Legacy - Interativa escrita por Ella


Capítulo 9
Capítulo 9 - The Son


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não desisti de Legacy gente! Calma, é uma longa história.... Bom, eu estou com o capítulo pronto a muito tempo, só que, infelizmente, ocorreu um problema com o meu computador e eu tive que deixá-lo com o técnico por muitos dias. Fiquei morrendo de medo de perder o capítulo, porque, na real, ele não estava totalmente pronto, eu queria adicionar mais uma parte. Felizmente (ou infelizmente) recebi meu computador e vi que o capítulo estava lá, completamente intacto. Óbvio que foi um alívio, mas achei que segurar o capítulo por mais um tempo seria cruel, já que já estou bem atrasada nas postagens.
Por isso, justifico o tamanho dele, não carreguei em detalhes porque, como eu já disse, iria acrescentar mais uma parte, mas melhor deixar assim mesmo do que atrasá-lo ainda mais.
O que posso prometer? Acho que uma corrida contra o tempo, quero voltar ao pique da escrita e com certeza escrever vai estar ocupando o maior espaço em meu calendário de férias, se Deus quiser.



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Capítulo 9 - The Son

Matteo Ettore Voltolini

Matteo tomou em mãos a garrafa de vinho que o velho o oferecia. Era uma espécie de jarro de ferro, com alguns amassados nas bordas. O líquido dentro do recipiente era cor de vinho, realmente, no entanto, seu cheiro não parecia nada agradável e estava muito mais quente do que deveria estar. Tentou não torcer o nariz, por mais que sua vontade fosse essa. Jamais vira uma bebida de aparência tão feia e cheiro tão podre.

Apertando os olhos verdes com força, Matteo, em um grande ato de coragem, virou toda a bebida goela a baixo. Assim que o calor do álcool escorreu por sua garganta, soltou o ar. O gosto era pior que a aparência. Era azedo demais, álcool demais e pouco gosto da uva - fruto o qual deveria ser respeitado e muito bem apreciado. Era quase uma ofensa chamar tal bebida de vinho. Devolvendo o recipiente ao velho, sorriu amarelo. O homem parecia se esforçar para não rir quando começou a falar:

–Criei oito filhos dando-os de tomar desse vinho. – Ergueu a garrafa de ferro e franziu os lábios secos e pálidos – Uma verdadeira merda, não é mesmo? Meu pai criou onze filhos também dando de beber desse mijo do satã para nós.

Matteo ergueu as sobrancelhas, sem saber ao certo o que dizer, mas se deixando levar pela narrativa do homem. Não sabia quem ele era e muito menos de onde surgira. Só sabia que ali estavam eles, parados no meio de algum lugar no meio do nada, porque algum esnobe da família real havia decidido que gostaria de fazer alguma coisa. Bem, era assim, quando alguém que é superior a você decide que você e mais toda uma tripulação italiana hão de parar no meio do sol, apenas porque o tal sangue azul quer comprar um pão, por exemplo, você pararia e não tinha nem o direito de fazer uma cara de azedume. Não deveria estar sendo tão ranzinza, o senhor Ettore Voltolini reconhecia, mas precisava dormir. O embalo de sua carruagem confortável o fazia ficar sonolento e ele sempre se deixava cair em um sono bom, não gostava de ser acordado e puxado de seu leito de descanso com indelicadeza, da forma que haviam feito agora.

–Meu filho mais velho, o nome dele é Francisco. O garoto se casou com quinze anos, e agora, aos vinte e sete, já é alguém na vida. A mulher que tem é bonita. É de beijar os pés de uma dama tão fina quanto aquela. A voz de minha nora não é mais alta que um sussurro, enquanto a do meu filho, muito homem, é grossa, rouca e autoritária. – o velho continuava a tagarelar – Quando as pessoas o vêem, não imaginam que foi criado bebendo de uma merda dessas. Não imaginam que quando o café faltava, a única coisa que minhas crianças tinham para se aquecer era esse vinho.

–Isso nem pode ser chamado de vinho! – um jovem Conde, que Matteo conhecia de muitas festas, também estava no grupo de homens. Seu rosto estava amassado, denunciando que também tirava o tempo para dormir – É uma verdadeira merda, como o senhor disse – mesmo dizendo palavrões, sua voz era educada. E mesmo bebendo daquele líquido, nem fizera cara feia. Um nobre, com todo direito da palavra.

–Não é? – o senhor concordou – E você, menino dos vinhos. O que me diz disso?

Matteo nunca fora chamado de menino dos vinhos. E também não sabia que o legado que receberia já havia alcançado o ouvido de tantas pessoas, pois pelo o que lembrava, ele não havia falado para o velho quem era seu pai. E muito menos sobre as parreiras que um dia seria seu patrimônio. Educadamente, riu:

–Já bebi melhores.

–Aposto que já. Um grande homem, seu pai – o velho engoliu um arroto grotesco. Matteo fez que sim com a cabeça diante do elogio – Entende de vinhos e espero que tenha herdado isso dele, já que velho Enzo teve apenas quatro filhos.

A forma como ele falava soava como se fosse um velho conhecido do Senhor Enzo Luigi Voltolini, mas Matteo duvidava muito. Era um garoto festeiro e mulherengo, e se esse velho fosse amigo do seu pai, se lembraria desse resto perambulando pelas várias festas no palacete da família. Um rosto tão gorducho, marcado pela idade e pelo sol, não seria facilmente esquecido. Além do mais, Matteo gostaria de se lembrar se houvesse conhecido uma pessoa tão ousada e franca. Havia momentos que chegava a ser engraçado.

–Diga ao seu pai que me chamo Pasini. Diga que tenho um filho de vinte anos, se quiser o casar com a menina Giulia. O nome do meu filho é Ettore.

O jovem senhor sorriu. A notícia poderia chegar aos ouvidos do seu pai, mas de fato, Pasini não poderia estar querendo levar isso a sério. Giulia era a menina da casa. Dois anos mais nova que Matteo, era a sua protegida. Ele queria sempre a proteger do mundo. De tudo. Já estava sendo bem complicado pensar na linda Giulia tão solta e perdida com o irmão indo para tão longe. Um aperto tocou seu coração. Envergonhado, o jovem abaixou o olhar e coçou o nariz. Sabia que nenhum dos senhores que estava ali naquela roda, poderiam de fato ver ou sentir o que ele estava sentindo, mas Matteo sentia-se desconfortável por começar a notar que a idéia de viver longe de seus entes queridos o causava saudade.

Logo, os homens pararam de falar de vinho. Todos experimentaram a taça daquele líquido horrível e decidiram que não era uma boa opção tentar ficarem bêbados agora. Não com aquela bebida. Provavelmente se ingerissem aquilo ao excesso, logo depois iriam vomitar as estranhas. Pasini ficou quieto, o que foi surpreendente. Ele encarava a sua garrafa de ferro e batucava os dedos calejados na pedra em que se sentava. Talvez esse estivesse mais alterado, como álcool na cabeça.

Disfarçadamente, Matteo foi saindo do grupo. Os homens começavam a trocar idéias sobre a vida, contando uns para os outros suas experiências com viagens e expectativas para casamentos, os que já eram casados, se vangloriavam de suas esposas, falando que eram obedientes e prestativas. Um dos homens da roda fez questão de exibir seu terno perfeito, e enchendo a boca para falar para quem quisesse ouvir, contou sobre como sua esposa Maria Rita, que tinha uma costura impecável e produzira todas as suas vestimentas. O assunto era desinteressante para o jovem Matteo, turbinado por emoções de jovens, desejos de jovens... Não queria casamentos. Sua mãe estava o enviando para Portugal justamente para se casar, ele, muito esperto, havia consentido, mas no seu interior, queria ir apenas conhecer uma corte, fazer parte de outro mundo, ainda que por pouco tempo. O que ainda não sabia era como iria explicar para a sua família quando voltasse desacompanhado. Dona Beatrici ficaria muito irritada.

Matteo foi se aproximando das carruagens reais conforme avançava os passos. Ali na frente, todas as conduções eram maiores e cheias de detalhes em ouro e bronze. Com a bandeira de Mônaco muito bem destacada em algumas das carruagens e vários brasões do clã Dulo espalhados por onde quer que se olhe aquele lugarzinho em especial, parecia abrigar apenas pessoas importantes. Até o cocheiro estava usando roupas melhores que a de Matteo, o que o fez olhar para sua camisa amassada com certa vergonha. Decidido, chegou perto de um dos guardas que faziam sua ronda por ali e perguntou:

–Senhor, gostaria de saber se vai demorar muito para retomarmos o caminho.

–Não sabemos – o guarda pareceu meio sem jeito em não ter a resposta – Vossa Alteza Real decidiu parar para...

O homem se calou, parecendo tentar engolir a própria língua por um segundo. O jovem esperou, erguendo as sobrancelhas e tentando não rir diante das bochechas roxas do guarda. No instante em que iria perguntar se estava tudo bem, ouviu um tilintar de saltos altos contra as pedras, virou-se imediatamente na direção do barulho. Uma jovem de pele clara e cabelos e olhos negros estava diante da sua frente, passando as mãos pela saia já perfeita. Seus traços eram firmes e a pele, mesmo sem precisar ser tocada, parecia ser muito macia. Matteo não a conhecia pessoalmente, mas cansara de ver tantas pinturas e desenhos do rosto perfeito. A princesa Kuanna. Em carne, osso e perfume de rosas, parada bem diante dele.

Seu subconsciente deu o comando para ele se reverenciar, mas suas pernas pararam. Seus olhos caíram do queixo delicado da moça para seu colo e ele engoliu em seco, tentando não desejar o corpo de Vossa Alteza Real. Ela se aproximou e esticou as mãos para o guarda, esse mesmo de bochechas roxas. O homem tirou do bolso um par de brincos e Kuanna os colocou com facilidade.

–Quem é o jovem? – pediu para o guarda enquanto colocava os brincos, por mais que olhasse dentro dos olhos de Matteo.

–Matteo – ele mesmo se apresentou – Vossa Alteza Real.

Ela não deu muita bola para a reverência, talvez porque já estivesse acostumada com isso, mas não deixou de soltar um sorriso fraco, quase beirando a inocência. Todos conheciam a fama de Kuanna, mas se Matteo fosse uma mulher e se fosse a princesa de Mônaco, faria tudo como ela fazia, isso não poderia negar. Iria se vestir para poder se exibir em belas roupas... iria usar um perfume bom para dar destaque a beleza e não se esconderia de nada.

–Podemos ir agora. Jovem senhor, pode voltar ao seu lugar – sua voz era doce e autoritária ao mesmo tempo. – Avise mamãe que já troquei o vestido e que já fiz xixi.

Matteo parou imediatamente, incrédulo:

–Você fez todos pararem porque queria fazer xixi?

–E trocar o vestido – o guarda acrescentou rapidamente.

Kuanna não deu ouvido e nem Matteo. Ela encarava o jovem de cabelos castanhos e olhos esverdeados como se tentasse achar o erro na sua pergunta. Estava sendo irônica irritantemente irônica.

–Sim – disse por fim. – sou a princesa.

–Garota mimada – resmungou.

–Desculpe jovem senhor, o que disse sobre a princesa de Mônaco?

–Porque não poderia simplesmente pedir para pararem a sua carruagem enquanto os outros seguiam caminho? Ficamos parados por horas para você fazer xixi.

Kuanna ergueu um dedo no ar, mas sua expressão era calma:

–E trocar de roupa – acrescentou.

–Mesmo assim. Não demoraria tanto tempo.

–Porque você está tão irritado? O que isso muda?

–Muda que talvez agora demoremos mais para chegar e todos ficarão mais cansados.

–Meu Jesus! Quanto drama, senhor Matteo – ela sorriu sínica. – Vamos retomar a viagem.

Matteo a olhou feio. E decidiu, que apesar de bela, não queria Kuanna nunca perto dele. Ela era insuportável. O tipo de mulher que ele fugiria quando tivesse a oportunidade. E foi isso que vez, deu as costas para a princesa de Mônaco e foi direto para o seu lugar na carruagem, onde poderia descansar.


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Notas finais do capítulo

Nosso representante italiano! Vou liberar uma foto dele aqui porque acho que o blog vai ficar meio parado enquanto acerto o tempo de escrita.

Matteo - http://cdn.papermag.com/uploaded_images/_MG_0390for%20email.jpg