Valentino‏ escrita por TM


Capítulo 14
Compleanno - lI




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Eu também, pensava enquanto a abraçava com uma intensidade da qual ainda não tinha experimentado. Quando o abraço terminou, ignorei todas as conversas e risadas ao meu redor e me concentrei em meu pai. Apesar de estar ali comigo em carne, parecia que estava em outro lugar quando se tratava do assunto espiritual. Nicolau Machiavelli parecia distante, quase como se não quisesse ficar ali, como se tivesse mais coisas importantes para fazer. Me sentia como uma intrusa em sua vida, afinal, depois que eu nasci ele teve de reduzir seus horários de trabalho e ficar de boca fechada quando se tratava de política - um jogo do qual Machiavelli era mestre.

Ele deve ter percebido meus olhos sobre sua face, pois sua expressão suavizou e ele me fitou. Ele me mostrou seu sorriso, que agora continha dentes gastos e um pouco amarelados por conta de sua idade. Apesar dos mil e um defeitos daquele homem, em nenhum momento se quer eu me queixei de sua pessoa, ao contrário, sempre me sentia orgulhosa por ver o rumo em que o "meu primeiro amor" estaria tomando.

– Algum problema, filha? - Ele me lançou um olhar curioso.

– Não, nenhum. - Forcei um sorriso. - Por que não comemos e jogamos conversa fora? Parece bem apropriado para o momento.

Todos assentiram e concordaram com minha sugestão. Em poucos segundos, todos já estavam sentados na mesa devorando o que lhes fora reservado e bebendo tudo o que lhe-tinha de direito. Em poucos minutos, o álcool com uma mistura de um pó afrodisíaco - do qual eu não me recordo o nome - já iriam fazer efeito, e todos estariam de pernas pro ar, dando o show que os Borgia mais gostavam, a orgia.

– Então, alguém quer começar a fazer os brindes? - Sugeriu Lucrezia.

– Por que não? - Giulia Farnese se levantou. Era assustador ver sua imagem, pois assim que começara a falar, parecia que toda a atenção do mundo estaria voltada para a bela ruiva. Ela lançou os olhos azuis para meu pai, ela sorriu de uma forma quase divina. - Primeiro, gostaria de fazer um pequeno discurso, você me daria a honra desta ação, senhor Machiavelli? - Ele rapidamente assentiu e apertou a mão de Cecília. O papa lançou um olhar intrigante para as mãos juntas, mas logo recuperou sua postura e deixou com que Giulia continuasse. Antes de falar, ela suspirou rapidamente. - Bem, assim como eu, vocês conhecem Giorgia a pouco tempo, mas quem diria que em tão pouco tempo você se tornaria parte da família? Eu sei como é ser a novata na família, ter problemas por conta do preconceito, e tudo mais - Ela e o papa trocaram olhares afetuosos. -, mas o que ninguém ainda teve coragem de falar é que, além de cantarella - Todos riram, era uma piada interna. Eu tive que me esforçar para não me entregar totalmente á gargalhada. -, essa catedral também tem muito amor. Sendo amor por dinheiro, por luxúria, ou até mesmo pelos pecados mais mortais da carne.

O que eu estou querendo dizer, minha pequena criança, é que no momento em que você chegou nessa casa, o brilho de sua alma iluminou não só como o ambiente, mas também como Roma inteira. Você estar aqui conosco é uma bênção, não uma maldição, ao contrário do que muitos pensam. Quero que saiba que sempre que precisar de alguma coisa - qualquer coisa - não pense duas vezes e me chame, por favor! Espero que goste tanto daqui como Machiavelli gosta de Florença, por isso, nessa nova etapa de sua vida, te desejo muita sorte e muitas felicidades.

Giulia sorriu de forma graciosa e se sentou, recebendo aplausos de todos ali presentes. Até Vannozza a aplaudiu. Imaginei como seria difícil aplaudir a amante do pai de seus filhos, e também admirei a coragem de Vannozza por isso. Itália inteira poderia odiar La Bella Farnese, mas tinham de admitir: ela era boa em qualquer coisa que fazia.

– Proponho que faremos um brinde á Dannata, nossa mais nova filha. - O Papa Alexandre VI sorriu. Até mesmo Lucrezia estava sorrindo, e me senti parcialmente satisfeita por isso. Pelo menos um minuto de paz nesta casa!

Cesare levantou sua taça ao ar, e gritou:

– Á Dannata! - Todos repetiram seu gesto com um sorriso no rosto e levaram lentamente a taça em sua boca.

A única pessoa que não fez isso fui eu. Não havia dúvidas que um aniversário é motivo para se comemorar, mas não queria fazer isso do jeito dos Borgia. Cesare farejou meu medo como um cão-de-caça treinado, e então, começou com seu jogo de palavras.

– Por favor, senhores, não quero ser rude, tão pouco deselegante, mas peço para que colaborem rapidamente e deixem essa sala tão rápido como um gavião atrás de sua presa. Tenho uns assuntos particulares e urgentes para tratar com o senhor Machiavelli. - Vannozza, Alexandre VI, Giulia, Lucrezia, Cecília e eu estávamos indo em direção a sala principal, até que a voz grave de Cesare cortou aquela tensão. - Dannata, você fica.

– Vejo vocês depois. - Me despedi com um breve aceno de cabeça, e então voltei para o mesmo lugar em que estava segundos antes. Mas antes de finalmente poder sentar, olhei para Cesare de forma cínica, e perguntei. - Se seus assuntos são tão particulares, por que me quer aqui?

– Em parte, isso tem a ver com você, minha querida. Por favor, feche a porta e se junte á nós. - Ele e meu pai estavam se encarando friamente, e quando me sentei, ele abriu um sorriso e começou a falar. - Então, eu gostaria de falar sobre o futuro de sua filha, e por meio de contatos eu soube que poderia ter um noivo que estaria ao alcance dela.

– Quantos ducados me pagará por isso? - Nicolau Machiavelli falou de forma tão fria que se não o conhecesse, diria que estava brincando.

– Em torno de seiscentos mil. O nome do pretendente é Pedro Luís Anjou, dominante de uma das pequenas partes da Espanha. Ele poderá dar um futuro melhor para a sua filha, já que está no auge da sua juventude, com seus vinte e nove anos com o patrimônio em torno de mais ducados do que se possa imaginar. Mandaram-me avisar de que não há nada para se acertar, já que você acertou tudo isso com ele quando Dannata tinha apenas dez anos de idade.

– Isso é verdade, papai? - Olhei incrédula para meu pai, que estava cabisbaixo, talvez pronto para me dar uma pegadinha como sempre fazia, mas quando ele se levantou para me encarar, vi que era sério. Ele afirmou com a cabeça. - Por que? Você mentiu pra mim esse tempo todo? Falando que eu tinha de escolher um marido e afins quando você já me prometeu á um desconhecido quando eu era apenas uma garotinha? Que tipo de feiticeiro você é?

– Filha, não é nada do que está pensando. - Ele disse com a voz trêmula. Sua aparência estava bastante abatida. Agora a verdade viria á toa, e eu estava curiosa e amedrontada com tal ideia. Não sabia o que esperar. - Depois que sua mãe morreu, eu tive muitas dificuldades de criá-la. Talvez não se lembre, mas chegamos até a passar fome por conta disso. E eu não poderia deixá-la para morrer, afinal, assim como Bernardo, você também é uma parte de mim. Cinco anos atrás, Anjou veio visitá-la, e acabou se apaixonando por você. Estávamos numa situação financeira razoável, e então, decidi apostar.

Apostei terras, dinheiro, títulos, tudo que eu tinha direito. Até que chegou uma hora que não me restou mais nada á não ser você... - Ele encarou o chão. - E então, Pedro Luís com sua misericórdia eterna propôs para que eu te prometesse como sua mulher, que assim ele nos deixaria com tudo que eu tinha apostado. Ele não queria nada, só queria você.

Eu balançava a cabeça negativamente, mal acreditando naquilo que acabara de escutar, então Cesare empurrou uma carta perto de minhas mãos e, quando eu comecei a ler, já estava com lágrimas formadas em meus olhos.

Eu, Nicolau di Bernardo Machiavelli, residente em Florença/Itália, chanceler da atual República e filósofo, deixo registrado com minhas palavras que, minha filha, Giorgia di Maria Machiavelli, está prometida á ser mulher de Pedro Luís Anjou. Sua mão será concebida quando ela fizer exatamente quinze anos de idade - 5 anos após este contrato. Deixo aqui também, minhas bênçãos ao casal, e esclareço que se Giorgia não estiver feliz com o casamento, ele poderá ser anulado á qualquer momento pelo mando do papa - sendo por adultério ou por não ter consumado o casamento.
A partir do casamento, seus bens não pertencerão mais á família Machiavelli, Pedro Luís Anjou administrará suas terras, etc.

– Ele vem me ver hoje? Só pode ser alguma brincadeira! - Eu tentei forçar um riso, mas o som não saia. Estava realmente nervosa. - Isso não pode ser verdade, não é? Diz que não, papai!

– Tudo o que está escrito é verdade. Mil perdões por isso.

– Ele já está lhe esperando na sala principal, Dannata. - Cesare respondeu, indiferente.


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