I Came For Coffee escrita por Laura H


Capítulo 1
I – Tell Me Again Why You're Here


Notas iniciais do capítulo

Dedicado a minha sis linda e maravilhosa, criadora desse lindo e maravilhoso do Hideki. ♥

[texto editado em 03/07/2020]



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/621013/chapter/1

 

"Café?"

"Hm, sim, por favor."

Eu despenteei os cabelos com os dedos, apenas para ajeitá-los de novo logo depois. Estava mesmo tão frio ou eu estava suando de nervosismo? Esperei que estivesse apenas fazendo frio. Eu precisava parecer apresentável, e ninguém parece apresentável com a testa coberta de suor.

A não ser, talvez, por galãs de Hollywood, mas eu tampouco tinha certeza disso, e não poderia me distrair pensando muito sobre o assunto. Sinceramente, eu tinho coisas mais importantes com as quais me preocupar.

A empregada colocou a xícara de café diante de mim e saiu da cozinha apressadamente. Acho que ela não queria correr o risco de encontrar seus patrões. Eu a entendia perfeitamente. Também não queria ter que encontrá-los.

Eu girei a xícara quente entre os dedos, me perguntando por que aceitara aquele convite. Até agora, a minha presença ali não causara nenhum bem. Só suor frio (que, aliás, deixaria uma péssima impressão) e algumas reviradas de estômago.

"Hideki?"

Uma voz confusa soou do alto da escada, me obrigando a erguer os olhos do líquido escuro que a empregada apressada me preparara há alguns instantes. Ah, é, concluí, foi por isso que eu aceitei esse convite.

"Ahn... oi, Kemi."

Eu desviei o olhar quase instantaneamente, um pouco sem jeito. Eu a vira pela última vez depois de um beijo desajeitado na frente de uma sala de aula vazia, alguns segundos antes de ambos saírem correndo para direções diferentes.

Não é a maneira mais digna de se despedir da garota pela qual você está apaixonado.

"O que você está fazendo aqui?", ela perguntou, curiosa, me encarando fixamente enquanto descia os degraus da escadaria. Conhecendo-a como conheço, ela provavelmente ainda estava tentando decidir se eu era ou não real.

Ah, nada demais. Vim pedir você em casamento. Coisa pouca, sabe?

"Eu... ahn...," comecei, tentando encontrar alguma razão boa o suficiente pela qual eu pudesse estar sentado no balcão de sua cozinha. Ugh, onde eu estava com a cabeça quando aceitei surpreendê-la com esse pedido? Sou péssimo com surpresas. "Eu vim pelo café," concluí, dizendo a coisa mais estúpida que poderia ter dito.

"Pelo café? Você dirigiu de Banff até aqui pelo café?"

Gastei algum tempo pensando em como formular uma mentira que fosse convincente o bastante para que eu pudesse sustentá-la por, ao menos, alguns minutos, mas, antes que eu pudesse dizer alguma outra idiotice, fui interrompido pelo som de passos logo acima de nós. Contive um suspiro de alívio. Salvo pelos futuros sogros, pensei.

Logo depois, torci o nariz. Se eu dependia dos meus sogros para me salvarem de situações estranhas com a minha noiva, minha situação realmente não era das melhores. Céus, eu seria um péssimo genro.

"Okamoto-san. Você já está aí," eu ouvi a voz masculina dizer, no mesmo sotaque carregado que eu ouvira ao telefone há alguns dias. Franzi o cenho. Mesmo que eu fosse descendente de japoneses, nenhum membro da minha família tinha o costume de usar os sufixos comuns na linguagem. Ser chamado de Okamoto-san, ao invés do costumeiro Sr. Okamoto, portanto, ainda me parecia um tanto estranho.

Bem, ao que tudo indicava, eu teria que me acostumar.

"É, bem, cheguei faz algum tempo," repliquei, repuxando os lábios em uma tentativa de sorriso. Minha ansiedade, entretanto, deve ter feito a expressão se parecer mais com uma careta. O casal parado no topo da escada trocou um olhar significativo entre si. Talvez estivessem pensando que eu fora uma péssima escolha.

Eles não estavam de todo errados, mas não precisavam saber disso tão cedo.

"Ah... Muito bem, Hideki-san. Por que não vem conosco até a sala de jantar para... hm... discutirmos os detalhes?", a mulher perguntou, parecendo desconfortável enquanto descia os degraus da escada, de braços dados com o marido. Eu entendia o desconforto, uma vez que ele a estava praticamente arrastando pela escadaria. Se fosse eu, provavelmente estaria estatelado no chão àquela altura.

Lancei um olhar furtivo para Akemi – o primeiro desde que eu a vira no topo da escada, há alguns minutos –, que olhava desconfiada na direção de seus pais, os olhos apertados como se tentasse desvendar por si só o que estava acontecendo.

"Detalhes... é, sim. Boa ideia. Tudo bem," respondi, sem graça, ao notar que o casal ainda me encarava, esperando uma resposta. Eles trocaram mais um de seus olhares, e eu, que nunca fora uma pessoa religiosa, me vi rezando a todas as divindades de que conseguia me lembrar. Céus, não desistam de mim ainda.

Eu e Akemi os acompanhamos até a sala de jantar, andando lado a lado. Conforme caminhávamos pelo largo corredor – provavelmente maior do que o apartamento que eu alugava –, aproveitei para realmente olhar para ela, como eu, até então, não tivera oportunidade de fazer.

Embora eu a houvesse visto pela última vez há pouco menos de dois meses, algo sobre ela parecia ter mudado. Seus cabelos escuros estavam presos em um coque firme, sem vestígios das mechas cor-de-rosa que ela costumava ter quando nos conhecêramos, e alguém a enfiara em um longo vestido de renda azul-marinho, cuja gola subia até o pescoço. Para falar a verdade, eu nunca vira uma peça de roupa que destoasse tanto da garota que eu conhecia; Akemi detestava vestidos longos e roupas escuras. E não era a maior fã de rendas, se querem saber.

"Então, o que achou?", ela perguntou, fazendo minhas bochechas corarem. Bem, eu poderia estar prestes a pedi-la em casamento, mas ter sido pego encarando-a continuava sendo bem constrangedor.

"Nada você," repliquei, arrancando um sorriso da parte dela. Não pude deixar de notar que até mesmo isso parecia diferente; ela não mostrara os dentes ao sorrir, e, vindo de Akemi, isso era algo bastante atípico.

"Bom, graças a Deus."

Nós dobramos o corredor atrás de seus pais, que já nos esperavam na sala de jantar. O senhor Yakamura – devo chamá-lo de Yakamura-san? – nos encarou com olhos estreitos, desconfiado. Imagino que ele quisesse dizer algo, mas um rápido olhar na direção de sua esposa (eu já estava ficando cansado disso) fez com que ele se calasse.

"Akemi," a senhora Yakamura falou primeiro, com ar de quem não quer nada. Akemi a encarou, cheia de suspeitas. "Nós temos uma... hm... grande notícia para você," ela continuou, e eu troquei o peso de uma perna para a outra, esperando que ela terminasse logo o discurso. A cada momento que se passava, mais meu coração parecia inclinado a saltar pela minha boca.

"É. Bem...," o senhor Yakamura assumiu, limpando a garganta antes de continuar. "Este distinto rapaz ao seu lado é Hideki Okamoto. Ele vem de uma família muito tradicional do Japão."

Eu e Akemi nos entreolhamos, tentando conter a risada. Minha família não podia ser considerada muito tradicional há, pelo menos, três gerações. Bem, quer dizer, minha mãe se esforçou por algum tempo para recuperar a tradição, mas não durou nem cinco meses, então não acho que seja válido.

"Certo, família tradicional," Akemi concordou, lutando para se manter séria. Eu mesmo não pude conter o sorriso ao notar o traço de humor em seu tom de voz, mas os pais de Akemi não pareceram notar. Eles ainda nos encaravam seriamente, as expressões duras como rocha.

"Sim, sim," a mãe de Akemi reafirmou, assentindo com veemência. "De qualquer forma... bem, o fato é que..." Pigarreou antes de continuar, como se pronunciar as palavras seguintes fosse um grande sacrifício. "Hm, o fato é que encontramos em Hideki... digo, em Okamoto-san... o par ideal para você."

Observei as sobrancelhas de Akemi se unirem, como sempre acontecia quando ela não conseguia entender imediatamente o que estava havendo.

"Par ideal? Espere, não quer dizer..."

"Akemi," seu pai interrompeu, a voz muito mais tênue do que antes. O primeiro sorriso da noite surgiu em seus lábios quando ela se voltou em sua direção, ainda confusa pela afirmação prévia. "Hideki tem um pedido a fazer," completou, me encarando em expectativa.

Eu engoli em seco. Chegara a hora.

Ajoelhei-me desajeitadamente no chão, apalpando meu bolso à procura da pequena caixa de veludo que minha mãe me dera na semana anterior. Minhas mãos estavam geladas; percebi que minhas palmas suavam.

Aparentemente, não, não estava frio. Eu estava mesmo só nervoso demais.

Tirei a caixa do bolso, tentando me lembrar de todos os filmes de romance que acabavam em casamento que eu havia assistido até agora. E de todas as vezes em que eu treinara diante do espelho, na semana anterior. E também de todos os vídeos sobre pedidos de casamento românticos no YouTube. Eu devia ter visto uns seiscentos desses só nos últimos dois dias.

Eu quis me lembrar de todos eles. Cada detalhe de cada um. Eu queria fazer o pedido de casamento perfeito. Mas, quando eu levantei os olhos para Akemi, estendendo a caixinha aberta em sua direção, me deparei com a expressão perplexa mais brilhante que eu já havia visto, e todas as coisas que eu havia planejado dizer desapareceram da minha mente como se nunca tivessem estado lá.

Então, ainda um pouco estonteado pela sua beleza, tudo o que eu consegui dizer foi:

"Akemi Yakamura, quer se casar comigo?"

Os três segundos que se passaram antes que ela me desse sua resposta foram, provavelmente, os mais torturantes da minha vida.

"Eu... é claro que quero me casar com você, seu imbecil," ela revirou os olhos. Eu teria me virado para ver a expressão chocada no rosto dos Yakamura, mas estava ocupado sorrindo feito idiota para a filha deles (que, aliás, pegara o anel e o enfiara em seu dedo anelar antes que eu sequer tivesse tempo para fazê-lo por ela).

Eu dei um sorriso sem jeito, me levantando rapidamente. Me sentia muito mais leve do que antes, agora que estava, finalmente, livre da ansiedade – ainda que não do nervosismo; esse continuaria comigo até estarmos preenchendo a papelada do casamento, e, se eu me conheço bem o suficiente, talvez até depois disso.

Ela lançou os braços ao meu redor, envolvendo-me em um abraço apertado, e eu não pude nem me incomodar com os olhares confusos de seus pais, que observavam, boquiabertos, aquela cena inesperada. Talvez eles estivessem esperando que ela dissesse não e desse a eles a oportunidade de arranjar outro panaca para se casar com ela. Um panaca mais rico, talvez. E mais tradicional.

Acho que eles teriam de se contentar comigo, mesmo.

"Então...," Akemi sussurrou para mim enquanto ainda estávamos abraçados, um sorriso astuto desenhado em seus lábios. "Me esclareça de novo, por que veio até aqui mesmo?"

"Ei, eu já te disse," resmunguei em resposta, sem conseguir conter meu próprio sorriso. "Estou aqui pelo café."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se gostaram, por favor, deixem um review :D Vai significar muito para mim! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I Came For Coffee" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.