Valentino‏ escrita por TM


Capítulo 4
Lettera




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/621258/chapter/4

Depois daquele confronto, voltei a sala de jantar como se nada tivesse acontecido; e de fato não acontecera, apenas dei um aviso para Lucrezia ficar esperta, criar certos modos e perceber que não pode e nem se deve tratar ninguém com diferença, somos todos iguais aos olhos de Deus, não? Ela deveria saber isso melhor que eu, já que seu pai é o temido Papa de Roma.

Lucrezia estava cabisbaixa, enquanto o Papa tagarelava algo com o meu pai que só depois da palavra "dinheiro" envolvida, pude perceber que estavam falando de negócios. Mas e Cesare? Onde estaria?

Meus olhos correram por todo o canto da casa, procurando algum sinal vital do homem, mas tudo que consegui foi um olhar duvidoso de meu pai.

– Está procurando algo que eu não saiba, Giorgia? - Perguntou ele.

– Um dos meus brincos caíram no chão. Como pude ser tão relaxada assim? - Eu dei um riso nervoso, o Papa me encarava com um sorriso de canto. - Papai, se não se importa, vou lá pra cima deitar. Preciso descansar um pouco.

– Não se pode esperar nada de uma Machiavelli. - Lucrezia sussurrou para que só eu pudesse ouvir.

– Muito menos de uma Borgia. - Sussurrei de volta.

– O que as duas moças estão cochichando? - Papa Alexandre VI perguntou, curioso. - Sobre homens, talvez?

– É, talvez. - Andei rapidamente até meu pai, seu queixo estava erguido, de forma com que seu nariz ficasse empinado e lhe desse uma autoridade arrogante; tudo que Nicolau Machiavelli não era. - Se me der licença, vou subir pro meu quarto. Irei descansar, até amanhã, papai. Boa noite. - Ia saindo de fininho quando meu pai gritou.

– Ei, Giorgia! Não vai se despedir dos nossos convidados? - Merda.

– Claro que sim! - Fui andando lentamente até a direção deles: Lucrezia era a primeira com quem eu tinha que falar, felizmente, ela me deu um abraço rapidamente e não apresentava nenhuma emoção, era fria como um pedra. Mas antes de eu poder me despedir de seu pai, ela apertou meu braço e falou:

– Espero que você queime no inferno. - Ela sorriu com desdém.

– Quando você morrer, me espere por lá. - Retribui o sorriso e continuei minha 'missão'.

O Papa me abraçou de um modo íntimo, apertado o suficiente para que ele sentisse as curvas de meu corpo, e isso me incomodou muito. Depois de cinco segundos presa á aquela múmia, não sabia ao certo se passaria mal pelo cheiro forte de álcool ou pelo seu fedor. Antes de me soltar, ele recitou Dante:

– Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la. - Me arrepiou toda, o único sentimento que sentia por ele era nojo. Ele me soltou com delicadeza, e quando olhei ao seu lado, estava o Duque Valentino.

Ele metralhava seu pai com o olhar e exibia um sorriso mesquinho, ainda tinha uma taça de vinho em uma das mãos, e na outra rodava um ducado. Abracei-o, aproveitando cada segundo daquilo, sentindo o cheiro de seu perfume e de sua arrogância.

– Sentirei saudades. - Falei baixo em seu ouvido.

– Logo, logo você está em Roma junto a nós. - Ele me soltou e eu pude ir finalmente para o meu quarto.

Quando cheguei lá e pela primeira vez na vida, admirei as paredes roxas e os móveis brancos e me senti a pessoa mais feliz da Itália. Não precisava mais que aquilo para viver com Cesare. E então, impaciente pela demora de Cecília, me joguei as cobertas, e me entreguei a escuridão que me esperava.

~[]~

Antes do Sol nascer, estava com sede, desci as escadarias, cheguei a cozinha, peguei uma taça de água e levei-a pra cima. Andei lentamente ao meu quarto, pois sabia que o ar tinha mudado de direção, e a visão do homem ruivo com uma capa negra no meio do meu quarto me fez estremecer.

Parei na porta de meu quarto, e com o medo, deixei que minha taça caísse no chão. Ele se virou bruscamente em minha direção.

– Me desculpe pelo descuido. - Ele sorriu, apreciando minha educação. - Já que está no meu quarto, tenho direito de saber quem você é. Por favor, nobre cavaleiro, se apresente. - Tentei deixar com que o medo não me atrapalhasse.

– Você é tão bonita quanto Cesare disse. Chega a ser mais bonita que sua irmã. - Ele fez uma referência. - Me desculpe pela grosseria, Giorgia, o meu nome é Micheletto Corella e estou aqui a mando de Cesare.

– Ah, é? - Olhei no fundo de seus olhos. - O que ele quer?

– Ele está indo pra França hoje, mas pediu que eu lhe entregasse essa carta. - Ele me entregou um papel cuja as letras douradas estavam marcadas pelas letras C E S A R E, como sempre. Eu peguei no mesmo segundo. - Ele quer saber de você, ele se preocupa com vossa senhoria.

– Fale pra ele que agradeço o recado, mas de ilusões de velhos poetas já estou cheia. - Foi difícil falar aquela frase. - Agora, por favor, o senhor pode se retirar? Não quero ser grosseira, mas pelo barulho que fez, daqui a pouco meu pai estará aqui e nos encherá de perguntas.

– Ah, claro. - Ele foi para a sacada, e antes de pular, ele continuou. - Por favor, leia com toda a atenção do mundo.

Abri a carta como se ela fosse a coisa mais importante da minha vida - e talvez fosse - e comecei a ler.

Sinto muito por não estar aí para te falar um simples "adeus", mas minha partida neste exato momento é necessária e precisa, por isso mandei que Micheletto entregasse essa carta. Não sou muito de fazer cartas,
por isso não se iluda, esta é a primeira e a última que mandarei enquanto estiver na França, me casarei com Charlotte de Albret em questão de horas, e ficaria feliz se você me mandasse felicitações.
Conversei com meu pai á teu respeito, e soube que em poucas semanas, irá viajar para Roma para estudar Artes, e ficará em casa. Peço com todas as minhas forças que não faça inimizade com Lucrezia, pois ela é muito competitiva, principalmente em relação ao seu irmão mais velho.
Ah, se eu pudesse te contar tudo o que rola naquela casa! Não que eu seja um verdadeiro crente, não, longe disso, mas creio que as ações que se realizam naquele lugar não seja de vontade divina.
Também te peço que, independentemente do que meu pai te prometer, te falar, e até mesmo ousar te tocar, não revele nada. Por causa do meu jogo de política e guerra com seu pai, ela acha que você sabe dessas coisas. Não negue nada, mas também não deixe nada transparecer.
Rodrigo Borgia pode ser um homem muito perigoso, principalmente para donzelas em perigo como você, acredite em mim, ele fará de tudo que estiver ao seu alcance para conseguir te domar como uma égua.
Não se assuste com o que verá lá; é o verdadeiro Inferno.
Em outras questões que acho interessante para você, vale contar também que seu pai se interessou muito por um noivo francês, e que, por motivos óbvios isso ajudará muito sua família. Assim como ajuda a minha.
Por enquanto, é isso.
Duque Valentino.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Valentino‏" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.