Conspiração escrita por Lura


Capítulo 39
Primeiros Movimentos


Notas iniciais do capítulo

Uau, uma atualização depois de dois meses! Não é uma ocorrência frequente, então vamos aproveitar!
Como de costume, agradeço aos leitores LVUzumaki, Gutor, Vivi Pearl, BabyCool e Ba, que comentaram o último capítulo. Vocês são demais!



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Floresta Waas - 3 de julho de X792

Praguejando, Gajeel se levantou, após passar as últimas horas se revezando entre caminhar e abaixar para farejar o chão. 

Ele havia perdido os dias naquela floresta estúpida, que era onde o rastro de Levy terminava, partindo do campo arqueológico que havia sido seu último local de trabalho, antes de desaparecer com seu time. No entanto, embora o dragon slayer do ferro estivesse certo que aquele era o lugar, a trilha acabava sem qualquer explicação. Bem, não exatamente, se ele considerasse que, pelas informações que possuíam, a seita Signum Sectionis contava com uma maga capaz de usar magia de teletransporte.

Entretanto, aquilo não fazia o menor sentido.

Afinal, a maldita seita vinha matando seus alvos, usuários de qualquer magia que envolvesse o elemento fogo, no lugar em que os emboscavam. Se Levy era um possível alvo, por que eles a teletransportariam dali?

Claro, era uma alternativa muito melhor do que encontrar o corpo da pequena maga naquela floresta, e Gajeel vinha tentando, desesperadamente, se apegar a ela.

Tudo o que ele conseguia pensar, é que se não tivesse brigado com a azulada na véspera em que ela viajou, ela não teria pegado o maldito trabalho sem avisá-lo. Assim, ele teria feito a missão com o Shadow Gear e provavelmente todos estariam bem.

Agora, tudo que ele conseguia fazer era se amaldiçoar por ser tão cabeça dura e implorar que qualquer divindade existente mantivesse Levy segura, até que ele pudesse encontrá-la. 

O barulho de asas batendo aumentou suas esperanças que, no entanto, foram novamente destroçadas, quando Panther Lily meneou a cabeça em negação, antes de retornar à sua forma menor.

A busca aérea também havia sido um fracasso.

Frustrado, o dragon slayer do ferro permitiu-se gritar a plenos pulmões, sem se importar com a possível proximidade de inimigos que pudessem ter ocultado suas presenças, disfarçando seus cheiros. Afinal, fosse o caso, com sorte, eles viriam atrás dele e deixariam Levy em paz.

 

 

Magnolia - 4 de julho de X792

— Nada ainda? — O questionamento de Natsu fez com que Lucy desviasse a atenção da lacrima de comunicação que vinha encarando nos últimos minutos. 

Ela sabia que o dragon slayer havia perguntado justamente com esse propósito. Qualquer novidade e ele captaria facilmente com sua audição aprimorada por seus poderes mágicos. Portanto, obviamente, ele havia escutado todas as ligações feitas por cada uma das equipes de busca reunidas, com o único propósito de avisar que nada haviam encontrado.

Levy, Jet e Droy continuavam desaparecidos.

— Nada — respondeu, no entanto, para não ser indelicada, apreciando o esforço do companheiro em distraí-la. — Eu sei que é frustrante não poder participar dos grupos de busca. Sinto muito por isso — desculpou-se.

Natsu estreitou seus olhos escuros.

— Não aja como se fosse culpa sua, Lucy — afirmou, categoricamente. — O ataque a Levy foi um recado. Eles abandonaram a clandestinidade. Não há como eu ficar longe de você quando a Signum Sectionis já deixou claro que a nossa filha é um dos principais alvos, mesmo que me corroa o fato de não poder ajudar com as buscas — expressou. — Além disso, não somos apenas nós os possíveis alvos aqui. Temos que proteger uns aos outros — lembrou, olhando ao redor.

Acompanhando o olhar do mago do fogo, Lucy contemplou cada um dos presentes, que estavam na mesma situação que ela e Natsu: Erza, Cana, Alzack, Bisca, Reedus e Romeo. Todos aborrecidos por não poderem participar das buscas, mas também conscientes que a presença deles era necessária ali, para que pudessem cuidar uns aos outros.

Todos haviam entendido que, mais que um anúncio ao fim da clandestinidade, o ataque ao Shadow Gear havia sido um movimento. À Fairy Tail, cabia a próxima jogada. Portanto, Makarov, optou por restringir o número de membros que participariam das buscas, a fim de evitar colocar os magos do fogo em posição vulnerável. Eles seriam alvos mais atrativos se estivessem longe da guilda, incluídos em grupos pequenos, como duplas ou trios, que eram mais eficientes em missões de resgate.

Claro, o mestre não descartou que, talvez, a intenção do inimigo fosse justamente reunir todos os magos do fogo em um mesmo lugar e acabar com isso em um só ataque. Mas o fato é que, em Magnólia, os membros da Fairy Tail tinham a vantagem tática. E por mais que todos aqueles magos fossem alvos, separados, não eram um obstáculo fácil de superar, que dirá juntos.

Quando Makarov anunciou o plano de ação para os membros da Fairy Tail, dois dias antes, obviamente, a maioria dos magos que eram possíveis alvos ficou descontente, no início. Isso porque, era fato que qualquer integrante da guilda, arriscaria a própria segurança de bom grado, para ajudar a salvar um amigo. No entanto, os ânimos foram facilmente contidos quando o mestre fez com que eles enxergassem as coisas por outra perspectiva. A perspectiva de que, todos os que estavam ficando, seriam eventualmente atacados e precisariam de proteção também. 

Uma vez que perceberam a veracidade na fala do mestre, aqueles que não eram classificados como possíveis alvos, foram enviados para realizar buscas em torno da região da Floresta Waas. Por Gajeel (que não esperou qualquer orientação de Makarov, mas partiu para procurar Levy assim que soube que estava desaparecida), foram informados que o rastro dela terminava ali.

Mesmo que o sentimento de frustração ainda permeasse o ambiente, sabiam que podiam confiar naqueles que foram: Laxus e a maior parte do Raijinshu; Gray, Juvia, Meldy, Lisanna, Elfman, Max, Warren, Nab, Wakaba, Vijeeter, Laki, Mystogan.

Até mesmo Gildarts havia saído para ajudar, e todos sabiam que não havia sido uma decisão fácil para ele, já que Cana era um dos possíveis alvos. Mas diferente de Natsu, cuja filha ainda se encontrava no ventre, sem defesa, Cana já era crescida e podia se cuidar até certo ponto. Claro, o fato de o mestre ter ficado na sede, pesou em seu julgamento. Mesmo que Makarov fosse um dos alvos, por sua capacidade de conjurar o fogo, era difícil acreditar que qualquer um conseguiria chegar até ele e atacá-lo. Além disso, Mirajane também permaneceu na Fairy Tail, para auxiliar na defesa, de modo que não houvesse apenas alvos entre os magos que estavam na sede.

— Não é como se eu conseguisse proteger qualquer pessoa, no entanto — após o breve momento de reflexão, a maga estelar retomou a fala, olhando melancolicamente para as pulseiras inibidoras de mago que não deixaram seus pulsos nos últimos meses.

— Lucy… — a loira sabia que Natsu estava prestes a censurá-la por sua mania de se sentir um fardo, mas não teve chance, pois Mirajane o chamou naquele momento.

— O mestre pediu que você fosse até à sala dele — avisou. 

O dragon slayer arqueou as sobrancelhas, curioso, mas assentiu por fim e levantou-se da banqueta que estava acomodado.

— Não pense que essa conversa acabou — avisou para Lucy, antes de se afastar.

A loira revirou os olhos, mas sorriu levemente com o fato de Natsu nunca aceitar que ela se sentisse inferior de qualquer maneira. Sempre que acontecia, ele insistia em animá-la em confortá-la até que não existisse qualquer resquício do sentimento.

— O que quer que ele fosse dizer, você sabe que ele teria razão — Mirajane, no entanto, assumiu o lugar dele. — Assim como eu sei que você não trataria um amigo que precisaria proteger como um fardo, você sabe que nenhum de nós se sente assim em relação a você — discursou.

— Eu sei, Mira-san — a loira afirmou, apanhando um pano para iniciar a limpeza do balcão.

— Ótimo! — exclamou, satisfeita. — O mestre acabou de me dizer que membros da Sabertooth, da Mermaid Heel, da Blue Pegasus e da Lamia Scale também se juntaram às buscas. Vou dizer aos outros, isso talvez alivie a preocupação por não poderem ajudar — avisou, antes de se afastar para fazer o anúncio.

Assim como os demais, a maga estelar se sentiu confortada pela notícia. No entanto, o sentimento de tranquilidade não foi pleno, visto que estava intrigada com o fato de o mestre ter chamado Natsu repentinamente.

O que quer que ele precisasse tratar em particular com o dragon slayer, em meio àquele contexto caótico e perigoso, não poderia ser bom, segundo à intuição de Lucy.

Ela só poderia desejar estar errada, pois não se julgava em condições de suportar mais um problema, qualquer que fosse.

 

 

Shirotsume - 4 de julho de X792

Gray piscou, se recusando a acreditar no que seus olhos viam.

Aparentemente, não era ruim o suficiente Lyon ter se juntado à equipe integrada inicialmente por ele, Juvia e Meldy, para a busca pelo time Shadow Gear.

Eles tinham que compartilhar a hospedagem também.

Ele sabia que nada de bom viria de dividir o um quarto de hospedaria com Lyon, Juvia e Meldy, mas não achou que o mago do gelo mais velho teria a cara de pau de ocupar o futon  ao lado do que Juvia estava acomodada. Porque sim, a hospedaria que encontraram era em estilo oriental clássico e tinha um único quarto disponível. 

Normalmente, ele não se importaria em dormir ao ar livre, mas já que Juvia estava carregando seu filho, o mínimo que poderia fazer, era tornar as coisas mais confortáveis para ela sempre que possível. A noite anterior, eles tiveram que passar na floresta, após um dia exaustivo de buscas, e ele não perdeu a maneira que a maga da chuva se revirou em seu saco de dormir, durante todo o tempo que permaneceu nele. Por isso, uma vez que se estabeleceram em Shirotsume ao fim do segundo dia de buscas, decidiu que poderiam se dar ao luxo.

Claro, por Juvia, ele estava se esforçando muito para não se arrepender dessa decisão, porém os outros dois idiotas tornavam isso uma árdua tarefa.

Com sua noção de espaço quase nula, Lyon, despreocupadamente deitado, continuava puxando assunto com a mulher de cabelos azuis, que se limitava a responder educadamente sempre que a deixa lhe era concedida.

O mago do gelo mais novo mal conteve o impulso de resmungar. Aparentemente, o fato de Juvia estaar grávida dele, não era um limitante para o discípulo mais velho de Ul, o que fez com que sua indignação crescesse um pouco. Ok, eles não estavam em um relacionamento, mas dividiam um apartamento e ela trazia seu filho na barriga, caramba! Se não quisesse ser respeitoso com Gray, podia ao menos manter a cortesia por causa da criança.

Para piorar, Meldy, que estava sentada na engawa, encarava Gray diretamente, com uma expressão que equilibrava o sadismo e a diversão.

Bom, se ela pensava que ele apenas se sentaria e remoeria a situação para o entretenimento dela, estava enganada.

Sem constrangimento, Gray se deitou no futon livre à esquerda de Juvia, agarrou-a pelos cotovelos e a içou.

— Kya! — a maga da água emitiu um gritinho, enquanto o mago do gelo mais novo a  passava por cima do próprio corpo, para acomodá-la no futon que ficava à esquerda dele.

— O que pensa que está fazendo? — erguendo o tronco com apoio nos cotovelos,   Lyon perguntou, indignado.

— Mostrando para você o que está faltando em relação à Juvia — respondeu. — Noção de espaço — revelou, indicando o futon vazio entre eles para ilustrar seu ponto.

— Gray-sama, Lyon-sama não estava incomodando a Juvia — a maga da chuva esclareceu. — Juvia realmente não se importa de dormir no futon ao lado do futon do Lyon-sama — afirmou, com sinceridade, fazendo com que Meldy mal conseguisse abafar a risada.

— Apenas fique quieta onde está, sim? — pediu o moreno, apertando a ponte do nariz. —  Ninguém vai conseguir dormir se esse idiota ficar dando em cima de você a noite toda. — Um leve rubor coloriu as bochechas da mulher de cabelo azul. 

— Gray-sama deve ter entendido mal. Lyon-sama sabe que agora Juvia só está disponível para o bebê dela — afirmou, com serenidade.

O discípulo mais novo de Ul não poderia ter previsto a pontada que aquelas palavras acarretariam em seu peito. Entretanto, talvez devesse ter contado que fariam com que os outros dois idiotas caíssem na gargalhada. Isso apenas o irritou mais, principalmente porque não conseguiu evitar o rubor que subia pelo seu rosto.

— Juvia não está entendendo, qual é a graça? — a maga da chuva perguntou com inocência.

— Apenas calem a boca e durmam! — Gray esbravejou, puxando o cobertor sobre si.

— Espera aí! — após entrar e fechar as portas corrediças que davam para o jardim, Meldy exclamou. — Quem disse que eu quero dormir ao lado desse otario?  — apontando para Gray, indagou, finalmente caindo em si sobre os arranjos de dormir.

— Então durma no jardim e veja se eu me importo — o moreno retrucou. 

— Juvia-Chan, troque de lugar com o Gray, assim você ficará entre ele e eu — pediu a maga de cabelos rosas, com extrema doçura em seu timbre.

— Ok.

— Não mesmo.

Gray e Juvia, respectivamente, responderam em simultâneo.

— Juvia-chan! Ele está fazendo isso de pirraça! — reclamou, batendo o pé.

— Não pareço ser eu quem está fazendo pirraça aqui — respondeu Fullbuster.

— Tudo isso porque você não admite que quer ficar ao lado da Juvia-chan e, em vez disso, tenta isolá-la de todos que demonstram se importar com ela! — a maga sensorial alfinetou.

Se Gray havia corado antes, não se comparava com o rubor que seu rosto havia atingido agora.

— Uau! Você acha que me conhece tão bem! — desconversando, ironizou, liberando o futon em que estava para acomodar-se ao lado de Lyon.

— Quem disse que eu quero ficar perto de você??! — o rapaz de cabelos claros gritou, empurrando-o.

— E você acha que eu quero? — o moreno respondeu, tentando afastar o outro com o travesseiro.

Em meio à peleja, Meldy não perdeu a maneira que Juvia murchou visivelmente no momento em que Gray trocou de lugar.

Com um gemido desanimado, a garota de cabelos rosas se preparou para intervir. 

— Volta para lá e assuma as consequências das suas ações! — gritou, jogando Gray de volta para o futon ao lado de Juvia com um chute. O moreno ainda gania de dor por ser atingido, quando ela continuou, aos berros: — E você também — apontou para Lyon —, vai para lá, que eu não quero passar a noite entre dois idiotas, especialmente ele — declarou, indicando Gray novamente. — Basta você — acrescentou, também empurrando o albino para o futon seguinte com outro chute, para se acomodar no futon da ponta.

— Mas eu não quero ficar perto del… — Lyon começou a protestar.

— Como se eu me importasse! — Meldy cortou, assumindo uma aura sinistra que fez com que os demais engolissem em seco.

— Uh, alguém fica violenta na cama — recuperando-se rapidamente de seu receio em relação à energia hostil que a outra emanava, Lyon provocou, escolhendo cuidadosamente suas palavras para o efeito de duplo sentido. — Talvez eu não tenha ficado num lugar tão ruim, afinal — completou, agitando as sobrancelhas sugestivamente para a garota de cabelos rosas, que apenas rolou os olhos para cima.

Gray bufou audivelmente, não gostando do rumo da conversa.

— Manda ela de volta pro meio! — disse para Lyon. 

— Eu faria isso por que…? — o mago do gelo mais velho desafiou. 

— Pé no saco ou não, ela ainda é a protegida da Ultear, e eu não posso simplesmente deixá-la ao alcance de suas mãos sujas sem vigilância — argumentou Fullbuster, antes de passar Juvia novamente por cima do próprio corpo para acomodá-la em um dos futons do meio, retornando ao futon da ponta oposta ao de Meldy — Assim ela deve calar a boca — concluiu.

Com um suspiro dramático, Lyon imitou Gray, agarrando Meldy pelos cotovelos para passá-la por cima do próprio corpo, trocando de futon com ela, ignorando totalmente os protestos da garota por ser manejada como um objeto.

— Para sua informação, isso não é o suficiente para manter uma garota a salvo de um homem — disse o albino.

— Você é minimamente decente, Lyon. Sei que não tentaria algo com todos aqui — argumentou Gray, levantando-se para puxar o interruptor em corda, apagando a luz.

— Então por que me fez trocar com ela, em primeiro lugar? — questionou esbravejando, mas não teve resposta.

— Vocês dois são ridículos! Eu posso cuidar de mim mesma — alegou a garota de cabelo rosa, estranhando o fato de, repentinamente, ter virado o centro das atenções, quando no geral, Juvia é quem ocupava tal lugar. Na maior parte do tempo, Meldy se sentia sobrando naquele grupo, mesmo que sua ligação com Ultear, filha de Ul, fosse um elo que os configurasse em algo como uma família estranha, integrada apenas por membros postiços.

Sem dar muita importância ao fato, ciente que se tratava de uma alteração momentânea na dinâmica do grupo, virou-se para ficar de costas para Lyon e de frente para Juvia.

—  Claro que você pode se cuidar. Ninguém duvida disso — alegou o albino, em timbre malicioso que apenas fez com que Meldy revirasse os olhos novamente.

Foi quando ela sentiu o indicador do mago do gelo mais velho tocar o meio de sua coluna e subir por sua espinha, até quase alcançar-lhe o pescoço.

A garota de cabelos róseos mal conseguiu evitar o arrepio que a ação provocou, e agradeceu a qualquer divindade existente que o intenso rubor que veio junto, não podia ser captado no escuro. 

— Boa noite, Mel-Chan! — alheia ao que havia acontecido, Juvia desejou, alegremente, segurando uma das mãos da amiga.

— B-boa noite, Juvia-Chan — respondeu, sem conseguir evitar gaguejar e amaldiçoando o mago do gelo mais velho pela risadinha abafada pelo travesseiro que conseguiu captar. — Boa noite para você também, bebezinho — acrescentou, fazendo um carinho na barriga de Juvia, decidida a esquecer o assunto.

Por sorte, não teve que pensar muito naquilo, uma vez que uma voz que não pertencia a nenhum deles começou a ressoar pelo quarto:

— Gray, você está aí?

Como se houvesse formigas em sua cama, o mago do gelo mais novo levantou-se num salto para alcançar a lacrima de comunicação portátil que estava posta sobre seus objetos pessoais. Os demais, mal conseguiram divisar o rosto do mestre Makarov na tela de cristal, antes que o moreno saísse pelas portas corrediças em direção ao jardim, em busca de privacidade.

A tensão permeou o ambiente e nenhuma palavra foi trocada, até que Fullbuster retornou e anunciou:

— O mestre acabou de me designar para uma missão. Eu estou saindo agora. 

O quarto de hora que se seguiu, foi desorganizado e com explicações pela metade, dado o sigilo do trabalho que Makarov tinha concedido a Gray, por isso, Meldy não entendia como, exatamente, havia terminado sozinha naquele quarto de hotel com Lyon.

Normalmente, Gray rejeitaria qualquer ajuda de Juvia, mas dessa vez, não levantou grande oposição quando ela disse que tinha o pressentimento que deveria segui-lo. A maga sensorial só podia imaginar que, qualquer que fosse o trabalho, Juvia estaria mais segura com ele, do que nas buscas pelo Shadow Gear, com a possibilidade de deparar-se com os membros da Signum Sectionis a qualquer momento. Gray e a própria Meldy haviam sido contra a participação de Juvia na missão de resgate desde o princípio, mas a maga da água insistira em participar, o que culminou com os três na mesma equipe, para que ele pudessem vigiá-la de perto.

Era inegável que Gray estava perdido em relação à gravidez, mas ao menos demonstrava ter assimilado que a segurança de Juvia e do bebê eram prioridade, gostando ele da situação em que se encontravam ou não. 

Meldy só podia desejar que isso fosse suficiente para protegê-la, já que não obteve permissão para acompanhá-los na misteriosa missão designada por Makarov.

— Devemos continuar de onde paramos? — puxando-a de sua espiral de preocupação, Lyon indagou, inclinando-se sobre a garota, que estava sentada sobre seu futon.

Surpresa, a maga sensorial não conseguiu evitar de cair de costas sobre o colchão.

— O q-que pensa que está fazendo? — guinchou, ao vê-lo se aproximar cada vez mais, seu cérebro entrando em pane em razão de os lábios dele estarem tão perto.

No entanto, quebrando toda a expectativa, o rapaz abriu um sorriso maldoso, que logo se converteu em risos e, em seguida, em uma gargalhada escandalosa, que durou vários minutos, com ele caído de costas ao lado dela.

— Não se preocupe! — com fôlego escasso, ele mal conseguia falar entre as risadas. — Não tenho pretensão de ter nada com uma criança — alegou, tornando a gargalhar.

Meldy apenas permaneceu petrificada no lugar, até que a vida retornou ao seu corpo, em uma onda de fúria.

— Como ousa brincar comigo assim? — esbravejou, sentando-se para tentar atingi-lo com um travesseiro.

O golpe foi facilmente bloqueado por Lyon, que parou de rir imediatamente, para encará-la com os olhos afiados.

— Ao menos você não continua aflita — observou. — Eles vão ficar bem — acrescentou, e ela não teve dificuldade em entender que ele se referia a Gray e Juvia.

— Ele fez isso só para me distrair? — questionou-se mentalmente, ainda o observando com cautela. — O fato de uma pessoa estar vulnerável, não é pretexto para brincar com ela, mesmo que seja para distrai-la — expressou em voz alta, enfatizando a palavra “brincar”, evidenciando que a utilizava com outro significado.

— Certo, certo. Me desculpa — pediu Lyon, puxando o cobertor do próprio futon sobre ele, antes de acomodar-se sobre seu lado direito, de costas para ela.

— E eu não sou criança! — continuou a jovem. — Eu já completei dezoito anos! — argumentou.

— Um poço de maturidade! — zombou ele. — Isso é um convite para que eu continue? — provocou, olhando-a brevemente por cima do ombro, antes de voltar-se novamente para o lado oposto.

Meldy sentiu uma veia saltar em sua testa. Era pré-requisito todos os magos do gelo serem idiotas? 

Infelizmente para Lyon, ela estava prestes a provar que ele havia mexido com a garota errada.

Não demorou muito e o albino saiu da própria cama num sobressalto, estranhando o fato de Meldy se encontrar a dois futons de distância. Ele podia jurar que alguém havia acabado de lhe tocar.

A marca rosa brilhando em seu pulso lhe deu a resposta.

— O que diabos é isso? — erguendo o pulso, perguntou, a voz baixa e perigosa.

— Isso — começou ela, levantando o indicador da mão direita, cujo pulso tinha sua própria marca rosa brilhante, combinante com a dele — é uma amostra do que você nunca vai ter — afirmou ela, passando o indicador na mão marcada do joelho direito até a coxa, enquanto o polegar da outra mão deslizava sobre os próprios lábios.

Lyon engoliu em seco ante a sensação das carícias da garota no próprio corpo.

Ele pôde sentir as mãos dela subirem lentamente por sua perna, deixando em sua pele a sensação de um rastro de fogo, e estava certo que estava prestes senti-la em uma área perigosa, quando Meldy caiu na gargalhada, antes de desativar a magia.

— Boa noite! — entoou alegremente, antes de deitar-se sobre lado esquerdo,  de costas para Lyon, semelhante à maneira que ele fizera antes.

O rapaz cerrou os dentes e agarrou os cobertores com força, sem conseguir desviar a atenção da maneira que os quadris amplos dela se projetavam naquela posição, parecendo ainda maiores.

Em sua mente, a voz de Gray dizendo que ele era minimamente decente, repetia-se, como tentativa de acalmar os pensamentos sujos que começavam a se sobrepor à sua razão.

— Diaba! — foi tudo o que resmungou, antes de retornar ao próprio futon, fazendo questão de acomodar-se novamente de costas para a pequena megera.

 

 

Magnólia - 5 de julho de X792

Natsu e Lucy desceram as escadas dianteiras da guilda de mãos dadas. O carroceiro já aguardava, com sua charrete, e Lucy inevitavelmente sentiu uma pontada no peito, ao encarar o veículo que levaria o dragon slayer para longe. Sua aflição, no entanto, foi amenizada pela onda de diversão que a atingiu quando o mago do fogo gemeu em desolação, ao perceber que passaria tanto tempo dentro daquele inferno sobre rodas.

— Ria! É porque não é você! — reclamou, virando-se para encará-la de frente.

— Hoje eu tenho propriedade para dizer que seu problema com transporte não é brincadeira — comentou ela, também se colocando de frente para ele. — Aparentemente, nossa filha compartilha da mesma aversão e eu fui inevitavelmente atingida — lamentou, enquanto acariciava a a protuberância em seu ventre. 

Involuntariamente, Natsu sorriu ao ouvi-la dizer “nossa filha”, e juntou-se a ela para acariciar a barriga inchada, deslizando ambas as mãos pelas laterais, subindo e descendo, diversas vezes.

Lucy havia crescido ainda mais durante os últimos dias, embora o inchaço se limitasse à barriga e aos pés. Era visível para qualquer um que o bebê deles crescia forte, e se ela já estava tão grande ao fim do sexto mês de gestação, Natsu nem conseguia imaginar como estaria quando alcançasse o nono. 

Claro, ele descobrira cedo demais que expressar esse tipo de pensamento em voz alta para uma mulher grávida com a autoestima em decadência, era um erro muito grave. De alguma maneira, Lucy entendeu que o mago do fogo havia dito que ela ficaria gorda como uma porca, e ele perdeu horas convencendo-a que, aos seus olhos, ela nunca estivera tão linda.

Bem, Natsu foi sincero em cada palavra.

Ali mesmo, sobre o sol nascente, os cabelos dourados de Lucy pareciam reluzir como fios de ouro, e o vestido fluido azul claro faziam com que ela parecesse uma visão sobrenatural. Tão bela e carregando seu filho. 

Inevitavelmente, o peito de Natsu se encheu de orgulho. Ele descobrira, nos últimos meses, certo prazer no fato de Lucy, uma mulher extremamente linda, estar inchada com seu filho por nascer. Qualquer um que a visse poderia dizer que ela havia mudado por carregar seu bebê. Era uma satisfação possessiva, totalmente ligada aos seus instintos dracônicos, acreditava.

Claro, não era a única coisa que seus instintos afetavam. O fato de ter que deixá-la, mesmo por breves períodos de tempo, tornava-se cada vez mais difícil, quase doloroso, conforme a gestação avançava.

E o olhar desolado que ela lhe lançava naquele momento, também não ajudava.

— Eu vou voltar logo — disse ele, afagando os cabelos dourados.

— Promete? — indagou, sem se importar em demonstrar sua insegurança. Afinal, ela estava “bastante” grávida e sobrecarregada com todos os eventos recentes, portanto, tinha esse direito.

— Prometo — afirmou. — Eu só peguei o trabalho porque ele pode nos dar uma pista sobre a localização do E.N.D. Se for real, isso tiraria os malucos dessa seita dos nossos pés. Você ficaria mais segura — lembrou.

Apesar de sua determinação em não sair do lado de Lucy agora que a Signum Sectionis havia abandonado o anonimato, no dia anterior, Makarov o chamou, dizendo que havia perguntado a alguém confiável se possuía informações sobre E.N.D., sobre a Signum Sectionis ou sobre a magia devil slayer. Tal contato havia lhe respondido que sabia onde poderiam conseguir informações sobre E.N.D., mas para isso, Makarov teria que enviar Natsu e Gray em uma missão, num dos extremos do país.

Era longe e significava que ele teria que deixar Lucy por alguns dias. Também poderia se tratar de uma isca para afastá-lo Fairy Tail e emboscá-lo em uma posição vulnerável, já que era um dos alvos principais. Contudo, se ele de fato conseguisse a localização de E.N.D. e a divulgasse, os membros da Signum Sectionis certamente perderiam o interesse em Lucy e em seus amigos usuários de feitiços com elemento fogo. Lucy poderia passar o restante da gestação em segurança e eles poderiam voltar a se preocupar apenas com as falsas acusações do Conselho Mágico, que não eram um problema pequeno, para começar.

Era uma aposta que valia a pena fazer.

— Eu sei disso, mas o fato dessa pista aparecer só agora, quando eles estão atacando abertamente, me faz temer uma armadilha. Parece uma isca — como esperado, Lucy estava sempre a par de tudo.

— Bem, se eles vierem atrás de mim, então eu só preciso derrotá-los e acabar logo com isso. Todos saem ganhando — tranquilizou-a, em sua confiança inabalável. Todavia, sua expressão otimista vacilou um pouco, antes que ele continuasse: — Na verdade, meu medo é que eles venham atrás de você, enquanto eu estiver fora — alegou, deslizando as mãos pelo cabelo dela para colocar uma mecha atrás da orelha.

Lucy arregalou os olhos levemente. Era raríssimo ver Natsu admitindo seus medos, abertamente. No geral, sua fé em si mesmo e em seus amigos era inabalável, levando a uma crença constante na vitória, independente do nível de dificuldade de qualquer desafio que estivessem prestes a enfrentar.

— Eu vou ficar bem — disse Lucy, para confortá-lo. — Honestamente, se for de fato uma armadilha, a probabilidade maior é que seja contra você — supôs.

— Uau, isso é para me consolar? — brincou ele.

Em retaliação, a maga estelar lhe deu um tabefe no ombro.

— O que eu quero dizer é que mesmo que te tirem daqui, mais magos tão fortes quanto você ficarão para me proteger. Mas você estará em uma posição vulnerável, longe de casa e em um grupo menor — explicou.

— Você também não precisa se preocupar com isso. Além de Gray e Juvia que estão a caminho de lá, a Mira está indo comigo — lembrou. — Francamente, eu acho um exagero da parte do mestre, tenho certeza que poderia dar conta desses idiotas sozinho — acrescentou, limpando a orelha despreocupadamente com o dedo mindinho.

A loira rolou os olhos para cima, mas caiu na gargalhada em seguida.

Ali estava, a confiança inabalável que sempre a deixava tranquila, independente do tamanho do problema em que se encontrassem.

Contagiado pela risada da maga estelar, o dragon slayer não pôde evitar de abrir seu grande sorriso de assinatura, que exibia todos os dentes.

A felicidade, todavia, durou poucos segundos e novamente assumiu os traços da melancolia.

— Vou sentir saudades — Natsu afirmou, entranhando os dedos nos cabelos loiros para puxá-la levemente, ao mesmo tempo em que se abaixava, de modo que pudesse encostar a própria testa na dela. — E também vou sentir sua falta, pirralha — acrescentou, levando a mão livre para novamente acariciar a barriga inchada da parceira, não se surpreendendo ao sentir uma série de cutucões em resposta. Já fazia algum tempo que o bebê reagia ativamente ao som de sua voz. Isso sempre lhe dava uma sensação quentinha no peito.

Lucy fechou os olhos, apreciando o contato.

— Como pôde sentir, ela disse que também vai sentir sua falta — alegou. — E devo dizer que o mesmo vale para mim — emendou.

Lucy não resistiu à força aplicada contra a sua nuca, ou à demanda exigente dos lábios de Natsu, que se movimentaram languidamente contra os seus. Era apenas natural agora, mesmo que ela ainda se sentisse corar, sabendo que um dos guardas do conselho os observavam de perto, sempre vigiando-a, e também que seus colegas de guilda se aproximavam, dados os passos que podia ouvir contra as escadas.

Assim que eles se separaram, o pigarro de Makarov os colocou em alerta:

— Está na hora — avisou o mestre, que vinha seguido de Mirajane, equipada com sua capa de viagem e pequena mala de rodinhas, em cima da qual, Happy estava acomodado.

— Certo — Natsu concordou, antes de puxar Lucy para um último abraço, tão firme quando a condição delicada dela permitia. A maga estelar suspirou em contentamento, com a sensação de proteção que a dominou entre os braços fortes, e inevitavelmente arrepiou com as três palavras que ele proferiu baixinho em seu ouvido, as quais ela logo respondeu, também aos cochichos. 

— Vocês são tão melosos — assim que eles se separaram, Happy reclamou. — Não precisa se preocupar Lucy, eu vou cuidar bem desse idiota — afirmou, voando até a loira, para se jogar contra o peito dela e, em seguida, contra a barriga. — Em troca, você cuida da Nashi — pediu, esfregando as bochechas peludas no ventre estufado.

— Esse não é o nome dela — resmungou Lucy, acariciando o gato azul com carinho, no entanto. E obrigada, Happy. Tenha cuidado você também — pediu. 

— Aye sir! — exclamou o exceed, antes de voar para o ombro de Natsu, que já havia se equipado com sua grande mochila. 

— Até mais, Lucy! Eu também prometo cuidar dos dois — Mirajane garantiu, enquanto a abraçava carinhosamente, antes de entrar na carruagem, sendo seguida por Happy, que voou atrás dela.

Por último, Natsu começou a subir os degraus do veículo, mas parou a fim de olhar para Lucy uma última vez e pedir:

— Por favor, não saia da guilda enquanto eu estiver fora.

Lucy assentiu com  a cabeça.

— Nós já conversamos sobre isso. Eu não vou — prometeu. 

De fato, a maioria dos magos que eram alvos da Signum Sectionis, se hospedariam na guilda por um tempo, para que pudessem proteger uns aos outros e Lucy e Natsu não foram exceção.

— Certo — afirmou o mago do fogo, ainda incerto quanto à sua entrada no veículo.

— Apenas vá, pirralho, e traga sua bunda de volta a salvo. Lucy estará segura conosco — Makarov garantiu.

Com a confiança renovada, Natsu assentiu e adentrou o veículo, acenando em despedida por cima do ombro.

Sem demora, a porta se fechou e o veículo partiu, as rodas de madeira provocando um alto ruído contra as ruas de pedra.

Acariciando a barriga enquanto observava a carruagem se afastar, Lucy consolou-se com o pensamento que em breve Natsu retornaria, e que aquela sensação de pavor que crescia em seu interior era resultante apenas do estresse de todos os problemas que vinham enfrentando.

Mesmo assim,o sentimento de terror ainda persistia, enquanto ela adentrava a sede da guilda acomoanhada do mestre.


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Notas finais do capítulo

A “dança” dos futons é uma cena que eu queria, mas tinha desistido, por acreditar que não conseguiria encaixá-la na fic e por não querer delongar a história apenas para que ela se encaixasse. Originalmente, ela aconteceria no apartamento de Grau e Juvia, em um contexto em que o mestre pediria para os magos estarem sempre acompanhados, em qualquer momento, mas quando planejava a dinâmica das esquipes de resgate, pensei, “porque não?”. Acho que foi uma parte interessante para demonstrar a dinâmica entre Gray, Juvia, Meldy e Lyon, e ainda me deu a oportunidade de explorar um pouquinho o romance entre os dois últimos. Quem pegou a deixa que eu deixei disso há muitos capítulos atrás? Eu shippo muito a Meldy e o Lyon (entre os personagens secundários, a Meldy é minha favorita), e queria que a fic evidenciasse um desenvolvimento subtendido entre eles. Também tinha abandonado a ideia, então fico feliz de ter cumprido (mesmo que não vejamos muito deles daqui em diante).
E por falar do que não veremos muito daqui em diante, os momentos divertidos ficarão escassos. Estamos caminhando para o auge do conflito, e eu deixei algumas dicas espalhadas neste capítulo do que está prestes a acontecer. Será que vocês captaram?
Enfim, muito obrigada por continuarem me acompanhando nessa jornada. Tudo o que eu queria era terminar essa fic este ano e acabar com essa espera de anos de vcs tá ver o fim da história. Mas a inspiração é volúvel, então me contento em escrevem sempre que posso.
Até a próxima!

Se você quiser conversar comigo sobre a fic ou qualquer outra coisa, pode me encontrar pelo Instagram @nomundodalura. Quem me encontra sabe como eu amo conversar com leitores e como isso me ajuda.



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