Corremos até chegarmos ao fim da Floresta dos Corações Corrompidos e entramos no Deserto das Emoções Vazias. É um deserto diferente dos outros, há ossos pela areia e está noite. O vento nos atrapalha um pouco, a areia vai em nossos olhos dificultando a visão.

Tentamos correr, mas no deserto é meio difícil. Penso em um milhão de coisas ao mesmo tempo como: Será que Kitsune ainda quer me matar? O que Yuuto quis dizer antes? Onde está Thy que não aparece? E como vou conseguir derrotar as trevas com luz se eu mesma não a tenho?

O grito de Mizu me tira de meus pensamentos.

–Mizu! – Mari fica apavorada e aponta um revólver pra uma sombra segurando Mizu.

A reconheço, me aproximo pra ver quem é.

–Thy? – a Ladra de Almas segura Mizu com uma faca em seu pescoço.

–Master, eu não esperava que estivesse com...ela – Thy se esforça pra não insultá-la.

–Solte-a – ordeno – Ela não é a verdadeira Predator, nem pensa em matar. Como poderia ser?

Thy solta Mizu ainda desconfiada, Mizu corre pra perto de Mari que continua com a arma na mão.

–Quem é ela? – pergunta Yuuto.

–Sou Thy, a Ladra de Almas – se apresenta.

–Ah, aliada de Predator? – assimila ele.

–Ex-aliada – corrige ela – Você é o garoto monstro?

–Era – ele parece incomodado – Dare, ela vai nos ajudar? Ou temos de...

–Só quero me vingar de Predator – diz Thy – E como Master quer derrotar as trevas...

–Por que chama Dare de Master? – indaga Mari.

–Acho que o garoto sabe por que – Thy sorri, mas não diz por que.

–Tá, vamos logo. Já perdemos tempo demais – resmungo.

Nesse momento o vento para.

–Que aconteceu? – perguntamos.

Alguém me dá um soco no rosto e cambaleio pra trás, Mari atira no sujeito, mas ele pega a bala com a mão. Thy pula em cima dele e lhe dá socos, vai esfaqueá-lo, mas antes grito:

–Espere!

Ela para, mas fica segurando o garoto fortemente no chão. O homem parece ser uma treva, usa roupas brancas e pretas, tem um olho negro e outro vermelho. Vejo que há penas negras saindo de suas costas. O conheço de algum lugar.

–Quem é você? – questiono desconfiada – E por que nos atacou?

–Você não se lembra mesmo de mim querida? – ele sorri, seu sorriso parece falso.

–Vamos manter o segredinho – Thy aperta o pescoço dele para que obedeça.

–Tá bem, eu sou Hakochi, conhecido como Anjo Demônio – se apresenta ele – Agora, pode sair de cima de mim?

Thy sai de cima dele lentamente, ele se levanta e ajeita o casaco de mau humor. Observo as penas em suas costas, quando pensamos em asas imaginamos que sejam grandes e majestosas e tem formato perfeito. Porém as dele são todas bagunçadas e incompletas, como se tivessem arrancado suas penas. Duvido que ele consiga voar com elas.

–Que foi? – ele me fita.

Seu olhar não é só irritadiço, parece haver uma dor ali, uma tristeza profunda.

–Suas asas já são assim? – pergunto indelicadamente.

–Não eram onze anos atrás.

–Você não seria uma criança?

–Tenho 352 anos.

Ele se vira, não quer falar sobre o assunto.

–Vocês vão pra Kusatta Kankyo derrotar Nightmare? Que hilário! – fala ele.

–Por que é hilário? – indaga Yuuto.

–É hilário, ela está indo até lá de boa vontade, assim fica fácil das trevas vencerem – comenta.

–Por que eu, entre milhões de pessoas, sou a escolhida? – questiono.

–É o destino que Kami preparou pra você. Injusto, não? – diz Hakochi.

–Por que chamam aquela farsa de kami? – cerro os dentes.

–Pois é... É só um idiota que gosta de ferrar todo mundo! – Hakochi tenta esconder sua tristeza, mas eu vejo.

–Quem foi que arrancou suas penas? – pergunto.

Ele se vira antes de começar a chorar.

–Por que você usa essa máscara? – dá o troco.

–Desculpe. Você vai conosco até Kusatta Kankyo ou só veio me dar um soco? – debocho.

–Só queria ver o que tinha acontecido com você depois de tanto tempo, mas vou me juntar ao seu grupinho de trevas contra trevas – decide ele.

–Trevas? Não somos trevas? – discorda Mizu.

–Não... – zomba Hakochi – Você é Predator, apesar de ser a fase mais ridícula dela; ele é o garoto monstro; ela a ladra de almas... Só a mariposa não é grande coisa.

–Ei! – resmunga Mari.

–Queria ser má? – ele me olha – Posso chamá-la de Night...

–Dare, sou Dare – o corto.

–Bom conhecê-la de novo Dare – ele faz uma reverência.

–O que você foi pra mim afinal? – questiono.

–Pense em mim como...um ex-namorado.

–Tá de brincadeira...você... – fico incrédula – Pode encurtar o caminho?

Me contenho ates de falar algo errado.

–Quer que eu leve vocês pra Kusatta Kankyo? – deduze – Fica meio difícil pra quem não tem mais suas asas?

Suspiro.

–Acho que se me der asas novas – diz ele – até posso teleportá-los.

–E como vou te dar asas?! – exclamo.

–Quando tudo acabar você...

Thy coloca uma faca na garganta dele antes de terminar a frase.

–Não conte o que não deve – ordena ela.

–Sou imortal, não tenho medo de você.

–Mas duvido que isso não dói – ela faz um corte em seu pescoço.

–Não tenho medo da dor – fala Hakochi – Mas entendo que não é certo contar pra ela.

–Que estão escondendo de mim?! – fico curiosa – Por que não posso saber?!

–Desculpe querida, mas há uma pessoa que pode me matar e ela não me permite dizer – conta ele.

–Como ele ousa chamá-la de querida? – ouço Yuuto murmurar.

–Você quer chegar rápido ou não? – pergunta Hakochi.

–É a única escolha. Te darei asas seja lá como for... – aceito.

–Como ela pode concordar assim tão facilmente? – acho que Yuuto pensa que não estou ouvindo – E se tivesse de nos matar?

Também tenho um pouco de receio, eu não os mataria, não quero matar.

–Você está mesmo pronta querida? – indaga Hakochi.

–Sim – afirmo – E pare de me chamar de querida! Não gosto de você!

–Duvido – discorda – Ainda sente muita coisa por mim.

–Tipo raiva – cruzo os braços.

–Vamos logo?! Quero ver logo aquele lugar! – Thy está animada.

–Todos dêem as mãos – Hakochi estende a mão dele.

Mizu e Mari vão pra perto de mim e damos as mãos. A de Hakochi é bem quente o que eu não esperava e ele me olha de forma hipnotizante. Desvio o olhar.

Yuuto está preocupado e sinto um pouco de medo em seu olhar, medo de mim...

Nos teleportamos rapidamente, chega a me dar vertigem e pra não cair me seguro em Hakochi.

–Tinha me esquecido o quanto seu toque é excitante – comenta ele.

Me afasto dele imediatamente.

–Cale a boca! – ordeno.

–Kusatta Kankyo... – todos estão boquiabertos.

O lugar é horrível! Além de parecer que ocorreu um terremoto lá, há pessoas no chão, nas casas, em tudo, pessoas mortas. O cheiro deixa a gente tonto e as pessoas no chão, atrofiadas, mutiladas, apodrecendo... são um tormento aos olhos. Nightmare fez isso, não sou assim, não posso crer que sou a escolhida.

–Esse é o paraíso negro das trevas de Nightmare e Predator – conta Thy.

–Eu não gosto, acho horroroso! – diz Mizu segurando o braço de Mari – Não sou nem um pouco parecida com Predator!

–De fato – concorda Hakochi – Você é ela quando era uma covarde.

–Não sou covarde! – Mizu se altera, ela o olha com ódio, nem parece ela.

–Calma – pede Mari.

–É esse lugar – fala Yuuto – Ele tem efeitos nos desejos mais hostis das pessoas, sinto a terrível vontade de esfaquear Hakochi.

–Idiota! – insulta Hakochi.

–Imagina que efeitos Dare terá? Ela é uma bomba-relógio prestes a explodir – Thy sorri.

–Cale-se, nem sinto nada – minto.

Na verdade quero matar, quero ter novamente a sensação de tirar a vida de alguém, de me sentir poderosa e invencível. Isso me anoja, esses pensamentos são sujos.

–Dare! Não posso deixar que você se torne Nightmare! – grita alguém, reconheço essa voz.

–Ki...tsu...ne!

###

O novo Kami, criador de histórias foi nomeado com a suposta morte de Nightmare. Mas ele não se sentiu satisfeito, estava faltando algo, ele estava sozinho e isso era triste. Resolveu fazer uma história fantástica em que as pessoas sabiam que ele existia. Que teriam raiva dele por fazer tantas injustiças e isso era perfeito! Assim as pessoas o procurariam e ele teria sua história.