Conspiração escrita por Lura


Capítulo 33
Noite de Chuva


Notas iniciais do capítulo

Como sempre, perdão pela demora. Vou deixar o discurso de redenção e as informações importantes para as notas finais, pois vocês não merecem perder mais tempo antes do capítulo.

Como sempre, um agradecimento especial aos leitores
Guardiã das Estrelas, Gutor, BabyCool,
Lucy Chan, Ba, Mayura, Lunatsuki, Blue, Writter e JúliaT por terem comentado o último capítulo.

Agradeço ainda, a todos os demais que recomendaram a fic, pois por algum motivo, não consegui acessar as recomendações (não sei se a função foi tirada ou se eu me desacostumei com o site a esse ponto). Se alguém puder me dar um help e eu descobrir em são, continuarei dedicando os capítulos individualmente.

É isso. Espero que gostem.



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Capítulo XXXII - Noite de Chuva

 

Magnólia - 02 de maio de x792

Lucy não demorou a se acostumar com o serviço.

Claro que ela preferiria mil vezes se aventurar em missões com seu time, mas servir o bar da guilda definitivamente não era ruim. O trabalho não era exatamente leve, mas as outras garotas garantiam que ela não pegasse tarefas que demandavam muito esforço ou pudessem ser perigosas devido à sua condição. A loira bem se esforçava para não causar a impressão de usar da gestação para trabalhar menos, mas reparou que, muitas vezes, quando aparecia algo para fazer, as outras funcionárias corriam na sua frente para que pudesse descansar um pouco mais. Claro que isso a irritava profundamente, o que fazia com que repetisse diversas vezes ao dia que estava grávida, não doente, mas era sempre respondida com um revirar de olhos. 

No fim, não havia muito o que fazer além de se conformar em seguir as tarefas designadas por Mirajane. Como funcionária mais antiga, ela acabou assumindo o papel de “garçonete chefe”, responsável por coordenar os serviços, dividindo-os entre Lucy, Kinana e Lisanna, quando esta estava disponível. 

Os uniformes das garçonetes eram uma atração à parte. Mirajane tinha realmente acertado ao decidir que as outras funcionárias usassem vestidos volumosos e comportados como o seu. Isso tinha instigado ainda mais o interesse dos clientes externos — especialmente masculinos —, atraídos para a guilda apenas para serem servidos por lindas garçonetes uniformizadas.

Não que elas gostassem dessa atenção, mas dinheiro no caixa era sempre bom, então faziam o show de bom grado. Além disso, pelo menos nessa parte, Lucy poderia ficar sossegada. Aparentemente, o interesse masculino caia drasticamente se você estivesse carregando um filho de outro cara. Embora esse fato chamasse atenção de outras maneiras, também desagradáveis, como a situação que vivia naquele momento.

— Você poderia me deixar carregar as compras — Doranbolt sugeriu, talvez pela décima vez apenas naquele percurso.

— Doranbolt, é sério! Não está pesado! — Lucy respondeu, em tom de desânimo, abraçando a sacola de papel pardo ainda mais contra o peito, uma vez que deixá-la naquela posição ajudava a disfarçar o tamanho de sua barriga e afastar olhares curiosos. — Além do mais…

— Você está grávida, não doente — completou, evidenciando que mesmo ele tinha escutado aquele discurso muitas vezes.

A maga sorriu de lado.

— Bom saber que vocês me escutam, mesmo que revirem os olhos — comentou, risonha. — E também, não quero que pensem que estou me aproveitando da situação para ter os guardas do Conselho como empregados ou coisa assim —  explicou.

— Eu duvido que as pessoas cheguem a tanto — começou a argumentar, mas parou de caminhar ao ver que a loira fez o mesmo.

Prestes a perguntar a razão de terem interrompido o percurso, reparou que ela fitava fixamente um estabelecimento situado do outro lado do rio.

O moreno ficou levemente intrigado. O local deveria ser recém-inaugurado, uma vez que não se lembrava de tê-lo visto antes, contudo também não parecia um local que Lucy frequentaria. A aura sombria poderia ser sentida mesmo dali, e era apenas acentuada pela lugubridade de seu interior estreito.

— Você quer entrar naquele lugar? — indagou, levemente surpreso, despertando a maga estelar de seu transe. 

— Ah não! — A loira tratou de afirmar, retomando a caminhada. — Aquele lugar apenas me lembrou que há algo que quero saber — justificou.

Doranbolt tornou a olhar o estabelecimento, só então notando sua placa, que anunciava, além de encantamentos e poções poderosas, que sua proprietária tinha a habilidade de prever o futuro.

— A ponte está logo atrás. Podemos ir, se precisar — tornou a oferecer.

— Não preciso, é sério — garantiu. — O lugar apenas me lembrou dessa questão. Além do mais, temos duas videntes em nossa guilda para que não precisemos frequentar locais suspeitos — emendou. — E também… Eu antes preciso falar com Natsu sobre isso, de qualquer forma. E como ele saiu em missão, acho que não o verei pelo menos até amanhã — concluiu, arrastando inconscientemente uma das mãos que sustentava a sacola até a barriga, onde a descansou, fazendo com que o outro tivesse uma leve noção do que estava falando.

Os dois magos terminaram o caminho em silêncio e, quando alcançaram a guilda, se separaram como de costume: Lucy adentrou a discrição do lugar e Doranbolt procurou um local à sombra onde pudesse manter a vigilância.

— Lucy-chan, você demorou! — Wakaba reclamou, marrento. — Kinana-chan disse que não faria minha sopa até que você chegasse para atender as mesas — completou.

Dessa vez, Lucy foi quem revirou os olhos.

— E quem toma sopa a essa hora do dia? — indagou de brincadeira, deixando a sacola sobre o balcão.

O mago estalou a língua, o que fez com que seu cachimbo tremesse não boca.

— Minha esposa não quis cozinhar para mim no almoço — resmungou, cruzando os braços.

— Hai, hai — a maga estelar respondeu, correndo para atender os clientes de outra mesa.

Esse era outro ponto interessante de trabalhar na Fairy Tail. Observar pontos sobre a rotina de seus companheiros de guilda que antes lhe passavam despercebidos, mas poderiam até ser divertidos: a forma como Wakaba chegava em momentos aleatórios do dia pedindo comidas estranhas que sua esposa se recusava a fazer; a maneira irritada que Macao entrava e pedia uma bebida toda vez que Romeo saía em uma missão sem avisar, apenas para dizer em seguida que aquele moleque lhe daria muito trabalho quando chegasse à juventude; o jeito animado que Azuka corria pela guida toda vez que aprendia a escrever uma palavra nova, mostrando seu feito a todos os presentes… Fazia com que ela pensasse que todos eles tinham uma vida além da Fairy Tail, e ainda assim preferiam compartilhar todas as suas conquistas e frustrações debaixo daquele mesmo teto.

— Lucy! — Mirajane chamou, e só então a loira reparou que vinha trabalhando no automático. — Pode repor os pedidos de missões no quadro? — pediu, a pilha de papéis já preparada em mãos.

— Hai, Mira-san! — confirmou a loira, apanhando o calhamaço e caminhando em direção ao quadro.

A loira reparou que, daquela vez, não havia missões de Classe S a repor, pelo que teria que organizar apenas o quadro do andar inferior, que já se encontrava um tanto vazio, com poucos papéis colados aqui e ali.

Ela começou separando aquelas que tinham as recompensas mais altas, as quais costumava pregar no topo do painel, sendo que tão logo pegou a primeira para fixar, deixou o braço parar a meio caminho da superfície, fitando o retângulo de papel solitário que descansava afixado à cortiça.

— Isso ainda está aqui? — perguntou para si mesma, a oferta de dois milhões de jewels chamando a atenção mais que qualquer coisa.

— Tentador, não? — uma voz familiar indagou, fazendo que a loira sobressaltasse um pouco. 

Levando a mão antes erguida até o peito — e por consequência o panfleto que ela sustentava — virou a cabeça para encarar Lyon, que em algum momento postara-se a seu lado.

— Certamente, mas não foi o que realmente me chamou a atenção agora — respondeu, sem se preocupar em saudar o mago da Lamia Scale, já que ele não fizera o mesmo — e sim o fato de essa missão ainda estar disponível após tanto tempo — explicou.

Realmente, muito tempo. Pelo que se lembrava, vira-a no quadro de missões quase cinco meses antes, no início de dezembro. O fato ficou marcado em sua mente, por ter ocorrido no dia seguinte à sua primeira noite com Natsu e também no dia da primeira briga deles como casal, em razão de ter aceitado a missão de Org.

— Bom, o homicídio de Olívia Blauth ainda não foi desvendado — lembrou o albino. — Mesmo que magos de várias guildas do reino tenham aceitado o pedido simultaneamente para tentar descobrir o que realmente ocorreu.

— Ah sim, lembro de ter visto em um artigo de jornal que o trabalho foi encaminhado a todas as guildas de magos do reino - disse, ficando ainda mais impressionada. 

Era normal que pedidos Classe S empacassem nos murais, mas não os serviços comuns. Se bem que aquele, em especial, tinha um equivalente no mural Classe S pela captura do assassino, todavia isso apenas evidenciava que muitos magos deviam ter se empenhado em ganhar a gorda recompensa. E mesmo assim, nenhum deles teve sucesso, o que apenas tornava o fato mais admirável. Tais constatações fizeram com que outro pensamento ocorresse à maga estelar.

— Espera — começou —, você aceitou esse pedido? Por isso tem feito investigações aos arredores de Magnólia? — indagou.

Lyon deu de ombros, abrindo um sorriso indiferente.

— Meu time aceitou tanto a missão investigativa quanto a missão de captura, dois meses atrás — explicou. — Porém, mesmo após muito esforço, não conseguimos nada que realmente nos aproximasse da identidade do assassino, então eles desistiram. 

— E você não — concluiu Heartfilia.

— Muito tempo dedicado para desistir fácil assim — justificou. — Mas eu entendo meus colegas. Foi muito esforço em algo que estava consumindo tanto tempo, que não sobrava espaço para a realização de missões que os mantivessem financeiramente. Bom, eu tenho algum dinheiro economizado, mas mesmo assim, após a desistência deles, tive que intercalar as investigações com outros serviços — completou, ajeitando o topete.

A loira deixou de encará-lo para novamente fitar o anúncio da atrativa missão.

— Você continua nas duas missões? — indagou curiosa, enquanto retomava a tarefa de pregar os panfletos no painel.

— Sim, já que sou mago classe S — confirmou, um tanto orgulhoso.

A loira sorriu, sem querer ser indelicada com a satisfação do outro. Afinal, se ela fosse uma maga classe S, também estaria orgulhosa de si mesma.

O que fazia com que ela pensasse com que critério a mestre da Lamia Scale promovia seus membros a esse status. Lyon era um mago inegavelmente forte, mas olhando analiticamente para a situação, Gray era tão poderoso quanto, senão mais. Mesmo considerando a diferença de sete anos que cresceu entre eles quando ficaram congelados em Tenroujima, em que o albino continuou evoluindo e Fullbuster estagnou, como boa parte dos membros da Fairy Tail.

Ainda assim, quando foram para a ilha, Gray já era considerado habilidoso o suficiente para ser promovido à classe S, assim como Natsu, Juvia, Cana e tantos outros. Afinal, foi para o exame que se deslocaram para lá, para início de conversa.

No entanto, enquanto muitos mestres apenas promoviam seus membros quando pareciam prontos, Makarov era mais criterioso, submetendo-os a exames e por vezes limitando o número de vagas. Fairy Tail nunca teve muitos membros classe S, isso era fato. Talvez fosse o meio que o mestre tinha de manter seus protegidos em segurança?

— Está pensando em aceitar a missão?  — Lyon perguntou casualmente, puxando Lucy das reflexões em que estivera mergulhada.

A maga estelar piscou algumas vezes, tentando processar a pergunta, até que agitou as mãos em negação ao entendê-la.

— Claro que não! — afirmou. — Eu nem posso sair de Magnólia, para começar — lembrou, erguendo ambos os pulsos que exibiam grossas pulseiras de metal, cada qual desenhada com um selo mágico que inibia sua magia. — Como poderia fazer uma missão investigativa?

— Bom, seu time pode — Mirajane, que se aproximava, lembrou. — E como você disse, a missão é investigativa. Nada impede que você ajude no que puder, levantando informações nos limites de Magnólia, pois não está proibida de fazer trabalhos, apenas de deixar a cidade — emendou, deixando a loira pensativa.

— Você estava escutando nossa conversa… — o albino observou, com uma gota na cabeça, admirado do fato da garçonete simplesmente se envolver no assunto sem pedir licença ou se desculpar por sua intervenção repentina.

— Eu estava passando — justificou ela, em tom angelical.

— Você parece estar sempre passando quando as pessoas conversam particularmente — acusou, limitando as suas palavras ao tom de um comentário casual. 

Lucy não conseguiu evitar que o constrangimento lhe invadisse por se ver repentinamente envolvida naquela troca de farpas. Entretanto, Mirajane permanecia inabalável, o semblante sereno e meigo como sempre.

— Eu sou uma garçonete. É normal transitar por aí — deu de ombros. — Além disso, ninguém nunca reclamou que suas conversas particulares, mantidas na Fairy Tail, tenham chegado aos ouvidos de terceiros — lembrou, dessa vez lançando um olhar significativo em direção ao mago da Lamia Scale, que engoliu em seco. Certo, ela tinha ouvido sua conversa com Meldy, em relação ao plano mirabolante desta para aproximar Gray e Juvia. Ele já tinha entendido.

— Realmente, nunca ouvi reclamações nesse sentido — admitiu, sorrindo derrotado. — Fairy Tail sempre foi um ótimo lugar para beber e desabafar — emendou.

Lucy suspirou, aliviada pela pequena tensão que havia se instalado no ambiente ter se dissipado. Mirajane apenas continuava sorrindo, como se nada daquilo tivesse acontecido.

— E de fato, Lucy poderia realizar a parte investigava da missão mesmo sem sair de Magnólia. Levantamento de informações é importante nesses casos. Sem contar que é uma grande oportunidade, considerando o valor da recompensa — incentivou.

A loira sorriu sem graça, por novamente ter sido incluída na conversa.

— Você me incentiva como se não estivesse atrás da mesma recompensa — brincou. Na verdade, ela não entendia porque ele tinha vindo conversar com ela em primeiro lugar, uma vez que não eram próximos o suficiente para manter uma conversa casual sozinhos. Talvez estivesse se sentindo solitário, já que Juvia e Meldy acompanharam Natsu, Gray e Erza na nova missão que escolheram.

— Um pouco de competição pode ser estimulante. Talvez seja a pressão necessária para que meu raciocínio finalmente evolua — respondeu.

— Bem, a ideia é de fato tentadora, mas eu tenho meus próprios mistérios para investigar — lembrou, olhando de forma triste para as algemas que rodeavam seus pulsos.

Embora soubesse que poderia continuar trabalhando, Lucy se sentiria negligente se dedicasse muito tempo desvendando crimes que não fossem aqueles pelos quais estava sendo acusada. Entretanto, nesse caso, ela estava sofrendo uma limitação real por não poder sair de Magnólia, não havendo muito que pudesse fazer ali, além de passar as informações que Jellal e Makarov ocasionalmente lhe pediam. Mesmo Natsu tinha falado de fazer algumas viagens à Zamuria para ver se conseguia reunir algumas informações por conta própria, já que os outros dois não pareciam muito propensos a incluí-los no que quer que estivessem fazendo.

A única coisa que a tranquilizava, por enquanto, era a perspectiva de tirar o homicídio de Yukino de sua responsabilidade. Isso porque, tinha Wendy como testemunha, pois a pequena maga estava presente no momento em que Angel admitiu, perante Kotaro e tantos outros membros da Nihil Occultum, que matara a irmã acidentalmente, durante a execução do Projeto Heaven¹. 

Entretanto, ao mesmo tempo que tal fato a aliviava, também a deixava apreensiva. Porque como Jellal costumava dizer, o Conselho não a acusaria sem uma prova consistente, o que a levava a pensar em que tipo de evidência teriam forjado. Seria mais forte que o testemunho da pequena dragon slayer, ao ponto de desacreditá-lo?

Bem, nesse ponto, ela só poderia esperar e continuar investigando no que pudesse, por conta própria. Esperar pela próxima sessão de julgamento, que seria apenas após o nascimento de seu bebê, realidade que ainda parecia muito distante, mesmo que o novo ser crescesse dia a dia em sua barriga.

O que ela não sabia era que nem os próprios problemas tirariam de sua cabeça o misterioso homicídio de Olívia Blauth.

 

 

Hargeon - 02 de maio de x792

— Juvia! — a voz aflita gritava ao longe, mas chegava aos seus ouvidos um tanto distorcida pela água que os preenchiam.

Juvia.

Outra voz, dessa vez. Contudo, esta parecia vir de dentro da água e a chamava de forma acolhedora. Era reconfortante.

A jovem ficou confusa em relação ao que fazer, por isso ficou ali, de olhos fechados, sentindo a liquidez salgada e gelada em contato com toda a sua pele. Aquilo era revigorante. Juvia apreciava a sensação, de ser uma com a água, embora já não o fizesse com tanta frequência, especialmente no mar.

Ela já estava prestes a se desfazer, deixando seu corpo assumir a forma líquida para fluir livremente pelas correntes e ondas, quando um puxão brusco a trouxe de volta à realidade.

Juvia piscou, aturdida, deparando-se com os olhos arregalados e chorosos de Meldy, que tão logo percebeu que estava acordada, lançou-se contra ela, murmurando coisas como “ainda bem” e “pensei que ia te perder”.

Os olhos nublados da maga da água olharam em volta, por cima do ombro da maga sensorial, que ainda a abraçava, para constatar que estavam novamente no pequeno barco que alugaram no início da missão. Ao redor das duas, Natsu, Erza e Happy as observavam, com expressões aliviadas. Gray — seu precioso Gray — estava um pouco mais próximo. Os olhos ainda arregalados, o semblante mais pálido que de costume. O fato de ele estar ensopado, não lhe passou despercebido.

— Você me assustou! — ralhou Meldy, saindo do do abraço para manter apenas as mãos nos ombros da companheira de time. 

— Desculpa a Juvia — pediu a jovem, sempre em terceira pessoa, como costumava conversar. — Mas por que Juvia a assustou? Juvia não queria… — explicou, reticente.

— Você tomou uma braçada e tanto do monstro lá e caiu na água — Natsu explicou, levando ambas as mãos atrás da nuca. — Até eu fiquei preocupado. Foi um golpe e tanto — lembrou.

— E mesmo após derrotarmos a besta, você não saiu da água. Ficamos aflitos — Erza acrescentou. — Foi Meldy quem conseguiu dizer sua localização, pelo link sensorial, e Gray a tirou da água — completou.

Só então, a jovem de cabelos azulados encarou o próprio pulso, onde uma marca constituída de símbolos cor-de-rosa, um tanto fofos, reluziam.

Juvia sorriu.

— Obrigada, Mel-chan — agradeceu. — E desculpem a Juvia por preocupá-los, pessoal, mas não era necessário. Juvia não se afoga mesmo passando muito tempo embaixo da água — explicou, torcendo os cabelos.

— Ótimo. Tanta preocupação para nada — Gray reclamou. — Mesmo que estivesse bem, você poderia ter levado em consideração os sentimentos do grupo! Achou que todos ficariam tranquilos depois que um dos membros do time desaparecesse na água no meio da noite? — esbravejou. — Por favor, se quer ter suas aventuras, seja menos egoísta e nos avise, para que não tenhamos o trabalho de nos preocupar! — concluiu.

Juvia abaixou a cabeça, segurando o choro, enquanto Erza murmurava um “Gray” ao fundo, de forma indignada. Porém, a maga da água nem teve tempo de afundar no próprio sentimento de miséria, como fazia tantas vezes após as interações ásperas que vinha tendo com seu amado. Antes que se perdesse na própria tristeza, ouviu o mago do gelo gritar de dor, o que fez com que ela erguesse novamente a cabeça, de forma alerta.

— Você me chutou!? — Fullbuster gritou, amparando a canela direita em ambas as mãos, ao mesmo tempo que encarava a maga sensorial com um semblante contorcido em dor e fúria.

— Chutei! — Meldy confirmou, exasperada. — E a próxima vez que você maltratar Juvia-chan, eu juro que te chuto nas bolas! — prometeu, ameaçando avançar em direção ao rapaz, que imediatamente deixou de segurar a perna para proteger suas partes mais sensíveis. 

Juvia pensou em intervir para que Meldy não machucasse o amor de sua vida, embora se sentisse grata por ela estar lutando pelo seu bem estar. A mulher chuva não costumava ter pessoas próximas que se importavam tanto com ela. A sensação era agradável. Entretanto, o misto de sensações, unido à confusão de momentos antes, apenas fez com que permanecesse inerte, olhando para o mar. Ela queria saber a quem pertencia a voz que a chamara antes, com tanta simpatia e gentileza. Ou talvez tivesse sido apenas um sonho de sua mente enevoada.

A dúvida fez com que levasse novamente a mão esquerda a água, sentindo-se aliviada pelo mínimo contato com o gélido mar. Sem se importar se Meldy e Gray gritavam ao fundo com Erza tentando separá-los, enquanto Natsu e Happy riam de gargalhar.

Ela só queria ouvi-la de novo, porque naquele momento, pareceu que toda a confusão que insistiu em permanecer em seu interior nos últimos meses, simplesmente desapareceu.

Mas ela não ouviu mais nada.

 

 

Hargeon - 03 de maio de x792

Gray estava debruçado no balcão do bar, tanto esgotado quanto irritado. 

Seu time empreendera a maior parte do dia para derrotar uma Besta de Classe S, que a uma semana dominava  as águas do litoral de Hargeon, impedindo qualquer embarcação, grande ou pequena, de partir, criando um problema não apenas para a economia local, mas de toda Fiore, que tinha o porto daquele município como principal.

A situação gerou uma missão de emergência e uma gorda recompensa, e uma vez que a Fairy Tail era a guilda de magos mais próxima, foi de imediato contatada. Logo, não era estranho que seu time recém reformado se interessasse no trabalho, uma vez que o status de Erza permitia que todos eles realizassem missões de classe S. Além disso, haviam incluído Juvia e Meldy em substituição temporária a Lucy e Wendy justamente para que pudessem realizar trabalhos mais complexos em pouco tempo.

Como resultado, levaram menos de um dia para derrotar um monstro classe S, 

mas ainda que as coisas tenham sido rápidas, não foram exatamente fáceis.

Quando chegaram ao local e examinaram a área que a besta ocupava, surpreenderam-se ao descobrir que não se tratava de uma criatura exclusivamente aquática como haviam sido informados, mas de um monstro gigante e humanoide. A pele escura e coberta de limo do alvo, demonstrava que, de fato, passava a maior parte do dia agachado na água para se esconder, mas também contava com longos braços e pernas equipados com membranas e barbatanas, que lhe davam vantagem dentro e fora do mar. Isso sem contar as longas garras, presas e o jato venenoso que cuspia, o que os colocou em situações de vida ou morte diversas vezes. Fazia muito tempo que Gray não sentia em um trabalho, a realização que sua vida estivera por um tris em muitas oportunidades, e poderia ter sido perdida no menor erro.

O desespero veio no momento em que Juvia baixou a guarda para resgatar Meldy, que havia sido atingida por um golpe particularmente difícil. A maga da água acreditava que a besta estava suficientemente distraída com os ataques de Natsu, Gray e Erza, e não teve tempo de desfazer o corpo em água antes que ele lhe mandasse para longe, no oceano, com uma braçada impressionante.

O time se desestabilizou por um tempo, mas Meldy conseguiu sentir com seu link sensorial que Juvia estava, ao menos, viva, pelo que, cientes de sua habilidade de respirar sob a água, finalizaram a batalha antes de procurá-la.

No entanto, a busca levou muito mais tempo que esperavam, mesmo usando a ligação criada pela maga de cabelos róseos, o que fez com que Gray provasse uma aflição que não sentia há muito, e acarretou na briga constrangedora ocorrida no barco logo após o resgate da mulher chuva.

Que ouviu seus insultos sem reclamar, como sempre.

Sob o constrangimento da cena ocorrida, o grupo voltou para a pensão em que estavam hospedados, com exceção de Natsu e Happy, claro, que seguiram direto para a estação. O dragon slayer havia decidido não permanecer longe de Lucy mais tempo que o necessário e sempre contava com a ajuda dos amigos — que não raras vezes permaneciam um dia a mais, quando não conseguiam contatar o empregador logo após o término do trabalho — que repassavam a sua parte da recompensa.

Estavam exatamente em uma dessas situações, já que a rápida derrota da besta chocou não apenas os habitantes locais, mas também os empregadores, que não estavam preparados para entregar a recompensa de imediato, já que deduziram que a tarefa levaria ao menos alguns dias.

Assim, pernoitariam em Hargeon e, com a tarefa concluída, “por que não beber um pouco?”, disse Erza. Ele previu que aquilo acabaria em desastre, mas não se sentia altruísta o bastante para se manter sóbrio enquanto cuidava de três mulheres terrivelmente bêbadas, seus próprios problemas sendo suficientes para que quisesse se embriagar tanto ou mais que elas.

Todavia, conseguiu permanecer consciente o suficiente para tentar mantê-las longe de problemas, e levá-las para o quarto quando mal conseguiam ficar de pé.

Juvia foi a primeira a cair, e Gray carregou seu corpo inconsciente por cima do ombro com facilidade, enquanto arrastava pela capa uma Meldy risonha.

A parte mais complicada foi acompanhar uma Titânia fora de si para o quarto, e ele poderia chutar que sua vida esteve em maior risco nessa pequena missão, do que durante toda a luta contra a besta classe S.

A madrugada estava pela metade quando ele finalmente terminou de jogar as três mulheres no quarto que compartilhavam, mas em vez de dirigir-se ao próprio, voltou para a taverna da hospedaria, para encher a cara um pouco mais.

Por tudo que vinha acontecendo, ele merecia aquilo, era o que pensava cada vez que encarava o braço direito, envolto do pulso até a altura dos bíceps em bandagens improvisadas, o qual não parara de latejar desde o começo da noite.

Além disso, a verdade era que Gray estava um tanto quanto frustrado. Antes, as missões com “O Time Mais Forte da Fairy Tail” eram divertidas. Agora, devido às circunstâncias, tudo estava diferente. 

Lucy estava proibida de deixar Magnólia, e se não estivesse, sua gestação não permitiria que ela pegasse trabalhos perigosos. 

Natsu, preocupado com a maga estelar e com o filho, voltava o mais rápido possível de suas missões, sempre deixando os demais para trás. 

Wendy estava em treinamento com Poluscka, e quase não os acompanhava mais. 

Erza era a única que ainda tinha disponibilidade completa de estar em missões, mas por mais que negasse, todos sabiam que estava se acertando com Jellal, o que consumia parte de seu tempo livre.

E agora, tinha Juvia e Meldy.

A ideia de chamar a maga da chuva para substituir Wendy e Lucy, tinha sido boa, pensando na equipe. Entretanto, Gray se sentia mais sufocado que nunca. Ele já tinha deixado seus sentimentos bem claros, mas a mulher chuva, ainda que demonstrasse evidente abalo emocional, agia como se estivesse sempre pronta a superar suas palavras duras.

Não importa o quão pronta ela estivesse. Ele não poderia deixar que ela se aproximasse mais. Era o certo a se fazer, considerando as circunstâncias, o pensamento lhe ocorreu quando novamente encarou o braço direito latejante. Sem querer manter sua mente focada a respeito, seguiu sorvendo sua bebida, caneca atrás de caneca. 

Deu-se por satisfeito quando sua consciência não passava de um fio em meio aos seus sentimentos turbulentos, e a ideia de adormecer ali mesmo, com a bochecha encostada contra o balcão do bar, não parecia tão ruim.

— Senhor? — um dos atendentes tentou chamar sua atenção, antes que perdesse a consciência

— Sim? — engrolou em resposta. 

— Isto pertence à sua amiga, não é? — perguntou o funcionário, estendendo um objeto em frente a Gray, que reconheceu-o como o chapéu de Juvia. — Ela deixou cair assim que ficou meio… Alterada — contou. — Guardei para entregar depois e acabei esquecendo.

— Obrigado. Pode deixar que eu entrego a ela — após um suspiro, o mago do gelo afirmou, apanhando o acessório.

Gray começou a fazer o caminho de volta para o quarto, quando reparou o forte temporal que desabava sobre Hargeon. Sem interromper seu percurso , estalou a língua. Devia estar mais bêbado que calculava para não ter reparado nas fortes pancadas na chuva contra o telhado antes.

Chegou no corredor corresponde mas, antes de adentrar as próprias acomodações, se dirigiu ao quarto que a maga da chuva dividia com Erza e Meldy, para devolver o chapéu.

O moreno já tinha levantado a mão para bater na porta, mas lembrou-se do humor de Erza. Se ele mal havia sobrevivido à versão bêbada da ruiva, certamente não teria a mesma sorte caso a despertasse em meio a uma ressaca.

Sem disposição para ser empalado por uma espada ou algo do tipo, preferiu abrir a porta minimamente e conferir se estava seguro. Pela minúscula brecha aberta, constatou que Titânia desmaiara de bruços na cama de solteiro à direita, enquanto Meldy jazia apagada de barriga para cima, na cama do meio.

A terceira cama, em que havia depositado a mulher chuva mais cedo, estava vazia, no entanto.

— Juvia? — chamou baixinho, com medo de acordar Titânia. Como não obteve resposta, resolveu adentrar o ambiente e deixar o chapéu na cama da maga.

Com o máximo de cautela que uma pessoa embriagada poderia manter, entrou no cômodo e deixou, como planejado,  o objeto sobre o colchão. Ao concluir sua missão, virou-se apressadamente, pronto para seguir para o próprio quarto, quando uma voz o fez sobressaltar.

— Gray-sama? — Juvia perguntou, levemente vermelha, e o mago do gelo estendeu o porquê.

A maga havia acabado de sair do banho; os cabelos azulados, geralmente ondulados escorriam lisos e molhados, grudando em seu corpo. Uma simples toalha branca impedia a nudez completa da moça, fazendo um estranho calor crescer no peito do mago. 

— O que está fazendo aqui? Juvia fez algo de errado, novamente? — Perguntou a maga, quase desolada. 

Mais tarde, Gray culparia o álcool por ter feito o que fez. De fato, havia bebido o suficiente para que a sequência de acontecimentos seguintes parecesse uma boa ideia.

A questão é que ele tinha aguentado demais por uma noite. Não, ele tinha aguentado demais por um longo tempo. 

— Gray-sama! — Juvia chamou alarmada, quando o mago do gelo a puxou pela mão para fora do quarto, cada passo seu deixando uma mancha molhada no carpete do corredor. — Para onde Gray-sama está levando a Juvia? — perguntou, confusa, quando pararam.

O moreno, porém, limitou-se a destrancar a porta do próprio quarto, 

empurrar a maga sem muita delicadeza para dentro e segui-la.

Juvia o observou trancar novamente a porta, levemente assustada. Por mais que sua mente apaixonada fantasiasse mil possibilidades, a verdade é que se acostumara tanto com a rejeição, que não esperava qualquer atitude romântica do rapaz. Pelo menos não naquele momento. 

Porém, era fato que agora estavam trancados sozinhos, no quarto dele. E ela não tinha mais que uma toalha para protegê-la.

— Gray-sama — tornou a chamar, sentindo-se mais e mais aflita, a sensação crescente no peito que alguma coisa não estava certa em relação ao comportamento do rapaz.

Seu coração acelerou quando, derrubando todas as expectativas, o mago do gelo se aproximou dela, com um olhar que nunca tinha lhe direcionado até então. 

Confusa, recuou.

Num movimento rápido Gray a agarrou pelo braço, e a pressionou contra uma cômoda de madeira que havia ali. A maga olhou, surpresa. 

Tirando os cabelos úmidos da garota que estavam colados a sua pele, o moreno aproximou os lábios da orelha dela, roçando levemente em seu lóbulo. 

A pele gelada dele contra a pele molhada dela. 

Juvia ofegou.

— Você sabe que eu não sinto nada de especial por você, não sabe? — perguntou. A maga sentiu o coração afundar em súbita tristeza, porém seu corpo ainda respondia aos estímulos de ter a pessoa amada tão perto.

— Juvia sabe — gaguejou, sentindo as lufadas de ar que Gray soltava na extensão do seu pescoço.

— Se mesmo sabendo disso, você quiser seguir em frente… — propôs, as mãos pressionando a cintura da jovem com força.

— Juvia… — a maga tentou falar, com dificuldade. 

As palavras de Gray tinham cortado seu coração, mas paradoxalmente, ele parecia querer impedi-la de pensar, ao roçar os lábios gelados contra sua derme.

— Responda, Juvia — instigou, a voz rouca fazendo-a arrepiar. — Você quer que eu pare? — Perguntou, as mãos subindo pelas coxas molhadas, fazendo com que ela se contorcesse em um prazer involuntário.

— Juvia não quer… — praticamente chorou, sentindo as mão dele entrando por debaixo da toalha. 

Era a deixa que Gray precisava. 

Sem esperar por outras palavras, tomou a boca da maga em um beijo agressivo, ao mesmo tempo em que 

Os conduzia para a cama e se livrava da toalha felpuda que a envolvia.

 

 

Magnólia - 03 de maio de x792

Lucy abriu os olhos e encarou a parede da janela, enquanto tentava normalizar o ritmo de sua respiração. Suas costas permaneciam unidas ao peito masculino que, como sempre, emanava um calor absurdo. Obviamente, sabia que não era apenas o contato pele a pele que fazia com que se sentisse febril, sendo este um dos efeitos do que tinham acabado de fazer. 

Conforme seu respirar se regularizava, a lembrança que estava no limite do horário para levantar sem se atrasar para o trabalho lhe ocorreu. Todavia, as bochechas queimaram com a realização que teria que se virar e encará-lo. A maga estelar via-se acostumando, gradualmente, à intimidade que estava construindo com o dragon slayer do fogo, mas isso não significava que tinha se livrado completamente do constrangimento. 

Claro, não havia nada que pudesse fazer a respeito, pelo que remexeu-se para sair do abraço que estava envolta, apenas para sentir os braços do mago enrijecerem ao seu redor, para mantê-la unida a ele, como estiveram durante todo o ato.

Não lhe passou despercebido, porém, que ele evitou cuidadosamente apertar sua barriga, o que aqueceu seu interior.

— Natsu — repreendeu, ignorando o próprio coração mole. — Eu tenho expediente fixo agora. 

O mago do fogo resmungou contra os cabelos da loira, mas afrouxou gradualmente o aperto ao redor dela. Antes de libertá-la, contudo,  alisou com carinho a barriga crescente.

Lucy sorriu com o gesto e viu-se tentada a prolongar o momento um pouco mais, quando o movimento repentino em seu ventre a fez sobressaltar.

— Isso foi o bebê? — Natsu questionou, empolgado, levantando-se nos cotovelos para que pudesse avistar a barriga melhor.

— Você sentiu? — perguntou, animada. 

O dragon slayer confirmou, exultante. Fazia algumas semanas que Lucy havia contado que começara a sentir os movimentos do bebê, e desde então, em toda oportunidade que tinham de ficar sozinhos, ele brincava com a barriga dela, na esperança de poder sentir também. Tais momentos geralmente terminavam com o mago mau-humorado por não ter seu pedido atendido, o que era a deixa para que a loira apontasse que ele era sortudo por poder ouvir os batimentos cardíacos da criança e ela não.

— Incrível! — exclamou encantado, voltando a esfregar a barriga, na esperança de sentir novos movimentos, o que tornou o desafio de sair da cama ainda maior para a maga estelar.

— Natsu! — reclamou, após algum tempo. — Eu preciso do emprego! Não posso correr o risco de ficar sem ele agora que o aluguel subiu e que precisamos começar a comprar as coisas do bebê — lembrou.

— Eu duvido que você vá perder um emprego na Fairy Tail por se atrasar um pouco, Lucy — retrucou. — E de qualquer maneira, o trabalho de ontem rendeu um dinheiro bom. Dá para quitar o aluguel do mês que passou, e até mesmo pagar mais um ou dois meses adiantado, por segurança — contou.

— Isso é bom — a maga sorriu, aliviada, mas seu semblante tornou-se sério em seguida. — Mas você sabe, se estamos morando juntos mesmo, podemos parar com o aluguel e ir para a sua casa — sugeriu.

Natsu suspirou. 

— Nós já conversamos sobre isso. Considerando a sua situação com o conselho e o atentado que sofreu, não quero que tenha que fazer o caminho entre a floresta e a guilda todos os dias — argumentou. — Você sai do trabalho à noite e está proibida de usar magia, enquanto eu tenho viajado com frequência. Não é seguro — concluiu.

— Eu estou sendo escoltada, Natsu! — lembrou, cruzando os braços e armando um bico.

— Por guardas do próprio Conselho Mágico, que até onde sabemos, pode ter tentado eliminar o bebê para  impedir que ele influenciasse a opinião pública e o julgamento a seu favor — retaliou, e a loira teve que conter o arrepio que a lembrança aterrorizante lhe causou. — Perdão, eu não queria… — começou a desculpar-se, ao se dar conta do mal estar que acometeu a outras, mas foi interrompido.

— Tudo bem — disse ela. 

Sem querer aprofundar o assunto, Lucy levantou-se, porém antes que pudesse caminhar em direção ao banheiro, foi puxada pelo dragon slayer e viu-se envolvida em um abraço.

— Eles não vão machucar você ou o nosso filho, Lucy — garantiu, percebendo o quanto ela estava tensa entre seus braços. — É uma promessa.

— Eu sei — respondeu ela, devolvendo o abraço.

Natsu apenas a soltou depois que a sentiu relaxar em seus braços, e juntos caminharam para o banheiro, tomaram banho e prepararam-se para o dia, de modo que, cerca de vinte e cinco minutos mais tarde, estavam prontos para deixar o apartamento.

— Você sabe — começou ele —, eu realmente acho que é melhor para nós ficarmos no apartamento até que as coisas se resolvam com o conselho mágico, mas isso não significa que não podemos ir ajeitando a casa enquanto isso. Ela só possui um cômodo, então pensei em adicionar um quarto ou dois, para que o bebê tenha seu espaço e Happy não tenha sempre que fugir para o dormitório de Wendy — comentou, alegrando-se ao ver o rosto da maga se iluminar diante da sugestão.

— Parece bom — disse ela, por fim.

Os dois alcançaram a rua, onde Doranbolt já os aguardava, recostado à porta de entrada, e logo caminhavam em direção à guilda, sendo que em determinado ponto, Lucy diminuiu o ritmo de caminhada, fazendo com que Natsu a olhasse, curioso. O membro do Conselho, porém, não se surpreendeu em encontrar a maga estelar fitando o mesmo estabelecimento suspeito que olhara no dia anterior.

 — Você está olhando para aquele lugar de novo — comentou, ao passo que Natsu arqueou as sobrancelhas, em dúvida.

— Você quer visitar aquele lugar, Lucy? — o mago do fogo questionou, estranhando a natureza sombria do estabelecimento que atraiu a atenção da loira.

— Não — negou ela —, é que a dona daquela loja supostamente tem habilidades de ver o futuro, e isso me lembrou que há algo que quero saber. — Explicou. — Mas acho que Cana e Charle podem fazer isso para mim. Eu só precisava falar com você primeiro — concluiu.

A curiosidade vincou ainda mais a testa do dragon slayer.

— O que você quer saber? — questionou, supondo que a loira estivesse preocupada com o desenrolar do processo criminal que respondia.

Foi surpreendido, porém, com uma resposta muito mais simples.

— Quero saber se nosso bebê é menino ou menina! — respondeu animada.

Os olhos de Natsu se iluminaram com a possibilidade, e mesmo Doranbolt, que os seguia de perto, abriu um leve sorriso com a empolgação dos pais de primeira viagem.

— É verdade! Com a Cana e a Charle podemos saber — comentou, tomando a maga estelar pela mão e apressando o passo, para que pudessem chegar mais rápido à guilda.

— Natsu, está muito cedo! — a jovem lembrou, enquanto era arrastada pelo resto do caminho. — Elas com certeza não estão na guilda a essa hora — lembrou, mas foi ignorada.

De fato, a sede da Fairy Tail estava praticamente vazia quando chegaram, a não ser por Kinana e Lisanna que limpavam as mesas; por Happy, que roía seu peixe num canto e por Mirajane, que atendia um desconhecido no balcão, que despediu-se e partiu tão logo se aproximaram.

— Quem era? — perguntou Lucy, curiosa, especialmente em razão das vestes elegantes e nitidamente caras que o estranho trajava. 

— Uriel Blauth. O pai de Olivia Blauth — Mira respondeu.

— A maga assassinada, daquela missão de dois milhões de jewels para desvendar o crime? — indagou, admirada.

— Não se esqueça da missão de dez milhões de jewels para a captura do autor do crime, que está no mural da classe S — lembrou a albina. — Bem, isso era antes. Elas acabaram de subir para três e doze milhões — completou, e Lucy automaticamente arregalou os olhos.

— Ele tem mesmo muito dinheiro! — exclamou. 

— Bem, ele está bem insatisfeito com o trabalho da polícia mágica, que não lhe passou qualquer pista consistente da identidade do homicida — lembrou. — E como as investigações feitas pelos magos de guildas também não tiveram muito retorno, resolveu aumentar a recompensa como um incentivo — concluiu.

— O desespero de um pai… — Lucy comentou. — Bem, já que as meninas estão limpando as mesas, eu vou varrer o salão enquanto está vazio — avisou, afastando-se, no que o olhar da albina voltou-se para o dragon slayer, que estava jogado sobre o balcão, desanimado, assim como estivera durante a breve conversa que mantiveram.

— Algum problema, Natsu? — questionou.

O dragon slayer apenas voltou os olhos para a maga take over, antes de responder:

— Lucy disse que queria perguntar para Cana e Charle se o bebê é menino ou menina, mas elas não estão aqui — resmungou, tão emburrado que não notou o brilho malicioso que cresceu nos olhos azuis da albina.

— Oh, eu também quero saber, Natsu! — Happy exclamou, aproximando-se do mago do fogo, trazendo nas patas a espinha do que fora um peixe suculento.

— Cana deve voltar de uma missão agora pela manhã, e Charle sempre acompanha Wendy e Chelia nos treinamentos com a Porlyusica-san — contou. — Então acredito que elas virão para a guilda por volta da hora do almoço — acrescentou, mas a informação não melhorou muito o humor do dragon slayer, que viu-se entediado enquanto Lucy trabalhava e os demais membros não chegavam.

Por outro lado, Mirajane tinha tempo para o que havia pensado, e não demorou a colocar seu plano em ação. Assim, caminhava empolgada em direção a cada membro que chegava, com um caderninho de anotação em mãos, comportamento que não passou despercebido por Lucy e as demais garçonetes.

— Tadaima, Mira! — já passava das onze quando Erza entrou na guilda com o restante do time em seu encalço.

Da mesma maneira, a take over de cabelos longos caminhou até a ruiva para contar o que tramava após receber o relatório da conclusão da missão, momento em que percebeu que ela parecia a única dos recém-chegados que estava em seu humor normal.

— Algum problema durante a missão? — a albina questionou.

— Queríamos ter voltado cedo, mas os trens não funcionaram direito durante a manhã. Por isso chegamos apenas agora — Titânia respondeu, mas a Strauss mais velha notou que, embora Meldy parecesse apenas preocupada, o humor de Gray e Juvia era obscuro demais para se justificar apenas no atraso da viagem.

— Juvia-chan! — Lyon, como sempre, apareceu em um timing perfeito, pouco após a mulher chuva e não perdeu tempo em cortejá-la, o que automaticamente fez com que a irritação de Gray piorasse dez vezes.

O grupo recém chegado, assim como Natsu e o Exceed azul, ocupou duas mesas próximas ao balcão e Lucy, após servi-los, juntou-se a eles para almoçar e ouvir sobre a última missão. 

O que não passou despercebido para nenhum deles, era a aura apática que o mago do gelo e a mulher chuva emanavam, sendo que esta, surpreendentemente, sequer se esforçou para sentar perto de seu amado, contentando-se em ficar na outra mesa, com Meldy e Lyon. 

Pouco depois, Wendy e Chelia, muito cansadas pelos estudos da manhã, praticamente se jogaram ao lado da ex-crime sorciere e do mago da Lamia Scale.

Percebendo a presença da pequena dragon slayer e sua exceed, Natsu levantou-se empolgado e puxou Lucy  até elas, contando sobre suas expectativas.

Toda a mesa ficou repentinamente interessada, enquanto a pequena maga de cabelos azuis repetia:

— Prever o sexo do bebê? Você consegue fazer isso, Charle? — indagou, voltando-se para a amiguinha felina.

— Bem, eu não posso exatamente controlar minhas visões, então vocês vão depender da sorte — respondeu, e Natsu não pode evitar de murchar instantaneamente. — Mas em razão daquela visão que eu tive, quando a Lucy estava supostamente morta, eu tenho um palpite. Eu lembro das roupinhas que o bebê usava — acrescentou.

— Vamos ver se o seu palpite condiz com o que minhas cartas dizem — Cana comentou, enquanto aproximava-se do grupo, com Mirajane e o resto da guilda em seu encalço.

— Por que todos estão aqui? — Lucy questionou, em um grito estridente.

— Estão todos curiosos, Lucy — a garçonete esclareceu. 

— Curiosos em saber o quanto vamos ganhar na aposta que a Mira promoveu! — Max acrescentou.

— Espera — a maga estelar processava a informação. — Vocês apostaram o sexo do nosso bebê? — indagou, sem saber realmente se ficava irritada ou se divertida com a mania que os membros da Fairy Tail tinham de levar tudo na brincadeira.

— As opiniões estão bem divididas — Mira mostrou seu caderninho de anotações, cuja folha em exibição estava riscada no meio, as palavras “menino” e “menina” encabeçadas em cada lado, com vários nomes de magos escritas embaixo.

Lucy viu-se repentinamente tonta quando os membros da guilda decidiram gritar seus palpites e brigar por eles, pelo que decidiu sentar-se diante de Cana,  que distribuía suas cartas na mesa. Quase de imediato, o mago do fogo acomodou-se ao seu lado, enquanto Erza, Gray e Wendy postavam-se ao redor.

Os minutos seguintes foram de pura tensão e a maga estelar mal pôde conter sua ansiedade, embora tenha se saído melhor que Natsu, que perguntava a cada dez segundos se Cana já havia visto alguma coisa, até conseguir tirar a paciência da cartomante o suficiente para que ela gritasse contra ele.

Mas foi no momento em que um sorriso convencido repuxou os lábios da morena que a loira teve a sensação que seu coração pararia de vez.

— Cana — gemeu, frustrada. — Diga logo! — pediu.

— Talvez eu deva fazer com que ela guarde segredo até o fim da gravidez, assim como fez com Evergreen e Elfman — Mirajane brincou, fazendo com que a maga estelar e o dragon slayer do fogo arregalassem os olhos. — Afinal, vocês fizeram o mesmo que eles ao manter o relacionamento escondido de todos — lembrou.

Alguns membros começavam a questionar a aposta quando Lucy gritou um “não” taxativo, assustando os demais.

— Eu estou correndo o risco de ser condenada à morte, Mira-san! — recordou, quase em desespero. — Eu quero saber tudo sobre essa criança enquanto eu puder estar com ela! — acrescentou séria, dispensando um esforço enorme para que seus olhos não marejassem.

Sua explosão, claro, matou o clima festivo anterior, apenas lembrando-os da prova e da incerteza que o jovem casal vinha experimentando. Serem país tão jovens já era assustador o suficiente, mas Lucy sofria uma acusação injusta que poderia custar a sua vida e deixar Natsu sozinho com um bebê para criar. Era a possibilidade que ninguém dizia em voz alta, mas todos sabiam que existia.

Uns não a admitiam, entretanto, foi o que perceberam no momento em que o mago do fogo declarou de maneira firme:

— Você não vai morrer, Lucy. Nós vamos criar nosso filho juntos.

A voz rouca do dragon slayer não demonstrou um pingo de hesitação durante tal alegação, o que contribuiu para renovar os ânimos ao redor, de modo que os membros passaram a dizer frases de incentivo, enquanto Mirajane murmurava suas desculpas, até que outra voz cortou o burburinho geral.

— Filha.

O silêncio se restabeleceu e os olhos questionadores de Lucy e Natsu voltaram-se para Cana, que revirou os próprios. Era inacreditável, mas eles já haviam perdido o fio da meada; esquecido a razão de estarem ali em primeiro lugar.

— Vocês vão criar sua filha juntos — enfatizou, sorrindo.

A maga estelar piscou, aturdida.

— E-eu estou esperando uma menina? — perguntou, levando ambas as mãos ao ventre, notoriamente expandido por baixo do vestido.

Cana e Charle menearam a cabeça positivamente em conjunto.

Apenas então, a loira permitiu que seus olhos marejassem, mas não perdeu tempo antes de se lançar em direção ao mago do fogo, que a abraçou de volta, enquanto o clima ao redor novamente se tornava eufórico, inúmeras congratulações sendo proferidas. Mesmo Juvia e Gray, que nitidamente não estavam em um humor festivo, acabaram cedendo à alegria ao redor e participando das rodadas de bebidas oferecidas em homenagem aos jovens pais.

Infelizmente, o ânimo foi novamente cortado quando um Macao um tanto preocupado e esbaforido entrou correndo na guilda.

— Romeo ainda não voltou? — questionou ao chegar no balcão,  atraindo a atenção das pessoas próximas.

— Ele ainda está em missão com Bisca e Alzack — Mirajane respondeu. — Devem chegar hoje a noite, talvez amanhã — completou, enquanto secava uma caneca.

— Droga, ele pode acabar descobrindo antes — o homem que um dia fora o quarto mestre resmungou, alisando os cabelos. 

— Descobrindo o quê? — a albina questionou.

— Aquele cara que foi professor dele, Totomaru. Acabei de saber que ele foi assassinado — contou, com pesar. — Romeo gostava dele, então queria que soubesse por mim. Mas parece que o caso gerou repercussão, então pode acabar sabendo por outras pessoas — concluiu.

— Espera, Totomaru-san? — Macao mal havia fechado a boca quando Juvia levantou-se e perguntou, angustiada. — Totomaru-san morreu? — repetiu, caindo em prantos em seguida, sendo de imediato amparada por Lyon, que a envolveu em um abraço protetor.

— Espera… O que eu perdi? — indagou Meldy, confusa com a tristeza da amiga.

— Totomaru, assim como a Juvia, era membro do Elemental Four, um grupo de elite da antiga guilda Phanton Lord — foi Gajeel quem explicou, estando um tanto cético com a notícia da morte do ex-companheiro de guilda.

A compreensão caiu sobre o grupo enquanto a mulher chuva seguia chorando copiosamente nos braços de Lyon, atraindo olhares de pena de todos os presentes.

Exceto de Gray, que encarava a cena com o mais puro assombro, enquanto apertava o braço direito, ainda envolto pelas bandagens.

 

 

¹ Acontecimentos do Capítulo 15 da fanfic Vínculo Mágico






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Notas finais do capítulo

Uau, um bom tempo se passou, mas não tanto quanto da última vez.
Acho que eu já vim com esse discurso antes, mas embora eu sinta de vez em quando que talvez devesse desistir, seria algo forçado para mim, sabe? Porque eu realmente não desisti de "Conspiração" ainda. Eu sei que ela vai continuar em passos de tartaruga, mas é meu desejo que ela continue então, enquanto essa for a minha voltade, eu vou em frente, junto com os que estiverem comigo até lá.
Se um dia eu chegar, de fato, a desistir, pretendo ser honesta com vocês sobre isso.
Quanto ao capítulo em si, que coisa enorme! O maior da fic até agora! Mas era isso ou dividir e deixar vocês com mais um capítulo de transição. Não achei que mereciam isso após esperarem tanto, então joguei pro mundo esse monstro de mais de oito mil palavras. Uma curiosidade é que parte do trecho gruvia estava escrito desde quando eu comecei a postar Conspiração. Foi um dos primeiros trechos que eu escrevi. Eu sei que não é a coisa mais romântica e que o Gray está tendo um desenvolvimento bem babaca, mas sem querer passar muito pano, ele está passando maus bocados (acho que perceberam por este capítulo) e o desenvolvimento que tá seguindo o que eu me propus fazer.
Ah, e mais mistérios estão surgindo. Eu espero que a demora nas atualizações não os atrapalhe muito em captá-los.
Agora, o mais importante: O NALU.
Gente, foi a parte mais difícil de escrever para mim. Eu nunca tive tanta dificuldade de escrever interações românticas sobre o Natsu e a Lucy. Sabem por que aconteceu? Porque eu sempre busquei me manter fiel à personalidade dos personagens, mas com o atual desenvolvimento da personalidade do Natsu no Mangá 100 Years Quest, isso se tornou impossível! Para mim, a personalidade do Natsu foi modificada para tornar-se completamente alheia ao romance, coisa que ele não era no início da obra (vide as interações dele com a Lisanna), mas é o que ele é atualmente. No entanto, eu creio que desenvolvi o romance de forma satisfatória nesta fic para que ele assuma essa personalidade mais romântica então é isso, vou abraçar a personalidade OC pois, se não for assim, não vou conseguir terminar a fic.
Acho que falei tudo de importante que tinha a falar. Ah, como alguns leitores aparecem de vez em quando para conversar por mensagem, saiba que vocês podem me achar no instagram (@nomundodalura) se quiserem trocar uma ideia. Eu amo conversar com leitores, principalmente sobre minhas histórias em postagem, então sintam-se a vontade, se desejarem.
É isso. Espero que tenham curtido.



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