Legacy - Interativa escrita por Ella


Capítulo 7
Capítulo 7 - Morning Softness, Night glow


Notas iniciais do capítulo

Olá minhas meninas! Aqui introduzo apenas duas das ótimas personagens que estou recebendo! Estou cada diz mais animada para a interação de tais personalidades (muito originais e completas, devo dizer) na história. Tenho certeza de que vocês não sabiam de uma coisa: Amelia tem uma prima! (nem eu sabia, mas a personagem deu um encaixe tão perfeito na história que sabia que deveria falar sobre ela nesse capítulo)
Um beijo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/621230/chapter/7

Capítulo 7 – Morning Softness, Night glow

Arya Methysth / Nymeria Hough

"Oque fizeram comigo me criou,
é um principio básico do universo,
que toda ação cria uma reação igual e oposta."

Todas as vezes era igual. Arya ouvia a risada fina e ritmidada de uma criança feliz. A menina em questão se divertia enquanto corria pelos corredores do palácio. As pessoas sempre diziam que aqueles corredores eram cinzentos demais, úmidos demais e frios demais, e tal descrição os fazia abrigar a morte. Mas ela não acreditava e nem nunca acreditou. Gostava de correr por lá, desviar dos palanques de pedra, pular por sobre um banco, brincar de arco e flecha. Havia certa beleza no discreto. Coisas bonitas nunca chamam por atenção.

De alguma forma, Arya sabia que aquela criança risonha era ela pois nunca vira alguém tão feliz simplesmente por estar naqueles corredores. A sensação era tão real, que era quase possível sentir o vento soprando contra seus cabelos da nuca. E ela continuava rindo e rindo até chegar ao fim do corredor, onde tudo escurecia. A pequena e feliz menina já não era inocente, magra e risonha, se tornara uma jovem bonita, com corpo escultural e personalidade rebeldia. Parada na escuro, a jovem respirou fundo, desconfiada do silêncio que se acabara e retomando a respiração, tentando mantê-la em um ritmo bom.

–Pai? – perguntou pela primeira vez, procurando pelo melhor homem do mundo. Não obteve resposta. Ajuntou a barra do vestido e deu mais três passos a frente, começando a ficar impaciente – Papai, O que está fazendo parado no escuro? Achei que estivesse brincando comigo!

Era estranho, mas no sonho a sequência acontecia exatamente dessa maneira. A primeira parte, ela era apenas uma criança se divertindo com o pai e quando chegava ao fim do corredor, se tornava uma adulta, parada em uma sala mais escura ainda. Onde não se via um palmo diante da mão. Arya esperou, franzindo o semblante.

Seu subconsciente já sabia o que vinha a seguir.

O grito agudo de alguém que prestigiava o que assistia pouco antes de um baque surdo no chão, e então ela olhava para seus pés. Agora banhados em sangue fresco. O líquido de gosto metálico escorria por entre seus dedos, ficando em suas unhas dos pés e manchando seus calcanhares. Ela arfou.

–Pai! – seu grito esganiçado era a mistura do terror com a dúvida. Mais um baque surdo.

E em seus pés, a cabeça de um homem de meia idade. Os cabelos cinzentos e os olhos castanhos estalados não deixavam dúvida nenhuma: Seu pai.

Arya pulou da cama, levando as cobertas e os lençóis ao chão. Seu rosto ardia em raiva e sua respiração ainda estava fora de ordem. Ela odiava aquele sonho que a atormentava dia sim e dia não. Durante as últimas duas semanas, era difícil conseguir dormir um sono de descanso, sem acordar no meio da madrugada, irritada, sabendo que poderia facilmente decapitar um homem.

A verdade era que a Arya sabia que só conseguiria expulsar essa angústia dentro do seu peito se tivesse a oportunidade de vingar seu pai. Nada no mundo seria capaz de convencê-la que seu pai, um homem certo e justo, seria capaz de matar um sobrinho, o primo de sua própria e única filha – isso não era humano e Irysh era.

A única coisa que Arya poderia sentir gratidão foi pelo fato de não terem permitido ver seu pai sendo decapitado. Sua mãe, Kimetrýa, viu, e manteve-se firme e forte. Não iria se abalar diante dos outros, afinal, ela era a mãe da verdadeira futura herdeira do trono. As pessoas podiam discordar, bater o pé, dizer que não e enfiar alguma outra pessoa dentro do palácio, para governar a Escócia, mas isso não mudaria o fato de que o verdadeiro sangue real escorria pelas veias da jovem de dezoito anos. Ninguém imaginaria que a terceira na linha do trono um dia teria o poder para assumir, mas quando isso aconteceu, ninguém quis. Primeiro porque eram machistas o suficiente para não suportar uma mulher no comando e depois por causa dos falsos boatos do assassinato do seu primo.

Irysh não o matou!

Arya correu para a sua penteadeira, agarrando-se com força na borda da madeira rígida e brilhante. Levantou os olhos para seu próprio reflexo no espelho. Quando ficava com raiva, seu rosto era quase irreconhecível, mas ainda assim, era explícito os sinais da beleza exótica, os cachos negros e perfeitos caindo até a altura dos seus seios e a boca delicada e desenhada, que se encaixavam com perfeição com os olhos castanhos expressivos. Respirou fundo, caindo o olhar aos poucos, até que encarava os nós dos seus dedos novamente.

–Preciso provar que papai é inocente - sussurrou para si mesma – Papai é inocente.

Dizer as palavras era muito fácil e causavam uma onda de tranquilidade dentro do peito da dama, no entanto, logo vinha o golpe principal, lembrando-a de que suas palavras não tinham valor nenhum sem o acompanhamento de provas. Ninguém acreditaria na filha de Irysh tentando, suplicando a inocência do pai. Seus braços cederam. Se ao menos alguém tivesse visto o momento do assassinato... Os dedos finos encontraram o porta-joias, prestes a cair. Arya não se importou em jogar a mão para o lado, deixando com que o pequeno recipiente encontrasse o chão. Um barulho estridente foi ouvido durante o baque e ela, suspirando, colocou-se de joelho para juntar os caquinhos, mas foi impedida por um par de mãos macias.

Sua mãe, vestindo uma camisola negra de mangas longas estava diante dela. Tinha os cabelos pretos soltos e bagunçados e o rosto amassado denunciava que estivera em um sono profundo. Talvez o primeiro desde a morte de Irysh, pois Arya não conseguia imaginar dor maior do que ir dormir e não ver seu parceiro deitar ao seu lado. Nunca mais.

–Levante-se, meu bem – a mãe murmurou, prestativa. A menina se apoiou na curva dos braços da mãe e se levantou. – Mais uma noite mal dormida, não é?

–O mesmo sonho – explicou com calma – Sempre o mesmo sonho.

Kimetrýa puxou a filha imediatamente para si, enlaçando-a em um abraço terno e apertado. Cheia de promessas quentes as quais a menina não tinha ideia, mas que procurou seu deleite. A mãe inspirava profundamente e depois soltava o ar, controlando suas emoções. Arya a apertou mais forte.

–As pessoas nos odeiam.

–Mais do que nunca – concordou a moça.

–Não acho que a Escócia seja um lugar seguro para nós. Não mais.

Arya pensou a respeito e aos poucos, sua mente foi concluindo que era verdade. Quando era pequena, passava muito mais tempo na fazenda da família do que no castelo, junto da rainha e de toda aquela riqueza. Lá, era livre para ser a menina-moleca que realmente era. Podia correr e escalar árvores. Praticar esgrima e voltar para casa com as mãos sujas de barro. Sua mãe nunca se importava, sempre a tomava nos braços e, pegando-a pelas mãozinhas, a guiava para um banho quente e com muita espuma para tirar o cheiro do suor. Ela adorava. Adorava quando seu pai ia visitar seu quarto para lhe dar um oi. Era diferente deste que dormia aqui, lá ele era maior, com vários quadros de pintores amadores nas paredes. A fazenda era mais fácil. No entanto, a cidade lhe proporciava momentos para poder abusar de seu vocabulário rico em irônia e sarcasmo. Adorava tentar colocar as pessoas nos seus lugares, apontando a elas que todos tinham defeitos. Ninguém é perfeito.

Contudo, elas não queriam nem mesmo mais ouvir suas respostas sempre tão afiadas. Agora se achavam no direito de olhar torto para mãe e filha só pela suspeita de que seu pai era um assassino. Eram poucas as pessoas que acreditavam em Arya e ainda assim, alguns que acreditavam, não queriam ir contra a maioria. Para arrancarem a cabeça de Kimetrýa seria questão de tempo. E depois iriam atrás dela.

–Vamos abandonar a embarcação – sua mãe a empurrou de leve, segurando seus ombros magros – Não vou conseguir enrolar por mais tempo. Até quando as pessoas vão conseguir tolerar minhas desculpas?

Arya franziu o cenho, prestando bastante atenção nas palavras que ouvia:

–O que quer dizer, mamãe?

–A princesa Amelia chegou a Portugal. E a notícia está se espalhando tão rápida quanto fofoca em bordel – ela esboçou um sorriso diante da piadinha – E logo é o aniversário da princesa Teresa, provavelmente as festividades desse ano serão muito grandes na Corte portuguesa. Marie está recebendo sua primeira nora, deve estar antecipando tudo para o casamento perfeito e eu sou capaz de apostar que não estão preocupados com os problemas do restante da Europa.

–Está sugerindo que os portugueses estão alheios sobre o... problema?

Houve um silêncio enquanto a mulher pensava a respeito de sua resposta. Ela pressionou os lábios e chegou a conclusão:

–Talvez sim. Mas também não irão ficar tão longe das notícias por tanto tempo.

–Claro. Dizem que o Rei Thomás é muito estudioso e informado.

–E é – ela confirmou – Mas presumo que lá é o lugar mais seguro. Pelo menos até que a situação se estabilize.

–Uma visita temporária?

–Sim. Amanhã, ainda pela parte da manhã, arrume o máximo de pertences. Escolha as melhores de suas roupas. Muitas pessoas partirão rumo a Portugal durante a noite. Você também pode ir.

–Quem vai?

–Duques, Condes... Em sua maioria, pessoas que não são muito comentadas, mas que são donos de bastante dinheiro.

Arya se interessou:

–Então vamos começar a arrumar nossas coisas agora mesma.

–Não! Não posso ir! Você vai. Eu fico.

–O quê?

–Thomás me conhece. E Marie também. Logo, iriam associar você a mim e estaríamos de volta nesse circuito.

–Mãe. Mãe...

–Eu vou sair pelo mundo. Sei me virar muito bem. Vamos nos encontrar logo, se for do desejo de Deus. – seu rosto assumiu a expressão maternal mais profunda, os olhos pareciam quase derretidos. – Hoje é seu último dia como Arya. Amanhã, quando acordar, fingirá que foi batizada com outro nome. Entendido?

Ela assentiu rapidamente.

–Ótimo. Seu nome será... Nymeria. – ela sorriu fraco – Nymeria Hough. E não deixe ninguém sequer desconfiar de suas raízes verdadeiras.

Arya, futura Nymeria, se jogou em mais um abraço apertado da mãe. Ficaram por muito tempo apenas trocando carinhos, matando a saudades antecipada, mas os pensamentos da garota não descansavam. Apesar de saber que teria proteção, ainda sentia que não era o suficiente para colocar o ponto final dessa história absurda. Todos tinham segredos, mas Irysh não. E as pessoas teriam que engolir e aceitar essa verdade.

Em determinado momento da madrugada, Kimetrýa decidiu ir se deitar. Deu um beijo delicado e demorado na testa da filha e deixou o quarto com uma expressão mais suave, que disfarçava seu nervosismo. Seria a primeira vez que se afastaria da filha e teria que admitir que era como cortar o próprio braço e o enviar para alguém. Doeria, sangraria e seria extremamente complicado viver sem. No entanto, o que servia de consolo, era que Portugal era uma opção segura e tranquila. E quando o furacão acalmasse de verdade, seria possível voltar correndo para sua menina.

Arya pensava o mesmo. E ainda mais. Sua cabeça batucava e ficou por muito tempo assim. Até que finalmente suspirou fundo e virou-se para tentar dormir novamente. Ao caminhar para ir até sua cama, viu a janela do seu quarto escancarada. Tinha se esquecido de fechá-la antes de dormir.

“Dorme com as janelas abertas e estará abrindo a porta para os pesadelos entrarem”

Era algo que seu pai sempre dizia.

Sendo mito ou não, a fechou de qualquer forma.

X

Helena Angelis

“O futuro pertence a beleza de seus sonhos”

Helena colocava as últimas vestimentas dentro do seu baú de viagem, de modo geral, havia decidido não carregar muitas coisas. Sabia que vários curiosos de seu país gostariam de visitar a corte Portuguesa, e as embarcações já estavam bem lotadas. Ela, muito educada, tomaria seu cantinho em uma carruagem e ficaria assim até que chegasse à Portugal. Decidira partir porque sentia saudades de sua prima, a princesa Amelia. Por mais que rei Gregório, de Atenas, e o rei Pedro, de Esparta, fossem muito amigos e próximos, já fazia anos desde a última vez que Helena tivera a oportunidade de visitar o maior castelo da Grécia e se divertir com a outra parte de sua família. Gostava muito da prima Amelia, apesar de julgá-la inocente e frágil, e achava suas damas muito divertidas e alegre, sempre trazendo um pouco de luz em cada lugar que passavam. Era uma atmosfera agradável estar tão próxima de pessoas assim, que mesmo com pouca diferença na idade, já se via uma diferença de amadurecimento.

Helena não era uma velha, ao contrário, estava linda em seus vinte anos de idade, mas isso a fazia cinco anos mais velha que Amelia, e ela sabia que muitas coisas tinham para mudar nesse período de tempo. Sabia que por ser uma princesa tão grande, a prima teria que aprender a tomar decisões fortes e que afetariam todo o mundo. Sabia que ela tinha que se casar e sabia também que nenhuma – ou quase nenhuma – garota quer se casar nessa idade. Mesmo inicialmente relutando a ideia de ir para Portugal, por julgar alguns costumes portugueses bem repugnantes, Helena pensou que gostaria de estar presente caso sua prima se casasse. E também gostaria de ser importante na construção de alianças entre monarcas importantes e sua família.

Na noite passada tivera a oportunidade de conversar com seu irmão Nicolas. Helena sabia dos compromissos do primogênito da casa, e sabia que não conseguiriam ter um diálogo de verdade antes de sua partida, por isso, depois do jantar, havia dado um abraço de verdade em Nicolas. Ele havia sempre cuidado muito bem dela, e era, definitivamente, seu melhor amigo desde a partida da rainha Sophia, morta devido a complicações no parto. Ele prometera, ainda muito cedo, que cuidaria de sua irmã mais nova. E cuidou muito bem.

–Helena! – a moça se virou ao ouvir o som da voz tão conhecida. Parada na entrada do quarto, estava sua cunhada, uma bela jovem de cabelos ruivos e olhos grandes. – Atrapalho?

–Imagina, Vanessa. É claro que não – ela sorriu ao ver a expressão iluminada de Vanessa. – Entre.

–Não quero tomar tempo, mas preparei algo para você usar e vim aqui para lhe dar um abraço de despedida.

–Não fale despedida! Fale até logo, afinal, pretendo ver vocês em breve!

–Ah, nós também! Tenha certeza disso. – Vanessa arrumou um fio de cabelo teimoso e entregou um pacote de presente para Helena. Ela pegou, meio desconfiada.

–O que você preparou?

–Abra e verá!

Helena obedeceu. Apoiando-se com os joelhos na beirada da cama e equilibrando o pacote em cima da coxa direita, a menina puxou a cordinha fina que se enrolava no papel, o barulho escandaloso do embrulho preencheu todo o quarto até que a princesa finalmente se livrou de todas as amarras e pegou seu presente. Era uma capa de viagem cinza-escuro com pele de ovelha nas mangas e no capuz. Era uma roupa de iluminar os olhos de qualquer pessoa, além do tecido ser bem pesado e macio.

–Queria dizer que fui em quem fiz, mas você saberia que é mentira – Vanessa brincou, mas era verdade. Sua cunhada não sabia nem colocar um fio na agulha, quanto mais fazer uma capa daquelas. – Mas eu tinha que lhe dar um presente desses. Imagine só se deixaria minha cunhada chegar despercebida na Corte?! Jamais!

Helena suspirou e revirou os olhos. Vanessa estava inspirada hoje.

–É um presente lindo, vou levar comigo durante toda tragetória. Muito Obrigada! – seu sorriso era tão sincero quanto suas palavras, mas ainda parecia insuficiente, então ela se inclinou e deu um abraço dócil em sua cunhada. – É muito bonito – repetiu, olhando para a capa em suas mãos. O tecido escuro destacando seus dedos pálidos.

–Combina com sua pele. E com os seus olhos.

–Então o usarei sempre que puder.

O silêncio permaneceu no quarto enquanto Helena acariciava os pelos da capa de viagem e Vanessa a observava com uma espécie de brilho intenso nos olhos. Parecia muito feliz e realizada. Talvez estivesse animada com o fato de que sua cunhada finalmente teria a oportunidade de se encontrar com tantos nomes importantes. Conhecer a rainha Marie e o rei Thomás, conversar com o príncipe Kai e até mesmo com a princesa Teresa.

–Nicolas está sentido – falou quando viu Helena se virar para fechar o baú – Mas está muito feliz também.

–Meu irmão está muito acostumado com a minha presença, imagino. Desde sempre andei ao seu lado, literalmente. Onde Nicolas estava, eu também estava. – a morena de olhos azuis se virou – Dê algum bom passatempo para distrair a mente do meu irmão, Vanessa. Quando chegar, não quero que demore em me enviar uma carta anunciando uma gravidez.

As bochechas delicadas de Vanessa coraram. Ela baixou o olhar e soltou um riso fraco:

–Não seja precipitada!

–Não estou sendo. Mas vocês dois se amam, eu sei disso. Um bebê seria muito bonito. Nicolas seria um bom pai, e você, uma ótima mãe.

–Está falando sério?

Helena parou:

–Estou.

Vanessa voltou a mostrar seu sorriso animado. Helena não sabia que tais palavras seriam tão importantes para a cunhada, mas sentiu um calor subir pelo seu peito ao saber que havia deixado alguém tão feliz logo cedo.

–Agora vá me fazer um favor – pediu, exibindo uma expressão mais leve – Chame algum soldado para carregar meu baú. Não consigo sozinha.

–Estou indo. Mas... – Vanessa estalou a língua – Sabe que eu sempre acreditei nos que eles dizem?

–O quê?

–Sobre a benção. Ninguém seria tão bonita se não tivesse a benção de Afrodite e nem tão inteligente sem a benção de Atena e... você tem uma voz tão bonita. Poseidon lhe concedeu a voz de uma sereia, tenho certeza.

–Obrigada, Vanessa. Mas acho que os deuses se esqueceram de cuidar da minha saúde, porque...

Vanessa correu para a cunhada e colocou os dedos em seus lábios, pedindo silêncio. Seus olhos intensos estavam arregalados mas escondiam um ar misterioso:

–Não critique os deuses em voz alta, está louca? E você está muito bem! Tenho certeza de que Apolo apaixonou-se por sua beleza e a poupa de doenças piores, ele sabe que você é cuidadosa e que sua saúde fragilizada não é um empecilho em sua vida, estou certa?

Helena avaliou o rosto da cunhada. Não era bravo, nem acusador, e ela estava certa. Muito certa. O parto complicado que a mãe tivera a deixara com alguns problemas de saúde. Ela não podia ter grandes incomodos ou se desgastar, pois isso a levaria ao desmaio. Cansava fácil demais e provavelmente o ar não conseguia fazer seu ciclo completo, deixando-a tonta antes de qualquer desmaio. A primeira vez que isso ocorrera , segundo seu pai, a menina Helena tinha apenas três anos. Ela não se lembrava desse dia, mas fora socorrida imediatamente pelo pai e pelo irmão, que estava presente na hora que ela havia passado mal. No entanto, depois de muitos anos sem esse incomodo, aos dezesseis anos, Nicolas havia tido uma queda bem feia enquanto cavalgava, tal notícia foi absorvida tão rápida pela princesa que a causou um novo mal estar.

Ela suspirou e segurou os pulsos da cunhada:

–Diga ao meu irmão que irei cuidar de mim mesma. Vou tentar pelo menos.

Vanessa relaxou os ombros e riu:

–Direi.

–Agora vá chamar o soldado para mim! – ela deu um pulinho – Rápido!

–Parece ansiosa para ir. Achei que não gostasse dos portugueses.

–Ah, eu gosto. Não gosto de alguns de seus costumes. Talvez eu não tente mudar alguma coisa por lá?

–O que diz?

–Sim. Não quero deixar eles me mudarem, afinal. Serei eu mesma e isso me basta. Só que me pergunto: Bastará para eles?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Arya (Adelaide Kane, atriz): http://upandcomers.net/wp-content/uploads/2013/10/21.jpg

Helena (Emily Rudd, modelo): https://c1.staticflickr.com/9/8311/7972397950_904bdfce95_b.jpg
Até quando der! ahahah
Beijos