Broken Strings escrita por liligi


Capítulo 2
Capítulo 2




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Capítulo 2 – Deixando o tudo para trás.

Roy acordou na manhã seguinte sentindo um filete de luz em seu rosto. Sorriu sem abrir os olhos e virou para o lado, então, abriu os olhos. Seu sorriso imediatamente se desfez. O lugar ao seu lado, onde Riza deveria estar, estava completamente vazio.

Levantou-se da cama e vestiu seu samba-canção, deixou o quarto e seguiu até o banheiro. Talvez ela estivesse lá tomando banho, afinal, ela era Riza Hawkeye e não iria se atrasar para o trabalho. Mas ao se aproximar não pôde ouvir o barulho de água. Estranhou. Bateu na porta.

- Riza? – Ele chamou.

Nada. Sem resposta alguma.

- Riza, você está aí dentro? – Ele chamou novamente. E não houve resposta.

Foi até a cozinha, mas ela também não estava lá. Nem na sala, nem em qualquer outro canto da casa. Sentou-se no sofá atordoado. Tudo o que se passava em sua cabeça era o porquê de ela ter ido sem daquele jeito, sem dizer nada. Ainda mais depois daquela noite... Alguma coisa não estava certa.

––

Riza ouviu o telefone tocar, mas não fez nenhum movimento para atendê-lo. Sabia que era Roy. Sabia que ele não devia estar nada contente por ela não estar lá quando ele acordou, mas ela simplesmente não podia. Claro, estava feliz em ter acordado ao seu lado, mas sua razão falou mais alto. Ela não devia estar ali, ali não era o lugar dela. Aquele lugar outra mulher ocuparia, e não apenas por uma noite, aquela mulher ocuparia o lado de Roy pelo resto da vida deles. Então, ela pegou suas roupas e deixou a casa dele, não podia mais se enganar, e nem podia enganá-lo. Ela não pretendia ser a outra.

Riiing... Riing...

Cada toque fazer o coração de Riza doer. Ela não queria que aquilo estivesse acontecendo, mas era sua culpa, ela não devia ter-se deixado envolver. Não com ele.

- Eu sinto muito Roy... – Ela murmurou enquanto deixava a casa. Sabia que teria de encará-lo no trabalho, mas, felizmente, aquele era o único lugar no qual eles não falariam sobre assuntos pessoais.

––

Roy apertou o passo quando o prédio do exército surgiu em seu campo de vista. Ela devia estar ali, ela tinha que estar ali. Ele não podia acreditar que ela havia simplesmente partido pela manhã, não parecia ser algo que ela faria. Algo estava muito errado.

Não se surpreendeu quando o moreno entrou na sala e seu olhar logo a procurou. Ela sabia que ele iria querer saber o motivo, mas ela evitaria a conversa o máximo que pudesse.

- Bom dia. – Ele disse asperamente enquanto caminhava até sua mesa.

- Bom dia, Coronel. – Riza e seus companheiros responderam em uníssono.

Riza pôde ler claramente o que havia no olhar dele: "Precisamos conversar". Riza desviou o olhar para qualquer folha que estava sobre a mesa, o trabalho iria mantê-la ocupada por um tempo, mas ela sabia que uma hora eles teriam realmente que se falar.

––

O dia passou lentamente. O relógio parecia torturar tanto Roy quanto a Riza, o tempo se arrastava e não havia brecha alguma par que eles pudessem conversar sobre o ocorrido, embora Riza estivesse feliz com isso. Entretanto, para Roy aquilo só era mais agonizante e a calma que ela aparentava só o deixava cada vez mais nervoso, como se aquilo fosse apenas para provocá-lo.

No meio da tarde o silêncio que rodeava a sala foi quebrado quando ouviram uma leve batida na porta.

- Quem será? – Havoc perguntou em voz alta enquanto se prontificava a abrir a porta. Praticamente babou ao ver que quem batia era uma moça. E muito bela, por sinal. – S-Sim, o que deseja? – Ele gaguejou tentando parecer apresentável.

- Eu gostaria de falar com o Coronel. – Ela disse exibindo um sorriso inocente.

A face de Havoc desmoronou. Claro, a visita era para ele. Logo, todos estavam alerta à visita, principalmente Roy e, claro, a Tenente. Mas nenhum pôde ver quem era a moça, já que Havoc só entreabrira a porta.

- Bom, eu não sei se ele está livre para atendê-la, senhorita. – Havoc disse, sabendo que Roy nunca atendia aos casos durante o trabalho, a não se que alguma delas trabalhassem no exército ou lhe ligasse.

- Mas, você poderia informar a ele que a noiva dele está aqui? – Ela perguntou. Havoc imediatamente arregalou os olhos. Aquela mulher (e que mulher!) era a mulher com o coronel estava sendo obrigado a casar. – Er... Claro.

Havoc abriu a porta o suficiente para que o Coronel visse quem era sua visitante, assim como todos os outros que ocupavam a sala. Suspiros não foram evitados pela grande parte dos homens que ocupavam um lugar e Riza não pôde evitar sentir ciúmes daquela mulher. Ela era um pouco mais alta que a loira, tinha cabelos castanho-escuros e olhos de uma cor de mel, suas roupas mostravam que ela era uma mulher refinada, daquele tipo que sempre estava naquelas festas chiques, ela seria a perfeita esposa-troféu.

Roy demorou um pouco para processar o fato de sua futura esposa estar ali na sua frente, mas quando a ficha caiu, ele imediatamente se levantou e foi até ela, tentando esconder a repulsa por ela estar ali num momento daqueles.

- Olá, Roy. – Ela disse sorridente.

- Olá, Srta. Binoche. – Ele disse polidamente e ela imediatamente fez uma careta.

- Por favor, Roy, nós vamos nos casar. Você pode me chamar de Rachel. – Ela disse.

- Ah, tá, Rachel... – Ele disse. Era estranho demais para ele. Aquela mulher a sua frente, linda, escultural, uma verdadeira obra de arte, era sua futura esposa. E mesmo ela parecendo ser tão perfeita, ele preferia a mulher que sentava ao seu lado todos os dias, a mulher que nunca vira usar nem um pouco de maquiagem (exceto por um pouco de batom, talvez. E mesmo assim, foram poucas as ocasiões.), e que não se importava com estar bem vestida, ou estar bem vestida e com roupas de marca. Era essa a mulher que ele queria como esposa. – Então, Rachel... O que você queria falar comigo?

- Ah, bom, como nós temos um prazo de três semanas para nos casarmos eu pensei que nós poderíamos sair, para conversar, sabe?

- Desculpe, mas hoje eu estou muito atarefado. – Ele disse de um jeito quase robótico. Não teria tamanha cara de pau para sair com aquela mulher enquanto Riza era quem preenchia cada centímetro de sua mente.

– Pode ser outro dia, então? – Ela mordeu o lábio inferior. – Amanhã, talvez?

- É, talvez. – Ele respondeu.

- Ok. – Ela sorriu. – Que tal no Café da Ayumi? Você sabe onde fica, não é?

- Eu me viro. – Ele respondeu.

- Tudo bem. – Ela sorriu; - Então, eu acho que já vou. Vou deixá-lo trabalhar.

Ela disse sorridente, depois deu uns passos a frente e inesperadamente – para todos – colou seus lábios nos de Roy, afastando-se poucos segundos depois com um sorriso bobo na cara.

- Até logo. – Ela disse e deixou a sala, deixando também para trás seis pessoas completamente embasbacadas.

Roy, quando se recuperou da surpresa, virou-se para Riza, preocupado. Ela não o encarava, seu olhar estava fixo no relatório a sua frente, e sua face estava fria, livre de qualquer emoção que a denunciasse. Roy praguejou mentalmente aquela mulher ter aparecido, apenas estava piorando as coisas. Agora mais que nunca, tinha urgência em falar com sua tenente.

––

Roy batucava incessantemente na mesa com uma caneta. Havia pouco mais de meia hora que Rachel havia aparecido e o clima naquela sala além de diversificado estava extremamente esquisito. De um lado, os quatro rapazes cochichavam sobre Roy e Rachel e do outro Riza fazia o possível para que seu olhar não cruzasse com o que de Roy, enquanto ele praticamente não desgrudava o seu dela.

Ele precisava fazer alguma coisa. Ele não queria que as coisas continuassem daquele jeito entre os dois. Precisava de uma resposta urgente.

- Tenente. – Ele disse enquanto se punha de pé. – Você poderia me levar ao centro? Eu lembrei que preciso comprar umas coisas.

- Sim, senhor. – Ela respondeu calmamente enquanto também se levantava.

Deixaram a sala e andaram em silêncio. A cabeça de Roy funcionava a mil, estavam tão próximos e estavam sozinhos. Ele obteria sua resposta mesmo que tivesse que arrancá-las à força — embora ele não desejasse precisar disso.

Chegaram à garagem do exército, e lá estava tão vazio quanto um cemitério à meia-noite. Pensou em encurralá-la ali mesmo, mas então resolveu que seria arriscado demais, no carro seria melhor, afinal, seria mais difícil ela fugir e não haveria perigo de ninguém ouvi-los discutindo esse assunto e acabar denunciando-o para os 'chefões'.

Já dentro do carro o silêncio continuou presente, quebrado apenas por Roy indicando por onde Riza devia ir, mas ela nunca pronunciava nada, apenas fazia algum som confirmando. A loira olhou desconfiada par a rua em que se encontravam, ela não podia imaginar o que Roy poderia querer comprar num lugar como aquele.

- Estacione, tenente. – Roy disse ao notar com satisfação de que a rua em que se encontravam estava completamente deserta.

Riza obedientemente estacionou o carro e esperou que ele descesse, mas ele não o fez. Surpreendeu-se quando ele travou as portas e tirou a chave da ignição.

- Precisamos conversar. – Ele disse.

A expressão de surpresa de Riza rapidamente se tornou uma expressão de raiva. Ficar a sós com ela era o que ele pretendia desde o início.

- Eu acho que não. – Ela disse. – Me devolva a chave.

- Não devolvo enquanto você não der uma explicação plausível...

- Eu não tenho nada a explicar! – Ela o cortou. – Me devolva a maldita chave!

- Eu já disse que não vou devolver! – Ele disse guardando as chaves dentro de um bolso.

Ela bufou irritada e tentou reprimir a raiva que sentia. Não queria encarar tudo isso, e ele a estava forçando. Preferiria ignorar que as coisas não poderiam ser como foram na noite anterior, o envolvimento deles nunca seria possível e aquela noite não devia passar de uma lembrança. Um passado distante.

Entretanto, ele não pensava assim.

- Roy, entenda...

- É isso que eu estou tentando fazer desde que acordei e não a vi em lugar nenhum da casa. – Ele disse irritado, cortando-a.

- Droga... – Ela murmurou. – Não era para ser assim.

- Como não era para ser assim? – Ele disse. – Não me diga que tudo o que aconteceu ontem não significou nada! Não diga que não queria!

- Sim, eu queria. – Ela admitiu. Sua voz era calma e baixa. Haviam chegado ao ponto doloroso e ela tentaria fazer isso mais fácil. – Eu queria Roy. Muito.

- Então por que foi embora? – Ele disse. Seu tom agora se igualava ao dela, não havia mais raiva, mas ainda havia um certo ressentimento.

Ela sorriu amargamente.

- Quando eu acordei me vi deitada em uma cama estranha, em um quarto estranho. Então eu lembrei que aquele quarto era seu, que aquela cama era sua. Eu lembrei que nós dormimos juntos. Eu fiquei feliz, sabe? E por que não ficaria? O homem que eu amo estava ao meu lado. – Ela estendeu o braço, fez menção de que tocaria o rosto dele, mas desistiu e deixou os braços caírem junto ao seu corpo. – Mas, então, eu lembrei.

- Do que você lembrou?

- Roy, aquela moça que foi hoje ao escritório é sua noiva. Ela que ocupará aquele lugar em que eu estava ontem a noite pelo resto da vida. O que aconteceu ontem foi só um sonho, mas eu tive que acordar. E você também tem. Não há lugar para nós dois Roy.

- É claro que há! – Ele alegou efusivamente. Ele não conseguia crer que aquilo estava realmente acontecendo, simplesmente o estava deixando frustrado! – Riza, sempre haverá um lugar para nós!

- Como? – Ela perguntou, seus olhos estavam úmidos. Não tinha mesmo como aquilo ser fácil, para nenhum dos dois. – Eu sendo sua amante? Você sabe que isso não funcionaria.

Ele ficou em silêncio enquanto encarava suas mãos que agora estavam fechadas em um punho sobre o banco.

- E eu também não gostaria de ser apenas sua amante. – Ela disse desviando o olhar do moreno no mesmo instante em que ele voltou a encará-la. – Não há lugar para mim em sua vida, Roy. Eu sou e sempre serei apenas sua subordinada. Sua guarda-costas pessoal. Esse é o único relacionamento que manteremos, Coronel.

- Riza...

Ela suspirou.

- Por favor, me dê a chave. – Ela pediu.

- Você não acha que eu vou desistir assim, não é? – Ele perguntou, ela viu obstinação nos olhos negros e sentiu uma dor em seu peito. Sabia que ele não desistiria e acabaria tornando as coisas mais difíceis.

- Roy, me escute com atenção. – Ela disse, sem encará-lo. – Você estará casando em três semanas. Eu não sou a noiva, sou sua subordinada. E você não vai alimentar qualquer esperança de qualquer coisa que possa haver entre nós, entendido?

- Não pense...

- Não. – Ela o interrompeu. – Você não pense que eu vou ceder. Eu já tomei minha decisão, assim como você tomou a sua. Seguiremos caminhos diferentes. A vida vai voltar a ser exatamente como era antes.

Cada uma daquelas palavras era como um soco na face tanto para Riza quanto para Roy. Mas sabiam que ela estava coberta de razão, tudo já fora decido, mesmo que não tenha sido por eles, e eles teriam que seguir seus caminhos.

––

Ela o observou deixar a sala, no dia seguinte, com o coração pesado. Seria a primeira vez que Roy e sua futura esposa sairiam juntos, ela não fazia ideia o que poderia acontecer, e nem queria. Felizmente, fora dispensada de acompanhá-lo, ele não correria nenhum risco de vida com aquela mulher, e Riza seria poupada de vê-los se beijando, interagindo como verdadeiros noivos.

A concentração desaparecera totalmente junto com o homem de olhos negros, então ela simplesmente desistiu de fazer o que estava fazendo. Pretendia se distrair, tirar a cabeça dele. Levantou-se e pegou a arma que estava dentro de sua gaveta.

- Vou ao estande. – Ela disse aos companheiros e deixou a sala, sendo seguida pelo olhar dos quatro. Sabia que os comentários viriam logo a seguir, mas não estava com paciência de escutá-los e repreendê-los.

Não havia muitas pessoas no estande, três ou quatro, talvez, mas ela realmente não ligou. Tirou a pesada jaqueta azul, guardando-a, depois pegou sua arma e verificou a munição. Ali estava sua terapia. Acertaria cada mínimo espaço do alvo.

––

Roy suspirou pesadamente. Havia mais de uma hora que Rachel falava e ele não fazia ideia do que ela falava. Bom, não tinha como saber, afinal, não estava prestando a mínima atenção nas palavras da morena. Ele até tentara, mas fora completamente em vão. Somente uma certa loira ocupava-lhe a mente, e os problemas que estavam enfrentando.

- —E eu simplesmente amei! Quer dizer, eu adoro comida italiana, e ele me fez uma surpresa e tanto! – Rachel dizia animada. – Qual a sua comida favorita, Roy?

Sem resposta.

- Roy? – Ela chamou novamente, ele a encarou assustado.

- O que?

- Você está bem?

- Estou, desculpe. Me distraí um instante. – Ele disse. – O que você perguntou mesmo?

- Qual sua comida favorita... – Ela repetiu.

- Hum... Eu não sei... Massa?

Ela sorriu.

- Parece ser bem sua cara.

Ele sorriu amarelo.

- É...

- Bom, então, que tal começarmos a falar dos preparativos do casamento? Não temos muito tempo. – Ela disse cruzando as pernas.

- É, é melhor... – Ele respondeu, também se ajeitando.

––

Roy encarou a lua cheia no céu. Parecia tão próxima, e tão bela. A única coisa que fazia sentido na sua mente naquele momento era a pergunta de como a vida ainda poderia estar tão bela enquanto parte do seu mundo desmoronava aos poucos. A situação não melhorava quando uma parte do seu mundo que desmoronava estava sentada no banco do motorista, bem ao seu lado.

Virou seu olhar para a loira. Ela olhava séria para estrada, impassível. Ele não pôde evitar de soltar um suspiro frustrado. A situação só ficava mais estranha entre os dois.

Riza queria demasiadamente pisar fundo no acelerador, queria deixá-lo em frente à casa dele e partir para a sua própria, sem ter que aguentar aquele silêncio constrangedor. Entretanto, ela não podia fazer. Ela não deixaria transparecer o quão nervosa ela ficava perto dele agora. Ela teria que manter a postura.

Ela não pôde evitar de sentir um alívio quando ela finalmente avistou a casa do superior. Estacionou o carro e espero que ele descesse. Ele desceu, mas não entrou como de costume. Roy inclinou-se em direção à janela do carro e suspirou.

- Vamos mesmo continuar fingindo que nada aconteceu? – Ele perguntou calmamente.

- Você devia saber qual é a minha resposta. – Ela respondeu sem encará-lo.

- Eu adoraria saber qual é, mas fica difícil quando você fica mascarando seus sentimentos. – Ele disse ainda mais frustrado. – Você nem sequer olha para mim. Como posso saber se o que você diz é verdade?

Ela fechou os olhos por momento e suspirou baixinho, depois virou o rosto em direção a Roy.

- Não torne as coisas mais difíceis. Você sabe que não é certo.

- Você não pensou se era certo ou errado naquela noite. – ele disse. Riza apertou o volante e tentou reprimir a raiva. Ele não devia fazer isso, não devia atiçá-la.

- Bem, acho que a bebida não faz bem nenhum, não é mesmo? – Ela retrucou fria, então Roy percebeu que cometera um erro.

- Não. Não mesmo. Mas, às vezes ela pode ajudar.

- ... – A principio, ela não falou nada. Sabia que ambos não estivessem com uma considerável quantidade de álcool no sangue nada daquilo teria acontecido. Arrependeu-se de ter bebido naquela noite, mesmo que tivesse sido pouco, não queria estar passando por isto agora. – Eu vou continuar fingindo que nada aconteceu.

Roy arregalou os olhos e ficou a encará-la por vários segundos.

- Está ficando tarde. Boa noite, Coronel. – Ela disse.

Roy afastou-se do carro e ficou parado na calçada observando o carro dela afastar-se.

––

Como as coisas poderiam ter chegado aquele ponto? O ponto em que eles mal se falavam, mal se olhavam. E o afastamento parecia aumentar sempre que Rachel aparecia — isso quase toda tarde— para visitá-lo. Ele sabia que era difícil para ela assistir aquilo, mas também era difícil para ele vivenciar tudo aquilo, quando o que ele mais queria estava do outro lado da sala.

Mas não podia fugir das carícias da morena. Não podia afastá-la e ele sabia que Riza o repreenderia por fazê-lo e colocar seu sonho em risco. Não queria magoá-la, mas o fazia. Sabia que ela tinha razão, ele havia dificultado as coisas, mas ela também o quisera naquela noite, ela o havia aceitado, e ele devia ter parado.

Riza tentava ao máximo não deixar transparecer seu desconforto com a presença de Rachel e o modo como ela agia com Roy, como se ela o conhecesse a vida toda, como se ele retribuísse o sentimento que ela visivelmente nutria por ele. Não duvidaria nada que havia um nepotismo por trás deste plano de casamento forçado, a filha apaixonada de um dos "chefões" do exército.

Ela tentava fazer com que aquelas cenas que aconteciam bem ali naquela sala não lhe afetasse, mas era difícil. E como era. Uma hora eles estavam se beijando, e quando ela partia, Roy olhava para a loira com um olhar de quem pede desculpas. Ela não retribuía aquele olhar, tentava ao máximo evitá-lo, mesmo que lhe machucasse profundamente.

As semanas passavam e Rachel praticamente não saia mais do escritório de Mustang ou ele quase não aparecia por lá, ambos tinham que cuidar dos preparativos do casamento que se aproximava. Ela tentava não se importava, mas aquilo a incomodava bastante, em pensar que em poucos dias tudo acabaria, mas de um jeito que ela não gostaria.

Naquela noite, chegou desatenta. Apenas notara a presença do cachorro porque o mesmo havia corrido para recepcioná-la. Foi para a cozinha pensando em algo para fazer para comer, mas desistiu assim que abriu a porta da geladeira. Só em olhar aquela comida lhe dava náuseas. Pegou a tigela de Hayate e colocou alguma comida, depois o chamou para comer.

Arrastou-se até seu quarto. Estava exausta. As últimas semanas tinham sido estressantes e até agora só serviram para exaurir quase que completamente suas forças. Livrou-se da farda pesada e, diferente do usual, jogou-a de qualquer jeito sobre uma cadeira que havia ali. Enrolou-se em uma toalha e foi até o banheiro, encheu a banheira e quando esta já estava quase transbordando de tanta água, Riza entrou.

Fechou os olhos tentando limpar sua mente, mas era uma tentativa vã. A imagem de Roy sempre lhe assombrava, a lembrança lhe assombrava. Submergiu completamente o corpo, ainda tendo esperança de que poderia esquecê-lo, e, novamente, a tentativa fora inútil. Acabara imaginando Roy parado em um altar vestindo seu traje militar formal e Rachel vestida de branco, caminhando pelo não tão longo corredor até o moreno.

Ela sabia que aquilo iria acontecer, sabia que seria obrigada a comparecer e a ouvir os votos de amor eterno que seria trocados e aquilo lhe matava aos poucos, o golpe final definitivamente seria quando estive presenciando tudo aquilo, ao vivo e a cores. Emergiu novamente, já estava sem ar, e resolveu não se demorar mais ali na banheira, não queria pensar mais sobre aquele assunto naquela noite. Enrolou-se na toalha, pegou seu pijama e jogou-se na cama. Estava tão cansada que adormeceu rapidamente, e para sua sorte, não sonhou com nada. Nem mesmo com Roy.

––

Roy chegou cedo naquele dia. Sua face demonstrava a privação de sono que sofrera na noite anterior. Ele estava cada vez mais angustiado com toda aquela situação, a noite anterior simplesmente intensificou sua angustia. Faltavam cinco dias para seu casamento. Isso, e mais Riza se tornaram os fatores que o deixaram acordado a noite inteira e por isso, resolveu chegar cedo ao trabalho, pelo menos lá não teria muito tempo para lidar com toda aquela situação.

Qual foi sua surpresa ao encontrar a sala completamente vazia. Conferiu o horário. Sete e quinze. Ele tinha plena certeza de que seus subordinados nunca chegavam na hora, mas Riza era a exceção. Ela sempre chegava na hora, antes até.

Sentou-se em sua mesa e esperou. Ela não devia demorar a chegar.

Alguns minutos depois a loira adentrou a porta e ficou surpresa — e um pouco confusa — por encontrar o Coronel ali tão cedo. Ele geralmente chegava quase oito horas, encontrá-lo ali era quase um milagre.

- Bom dia, Riza. – Ele disse quebrando o silêncio.

- Tenente. – Ela corrigiu, Roy fez uma careta.

- Que seja. – Ele resmungou.

- Bom dia, Coronel. – Ela murmurou. Ele deu um meio sorriso e a sala caiu no silêncio novamente.

Riza respirou fundo. Estava prestes a colocar em prática um plano extremamente doloroso, mas que era necessário. Caminhou lentamente até a mesa dele tentando adquirir toda a confiança que sua face deixava transparecer, não podia deixar isto para mais tarde, ela devia aproveitar que estavam ambos sozinhos.

Roy a fitou se perguntando o que ela tinha em mente. Sua face demonstrava confiança e seriedade e aquilo fez com que um arrepio percorresse seu corpo. Não podia ser bom. Depois de tantos dias sem quase lhe dirigir a palavras ela se aproximava dele com expressão determinada.

- Coronel. – Ela começou incerta e temerosa.

- Sim? – ele perguntou ansioso.

- Eu preciso que assine este papel. – Ela disse colocando um papel sobre a mesa dele.

Ele a lançou um olhar confuso e depois se voltou para o papel. Seus olhos se arregalaram e seu coração começou a bater acelerado, fora do ritmo quando terminou de ler o que havia naquela folha.

- O que significa isso? – Ele perguntou alterado.

- Eu imagino que saiba ler perfeitamente bem. – Ele respondeu fria.

- Não é a isto que me refiro! – Ele esbravejou ficando de pé e batendo com força as mãos na mesa. – Eu quero saber o porquê deste requerimento!

Ela abaixou o olhar rapidamente. Era difícil, assim como ela havia imaginado, talvez até mais, mas ela teria que prosseguir.

- Eu acho que é o melhor para mim. – Foi sua resposta.

- Como isto pode ser melhor? Eu não entendo! Por que você quer ser transferida? Eu... Eu não vou permitir isso!

- Coronel, você está nervoso. Acalme-se e assine, por favor. – Ela disse pacientemente.

- Não, eu não me acalmo! E não vou assinar este pedido absurdo! Eu preciso de você aqui, Riza! Não posso permitir que você vá! – Ele disse ainda nervoso.

Riza sentiu seu coração s partir em pedacinhos. Ela também queria ficar, mas era muito doloroso para ela. Então, o único jeito de sair de tudo aquilo era mentindo.

- Mas eu não quero ficar. – Ela disse, mesmo não sendo de todo mentira. Ela não queria ficar e presenciar outra tê-lo.

Ele a encarou com uma cara espantada. Parecia alguém que havia visto algum fantasma, ou que haviam lhe dito que de fato vacas voavam. Ele não acreditava nela, e também não pretendia perdê-la. Seria ainda mais difícil se ela se fosse.

- É mentira.

- Não é. – Ela disse encarando intensamente os olhos negros de seu chefe. Temia perder-se ali e fraquejar, acabar ficando.

- Você... Você prometeu... Que ficaria comigo. Que me seguiria até o topo, lembra? Você não vai quebrar essa promessa, vai? – Ele se agarrou aquele último fio de esperança que lhe restava. A promessa que os manteve unidos todos aqueles anos.

Sentiu um grande impacto com aquelas palavras. Ela não costumava quebrar promessas, ainda mais as que ela colocara a vida para manter, mas ela tinha. Tinha que deixá-lo, não importava o que tinha que fazer.

- Você não precisa mais de mim. – Ela disse sentindo que logo começaria a chorar.

- Sim, eu preciso! Sempre precisarei. Não se vá, Riza. – Ele implorou.

- Coronel. – Riza tentou reunir as forças que ainda lhe restavam. – Eu não posso mais segui-lo. Eu não posso acompanhá-lo até o topo, como havia prometido. Você terá alguém de agora em diante que poderá lhe seguir. É nela que o senhor deve confiar.

- Riza...

- Só assine, por favor. – Ela disse encarando o papel. – Não faça com que as coisas fiquem piores para mim. Não me machuque mais.

Roy a encarou sentindo-se completamente sem chão. Ele tinha plena consciência de que a machucava, mas ouvi-la dizer com toas as letras tinham um efeito ainda pior do que ele imaginava. Ele sabia que presenciar o casamento com Rachel seria duro com Riza, ele não era tão sádico para permitir que isto acontecesse. Voltou a sentar-se em sua cadeira e mecanicamente assinou o papel, depois o entregou à loira, sem encará-la.

- Quando você parte? – Ele perguntou encarando um ponto qualquer no chão.

Riza sentiu-se ofendida por ele sequer encará-la, mas isso só tornaria sua partida mais difícil então não fez objeção alguma.

- Daqui a três dias. – Ela respondeu. – Eu deixarei tudo pronto antes de ir.

- Tudo bem. – Roy disse, mas não estava tudo bem. Ele não se sentia bem e sabia que ela também não. Não disse adeus e nem diria, não queria tornar a situação mais difícil com uma despedida. Suas vidas seguiriam rumos separados.


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Notas finais do capítulo

N/a: oláa
Td bem, meninas?
passando rapidinho pra agradecer aoscomentário
Ah, o cap não foi betado, entao qualquer dúvida me mandem uma mensagem, ok?
Beijooos



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