho que me arrependo por tudo o que vivi, nem mesmo por ele.

Sim, eu deveria ter me mantido sempre em alerta e desconfiada em relação a ele, deveria ter ficado longe, mas ele tinha um magnetismo irresistível e foi impossível. Eu faria qualquer coisa por ele, tudo o que precisasse. Talvez esse tenha sido o meu maior erro, quado eu sabia desde o começo quem ele era.

Mesmo ama-lo era perigoso. Como tudo nele. Porém, não posso dizer que me arrependo por tê-lo conhecido, pois foi ele quem me ensinou a viver outra vez. Ver o mundo com outros olhos, a encontrar minha coragem, aprender a arriscar e a entender e aceitar minha nova realidade. Me fez perceber como só via o lado ruim e mostrou-me o outro lado e suas vantagens e a relembrar o porquê antes queria uma vida de aventuras.

Mas ele sempre tinha um objetivo e era difícil saber o que estava pensando. Na verdade era impossível, o que tornava meu anseio cada vez maior, assim como meu temor, pois eu nunca sabia o que estava planejando. E ele estava sempre planejando. Envolvente, sedutor, sarcástico, seguro de si e, principalmente, manipulador.

Me apaixonar por ele surpreendeu a mim mesma quando enfim percebi, por que eu nunca fui do tipo de bad boys, na verdade, nunca quis saber desse tipo. Sempre fui segura e pé no chão demais para sentir atração pelo perigo ou gostar da adrenalina de algo proíbido. Mas ele conseguia me fazer quebrar as regras e ser uma garota má.

Contudo, durante muito tempo, eu achei que poderia ajuda-lo a mudar aquele lado tão sombrio, que o tornava frio e cruel, e que poderia tira-lo da escuridão. No entanto, fui eu que mudei e quem acabou fazendo parte dessa escuridão. Isso também é irônico, pois de uma maneira estranha e não intencional, ele também me ensinou a valorizar a antiga vida que levava, pois era tudo que eu tinha e agora não sobrava mais nada.

Nada além do frio e a escuridão, junto a um enorme vazio em mim deixado no lugar onde ele ocupava. Mas eu não sou como ele que sabe ocultar perfeitamente seus pensamentos e emoções. A ele, nada o atinge pois ele não pode se magoar já que não tem sentimentos. Não sou assim. É possível ver a escuridão por trás de meus olhos azuis agora repletos de dor e mágoas.

Se antes, eu soubesse que tudo isso aconteceria e o quão errada estava, talvez nunca tivesse desejado em pensamentos. Talvez nem tivesse lido os livros que li e gostado das histórias que gostei. Bem, não importa, por que nunca saberei. E agora é tarde demais para querer voltar atrás.

E como todas as histórias, a minha também deveria ter um lado bom, e eu acreditei que esse lado bom era ele, até que finalmente percebi que talvez sequer fosse minha história, porque talvez a história não seja sobre mim. E sim, sobre ele.