Sakura

“Então se você me ama, deixe-me ir

E corra para longe antes que eu perceba

Meu coração está negro demais para se importar

Não posso destruir o que não está lá

Me entregue para dentro do meu destino

Se estou só, não posso odiar

Eu não mereço ter você

Meu sorriso foi tomado há muito tempo atrás

Se eu posso mudar, eu espero que eu nunca saiba”

- Snuff, Slipknot

Ouvi o som de asas batendo perto de minha cela, logo veio o som de vozes, que pareciam estar discutindo, também. Me encolhi num canto da cela o máximo que pude, mas minhas asas doíam muito. Fechei os olhos, com medo, quando ouvi a cela ser aberta. Será que haviam me buscado para o julgamento? Ou eu já tinha sido sentenciada ao inferno?

- Sakura...?- escutei uma voz familiar dizer. Aquela voz, não, não podia ser... Abri os olhos enquanto um pouquinho de esperança ameaçava crescer dentro de mim.

- Gaara... – murmurei. Meu Deus era ele mesmo! Eu não podia acreditar que meu melhor amigo estava ali. E foi então que toda alegria se foi. Gaara era um Arcanjo, se ele estava aí... Então era porque já haviam dado minha sentença. Eles queriam me ver sofrer muito mesmo para poderem mandar meu melhor amigo me exilar do Céu.

- Meu Deus... Olha só o que fizeram com você! Suas asas... Elas estão... Estão... Ah, venha. Vou tirar você daqui.

Antes que eu pudesse entender qualquer coisa Gaara me pegou no colo e me tirou de dentro da cela. Enquanto ele voava, só Deus sabe para onde, eu me deixei levar pela grande dor em minhas costas. Então tudo se apagou.

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Abri os olhos devagar, e me deparei com uma luz muito forte. Pisquei várias vezes até me acostumar com a claridade. Sentei-me e percebi que estava em uma cama macia. Olei em volta. Eu estava dentro de uma... Árvore? E então, incrivelmente, percebi que minhas asas não doíam mais! Olhei para elas com um sorriso no rosto... Estavam curadas!

- Já acordou? Pensei que fosse ficar desacordada por mais tempo... – Disse Gaara que em questão de segundos estava sentado em uma cadeira de madeira em frente a cama em que eu me encontrava.

- Gaara... – comecei, mas não sabia mais o que dizer.

- Sshhh... – murmurou ele para me acalmar. – Está tudo bem agora. Quando te tirei de lá suas asas estavam se deteriorando. Mas as curei assim que chegamos aqui.

- Como... Como consegui me tirar de lá? E que lugar é este?

- Ah, isso... Foi fácil tirar você de lá, sou um Arcanjo, nenhum anjos abaixo de mim ousaria me desrespeitar. Disse que havia sido uma decisão de todos os meus. E quanto a este lugar... Fica no lugar mais afastado do Éden, Temari construiu isto aqui para quando quisesse tirar umas férias do conselho e tudo o mais...

- Ela e Kankuru sabem que estou aqui? – perguntei.

- Claro, estão cuidando das coisas enquanto estou aqui com você.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ouvimos uma melodia, um tanto quanto aguda, soar. Olhei confusa para Gaara que havia se levantado depressa.

- Seu julgamento vai começar. – me explicou – Para nossa sorte não foi permitido que você comparecesse. Quando forem lhe buscar para aplicara sentença... Só então vão descobrir que você não está mais lá.

- O quê...? Oh, e os guardas?! Eles vão saber eu você me tirou de lá! Vão mandar nós dois para o inferno!

- Não vão, não. Escute Sakura: Eu tenho que ir agora, quando eu estiver lá, no seu julgamento, vou falar com os outros Arcanjos. Vou falar que você não fez nada de errado, que não cometeu pecado nenhum. Eles vão entender, vão perceber que estou certo e então tudo vai se resolver. Tudo vai voltar a ser como era antes.

- Não... – murmurei – Gaara! Não vá...!

- Não saia daqui até que eu volte. – foi tudo que ele disse antes de sumir.

Desabei a chorar. Porque tudo estava dando errado? Gaara não podia ir para lá, no momento em que ele fosse ao meu favor eles arrancariam suas asas! Eu não podia deixar isso acontecer... Enquanto eu estivesse ali, eu só causaria problemas. Eu tinha que ir embora. E dessa vez seria para sempre. Estava na hora de terminar o que havia começado antes de ir para a prisão.

Encostei minha mão na parede e logo ela se desfez abrindo caminho para mim. Voei para longe dali o mais rápido que pude. Que bom que Gaara havia curado minhas asas, mas eu ia ter que me livrar delas logo mais...

Gaara estava certo quando disse que estávamos no ponto mais afastado do Éden, demorou muito para que, voando pelas laterais para não ser vista, eu chegasse até os portões do Paraíso. Olhei lá embaixo, para além das nuvens e pensei em como eu daria tudo para estar com certa pessoa, que estava lá embaixo. Ah, como eu amava Sasuke. Entretanto, fora meu amor por ele que me levara até ali.

- O que pensa que está fazendo? – ouvi uma voz feminina familiar falar atrás de mim. Virei e me deparei com Temari.

- Estou indo embora daqui. Não me querem mais aqui, e acho que não posso suportar ficar mais aqui. Todos nós, anjos, decaímos muito. Talvez nem sejamos melhores que os humanos, como dizem...

- Eu sei – murmurou Temari – Mas se você for, será para sempre. Se voltar será condenada ao inferno. Tem certeza que quer mesmo ir?

- Não. Mas eu tenho que fazer isso.

- Tudo bem então. Mas... Sakura? Tem certeza de que não está indo pelo mesmo motivo que da outra vez?

- Tenho. – fiz uma pausa antes de continuar. – O que eu passei aqui serviu para me ensinar que o amor destrói as pessoas. Ele as arrasta até o fundo do poço. Eu nunca deveria ter me deixado apaixonar-me. Não vou cometer este erro novamente. Quando eu chegar a Terra, vou esquecer que um dia Sasuke Uchiha existiu. A Terra é enorme, e vou cuidar para que haja um abismo entre nós.

- Tem certeza?

- Não.

Temari sorriu e eu não pude evitar sorrir também. Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ela me abraçou. Senti nossas asas se entrelaçarem enquanto quase nos esmagávamos em um último abraço. Ela finalmente me largou.

- Vou dar um jeito de esconder seu paradeiro dos Arcanjos. E darei um jeito, também, de te visitar. E, não se preocupe você não vai ficar sozinha por lá. Gaara não desistiu daquele plano maluco dele. Vão arrancar as asas dele e o jogaram para a Terra. Vou dar um jeito para que ele caia perto de você.

- Ah, Temari... Eu não posso deixar o Gaara sofrer por minha causa...

- Sshhh. Não se preocupe. Via dar tudo certo.

- Tah, está bem então.

- Então já vai?

- Ainda Não. Preciso de um último favor seu.

- Qualquer coisa por você. O que éh?

- Arranque minhas asas.

- Sakura...

- Arranque-as, Temari.

- Não posso fazer isso. Se eu arrancá-las você se tornará um Anjo Caído.

- Se eu me tornar um Anjo Caído nunca precisarei dizer que sou uma fugitiva. Poderei mentir dizendo que fui banida do Céu. E os Arcanjos nunca mais teriam um motivo para virem atrás de mim. Então por favor, Temari...

- Está bem.

Não demorou muito para Temari arrancar minhas asas, e assim que elas saíram se desfizeram a pó que foi levado pelo vento. Estranho, não costuma ter muito vento no Paraíso, mesmo nos portões. De qualquer forma, a única lembrança de que elas um dia existiram foram duas cicatrizes de “cortes” em minhas costas. E a dor. A dor era dilacerante. Parecia que minhas costas pegavam fogo. Olhei para Temari, ela estava chorando.

- Obrigada por tudo, Temari. Até logo.

E estas foram minhas últimas palavras antes de despencar para Terra. A partir de agora eu seria um Anjo Caído para todo o sempre.