Broken Strings escrita por liligi


Capítulo 21
Capítulo 21




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/62142/chapter/21

Capítulo 21 – Decisão

– NÃO! NÃO! NÃO! - Riza gritava para o telefone, sem que houvesse ninguém na outra linha para ouvi-la. As lágrimas inundavam seu rosto. Não sabia o que pensar ou o que dizer, tudo o que tinha na cabeça eram as palavras daquela mulher, e um medo que ela jamais imaginou sentir antes. O medo de perder seu filho.

– Riza, o que houve? Riza! - Patrick indagou desesperado, tentando segurar a mulher fora de controle. Enfim, tomou o telefone e o levou ao ouvido, não escutou nada. Colocou-o de volta no lugar e segurou a primeiro tenente pelos dois braços, virando-a para ele. - O que aconteceu? Conte-me!

– Ela descobriu tudo - Riza disse, os olhos vermelhos e arregalados, o rosto marcado pelas lágrimas que ainda caiam sem controle. Patrick olhava para aquela mulher que se parecia com a mulher que ele amava, mas que tinha ações completamente diferentes, para logo depois entender o motivos de ela estar assim, e para também sentir o mesmo medo que ela. - Rachel... Ela...Ela está com Jamie.

– O que? - Ele disse, ainda tentando assimilar as palavras.

A porta abriu e um Roy Mustang completamente desesperado entrou. Ele olhou para Riza e parou no meio do caminho. Ela se pôs de pé, ainda a chorar, e, sem se mover, contou-lhe o que acabara de acontecer.

– Rachel está com Jamie. - Ela disse, antes de desfalecer.

Roy cruzou o espaço que os separavam e pegou nos braços antes que ela atingisse o chão. Patrick correu para perto dela, e percebeu que o alquimista não estava num estado tão diferente do de Riza. Os olhos também estava vermelhos, os cabelos bagunçados e a respiração pesada e entrecortada.

– Sua mulher acabou de ligar - O Tenente disse sentindo uma raiva ferver em seu estômago. - Ela pegou Jamie!

– Eu sei - Roy disse, segurando a cabeça da loira.

– O que está havendo aqui? - Kent e Adam passaram pela porta que Mustang deixara aberta e se depararam com a cena.

– Isso é tudo culpa sua! - Patrick disse acusadoramente para Roy. - Você não deveria ter feito isso a ela, não enquanto ainda estivesse casado. Agora a sua maldita mulher levou o Jamie!

– Eu sei, EU SEI. - Roy disse. A culpa o consumia. Após ter ligado para sua casa e confirmado que Rachel não estava lá, ele resolveu ir pegar Jamie na casa da Sra. Morris. Qual sua surpresa ao descobrir que sua secretária, Rachel, havia passado lá e pegado o menino sob suas ordens... Ele então foi imediatamente para o QG.

Pegou Riza em seus braços e carregou até a enfermaria, ignorando às perguntas insistentes de Kent. Sentia um misto de emoções -- todas ruins: medo, angústia, raiva, ódio por si mesmo, e acima de tudo, culpa. Era culpa dele que tudo aquilo estava acontecendo. Ele não devia ter voltado à Cidade do Leste antes de terminar seu casamento com Rachel oficialmente. Agora ela levara seu filho, e só Deus sabia do que ela era capaz.

Ao chegarem à enfermaria, ele deitou a loira em uma das camas disponíveis e uma enfermeira logo foi ao socorro dela. Bastou ele soltá-la para que Patrick, num ato impensado, desferisse um soco contra o alquimista, que foi totalmente pego de surpresa. Kent, que viera logo atrás com suas perguntas sendo ignoradas pelos dois homens, correu e segurou Patrick, enquanto Adam, incerto, correu para tentar conter Mustang, antes que esse fosse retribuir a agressão.

– JÁ CHEGA!- Kent gritou enquanto os dois homens se debatiam para soltarem-se. - PAREM COM ISSO AGORA E ME DIGAM O QUE ESTÁ ACONTECENDO.

– A MULHER DESSE CANALHA SEQUESTROU O FILHO DE RIZA - Patrick disse ainda colérico.

Meu filho. - Roy rebateu e um silêncio se instalou na sala. Todos olhavam para ele, e, pela primeira vez, pareciam perceber a semelhança entre Jamie e o alquimista.

– Oh, meu Deus... – Kent disse, perplexo. A ficha agora caia. Era muita informação de uma vez. Roy Mustang, pai da criança que Riza tivera pouco depois de chegar ali, e agora, a criança estava perdida, nas mãos de uma mulher que provavelmente procurava vingança.

Patrick pretendia dizer muitas, muitas mais coisas para Roy. A voz de Riza fez com que todos voltassem à atenção somente para ela.

Ela abriu os olhos lentamente, esperou-os focar e virou-se para os ocupantes da sala. Sua mente deu um estalo, e já com lágrimas nos olhos, ela perguntou:

– Me digam que não é verdade...

* * *

Riza não chorou por muito mais tempo. Ainda estava desconsolada, mas a perplexidade foi substituída por determinação. Os melhores militares daquele quartel agora se preparavam para localizar Rachel e Jamie, e para trazer o menino para casa salvo. Tanto Riza quanto Roy se recusavam a sentar e assistir, queriam resgatar seu filho o mais depressa possível.

E, apesar de toda a tensão, as fofocas já se espalhavam por todo Quartel. De como a esposa do famoso alquimista do fogo descobriu que ele a havia traído com a Tenente Hawkeye, e, como vingança, ela raptara o menino. E mesmo que a maioria das pessoas não sentisse um pingo de afeição pela mulher que, muitas vezes, fora fria e distante, todos estavam dando seu apoio a ela, que agora não passava de uma mãe desesperada para ter seu filho de volta.

* * *

Rachel observava o menino atentamente enquanto ele se deliciava com seu sundae de chocolate e menta. Seu pensamento vagava. Ah, como ela daria qualquer coisa para ser uma mosca e ver o que estava acontecendo com a loira sonsa. Será que ela já havia dito a Roy o que acontecera? Se sim, ele devia estar irado e isso a fazia feliz. Sabia que devia ter medo do famoso Alquimista das Chamas, mas não tinha. Afinal, o que ele ia fazer? Transformá-la numa tocha humana na frente do filho?

Estava tão absorta em seus pensamentos que não notou que o menino a encarava há algum tempo.

– O que foi, Jamie? - Ela perguntou.

– O Roy não vai vir? - Quis saber.

– Quando liguei ele disse que talvez fosse demorar mais, querido. - Ela disse, segurando a mãozinha dele. - Mas não se preocupe, se ele não puder vir aqui, disse que vai pegá-lo no meu hotel para vocês saírem para jantar.

– Eu, ele e minha mãe? - Perguntou.

Ela sorriu falsamente e respondeu:

– Sim. Vocês três.

* * *

Riza andava de um lado ao outro da sala, incansavelmente. Havia mais de uma hora que Jamie estava desaparecido, mas para ela, parecia ter se passado um século inteiro. Seus nervos estavam à flor da pele, e ela já não sabia mais o que pensar. Tudo havia lhe passado pela cabeça, todos os cenários possíveis do que Rachel poderia estar fazendo a Jamie, e ela não conseguia não ficar angustiada.

A porta da sala foi aberta, fazendo com que Riza parasse de andar. Roy entrou sério e a passos largos de aproximou da loira. Sem perceber, ela havia prendido a respiração. Sua mente, tão racional como sempre fora, começou a procurar significados naquela situação – A postura do alquimista, seu olhar que aparentava ser duro demais, a respiração pesada, a forma rígida que ele se movia. O que tudo aquilo significava? Uma notícia ruim, talvez?

– Fale-me. – Ela quase implorou.

– Ainda não os encontraram – Roy falou controladamente. Riza não sabia de onde ele tirava suas forças naquele momento, pois ela – justo ela! – estava à beira de um colapso.

Ela deixou escapar um gemido agoniado. Não havia dor pior no mundo do que aquela, tudo o que ela queria, era ter seu bebê em seus braços novamente.

– Mas a inteligência está trabalhando para encontrá-los, Riza. – Riza disse por fim, soltando um suspiro de alívio. Perto da loira, ele tentava esconder seu real estado – o desespero e a angústia que ela sentia se refletiam nele, mas por ela, ele precisava manter a cabeça no lugar.

Riza o encarou com um olhar esperançoso e ele segurou a mão dela, depositou um beijo suave e a encarou com firmeza, assegurando-lhe que tudo daria certo. Que ele moveria céus e terra para isso.

* * *

– Riza – Mustang abriu a porta da sala novamente, mas não ultrapassou o portal. Ela se pôs de pé e encarou o semblante sério do alquimista.

As horas que haviam se passado até aquele momento pareciam ter passado como um borrão. Seus nervos estavam em frangalhos.

– Já sabemos onde a Rachel está hospedada. – Ela soltou o ar que havia prendido sem saber.

– E o Jamie?

– Não temos notícias ainda, ela não voltou ao hotel desde que saiu esta manhã. – Roy disse num tom controlado, embora ele mesmo estivesse uma pilha de nervos.

– E se ela não voltar? – A loira mordeu os lábios, sua voz tremia ao dizer aquelas palavras.

– Então eu vou caçá-la até o fim do mundo, se for preciso. Eu vou trazer nosso filho de volta. – Ele disse, tentando conter a raiva que sentia por Rachel. – Vamos.

Riza assentiu e o seguiu. Ela precisava se recompor, Kent não a deixaria colocar um pé para fora do Quartel se ela não o fizesse, e ela faria de tudo para ter seu filho de volta.

* * *

Patrick encarou Riza de longe. Um pequeno grupo havia sido formado para aquela tarefa com diferentes profissionais para lidar com a situação, pois, como Rachel não havia tentado contatar Riza ou mesmo Roy novamente, Kent escolhera os melhores entre seus homens, caso para negociar a liberdade de Jamie, ou para o caso de haver combate e também profissionais de buscas. Achar Jamie e recuperá-lo com vida era a prioridade.

Apesar de insistido, Kent proibiu Riza de participar de qualquer confronto e até mesmo de portar armas. Todos ali a conhecia como uma mulher calma e controlada, contudo, seu filho era o refém e as mães fazem o que podem para salvar suas crias. No entanto, Roy interviu e convenceu ao General a deixá-la ir com ele. Prometeu que iria garantir que ela ficasse no carro, e Kent, por fim, concordou.

Naquele momento, todos estavam em um hangar do Quartel do Leste, se preparando para partir. Patrick estava próximo ao veículo no qual iria junto com os outros três militares, enquanto Riza encontrava-se há alguns metros de distância, junto à Mustang e Kent. Por um breve segundo, a loira o encarou, e o rapaz apenas fez um gesto com a cabeça, tentando dizer-lhe que tudo iria dar certo, e que ele, também, faria de tudo para trazer o menino de volta.

Respirou fundo e exalou lentamente antes de entrar no carro, ao mesmo tempo em que ela, Mustang e Kent entraram no seu próprio. Naquele Momento, tudo que Patrick desejava é que os últimos meses não passassem de um pesadelo – Apesar de não poder culpá-lo, ele considerava Mustang responsável por tudo o que estava acontecendo. Se ao menos ele não tivesse entrado novamente nas vidas de Rachel e Jamie, o menino não estaria passando por aquilo.

* * *

Riza sentia-se como se estivesse sendo torturada. Exatamente como havia prometido, Roy havia assegurado que ela não deixasse o carro nem por um segundo. Quando chegaram ao hotel, ele e Kent entraram e informaram a situação ao dono, enquanto Patrick havia ficado lá para vigiá-la. Todas as suas armas foram confiscadas. Sua participação se resumia a ficar sentada ali, há metros da entrada do hotel, enquanto a ação se desenrolava.

Poucos minutos depois Roy voltou ao carro e dispensou Patrick. A equipe agora iria fazer uma varredoura pelo hotel e pelo quarto de Rachel. Pouco mais de meia hora depois, eles foram informados que ela realmente não se encontrava ali, mas alguns de seus pertences sim. Estes eram, no entanto, tão sem valor que ela podia simplesmente tê-los deixado ali apenas para confundir os militares.

Apenas para garantir, Kent então deixou seus homens de vigias no hall e corredor do quarto da mulher de Mustang. Se, por algum motivo ela retornasse, eles estariam prontos para pegá-la.

Os olhos de Riza estavam fixos no hotel. Ela estava nervosa. Roy não lhe dizia todas as informações, e isso a deixava irritada e ainda mais angustiada. Como queriam que ela ficasse ali, apenas observando? Era o filho dela que havia desaparecido, caramba! E era por tudo culpa dela... Se não tivesse sido fraca e se envolvido novamente com Roy, nada disso estaria acontecendo ao seu menininho.

Vendo o estado em que a loira estava – se ele, que estava participando da ação estava nervoso e preocupado, não queria imaginar como sua Riza estava... -, Roy pegou a mão dela na sua e apertou. Ela o encarou com olhos cheios de preocupação. Ele entrelaçou seus dedos e depositou um beijo suave na mão dela, querendo, de alguma forma, tranquilizá-la.

– Nós vamos encontrá-lo, Riza. – Mustang falou, encarando intensamente aqueles olhos de rubi. – Ele vai ficar bem.

– Eu quero acreditar nisso... – Ela murmurou tentando segurar as lágrimas que ameaçavam fugir.

– Acredite.

Ele disse, segurando o queixo dela. – Não vou deixar a Rachel machucar nosso filho.

Ela sorriu e se inclinou na direção dele, mas parou a poucos centímetros de seu rosto para encará-lo. Como ela poderia tê-lo negado antes? Ela o amava demais para deixá-lo sair de sua vida novamente. Roy mostrou-lhe um de seus sorrisos tortos antes de puxá-la e colar seus lábios.

– Vamos, eu vou te levar pra casa – O alquimista falou após se separarem. Riza abriu a boca para protestar, mas ele rapidamente a cortou. – Não há nada que você possa fazer aqui ou no Quartel. Você está muito nervosa, Riza, precisa descansar.

Ela balançou a cabeça negativamente de forma raivosa. Ela não queria ir pra casa. Não iria conseguir dormir. Não iria conseguir fazer nada além de pensar no filho.

– Entenda que isto não é uma discussão – Ele disse sério. – Você vai pra casa. Patrick ficará com você – Fez uma careta. – e lhe avisará assim que soubermos algo sobre o Jamie.

* * *

Rachel observou o pequeno Jamie encarar a porta pela ultima hora, esperando Roy chegar, sem saber que eles não chegariam. Àquela altura, Roy e sua vadiazinha já deviam estar atrás dela e do menino, mas ela não daria a chance de eles revê-lo novamente. Ela havia planejado tudo. Iria fugir com o menino para bem longe, iria ficar com ele, já que não conseguiria matá-lo.

Ela se levantou e pagou pelo o que fora consumido e voltou à mesa, parando ao lado da criança.

– Acho que ele realmente não poderá vir, Jamie – Ela disse, tentando parecer triste. O menininho parecia decepcionado.

– Tem certeza?

– Está ficando tarde, querido. – Ela disse. – Ele provavelmente teve algum problema no Exército, mas vamos, vou levá-lo para o hotel e ele e sua mãe irão pegá-lo daqui a pouco, sim?

Jamie assentiu e se levantou. Roy havia lhe deixado de lado pela segunda vez naquele dia. Talvez algo ruim estivesse acontecendo, por isso nem ele ou sua mãe haviam ido lhe pegar com aquela moça que ele nunca havia visto, mas de toda forma, ele queria que os dois compensassem e o levassem para passear no fim de semana.

Rachel precisava agir rápido, agora. O carro que estava naquele momento era alugado e ela tinha certeza que os militares iriam rastreá-la por ele. Ela apenas iria para o hotel pegar suas coisas e, de lá, iria embora o mais rápido possível. Ela havia conseguido documentos falsificados para ela e para o menino, assim, dificultaria o trabalho de Mustang. Era tudo uma questão de tempo, agora.

* * *

Roy resolveu pegar um caminho diferente para a casa de Riza. Queria dar um tempo para que a raiva da loira diminuísse. Ele sabia que a ideia de afastá-la completamente da missão que haviam montado a deixava furiosa, mas seria melhor que ela estivesse na segurança de sua própria casa.

Patrick dirigia um pouco à frente deles. Roy apenas concordou em deixá-lo ficar sozinho com Riza na casa dela porque não queria que a loira saísse sozinha em busca do filho, e, apesar da ideia não o agradar, ele sabia que o rapaz era eficiente e iria protegê-la de fazer alguma estupidez.

Riza olhava através de sua janela, com os pensamentos distantes. Não gostava da ideia de Roy. Não queria ficar presa dentro de sua própria vontade quando ela poderia estar ajudando na busca por Jamie. Odiava não saber nada de seu filho e mais ainda estar à mercê de seus próprios sentimentos.

Ela respirou profundamente e balançou a cabeça. Tinha que se manter forte. Precisava reunir forças para o que quer que fosse acontecer dali em diante. Fixou os olhos no carro de Patrick, que estava bem à frente, e só então notou uma sorveteria nova na rua.

Roy havia lhe falado do lugar, e tinha dito que levaria ela e o menino ali no fim de semana, e de como ele havia dito que seria um dia para passar com a família. Riza sentiu uma pontada no peito ao lembrar-se do quanto seu filho adorava sorvete de chocolate.

Estava prestes a desviar o olhar do lugar, quando avistou um emaranhado de cabelos negros saindo de dentro da sorveteria.

– Para o carro, Roy – Ela disse para o alquimista.

– O que?

– PARA! – Ela gritou e o moreno imediatamente pisou no freio.

Com o coração batendo num ritmo acelerado, Riza voltou a fixar o olhar na criança. Ele estava de costas para ela, conversando com uma mulher que estava agachada de frente para ele.

– Riza, o que...? – Roy começou sua pergunta, ao mesmo tempo em que seguia o olhar de sua amada.

– Jamie... – Ela murmurou quando o menino se virou e ela finalmente pôde ver o rosto dele. Não havia mais dúvidas.

– Riz... – Roy virou-se, atônito e temeroso, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa para a tenente, ela abriu a porta do carro e correu. – Droga, Riza!

– JAMIE! – A loira gritou enquanto corria em direção ao seu filho. Sentia seu coração bater violentamente contra suas costelas e, apesar de saber que estava se mexendo, ela não sentia suas pernas. Tudo o que ela via era seu filhinho a alguns metros de distância.

Por um breve instante, Rachel sentiu seu sangue gelar, mas não pretendia morrer na praia. Com um rápido movimento, a morena puxou Jamie para junto de si com uma mão, e com a outra retirou uma arma que tinha escondida em seu casaco, e então a colocou contra a têmpora do menino. Riza parou no meio do caminho.

– Mamãe... – Jamie falou assustado, ele não entendia o que havia acabado de acontecer.

– Solta ele! SOLTA ELE AGORA! – Riza gritou desesperada e Rachel apenas puxou o menino para mais perto. Seu pai havia lhe ensinado a usar uma arma, mas a mulher à sua frente era a melhor atiradora de elite do país, sua única cartada era ameaçar tirar da loira o que ela tinha de mais precioso.

Algumas pessoas que estavam dentro da sorveteria, ao ouvirem a confusão, saíram, e se assustaram com a cena.

– Não ouse tentar nada – Rachel disse. – Posso não ser a melhor atiradora, mas não acho que seu pequeno tesouro sobreviveria a uma bala colocada na cabeça dele a esta distância.

– Rachel... – Roy parou ao lado de Riza e engoliu em seco. Aquela era a situação que ele queria evitar que acontecesse, mas ele agiu tarde demais. – Rachel, por favor, vamos conversar.

A mulher riu sem humor e balançou a cabeça.

– Agora você quer conversar – Ela disse enquanto continuava a rir. – Fomos casados por quatro anos e você nunca quis saber disso. Mas agora... Agora tudo mudou, não é mesmo? Agora a preciosa vida do bastardinho está em jogo, não é mesmo? Agora você acha que temos que conversar, não é isso, Roy?

– Eu sei que fui um péssimo marido, Rachel, mas, por favor, o Jamie não tem nada a ver com isso. Vamos nos resolver, eu e você apenas, pode ser?

– Não me faça rir, Roy. – Ela disse com desprezo. – Acha mesmo que eu vou cair nessa? Você me considera tão burra assim a ponto de cair nessa conversa? O menino é minha garantia. E minha vingança. É por ele que você vai sofrer. Você e sua vadiazinha aí.

– Eu quero ir pra minha mãe, tia Rachel. – O menino disse aterrorizado. Sempre que o menino tentava se mexer, a morena apertava mais seu aperto. – Pede pra ela me soltar Roy. Pede, mamãe!

– Meu filho... – Riza disse, sem saber o que fazer... Caso tivesse uma arma ali, ela poderia ser mais rápida que Rachel – atirar nela, antes que ela tivesse tempo de atirar em Jamie, mas Riz estava indefesa. Ela sabia que qualquer movimento errado, poderia custar a vida do menino.

– Vai dar tudo certo, campeão. – Roy falou, sem tirar os olhos de sua mulher.

– Por que você tá fazendo isso, moça? Você não é amiga do Roy e da minha mãe? – O menino indagou.

– Desculpe-me, meu amor – Ela disse com uma voz doce. Ela havia gostado bastante do menino, ela poderia amá-lo, poderia criá-lo como seu filho, se houvesse tido tempo para fugir. – Não é nada contra você, eu juro. Mas seu pai e sua mãe me magoaram muito, e eles precisam pagar de alguma forma.

– Meu pai... – Jamie ecoou, confuso. – Você conhece o meu pai?

Rachel lançou um olhar de pena para o menino e então se voltou para os dois a sua frente e sorriu maliciosamente.

– Já chega!– Riza falou. – Solte-o, Rachel. Ele não tem nada a ver com isso, é conosco que você quer se acertar. Fomos nós que lhe fizemos mal, não o Jamie. Deixe-o fora disso!

– Vocês realmente se merecem, não é mesmo? Dois canalhas hipócritas. – Ela disse tranquilamente, mas sua voz derramava veneno. – Passaram anos tendo um caso, mesmo após eu e Roy nos casarmos, e, ainda assim, esconderam a verdade do pobre menino. – Ela agachou-se um pouco e falou para Jamie – É isso mesmo, meu bem, Roy é seu papai.

Jamie encarou Roy e depois voltou seu olhar para a mãe. Ela estava atônita. Riza fez menção de se aproximar de Rachel, mas a mulher deu alguns passos para trás e voltou a encostar a arma contra a cabeça do menino.

– Não ouse se aproximar. – Rachel disse.

– Solte o meu filho – Riza rosnou.

– Ou o que?

– Eu vou matá-la. Mas antes disso, eu a farei sofrer por causa disso.

– Riza, não! – Roy a advertiu e segurou-lhe fortemente pelo braço. Ele nunca havia visto a loira tão enfurecida em toda sua vida.

– Oh, deixe-a, Roy. – Rachel provocou. – Quero ver se ela quer realmente arriscar a vida do filho tentando.

– Você não vai atirar nele, Rachel, você não é assim, você não é uma pessoa ruim – Roy argumentou. Ele estava tão indefeso quanto Riza. Não poderia usar sua alquimia, uma vez que sua esposa segurava Jamie muito próximo de seu corpo. Caso tentasse incinerá-la, acabaria condenando seu filho.

– Você não me conhece, Mustang. – Ela disse. – Não me conhecia enquanto morávamos sob o mesmo teto, e definitivamente, não me conhece agora. Você me forçou a mudar. Você me tornou o que eu sou hoje.

Rachel engoliu o nó que se formava em sua garganta. Estava tentando lutar, mas não conseguia impedir as furtivas lágrimas de caírem. Lágrimas de mágoa, de dor, de desesperança, especialmente. Há alguns dias atrás, ela não era uma assassina, mas Roy a havia transformado numa. Ele havia feito o pior lado que uma mulher pode ter vir à tona.

– Ela pode atirar em mim e você pode me colocar em chamas, mas, se o fizerem, eu levo o menininho de vocês junto comigo. – Ela disse enquanto puxava a trava de segurança da arma. – Eu falo sério.

– MAMÃE! – Jamie chorou, tentou se mexer, mas Rachel o apertou com força e enfiou suas unhas no braço dele.

– Ora, meu bem, não faça isso, certo? Ou eu não irei deixá-lo conversar uma última vez com seus pais. – Rachel disse, com o olhar fixo em Riza que já não conseguia controlar as lágrimas.

– Rachel, eu sei que você não quer fazer isso. – Roy disse o mais calmamente que pôde.

– Você tem razão, Roy, eu não quero. – Ela disse. – Se vocês não tivessem nos achado, eu teria simplesmente levado o menino embora. Você sabe como eu sempre quis ter um filho...

– ELE NÃO É SEU FILHO... – Riza tentou avançar, mas foi novamente impedida por Roy.

– Acalme-se, Riza! – Roy falou, segurando-a. – Não faça nada que possa se arrepender.

– Você devia ouvi-lo, Riza – Rachel colocou todo o ódio que possuía no nome da loira. – Ele é seu Coronel, não é? Mesmo depois de todos esses anos, ele ainda é seu Coronel.

– Por favor, tia Rachel, deixa eu ir pra minha mamãe... – Jamie choramingou, mas dessa vez não fez nenhum movimento.

– Desculpe-me, lindinho, eu sinto muito mesmo, mas não fazer isso. – Ela falou. Estava de coração partido, mas ela faria o que tinha de fazer. – Seus pais têm que pagar.

– O Roy não é meu pai – Jamie disse entre soluços. – Ele trabalha com a minha mamãe, só isso.

– Vocês dizem que eu sou cruel, mas vocês tem enganado o pobre menino a vida toda. – Ela disse, e então se voltou novamente para o pequeno. – Por culpa deles você nunca teve um pai para brincar com você, ou para deixá-lo na creche, Jamie, ou para ensiná-lo a jogar bola ou até mesmo a ler. Roy e sua mãe são pessoas más.

– Não, não é verdade... – Jamie murmurou.

– Sim, meu pequeno, é sim. – Ela continuou. – Roy se casou comigo, e me traiu com sua mãe, e você nasceu.

– Já chega, Rachel. – Roy disse raivosamente. Jamie o olhava confuso e o alquimista sentiu seu peito doer com aquele olhar.

– Roy sabia de você, mas nunca te quis como filho dele. É por isso que eles não te contaram.

– PARE DE CONTAR MENTIRAS AO MEU FILHO. – Riza gritou desesperada. Ela via a dúvida e a dor crescer por trás dos olhos negros do menino e naquele momento ela odiou Rachel com todas suas forças.

Rachel apertou seu braço ao redor do pescoço do menino, sufocando-o. Ela já estava cansada daquilo tudo. Sabia que levar Jamie dali com vida seria o único jeito de ela própria viver, mas ela não queria. Não queria mais viver. A única coisa que ela queria, era ver os dois sofrerem naquele momento. Queria causar-lhes a maior dor da vida de ambos.

– Deem uma última olhada no fruto do pecado de vocês. – Ela disse, sentindo algumas lágrimas escorrerem por seu rosto.

– Não – Riza murmurou.

Os dedos trêmulos de Rachel se fechavam sobre o gatilho.

– Não... – Riza empurrou Roy.

– Rachel... RACHEL! – Roy entrou em desespero. Ele havia visto todo tipo de pessoas em sua vida, em especial, muitos psicopatas, e Rachel tinha aquele olhar, se ele ao menos pudesse...

Então, o barulho ensurdecedor da arma, que ecoou no silêncio que durou apenas alguns segundos.

Logo gritos ecoaram pela rua pacata, as pessoas dali, que antes haviam se escondido para não se envolverem na situação, começaram a correr para fora da sorveteria, e paravam no meio do caminho ao confirmar a tragédia.

Riza estava estática no meio da pista. Poucos metros a separavam da calçada da sorveteria, mas ela não conseguia mover um músculo. Seus olhos estavam marejados e sua voz havia se perdido em sua garganta.

Ao longe, ela observou, em choque, Jamie coberto de sangue e com os olhos arregalados com o medo estampado neles. No chão, ao lado o menino, jazia o corpo de Rachel. As vestes da mulher estavam agora manchadas de sangue, este que escorria de um pequeno buraco no meio de sua testa.

A loira, se sentindo confusa, olhou do seu filho para o vulto atrás dele. Patrick estava parado, encarando a arma em sua mão, tão atônito quanto a própria Riza.

* * *

O tenente havia ido à frente de Mustang e Riza e demorou um pouco a perceber que o carro do alquimista não estava mais em seu encalço. Imediatamente, Patrick deu a volta e se deparou com a cena logo a sua frente, em que Rachel tinha Jamie como refém. Seu corpo agiu antes que ele pudesse pensar, num piscar de olhos Patrick tinha sua arma em mãos e, sem perder um segundo sequer, ele apertara o gatilho.

Ele ouviu o barulho e sentiu o coice de sua arma, mas ele se sentia distante de tudo aquilo. Patrick viu a bala atravessar a cabeça daquela mulher, que ele só podia imaginar ser a esposa de Mustang, e viu o corpo dela desabar para o lado.

O tempo parecia ter parado por um momento. Com o canto dos olhos, Patrick viu algumas pessoas se amontoarem na porta da sorveteria, mas só ao ouvir o grito de Jamie que o tenente veio a si.

A partir daí, tudo passou a acontecer rápido demais. Riza correu até onde o pequeno estava e o pegou nos braços. Apesar do burburinho das pessoas que, cautelosamente, deixavam o interior da sorveteria, comentando suas teorias do que havia acontecido ali, bem diante deles, tudo o que Patrick podia ouvir era o choro de Riza misturado ao de Jamie.

xxx

Roy estacionou seu carro em frente à casa de Riza uma hora mais tarde. Estava exausto, mas tudo o queria naquele momento era ver seu filho. Pouco depois de Patrick ter atirado, a equipe de Kent chegou à sorveteria. O local foi cercado e as pessoas que se encontravam dentro do estabelecimento foram evacuadas.

Kent se aproximou de Mustang, que estava ajoelhado ao lado do corpo de sua esposa.

– Sinto muito – O general havia dito e colocou uma mão no ombro do alquimista.

– Eu também – O moreno respondeu e se pôs de pé. Apesar de não amá-la, ela ainda era sua esposa, e, apesar de ter sequestrado Jamie, Roy não achava que ela merecia ter morrido daquele jeito. O luto e a culpa estavam visíveis em cada canto de seu rosto.

– O gerente da sorveteria ligou para o quartel e informou a situação, deduzi que eram vocês. – Kent explicou. – Eu fico feliz que o menino esteja bem.

Roy imediatamente encarou seu filho. Ele estava nos braços de Riza, com a cabeça afundada no ombro dela, as pequenas pernas enlaçando o corpo da mãe, enquanto a loira o abraçava fortemente. Ele observou dois soldados guiá-los até um carro.

– General... – Kent começou e limpou a garganta. – Precisaremos de algum... Esclarecimento sobre a situação.

Mustang apertou a ponte de seu nariz, sentindo uma dor de cabeça começar a surgir.

– Sim, General Kent, eu sei disso, mas... – Ele começou e virou-se novamente em direção à Riza e seu filho.

– Eu sei que você desejar ficar perto deles agora, mas receio que precisarei do senhor aqui por enquanto. Liberei Hawkeye para que ela levasse o menino para casa e cuidasse dele.

Então ele ficou. Ele ficou lá quando levaram o corpo de Rachel. Ficou e explicou o que pôde, sem realmente dar os detalhes. Explicou que ele descobriu sobre o filho na primeira viagem que fez ao Leste, que ele voltava sempre para poder ficar perto do menino, que sua falecida esposa não sabia nada daquilo e que o ciúme a fez deduzir uma história, e que o mesmo ciúme a levou a fazer tudo aquilo.

Roy explicou tudo o que pôde, sentindo a culpa crescer por perceber que podia ter evitado tudo se tivesse agido de uma forma diferente e seu estômago afundou de vez quando Kent informou-o que o pai da mulher iria ser avisado do ocorrido logo. Porque o pai de Rachel era um homem poderoso dentro do exército e que amava a filha mais que tudo, Roy sabia aquela seria apenas o primeiro de dias difíceis que viriam.

E, quando finalmente terminou de dizer tudo que tinha a dizer, Roy saiu daquele lugar. Pegou seu carro e dirigiu para o lugar que havia lhe trazido paz durante todos aqueles meses. Só que agora a última coisa que ele sabia que iria encontrar dentro daquela casa era paz.

Respirou profundamente e deixou o carro. À passos lentos, ele se aproximou da porta, parando por um minuto no portal, de todos os sentimentos que ele experimentou naquela noite, o que ele sentia naquele momento se sobressaía: medo. Jamie agora sabia que ele era seu pai. Ele não queria que o menino descobrisse daquela maneira, e agora, ele se sentia aterrorizado por imaginar qual seria a reação do menino.

Ele então girou a maçaneta e empurrou a porta para trás. Não havia ninguém na sala, nem Patrick – que havia sido enviado para a casa vinte minutos antes dele --, então ele resolveu ir para o quarto de Jamie.

A porta estava aberta e, estando a apenas alguns passos de distância, ele pôde ver mãe e filho lá dentro, abraçados.

– Jamie... – Roy disse adentrando o cômodo. O menino soltou-se da mãe e se virou. Riza havia lhe dado um banho e trocado as roupas, mas o estresse dos acontecimentos ainda estava visível nos olhos negros, que eram idênticos aos seus próprios.

– O que você quer? – Jamie disse agressivamente, surpreendendo Roy, fazendo-o parar onde estava.

– Eu vim ver como você está, campeão.

– Eu não quero falar com você, vai embora!

– Não fale assim com ele, Jamie – Riza ralhou, dando uma leve apertada na mão da criança.

– Eu não quero falar com ele, mamãe ele mentiu pra mim! – O menino disse a mãe, sua voz carregada de mágoa e raiva. – Manda ele sair, por favor.

– Jamie... – Roy começou. Não sabia o que dizer ou o que pensar. Sentia-se magoado com a reação do menino.

– NÃO! – O pequeno berrou enquanto algumas lágrimas brotavam e escorriam por sua face alva. – Eu não quero saber de você!

Jamie voltou a abraçar a mãe, o choro havia se intensificado e agora ele já soluçava. Ao voltar a falar, sua voz saiu entrecortada.

– Diz que não é verdade, mamãe, diz que ele não é meu pai.

Riza congelou. Por quatro anos ela havia evitado falar para Jamie sobre o pai dele, mas não havia mais para onde fugir. Ela olhou para Roy, sem saber o que fazer, e ele parecia tão surpreso e perdido quanto ela. Ela soltou o menino de seu abraço e tirou a franja que já caía em seus olhos e acariciou seu rosto.

– Ah, meu bem... – Foi só o que ela conseguiu dizer antes de sua voz partir. Em sua cabeça havia um turbilhão de pensamentos que ela não conseguia colocar em ordem.

– É verdade, mamãe? – O pequeno indagou após o curto silêncio da mãe, mas a resposta veio do homem que estava um pouco atrás deles.

– Sim. Eu sou seu pai, James.

Jamie olhou da mãe para Roy por um momento, os dois tinham expressões parecidas, ambos pareciam visivelmente angustiados e nervosos e a resposta que lhe foi dada demorou um pouco a ser digerida.

– Vai embora. Vai embora, Roy! VAI!

– Filho...

– Vai, eu não quero falar com você! Você mentiu pra mim. Aquela moça falou a verdade, você não! Você abandonou eu e a mamãe, você fez ela chorar, sai daqui!

– Roy – Riza se pôs de pé e olhou para o moreno seriamente. – Pode nos deixar a sós? Por favor.

O alquimista abriu a boca para discutir, mas a fechou imediatamente. Ele não tinha forças para discutir naquele momento, então apenas confirmou com a cabeça e deixou o quarto. Riza esperou que ele sumisse de vista para sentar na cama e sinalizar que o pequeno fizesse o mesmo.

– Jamie, temos que conversar sobre... o seu pai. – Ela disse, encarando o filho nos olhos. Ele o menino apenas balançou a cabeça vigorosamente e murmurou um “não”, mas Riza teria que ir até o fim com aquela conversa. Ela segurou o rosto dos filhos em suas mãos. – Sim, James, nós vamos.

– Por quê? Você ficou triste por causa dele, mamãe, eu lembro. – O pequeno disse choroso. – Ele abandonou a gente, a moça falou a verdade.

– Não, meu filho... – Ela disse pacientemente. – A moça, Rachel, ela não sabia da verdade, não toda.

– Sabia sim! Ela sabia que o Roy era meu pai. Ele mentiu pra mim, mamãe! – Jamie insistiu e Riza teve que soltar o ar lentamente de seus pulmões. Quando ela voltou a se relacionar com Roy sabia que uma hora teria que ter aquela conversa com Jamie, mas não imaginou que seria naquelas condições ou que ela teria que fazê-lo sozinho.

– Meu amor, você confia na mamãe? – Ela perguntou, ela agora segurava as mãozinhas do filho entre as suas, e ele confirmou com um aceno de cabeça. – Então me escute, está bem? Aquela moça não sabia da verdade, não de toda ela. A mamãe sabe.

Ela fez uma pausa esperando que o menino dissesse algo, mas ele não disse. Ela conjurou coragem de algum canto escondido de sua mente para continuar, para explicar o que ela tinha feito; como ela tinha separado pai e filho...

– Aquela moça, de mais cedo... Ela era a esposa do Roy. – Riza fez uma pequena pausa antes de continuar. Ela sentia suas palmas suarem. – Antes dos dois se casarem, eu e seu pai... Nós... ahn... Namoramos. Mas eu me mudei pra cá, um pouco antes do casamento.

As memórias agora passavam pela mente de Riza, como um filme. A noite em que ela jogou sua razão para o alto e se permitiu sentir com toda a intensidade o amor que nutria pelo alquimista por tantos anos.

– Alguns meses após eu chegar aqui, meu bem, eu descobri que estava grávida de você. – Ela sorriu com a lembrança do médico dando-lhe a notícia. – Foi o dia mais feliz da minha vida, meu pequeno James.

Ela olhou para o filho com carinho e ela sorriu de volta. Aquele sorriso que a fizeram suportar todas as adversidades durante aqueles anos. Aquele menino era o motivo de ela jamais se arrepender de ter cedido a seus sentimentos.

– Só que... Quando eu descobri que teria você, Roy já estava casado.

– E por que ele casou, mamãe? – Jamie a interrompeu. Ela podia ver a dor e a traição transparecerem por aqueles olhos que ela tanto amava. – Por que ele não ficou com a gente? Ele não me quis?

Riza não gostava de parecer fraca. Detestava chorar. Mas naquele momento, ela não conseguiu evitar que as lágrimas vertessem.

– Não é isso, meu amor. – Ela disse. – Eu não contei para o Roy que ele seria pai.

O silêncio dominou o quarto. Ela olhava para o filho com expectativa, mas ele ainda parecia estar processando a informação.

– Você não contou? – Riza negou. – Eu não to entendendo, mamãe.

– James, o Roy não sabia que era seu pai até alguns meses atrás. – Ela disse. – Eu não contei a ele que você era nosso filho.

Jamie encarava a parede atrás de Riza, pensativo. Ela estava preocupada, queria saber o que se passava na cabeça de seu pequeno.

– Você lembra quando o conheceu? – Ela perguntou e ele voltou sua atenção para a mãe novamente.

– Lembro. Ele me pegou na creche e me levou pra tomar sorvete.

– Ele descobriu que era seu pai naquele dia, meu amor. E ele queria te contar, mas eu não deixei.

– Ele queria? – Parecia que era informação demais para o menino, mas ele tinha que saber a verdade. Que Roy não tinha culpa alguma na falta de uma figura paterna na vida do menino, mas que ela tinha.

– Eu fiz o que fiz para te proteger. – Riza disse, uma nova enxurrada de lágrimas escorrendo por seus olhos. –Você é muito novo para entender meus motivos, mas eu espero que você me perdoe por isso, meu filho.

– Mas o Roy... – Jamie disse lentamente, como se as peças do quebra-cabeça finalmente estivessem se encaixando e sua mente pueril. – Ele sempre vinha me visitar, e brincava comigo, e me levava pra passear, mamãe. E você deixou.

No meio das lágrimas, surgiu um sorriso. Seu filhote era tão esperto! Ela esquecia isso, às vezes, que, mesmo tão novo Jamie era um menino extraordinário.

– A verdade é que seu pai estava lutando para ficar ao seu lado, meu bem. Ele queria de qualquer maneira que você soubesse a verdade.

– E por que ele não me contou?

– Ele ia. Nós íamos contar. Logo. Algum dia.

Mais um silêncio. Mas Riza sentia que, aos poucos, a raiva do menino passava. Ela não sabia a extensão da mágoa que ele sentia ou como o que ela acabara de lhe contar afetaria o relacionamento dos dois, mas ela própria já sentia um grande peso diminuir de seus ombros. Ela disse a verdade e teria que aguentar as consequências de seus atos.

– Mamãe...

– Sim, meu bem? – Riza endireitou-se e esperou que o menino dissesse o que queria.

– Agora nós vamos ser uma família?

Riza gargalhou brevemente e abraçou o filho. Ela ainda não tinha parado para pensar no que aconteceria a seguir, mas, ao Jamie trazer isso à tona, ela percebeu o óbvio: Rachel não era mais um empecilho entre ela e Roy. Jamie havia a feito perceber que, apesar de tudo, havia uma esperança.

xxx

Roy sentia seu estômago revirar em agonia. Ele deixou o quarto de Jamie sentindo como se ele próprio tivesse levado um tiro, ao invés de sua falecida esposa, e que a dor agora se espalhava para cada centímetro de seu corpo, mas se concentrava em seu coração.

Após conversar com Jamie sobre o “pai” dele, Roy havia entendido que não seria nada fácil fazer o menino aceitá-lo, e, durante aqueles meses, ele estivera mais que disposto a batalhar pelo amor do menino, para que, em algum ponto, ele pudesse dizer a verdade, dizer que era o pai dele.

Só que Rachel mandou tudo pelos ares. Apesar de não ser seu objetivo, contar a verdade, da qual Jamie estava preparado para ouvir, nem ele próprio e Riza estavam prontos para contar, havia causado muita dor.

Se sentindo perdido, ele andou pela casa sem saber onde parar ou se sequer conseguiria ficar parado, mas, ao chegar à cozinha, encontrou um cenário que o fez parar.

Patrick estava com os cotovelos apoiados sobre a mesa e segurava a cabeça em suas mãos. As costa entregavam o quão tenso o rapaz estava e sua farda azul royal continha pequenas manchas escuras na parte da frente.

Sangue, Roy percebeu.

– Patrick – O alquimista pronunciou, assustando ao rapaz que levantou a cabeça assustado.

– General – ele se pôs de pé atrapalhadamente e bateu continência ao superior.

– Como você está se sentindo? – Roy perguntou, e, ao julgar o semblante cansado e atormentado do jovem tenente, ele já sabia a resposta.

Inicialmente, o mais novo se surpreendeu com a pergunta. Logo em seguida ele riu, mas não havia um pingo de humor em sua voz.

– Eu imagino que eu devo estar parecendo destruído – Ele disse, encarando um ponto qualquer na parede oposta. – E, bem, eu me sinto exatamente assim.

– Você nunca tinha matado ninguém, não é mesmo? – Roy concluiu e a resposta foi quase inaudível.

– Não, nunca.

Um silêncio melancólico recaiu sobre o lugar. Apesar de aquele homem ser o assassino de sua esposa, e de também ser seu concorrente, Roy, naquele momento, só sentia gratidão. Todos conheciam sua arrogância, mas naquele momento, o alquimista teria que se desfazer dela.

– Patrick... – Ele disse e pigarreou, atraindo a atenção do tenente. – Eu... Bem, queria me desculpar pela forma como agi com você nos últimos meses. E queria agradecer por ter salvado a vida do meu filho.

Patrick arregalou os olhos e rapidamente se recompôs, levantou seu queixo de forma orgulhosa antes de responder.

– Quanto ao seu pedido de desculpas... – Ele começou. – Não tem o que perdoar. Eu agi de forma similar a sua, afinal, estávamos brigando pelo coração da mesma mulher.

Roy trincou os dentes. Não era o que ele esperava ouvir, mas, pelo menos, o rapaz não era um ingrato e reconheceu que também havia errado.

– E quanto ao Jamie – Patrick continuou. – Bem, apesar de você ser o pai biológico do menino, eu o amo como se fosse meu filho. E eu mataria de novo e de novo, se isso fosse necessário para mantê-lo protegido.

– De qualquer forma, obrigado. – Roy disse.

– Roy.

O moreno se virou ao ouvir a voz de Riza, e a encontrou parada no portal da cozinha, de mãos dadas com Jamie, que encarava o chão. Ele sentiu seu coração acelerar. Não sabia o que esperar daquela reunião, mas temia a falta de contato visual do filho.

Mãe e filho se aproximaram, parando a dois passos de distância de Mustang. Notando o estado do moreno, Riza sorriu discretamente, esperando que aquele gesto ajudasse a acalmá-lo.

– Jamie e eu conversamos... Eu o contei tudo. - Riza explicou, enquanto soltava a mão do menino. Roy se agachou para ficar na altura do menino, que ainda evitava olhar para ele.

– Jamie? – Ele indagou, esperando obter alguma reação do menino. Roy sentiu um calor se espalhar em seu peito quando o menino timidamente o encarou.

– Mamãe disse que aquela moça mentiu pra mim. – O pequeno disse lentamente. Ainda não sabia exatamente como se sentia, era tudo muito novo pra ele, mas ele acreditava em sua mãe e no que ela havia dito. – Minha mãe disse que você queria me contar que é meu papai.

Roy não conseguiu conter que um sorriso se espalhasse em seu rosto. Ele olhou rapidamente para Riza e disse um “muito obrigado” silenciosamente. Sabia que o agradecimento era muito pouco, pois contar ao menino o que havia acontecido no passado requeria muita coragem.

– Desde o minuto que eu te vi, campeão. Eu queria que você soubesse que não há nada no mundo que eu mais queira do que ser seu pai. – Roy disse emocionado.

– E agora? – O pequeno perguntou, pegando o moreno de surpresa. Ele não compreendia a pergunta do pequeno. – Você vai morar com a gente? – O pequeno completou.

Roy riu de forma boba. Toda apreensão, angústia e incerteza havia se dissolvido numa alegria pura. O dia em que tudo podia dar errado parecia estar terminando exatamente como seus melhores sonhos terminavam. Com ele tendo Jamie e Riza do seu lado, felizes.

Sem conseguir mais se conter, ele puxou o filho e o abraçou fortemente. O primeiro abraço de “pai” que ele dava.

xxx

Roy abriu os olhos lentamente. O quarto estava escuro, então ele teve que piscar algumas vezes para ajustar sua visão. Ao seu lado, Jamie dormia profundamente, sua respiração leve e as mãozinhas sob a cabeça.

O alquimista sorriu. Apesar de todas as coisas ruins que haviam acontecido, seu menininho conseguia uma boa noite de sono. Ele só não podia dizer o mesmo de Riza. Roy não sabia há quanto tempo havia adormecido, mas lembrava da loira deitada do outro lado do filho antes disso acontecer.

Com cuidado para não acordar o filho, ele lentamente se arrastou para fora da cama, e saiu silenciosamente do quarto, deixando a porta entreaberta, para o caso de Jamie acordar e se assustar com o quarto vazio.

Desceu as escadas dois degraus de cada vez, e encontrou a porta da frente aberta. Encostada na bancada da varanda, Riza olhava distraidamente para o céu e não percebeu de imediato a presença do moreno.

– É um pouco tarde para ficar admirando as estrelas, não acha? – Ele disse num tom baixo. Sua voz estava rouca por causa do sono e Riza sentiu uma corrente elétrica percorrer seu corpo.

Ela não respondeu e ele não esperou um convite para se aproximar. Ele enlaçou a cintura dela por trás e beijou o topo da cabeça da loira, que logo em seguida recostou-se no ombro de seu General.

– Não consegui dormir – Ela murmurou. Apesar de todos aqueles e anos e de tudo pelo o que havia passado, ela ainda não gostava de expor seu lado frágil. – Toda vez que eu fecho os olhos...

– Eu sei. – Ele disse, após ela parar abruptamente. Sabia exatamente do que ela estava falando. Rachel e Jamie, aquele dia em que tudo pareceu se tornar o pior dos pesadelos. Ele não podia dizer que a entendia, pois, apesar de ser o pai de Jamie e de que Rachel era sua esposa, Riza tinha um laço muito mais forte com o menino que ele jamais conseguiria imaginar. – Eu também revivo tudo.

– Eu quase perdi meu filho, Roy... – Ela disse e engoliu em seco. Só o pensamento lhe causava uma dor imensa. – Eu nunca me senti tão impotente e vulnerável em toda minha. Nunca senti tanto medo.

Roy a apertou contra si. Ele sentia que ela tremia levemente e sabia que não era porque estava frio. Poucas vezes havia visto Riza chorar. Ela sempre fora uma fortaleza, seu porto seu seguro e vê-la daquele jeito partia seu coração, mas não disse nada. Naquele momento, o silêncio era mais útil que as palavras.

Alguns minutos depois, ela se afastou dele e virou-se para que ficassem de frente a frente. Ele podia ver os rastros que as lágrimas silenciosas de sua tenente haviam deixado e sorriu. Ele a amava porque, apesar de ela se achar tão forte e de se mostrar sempre tão séria, ele podia ver cada uma das fragilidades dela, e ele as entendia.

Roy se inclinou e sorriu ao ver que a loira imediatamente fechou os olhos, ele roçou seus lábios nos dela e a ouviu suspirar, e então a puxou num beijo terno.

– Eu te amo – ele sussurrou enquanto encaixava seu rosto na curva do pescoço da loira. Ficaram daquele jeito por alguns minutos até que ele se afastou apenas poucos centímetros e segurou o rosto dela. – Riza...

Ela esperou que ele dissesse algo, mas ele parecia não conseguir formular o que dizer. Estava um pouco tenso.

– Sim? – Ela incentivou.

– Você sabe que as coisas vão ficar complicadas agora... – Roy começou. – Minha posição atual no Exército foi resultado da manipulação do pai de Rachel, que está no conselho regulador. Os acontecimentos que levaram a morte da filha dele... Bem, ele vai querer me destruir.

Riza colocou sua mão sobre a dele que segurava seu rosto e a apertou. A brava tenente não se importava com o que poderia acontecer, ela estaria ao lado dele.

– Você e o Jamie são minha família – Os olhos cor de rubi dela estavam fixos nos orbes negras dele, unidos por um magnetismo que eles, por tantos anos, tentaram disfarçar. – Eu não vou abandoná-lo, Roy. Não de novo. Nunca mais.

– Mas não vai ser fácil.

– Não me lembro de nada em nossa vida que tenha sido. – Ela replicou. – Além do mais, - Ela disse, colocando os braços ao redor do pescoço dele. – Jamie jamais aceitaria ser afastado do pai novamente, e eu não permito que meu filho sofra.

– Você é a melhor. – Ele sorriu e estalou um beijo rápido nos lábios dela. –Se você quer mesmo me aguentar por mais algum tempo...

– Muito mais tempo. – Ela sorriu e ele imitou o gesto, enquanto algo o ocorreu.

– Para sempre? - Roy pegou a mão dela e entrelaçou seus dedos, ela encarou suas mãos unidas ali, entendendo aonde o Alquimista das Chamas queria chegar. Ela voltou a encará-lo.

– Sim, para sempre. – Ela sorria largamente.

Roy a abraçou depois a tirou do chão e girou no ar. Que dia estranho havia sido aquele. Intenso demais, e dualista. O pior e o primeiro melhor dia que Riza e Jamie lhe proporcionariam dali em diante. O fim de um era em que Roy havia apenas conhecido a solidão e a tristeza e o início de outra, cheia de vida, e que, apesar das dificuldades que ele sabia que se aproximavam, seria o início de uma era de felicidade.

Riza o beijou intensamente. Ele era sua certeza e ela seria a fortaleza dele dali em diante. Há alguns anos eles foram obrigados a partir os laços entre si, mas naquele momento, eles sabiam que não havia forças no universo suficiente para tal. O laço deles estava mais forte agora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

“Acabou.

Meu Deus, ACABOU!”

Foi a primeira coisa que eu pensei quando coloquei o ponto final na última frase desse capítulo.

É isso aí, gente, acabou.

Eu to aqui, meio alegre, meio que sem rumo. Uns aninhos me dedicando a essa fanfic e eu finalmente a terminei. Já deixou um vazio. L

Honestamente, não sei nem o que coloca direito nessa N/A. Acho que vou pelo o de sempre. O que vocês acharam? Estava a altura do final que vocês imaginavam? Quando pensei nessa fanfic, eu já tinha imaginado esse final. Achei que, quando finalmente a colocasse no papel, ela teria mais ação, mas, mesmo não tendo aquele momento de filme de ação a lá hollywood, eu gostei. Acho que atendeu as minhas expectativas.

Foram pouco mais de 4 anos escrevendo essa fanfic, e (perdoem pelo palavrão) pqp, eu sou lerda demais. Mas apesar de ter passado tanto tempo quebrando a cabeça atrás de forçar alguns minutos de inspiração e de ter desistido diversas horas das minhas noites de sono para escrever na hora que eu conseguia pensar no que, e eu amei cada segundo que “perdi”. Amei compartilhar um pouco do amor por esses personagens com vocês, amei que vocês compartilhassem o de vocês comigo, amei o quanto vocês reagiram com os personagens que só existem na minha cabeça, amei ter feito amigos por conta desses 21 capítulos, e, agradeço a vocês e a essa fanfic por eu não ter desistido de colocar essas estórias em palavras concretas.

Obrigada gente. Obrigada a vocês que acompanham essa fanfic desde que o primeiro capítulo foi publicado e que tiveram essa IMENSA paciência de aguardar eu deixar de ser tão relapsa, e obrigada também as lindas apareceram semana passada, mês passado, ano passado, que não são leitoras desde o início, mas que também descobriram que possuíam uma paciência de ferro em aguardar que eu poste um novo capítulo. Sério, vocês todas são demais s2

E só porque eu sou má mesmo, sendo contraditória e fazendo vocês lerem essa N/A gigante (depois de ter dito que nem sabia o que escrever), confundirei vocês ainda mais: Não, ainda não acabou. ;)

Comecem a contagem regressiva... 7....

Beijos, minhas lindas :*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Broken Strings" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.