Intuição escrita por TheEpic


Capítulo 8
Quando se vê por dentro da casca.


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Quem viu que eu mudei a capa da história? Antes eu achava errado colocar uma capa DeiSaku para a fanfic, já que o foco estava sendo unica e exclusivamente na Saky. Eu precisava fazer muita coisa na fanfic antes de me focar no ship, mas agora que as coisas já estão ficando mais românticas, me dei a liberdade de mudar. :D

O intuito era fazer esse capítulo ser mais longo, mas fiquei satisfeita com o que escrevi. Espero que gostem.

Tenham uma boa leitura. ♥



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Itachi encarava Sakura com o mesmo olhar indecifrável de sempre, contudo ela tentava ignorar enquanto comia o seu almoço um pouco mais nervosa do que o de costume.

A dupla dos renegados de Kiri e Konoha havia chegado mais cedo que o esperado e Itachi resolveu aguardar a menina de cabelos rosa terminar a sua refeição antes que fosse feito um check-up no seu corpo. Com toda a certeza ele queria falar sobre outras coisas além de sua saúde e, provavelmente, saber o que ela havia deduzido de toda aquela situação.

Estranhamente, ele aparentava estar em perfeito estado. Seu chakra estava estável e não aparentava ter urgência em fazer qualquer coisa que não fosse ficar encostado na parede.

Desconfortável com toda aquela situação e até mesmo ansiosa para juntar mais peças naquele quebra-cabeças no qual nem deveria estar se interessando, não terminou sua refeição. Deixando a louça suja para alguma boa alma lavá-la depois, partiu com Itachi para a sua sala.

― Como foi de missão, Itachi-san? ― perguntou enquanto fechava a porta e ele tomava sua posição usual na maca médica, sentando-se.

― Sem ferimento algum, porém mais fatigado que o normal. ― Tirou sua capa, sua camisa e deixou-as ao seu lado, já pronto para o exame físico.

Sakura logo começou a analisar o corpo do mais velho, não encontrando nada de diferente da última vez que havia feito aquilo. De fato, ele estava fatigado e a visão também aparentava estar mais fraca que o normal, contudo este último fato não era por culpa do cansaço.

― Itachi-san, eu te recomendo não usar tanto as suas habilidades oculares. Sua visão deteriorou mais do que o normal e se continuar nesse ritmo, ficará cego em breve ― advertiu. Ele não respondeu. ― Vou lhe entregar um anti-inflamatório que o fará dormir melhor essa noite.

Mais uma vez foi respondida com o silêncio. Ele estava esperando que ela começasse a falar o que realmente interessava aos dois.

― Tobi foi atrás de você, não foi? ― sussurrou quase inaudivelmente.

― Foi. Te mandei o meu corvo logo quando ele chegou. ― Finalmente foi respondida, também em um tom baixo.

― Deidara perguntou para Pain se ele sabia de algo e foi dito que ele havia ido atrás de um criminoso com a cabeça valiosa. O que ele quer de você e por que isso precisa ser mantido entre nós? Por que logo eu, sua inimiga?

― As pessoas enlouquecem por poder, Sakura. ― Você é um belo exemplo disso, aniquilando seu clã, pensou a kunoichi. ― E a lealdade nem sempre é verdadeira, porém outras vezes pode ser tão cega que não é possível enxergar além de ditas verdades.

― A quem você se refere? ― perguntou desconfiada.

― Tente descobrir. Não é difícil. ― A resposta foi tão vaga que ela precisou pensar por um longo momento, o olhar de Itachi sustentado na expressão inquieta da menina.

Agora que ela parava para pensar, Itachi Uchiha era uma pessoa calculista e que não tomava oportunidades por acaso. Ele não estava a metendo naquela história por ela ter aparecido ali por um motivo qualquer. O nukenin queria que ela fizesse algo contra Tobi e estava planejando aquilo meticulosamente há algum tempo.

― Itachi ― chamou-o, também dispensando o honorífico ―, por que vocês me raptaram?

― Para você tratar de minha saúde. Era um alvo fácil e também uma isca para Naruto Uzumaki ― explicou sem deixar transparecer qualquer coisa que o denunciasse de outras intenções além daquelas já explícitas.

― E para o que mais? Você não me trouxe até aqui só por isso. O que você quer de mim, Itachi? O que eu tenho de especial para que você me confie seja lá o que quer que eu descubra?

O assassino, pela primeira vez, mostrou no rosto a sombra de algo que poderia ser um sorrisinho. Bingo.

― Pode me entregar o anti-inflamatório, por favor? ― pediu, ignorando-a completamente e voltando a vestir sua expressão de sempre. Ela olhou o nukenin incredulamente por algum tempo, esperando que ele fosse finalmente parar com os joguinhos dele e ser franco com ela, porém não foi o que aconteceu. Ele prosseguiu com o semblante estoico e Sakura finalmente desistiu. Ela descobriria uma hora ou outra, de qualquer forma.

Entregou-lhe o remédio e ele saiu da enfermaria sem delongas, deixando Sakura na companhia do silêncio.

A iryou-nin estava com medo. Itachi estava a movendo em um jogo como um peão que vai enfrentar as peças adversárias, e ela não podia fazer nada além de seguir sem tentar mudar de casas.

 

 ~~~~#~~~~

 

Sakura saiu do banheiro após um banho quente que ajudou-a a relaxar os músculos tensos. Kisame sempre pegava leve com ela nos treinamentos que faziam, mas, mesmo assim, ele se empolgava e costumava usar mais força que o necessário.

Haviam se passado duas semanas desde que Itachi e ela haviam conversado sobre os acontecimentos das últimas missões de ambos e desde então nada havia ocorrido que lhe desse relevância para solucionar pelo menos parte daquele problema onde havia sido colocada sem permissão. Tobi havia partido em mais uma missão com Deidara logo depois que chegou no esconderijo e não estava fazendo nada relevante o suficiente para Itachi brincar com cabeça de Sakura mais um pouco. Depois daquela consulta que fez e desfez incógnitas, Itachi não havia dito mais nada e respondia as perguntas de Sakura sobre o assunto com o silêncio.

A saúde do Uchiha estava estável e ela também estava trabalhando por horas a fio para desenvolver um protótipo de antídoto que retardaria a perda de visão pelo uso do Sharingan, mas apenas porque Pain a chamou pessoalmente e pediu que ela o fizesse.

Na verdade, se Sakura pesquisasse, estudasse e se esforçasse o suficiente, ela conseguiria reverter o dano já causado nos olhos de Itachi diretamente com ninjutsu médico e certas poções, pois Tsunade já havia feito aquilo no olho de Kakashi. A visão voltaria a se deteriorar com o uso do Mangekyou Sharingan, porém o processo poderia sempre ser revertido.

A kunoichi não deixou Itachi nem Pain saberem que aquilo seria possível, no entanto.

Sakura também estava usando parte de seu tempo para treinar e melhorar suas habilidades. Ela pretendia fazer aquilo sozinha, mas Kisame sempre estava no campo de treinamento aproveitando a chuva durante a tarde e ofereceu-se para ajudá-la. Ele raramente tinha companheiros para treinar e achava a menina divertida, já que ela quase nunca desistia até que tivesse que consertar um nariz quebrado ou algum ombro que saiu do lugar. Havia melhorado bastante os reflexos e força, no entanto.

Nas últimas duas semanas eles haviam desenvolvido uma camaradagem estranha. Ambos não confiavam um no outro, não entravam em assuntos íntimos e muito menos poderiam ser considerados amigos, porém com o passar dos dias Sakura se pegou rindo do humor sarcástico e provocador de Kisame e até mesmo revidando com comentários no mesmo nível (o que o nukenin gostava). Ela estava insana, com toda a certeza que tinha nesse mundo, pois estava achando a companhia de um inimigo prazerosa, por mais que ele a tratasse melhor e mais humanamente do que todos os outros Akatsukis juntos.

Algumas horas antes naquele dia ela estava em um dos seus treinamentos com o nukenin. Daquela vez, ela tentou não usar chakra para deixar seus ataques mais fortes e melhorar sua eficiência sem ele; no entanto, aquele foi um terrível erro. Por mais que Kisame tenha dito que ela havia melhorado muito sua destreza, a sensação física era que ele havia revirado os seus músculos do avesso. Durante o banho ela fez a sensação passar, mas tomaria um anti-inflamatório para garantir uma boa noite de sono.

Logo após se vestir ouviu batidas na porta e foi atender. Esperava que fosse Itachi ou Konan, como sempre, mas se surpreendeu quando viu que era Deidara.

― Boa noite ― cumprimentou-o desconsertada ― quando chegou de missão?

― Pela madrugada ― ele a respondeu. Deveria ter dormido o dia inteiro, já que aparentava estar descansado. ― Hoje é o meu aniversário e passar ele sem aqui e sem ninguém para conversar é meio infeliz, hm. Vem comigo?

Sakura piscou atônita. Deidara queria a companhia dela?

A última interação que eles tiveram, naquela noite sem chuva, não havia sido desagradável até que ele ficasse estranho de uma hora para outra; mas mesmo assim, ele veio até o seu quarto chamá-la só para ter a companhia dela?

Se alguém algum dia falasse para Sakura que Deidara poderia ser um rapaz simpático e agradável, ela soltaria um riso sarcástico e diria para a pessoa parar de alucinar; mas ali estava ele tentando ser exatamente aquilo, fazendo questão de ir no seu quarto apenas para requisitar momentos de descontração. Ele deveria estar louco por querer passar tempo com alguém que o mataria na primeira oportunidade.

E ela estava mais louca ainda por estar tentada a aceitar o pedido.

― Ahn... Tudo bem ― respondeu. Deidara soltou um sorrisinho satisfeito e acenou com a cabeça para o corredor, indicando para ela segui-lo. ― Para onde vamos?

― Você vai ver. É melhor levar uma capa.

Concordou, voltando ao armário e tirando de um dos cabides uma capa idêntica em material e cor à da Akatsuki, porém sem as nuvens vermelhas que Konan havia lhe entregado dias antes, dizendo que seria necessária por lá. Ao retornar, Deidara virou-se e passou a andar em direção a um corredor onde ela estava proibida de entrar. Seguiu-o mesmo assim.

O espaço era surpreendentemente curto e sem portas, direcionando somente a um elevador. O loiro apertou o único botão ao lado das portas e as mesmas se abriram. Ambos entraram e ele apertou mais um botão, dessa vez o que levava ao último andar.

― Eu não poderia andar por aqui, sabe...? ― alertou.

― Mas você está comigo, sabe? ― Deidara brincou com a frase de Sakura, fazendo-a dar de ombros.

― Estamos em um prédio? ― perguntou ao rapaz.

― Estamos. A parte residencial é no térreo, mas nos próximos andares existem depósitos, arquivos e mais algumas coisas. A maioria dos andares e dos quartos estão desocupados, mesmo assim. Acho que o Líder só queria o maior prédio, mesmo ― ele respondeu, já esclarecendo perguntas que sabia que viriam. ― Estamos indo para o teto.

Sakura não entendeu direito o que eles fariam no teto, que provavelmente estava todo molhado pela chuva e não teria nada de interessante, porém se surpreendeu quando as portas do elevador se abriram e eles saíram por mais uma porta.

A visão de Amegakure era estonteante vista por cima. Como Deidara havia dito anteriormente, o edifício da Akatsuki era o maior de toda a vila e a lembrava de ver Konoha em cima do Monumento dos Hokages. As luzes noturnas da vila brilhavam borradas pelo efeito da chuva e o barulho calmante da mesma combinavam com aquele mar brilhante visto por cima.

― Bonito, não é? ― Deidara chamou-a, tendo a observado por alguns momentos. ― Ali tem uma parte coberta, perto da beirada.

― Não vai tentar me jogar dali? ― perguntou divertida, porém não tinha certeza de que aquilo poderia ser considerado apenas como uma brincadeirinha.

― Só se você quiser ― o maior respondeu no mesmo tom e foi para onde ele tinha apontado anteriormente, sendo acompanhado por Sakura.

Eles se sentaram no chão seco e Deidara estendeu a garrafa de bebida que estava em sua mão para Sakura, e só naquele momento ela percebeu que ele estava com o objeto desde quando ele foi bater em sua porta.

― Eu não bebo álcool ― explicou, recusando a bebida com o tom de voz.

― Nova demais e certinha demais, hm? ― Deidara provocou, tomando um gole direto do gargalo.

― Aham. Inclusive, álcool não traz prazer algum além de uma garganta queimando e consciência alterada.

― Se você acha... ― Ele deu de ombros, discordando.

― Aliás, feliz aniversário. Por que você resolveu celebrar ele justo comigo?

A pergunta oculta dentro daquela era bem clara para ambos. Por que Sakura, uma inimiga que desejava a morte dele, que havia matado o seu parceiro de time e uma prisioneira com benefícios?

― As pessoas daqui são um saco, hm ― respondeu com o tom enjoado ― Tobi é um idiota e eu quero limitar o contato com ele apenas às missões; Kakuzu é esquisito, calado demais e obcecado por dinheiro. Eu só vejo ele falar disso o dia inteiro; Hidan é um lunático sanguinário que mata e tortura por puro prazer... ― Se interrompeu ao ver o olhar incrédulo de Sakura. ― O quê?

― Como se todos vocês não fossem sanguinários! ― respondeu.

― Ninguém aqui mata por prazer além do Hidan, Sakura. Eu faço o que sou mandado pelo Líder, desde que isso me permita usar minha arte. O restante é consequência, mas não significa que eu sinto prazer em fazer algo além da minha arte. É o mundo shinobi, você mata ou é morto.

― Não é sempre assim. As coisas podem ser diferentes ― rebateu.

― Mas quase nunca são.

O tom de voz de Deidara mostrou que ele não queria prolongar o assunto e Sakura precisava de um tempo para pensar naquilo. Era assustadora a maneira com que ele dizia que pessoas inocentes morrerem pelo bem das explosões dele eram uma consequência. Se explodir coisas era prazeroso e matar pessoas estava incluso no pacote, era sim por prazer!

Decidindo não prolongar a discussão que não os levaria em lugar algum, resolveu esquecer aquilo durante o momento e apenas aproveitar uma conversa que estava tomando um rumo agradável antes dela interrompê-lo.

― Desculpe pela interrupção, continua. E o restante? ― estimulou-o.

― Então... Kisame é até melhor que os outros, mas eu não suporto muito a presença dele; Konan é esquisitona e se eu chegasse perto dela pra passar o tempo, o Líder me mataria; eu odeio o perfeitinho Uchiha; o Líder está fora de cogitação e o Zetsu é o mais estranho de todos. Já você é agradável e tivemos uma conversa legal da última vez.

― Quem é Zetsu? ― perguntou. Não havia ouvido aquele nome anteriormente e muito menos visto essa pessoa.

― Ah, ele trabalha sozinho e está quase sempre longe da base. Ele me dá arrepios. O cara é dividido em dois e fala por essas duas personalidades, é uma planta humana e come gente ― descreveu o nukenin e Sakura torceu o nariz.

― Eu não entendi nada, mas esse Zetsu devora humanos?! Como uma pessoa dessas existe?!

― Eu não sei, hm. Ele costuma se livrar de evidências de assassinatos que não são para serem descobertos, e olhando aquela coisa estranha que ele tem no pescoço, igualzinho a uma planta carnívora... Não consigo pensar em outra forma dele destruir pistas.

Ew. E eu pensava que Sasori era maluco o suficiente, se transformando naquilo... ― falou sem pensar e evitou o olhar de Deidara com medo dele se ofender, mas isso não aconteceu.

― Como você matou ele, afinal?

― Oh, bem... Você já o viu fora daquela armadura? ― Foi respondida com um aceno negativo de cabeça. ― Ele se transformou em um próprio boneco e ficou com o corpo de um menino da minha idade. Aquela marionete era indestrutível e sempre iria se juntar caso eu separasse os pedaços, e então Chiyo-sama e eu descobrimos que a única parte viva dele era um coração modificado. Chiyo-sama perfurou aquele coração com espadas de marionetes e ele morreu.

― O Mestre Sasori se transformou em uma marionete viva? Que forma de arte mais ridícula! Ele era mesmo insano, hm.

― Mas a maioria das pessoas daqui são exatamente isso.

Deidara não contestou. Eles ficaram em silêncio por bons momentos, absortos nos próprios pensamentos sobre assuntos que mencionaram durante aquele tempo, tentando chegar à conclusões sobre o que cada um achava.

Cansada demais para ficar pensando em assuntos que não lhe adicionariam nada no momento, preferiu só focar na visão a qual era proporcionada. Distraída demais, não percebeu Deidara analisando-a da mesma forma que havia feito semanas antes.

― Como você não enlouqueceu estando aqui? ― ele perguntou, tirando-a do transe. Sakura piscou algumas vezes para voltar totalmente à realidade e demorou um pouco para responder.

― E quem disse que eu não enlouqueci? Estou perdendo a cabeça a cada minuto que eu passo aqui ― e uma prova disso é eu estar aqui com você, pensou enquanto sorria fracamente. ― Eu não posso escapar pois vocês me matariam, não posso contestar ou me matariam, estou sendo uma isca para o meu melhor amigo cair nas mãos de vocês e estou limitada a treinar, ler e mexer com remédios todos os dias, rodeada de inimigos rank S. Quem não ficaria maluco em uma situação dessas?

― De fato ― ele concordou ―, eu já teria me matado. Por que você não fez isso até hoje? Medo?

Sakura franziu o cenho, mas logo entendeu que era uma pergunta vinda de pura curiosidade. ― Eu não tenho medo de morrer, Deidara. Nenhum shinobi deveria ter esse medo, já que é algo quase inevitável em algum momento de nossas vidas. Eu só não tenho coragem. Tenho pessoas importantes para mim que eu não quero deixar, mesmo já estando longe delas. Enquanto eu tiver qualquer esperança de sair daqui viva e algum motivo para viver, não vou fraquejar.

O bombardeiro a observou com um olhar difícil de descrever, porém o mesmo demonstrava intensidade e até mesmo fascínio. Depois de um tempo, voltou a visão para a cidade iluminada e tomou mais uns goles da garrafa de bebida.

― Admiro quem ainda tem esperança nesse mundo. Eu perdi a minha já faz tanto tempo.

O tom de voz do rapaz chamou a atenção de Sakura e ela fitou-o. A expressão que o rosto dele mal transparecia fez algo dentro dela se agitar um pouco. Naquele momento ele pareceu tão humano para ela. Vulnerável, com um passado que afetou a mente e o coração, alguém que não chegou até ali simplesmente porque quis.

Se lembrou de Konan, tão afetada por uma discussão com Pain. Também se lembrou de Kisame, divertido e alegre a todo o momento, com conteúdo de sobra para ótimas conversas. Em sua mente vieram até Haku e Zabuza, que mudaram tanto a mentalidade do Time Sete – inclusive Kakashi – logo em seu início.

Todos eles tinham um lado humano, algo que não sumiu totalmente com toda a maldade que cometiam. Uma chama que era mantida acesa dentro deles e que ainda queimava, mesmo que fraca e bem escondida.

Conseguir enxergar essa chama pouco exposta em Deidara era algo que fez o coração dela bater mais forte, por mais que o motivo não fosse tão claro assim. Se sentiu feliz por estar ali naquele telhado e por ver que nem tudo estava perdido dentro de todo aquele caos que era a organização.

― Não acho que tenha perdido. Talvez ela só esteja escondida, oculta pelo que você já viveu nessa vida.

― Quem sabe, hm? ― Deidara sorriu para ela, um sorriso não totalmente sincero, porém quase que gentil. Ele parecia satisfeito, contudo ainda descrente. ― Não larga essa esperança, garota. Pode soar ridículo, mas ter alguém com uma alma ainda boa por aqui deixa as coisas mais fáceis.

Sakura não tentou entender, porém sorriu com o elogio oculto nas palavras dele. O nukenin resolveu sair da área de assuntos sensíveis, aproveitando o bom clima entre os dois, e passou para conversas mais genéricas.

Conversaram de tudo um pouco até a garrafa acabar, o que demorou a acontecer já que Deidara o fazia propositalmente. Enfim quando o último gole foi dado, ele se levantou.

― Eu vou para o meu quarto ― avisou. Sakura repetiu o ato dele e ambos saíram do teto, lado a lado.

O percurso até o corredor dos quartos foi feito em um silêncio agradável, resultante de uma noite igualmente assim. Quando a menina chegou em frente a sua porta, se despediu com um aceno e Deidara entrou em seu próprio aposento não muito tempo depois.

Refletiu sobre que tinha dito mais cedo, enquanto se preparava para dormir. Aquela menina, tão pura e com um futuro brilhante arrancado por eles, fazia o ambiente ficar de fato melhor. Ela lhe lembrava da época em que aquela vida que ele tinha não aparentava nem sequer ser uma possibilidade.

Aquele fato o deixava inexplicavelmente atraído a ela – e ele havia percebido como ela se sentia da mesma forma, mesmo que não pelos mesmos motivos –, como se aquela kunoichi pudesse o fazer se sentir mais humano, como antes fora e como jamais conseguiria ser. Se ele tivesse juízo, não se aproximaria de Sakura, não a procuraria mais vezes e deixaria ela brincar de salvar a vida do Uchiha em paz, pelo bem tanto dela quanto dele.

Mas juízo nunca fora uma de suas virtudes, afinal.

 

~~~#~~~

 

No dia seguinte, Sakura estranhou a ausência de qualquer pessoa nos cômodos onde ela podia ficar. Entendeu imediatamente o que acontecia quando viu o mesmo Pain cabeludo de antes andando pelos corredores.

Mais um jinchuuriki havia sido pego.

O terror tomou conta dela até o início da noite, quando viu Kisame e se atreveu a perguntar qual bijuu eles haviam extraído. Soltou um suspiro aliviado quando soube que era o Nibi, porém o ato não estava totalmente live de medo e tensão. Não havia sido Naruto, mas aquilo significava que quanto mais jinchuurikis eles capturassem, menos restariam e logo Naruto seria uma prioridade.

Perturbada com os pensamentos que ocorreram, não conseguiu dormir naquela noite e já estava de pé ao breve amanhecer, sentada na mesa da cozinha sem a mínima animação para comer qualquer coisa. Mal reparou quando Konan entrou no recinto e cumprimentou-a.

― Ah, bom dia, Konan-san... ― respondeu.

― Pelo visto não teve uma boa noite de sono ― a mais velha comentou.

― Nem um pouco.

Konan viu o pesar nos olhos de Sakura e se dirigiu para o fogão, acendendo o fogo para a chaleira cheia de água. O silêncio entre as duas prevaleceu até o chá ficar pronto e, sem perguntar, derramou a bebida em um copo para a menina.

― Obrigada ― agradeceu. Elas tomaram alguns goles ainda em silêncio e sem pressa alguma. ― Você já teve pavor de perder a pessoa mais importante do mundo para você, Konan-san? De que ela se fosse por culpa da maldade do mundo? Isso já aconteceu comigo uma vez e está prestes a acontecer de novo. Se eu perder o Naruto, eu não sei o que eu vou fazer da minha vida.

O desabafo inesperado surpreendeu a nukenin, mas ela entendeu que Sakura precisava soltar toda a angústia que a consumia rapidamente.

A menina havia lhe ajudado semanas antes e feito ela analisar melhor a sua própria vida. Aquilo era algo que ninguém jamais havia feito por ela. Ninguém nunca se preocupou em falar com ela sobre sentimentos e muito menos dado conselhos sobre o assunto. Era difícil admitir para si mesma, mas Konan sabia que Sakura havia feito algo importante para ela e que ela estava grata por isso. O que lhe custaria retornar o ato?

― Eu já perdi alguém dessa forma e tenho o mesmo sentimento sobre a outra. Das duas pessoas mais importantes para mim, uma já foi embora há anos. ― Sakura sorriu fracamente para ela com a resposta.

― Então somos iguais nesse aspecto, também. ― Foi respondida com o silêncio, mas sabia que Konan concordava. ― Você vive no meio desses homens há anos, não é? Como aguenta não ter nenhuma pessoa do mesmo sexo que você aqui?

― Eu sou acostumada. Sempre vivi no meio de homens e nunca tive amigas mulheres ― ela explicou e a garota de cabelos róseos levantou as sobrancelhas em surpresa.

― Nunca mesmo? Eu não consigo me imaginar vivendo com um monte de homens pela minha vida inteira. Querendo ou não, há coisas que só consigo conversar entre mulheres e não me imagino falando disso com os meus amigos.

― Confesso que já senti muita vontade de ter amigas.

Sakura não a respondeu daquela vez. As duas tomaram o restante do chá sem trocar mais palavras, imersas em seus próprios pensamentos. A menor se ofereceu para lavar a louça usada e Konan agradeceu-a, saindo da cozinha logo em seguida.

Enquanto ensaboava os pratos, passou a pensar de forma mais aberta sobre Konan. Ela era uma mulher agradável, não havia feito nenhum mal para ela de forma direta e, por mais que não fosse de muitas palavras, era alguém que aparentava gerar boas conversas.

Se elas não fossem inimigas, se a lealdade delas não pertencesse à causas e objetivos totalmente diferentes, seriam elas capazes de ser amigas?

― Olha quem está aqui! Não te vejo já faz um bom tempo, hein?

Um arrepio subiu pela espinha de Sakura quando ela ouviu a voz cínica e mesquinha de Hidan. Evitou olhar para trás, mas sabia que ele dava um de seus sorrisos maníacos.

― Pois é ― respondeu secamente, mostrando que não queria conversar mais nada com ele.

― Sabe, eu acabei de chegar de missão e no caminho eu encontrei alguns coleguinhas seus, lá da Folha ― Hidan continuou, sem se importar com a garota. ― Eu tive o prazer de acabar com um e ver o rosto de horror dos alunos dele! Aquele guri que mexe com sombras deve estar chorando em algum canto até agora.

O nukenin observou Sakura tensionar, entendendo que ela conhecia as pessoas que havia mencionado. O sorriso se expandiu.

― Eles mataram o Kakuzu dias depois, e no meio deles estava o seu amiguinho jinchuuriki. O guri nem é tão fraco assim. Eu queria ter conseguido um pouco do sangue dele para fazer algumas brincadeirinhas.

A iryou-nin respirou longa e lentamente, controlando as mãos trêmulas e tentando não deixar a raiva tomar conta dela. Deixou a chaleira e os copos no porta-louças e já havia começado a fazer seu caminho para fora dali quando Hidan chamou sua atenção novamente.

― Ouvir os gritos da vadia loira quando o sensei dela morreu foi maravilhoso. ― O criminoso se deliciou ao ver que havia finalmente conseguido irritar Sakura, observando a fúria nos olhos verdes. ― Naquela noite eu até tive um sonho ótimo com a vagabunda presa nos meus braços...

― Não se atreva a falar qualquer coisa da Ino! ― ela ameaçou em tom alto, interrompendo a fala de Hidan.

― … ouvindo os berros de desespero dela enquanto eu arranco qualquer pureza que ela ainda tiver.

Sakura grunhiu raivosamente, os dentes cerrados e visíveis. Ah, não. Ele não havia falado da Ino daquele jeito. Ele estava morto.

Rápido demais para um Hidan despreparado ver, Sakura praticamente voou até ele, o punho cheio de chakra visado em sua boca. Ela iria fazer questão de que aquele desgraçado fosse incapaz de falar mais qualquer outra coisa por muito tempo.

A milímetros do punho cerrado se chocar com o rosto do nukenin, uma mão segurou o braço de Sakura e o restante de seu corpo foi envolvido por um outro braço. Enfurecida, olhou para quem a impedia de concretizar seu objetivo e observou o rosto impassivo de Itachi, porém com o olhar incrédulo. O sangue da kunoichi corria rápido pelas suas veias e o selo queimava em seu pescoço.

― Saia daqui, Hidan, antes que eu deixe ela terminar o que começou.

― Vadia louca ― cuspindo as palavras, o imortal começou a se retirar. ― Cuida do seu estorvo, Itachi, ou eu vou fazer questão de cuidar pra você.

Hidan saiu da cozinha e Itachi esperou a respiração de Sakura ficar menos forte para soltá-la.

― Você ficou maluca? Se o Hidan não te matasse, o selo faria isso por você. ― Ele aguardou por uma resposta que nunca chegou. ― O Hidan vai ficar berrando por aí por algum tempo. Se o Líder ouvir algo ou sequer pensar que você tentou causar dano a alguém, você vai ter um destino muito desagradável.

― Eu preciso sair desse lugar, Itachi. Arrume um jeito de eu sair daqui o mais rápido possível em alguma missão qualquer. Eu só preciso sair daqui. ― A súplica soou mais como uma ordem e Itachi estreitou os olhos.

― E por que eu faria isso?

― Você me deve uma.

Ele não podia contestar aquele fato. Itachi havia arrastado Sakura para algum esquema obscuro dele e o mínimo que ele poderia fazer era retornar o favor, mesmo que de forma simples.

A menina estava desesperada, exausta emocionalmente, entediada ao extremo e a ponto de enlouquecer de vez. Se ela perdesse a sanidade, tudo que ele havia planejado iria por água abaixo. Ele não poderia correr esse risco.

― Certo. Vou falar com o Líder.


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Notas finais do capítulo

E então, opiniões sobre o capítulo? Erros de ortografia? Por favor, me falem sobre!

Leitores fantasmas, mostrem suas caras! A opinião de vocês é importantíssima e eu ficaria muito feliz de lê-las.

Um beijo e até breve. ♥



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