Algo importante, ou quase. escrita por venus


Capítulo 1
Segunda-feira monóloga.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que chegaram aqui, boa leitura.



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Tinha planos de passar a noite acordada, mas em algum momento naquela escuridão profunda eu adormeci. E dormi como uma pedra até as seis da manhã, quando acordei com um som alto provavelmente de tiro, já que meus primos adoram "brincar" com essa coisa chamada vida. Eles bebiam até amanhecer e no dia seguinte brincavam de tiro ao alvo e quase sempre saiam bem machucados.

Tomei um rápido banho morno, me enrolei na toalha fofa de algodão amarela e fui até o aquecedor do meu quarto, onde saia um vento quende. Fiquei lá embaixo tempo o suficiente para meus seios ficarem eriçados. Sequei-me e coloquei o uniforme escolar já que era uma bendita segunda-feira e usei um casaco velho e confortável. Penteei os meus cabelos preto escorridos. Peguei meu material e fui para a cozinha onde estava tendo o café da manhã.

Quando uma adolescente meramente comum vê toda a família conturbada se entendendo e sorrindo felizes reunida, desfrutando de tudo o que você possa imaginar que se coma em um café da manhã, começa a pensar que talvez não seja parte daquela família.

Moro com meu tio, seu noivo e uma tia. Recentemente estão alojados em minha casa alguns primos e cinco tias que eu não me dou muito bem. Meus primos são arrogantes e chatos, minhas tias e seus amados maridos quarentões são um tédio, além de serem ignorantes e eu não conseguir manter uma conversa civilizada com eles por três minutos. 

Fui até a mesa grande e rústica de madeira com bancos sem apoio as costas, e me sentei ao lado da tia Lucia (mais conhecida como Lucy) que mora comigo. Ela era simplesmente uma pessoa incrível e inteligente de 24 anos. Meu avô falava que era exatamente por isso que ela nunca casava, era inteligente demais para essas coisas.

Quando estava passando mel nas minhas panquecas ela notou a minha presença. Sorriu e piscou o olho direito carregado de preto, eu ri baixo e disse: bom dia. Me levantei depois de acabar com o meu prato de panquecas e uma café preto. Peguei o lanche da escola com Ed (Edward, noivo de meu tio Richard) e fui a escola caminhando.

Cheguei e em seguida o sinal para a primeira aula tocou. Me dirigi a sala do 2ºF, onde estudava. Estava a mesma bagunça de sempre. Nada tinha mudado em duas semanas. Que ótimo.

Logan Starlan veio até mim com um riso travesso e assoviou alguma canção do Pink Floyd enquanto me analisava, desviei dele sorrindo. Me sentei na antepenúltima cadeira do fundo, na segunda fila da esquerda. Olho ao redor e sorrio para Gabriel Lee. Ele se senta atrás de mim e folheia um livro, "eu sou o mensageiro" de Marcus Zusak. Eu rio alto quando o vejo apanhar o livro ali e começar a ler.

Gabriel tem uma teoria que ele diz ser séria sobre os seres humanos: eles estragam tudo. É um garoto parecido comigo, só que um pouco mais maduro e um tanto mais revolucionário. Ele quer mudar o mundo, mas me diga: quem não quer? Ele tem razão sobre várias coisas e suas teorias raramente estão erradas. E é por isso que sou amiga dele.

Meu círculo de amizade não passa disso, na verdade.

A professora de Sociologia, srta. Carver, adentra a sala e começa um discurso monólogo de apresentação de trabalhos. Coisa simples: ordem de chamada, grupo de três, sem folha. Eu estava no grupo dois: Lyla Sherman, Gabriel Lee e eu, Louise Stuart. Iria ser rápido, já que tinha ensaiado o que iria falar durante duas semanas e o discurso fora feito por Gabriel, que é um gênio nessa matéria.

Lyla era uma garota tímida que não desgrudava de suas três amigas: Giovanna Mécovisk, Samantha Leger e Lara Houg. Ela era mais uma garota na sala, sem nenhum estereotipo pitoresco para defini-la.

Fui até o grupo dois que já conversavam empolgados sobre o trabalho.

― Vocês decoraram todo o trabalho? ― perguntou Gabriel. Nós sorrimos e fizemos que sim com a cabeça. ― Então quando a professora chamar: Lyla, postura ―  falou olhando diretamente para ela. ― Não se encoste na parede e nem boceje, Louise. ― Desta vez olhou para mim, sério. ― Louise começa, entra a segunda parte que sou eu e você discursa por último a terceira parte do trabalho, certo Lyla?

― Tudo bem. ― Falou ela sorrindo enquanto corava.

Achava que ela tinha uma queda por ele. Quando se falavam ela corava e sempre sorria. Gabriel, que nada entende do "sexo frágil", nem nota o comportamento estranho de Lyla. Redondamente irônico já que Gabe não gosta de clichês.

Gabriel não é de todo o garoto mais atraente que você possa conhecer. É incrível e espontâneo, apesar de ser um pouco anti social. O garoto mais interessante e bizarro que se possa encontrar. Fiél, confiante e esforçado. Ele chamaria mais atenção se frequentasse a academia; claro que não seria a atenção que ele desejaria. 

Gabe não é muito de chamar atenção, nunca foi tímido, tem um rosto bem desenhado sem espinhas, alto e magricela, extremamente branco ― já que tenta fazer de seu quarto uma caverna ―, cabelo castanho e, bem... Ele é normal. Se veste com camisetas de bandas; sempre calça jeans ou no frio, um moletom; tênis all star. Ele raramente caça encrenca e possui uma índole boa.

Um garoto esperto para uma garota burra.

Seria bom ele com Lyla. Seria ótimo! Mas ele sempre diz a mesma coisa quando pergunto quando ele vai arrumar uma namorada "eu não preciso disso. É vaidade, e o máximo que eu quero usar de vaidade é comprando meus livros ou decorando meu quarto. O resto... dispenso", sim, Gabriel é um garoto complicado.

A professora nos chama para apresentar. Nos dirigimos a frente da sala, Gabe dá bom dia e eu começo a discursar a 'introdução', tudo o que eu decorei durante as últimas duas semanas, então começa a parte de Gabriel com a 'teoria' e logo em seguida vem Lyla com a 'conclusão'. Quando estou voltando para o meu lugar Sean Cooper fala algo sobre Gabe. Algo ofensivo que apenas me limito a encarar o troglodita de modo vago. Gabriel não ouve já que está conversando empolgado com Lyla sobre a professora ter gostado do trabalho.

Eu simplesmente estava cansada demais para odiar aquele idiota, então eu só revirei os olhos com sua provocação infantil e me dirigi até o meu lugar na sala. Ótimo, garota! Você está amadurecendo.

Ele sabe que só pode me encher o saco falando dos meus amigos, porque realmente não me sinto ofendida quando ele zomba de mim ― o que não faz isso não ser frequente. 

O tempo passou rápido e as quatros primeiras aulas já haviam terminado e com isso o horário do almoço havia chegado, então toda a escola estava indo para o refeitório. Eu estava sozinha em uma das últimas mesas do canto, onde ficava o povo do ensino médio menos entrosado. Gabriel viria daqui a pouco, estava comprando seu almoço.

Senti algo assoprar a minha cabeça por trás e me virei para ver quem era quando tampam meus olhos.

― Quem é?

― O cara dos seus sonhos... ― Ao ouvir aquela voz eu não me movimentei e nem ousei falar algo durante 17 segundos. A minha primeira reação foi tirar suas mãos do meu rosto e a segunda foi olhar feio pra ele e falar: não temos mais nada, será que dá para eu lanchar em paz, Tobias?

Dizem que tudo acontece por uma razão, e às vezes eu queria realmente saber qual é a razão de Tobias Grey gostar de mim.

― Você ainda me ama, Lou. Eu sei disso. Você me ama como eu a amo. Nós fomos feitos um para o outro e... ― não esperei ele terminar e me levantei saindo do refeitório.

A história é curta: Tobias Grey é o garoto dos sonhos ― popular, rico, lindo, romântico... Preciso dizer mais? ― como disse ele é o cara dos sonhos, mas não dos meus sonhos. Estava cansado de suas "amiguinhas" de sempre e resolveu procurar carne nova. E achou. No 2ºF. E adivinha?! Era eu. Mas não pense que a nossa relação foi de briguinhas até eu fazê-lo virar um homem decente e namorarmos felizes da vida.

Tobias Grey era um cavalheiro, porém um idiota. Ele não era burro, mas era machista e acreditava em tudo o que a mamãe dizia. Então eu me cansei dele rápido e terminei depois de três meses de namoro. Sem falar que ele me traia e me pressionava para "liberar" logo.

Eu já havia namorado uns três caras com o status de Tobias. Estava cansado do velho tipo cafajeste safado, brincalhão que vive o momento. Estava querendo algo intenso eu acho, algo que nenhum cara daquela escola poderia me dar. Eu era um imã de problemas. Sempre atraí esse tipo de cara entre outras coisas na minha vida que só dão merda.

Estava na última aula, de História, aprendendo algo sobre os incas quando recebi a seguinte mensagem de Gabe:

"Saída. Estádio. Último banco."

Eu ri com a mensagem. Gabriel não era do tipo de garoto que marca encontros. Devia ser algo importante.

Assim que a aula acabou me dirigi ao estádio, subi até o último banco e lá estava Gabriel com o lábio inferior cortado, a bochecha com um hematoma e um olho roxo. Só arregalei os olhos e depois ri.

― O que houve?

― Por sua causa. ― Disse ele sorrindo.

― Tobias? ― perguntei com certa dúvida. Ele sempre aprontava essas coisas.

― Mesma coisa de sempre. Ele veio tirar satisfação da sua vida comigo. E quando não respondi o amigo dele me bateu e pegaram meu celular. Ele armaria uma emboscada para você quando estivesse na esquina da sua casa; não sei bem o quê, na verdade. Acho que era uma pegadinha, mas eu pedi para usar o celular e como ele não é lá muito esperto, deixou.

Gabriel Lee tinha um sorriso nos lábios finos. Eu ri.

― Tobias é um idiota. ― Disse revirando os olhos e suspirando. ― Você não quer ir na enfermaria?

― Não. 

― Obrigada ― Agradeci e levantamos, indo embora.

― Claro.

― Vou para a sua casa, ok?

― Tudo bem.

XXX

― Emma, assim não! ― Eu ri. ― Tá doendo ― choraminguei para Gabriel.

― Chega, Em. ― Gabe falou para Emma Lee, sua irmãzinha que estava puxando meus cabelos. Ela, derrotada, saio do quarto pisando forte, arrastando seu ursinho que provavelmente tinha algum nome que eu não estava nenhum pouco interessada em saber.

Gabe me olhou rindo.

― Você deveria pelo menos se defender, imbecil. ― Falou e riu mais ainda.

― Qual é, era sua irmã, eu não ia bater nela. Minha política principal é não machucar garotinhas.

― Se defender é diferente de bater.

― Gabriel. ― Chamei séria. Ele me olhou preocupado.

― O que é?

― Ainda bem que você não usava tanto a bosta do seu celular! ― Disse rindo, ele só revirou os olhos e voltou a fazer o dever de casa. Estávamos sentados no carpete de seu quarto resolvendo cálculos de matemática. Recebi nove mensagens de Tobias pedindo desculpas nas últimas duas horas em que estive na casa de Gabe.

― Você respondeu Biologia?

― Até a questão dezessete e você?

― Me passa.

E ficamos nesse vai e vem de tarefas, terminando de fazer o dever e assistimos dois filmes da coleção de Charlie Chaplin de Eva Gouman Lee, mãe de Gabriel. E quando deu vinte uma horas e trinta e dois minutos, minha tia apareceu me levando embora de Charlie Chaplin ― minha nova paixão.

Antes de dormir recebo uma ligação de Sean Cooper:

― Alô?

― Oi, Lou.

― O que é, Sean?

― Você voltou com o Tobias?

Sim, eu já tinha namorado Sean Cooper e me arrependo tremendamente disso.

― Acho que isso não é mais do seu interesse, Sean... Mas eu não voltei nem vou voltar com ele.

― É sim, ainda não desencanei de você... Preciso de mais uma chance. Uma única chance, Louise! Qual é, você não pode fazer isso... Me negar uma única chance.

― Posso sim ― sorri. ― Já fiz. ― E desliguei o celular.

Realmente não sabia o que havia de tão atrativo comigo para os garotos gostarem. Minha aparência não era lá muito incrível. Estudava com Giovanna Mécovisk, uma loira com o corpo modelado e uma pele bronzeada. Ainda tinha Yaskara Richards, uma ruiva sensacional que me deixava no chinelo com sua pele de pêssego e seu corpo de modelo. Sem falar da morena alta líder de torcida Rox Holkwod. Ou melhor, simplificando: eu não ficava nem nas dez mais.

Mas os garotos me queriam.

Era considerada normal (pelo menos nos meus rótulos). Não sou a nerd estressada, muito menos a líder de torcida gostosa e fútil, nem a espertinha que faz parte do jornal escolar ou a popular que era amiga de todo mundo.

Sou uma pessoa que não fala muito em sala (ou em nem um lugar). Nunca briguei na escola ou fiz escândalo, não tenho irmãos, poucos amigos. Gosto de tomar coca zero (tá, eu sou viciada). Eu simplesmente não tinha nada de especial. Não tinha o essencial de que se precisa para um garoto gato com olhos claros, corpo esculpido e de uma família respeitada e rica me namorar.

Qual é, você precisa ser A Garota pra namorar um cara desses. Mas comigo eles vinham correndo e isso já estava cansativo. Talvez só porque ainda não adquiriram experiência e um bom raciocínio, por isso querem tanto Louise Stuart. A rebeldia da adolescência os fazia ter atração por mim. Talvez fosse a erva que queimava aqueles poucos neurônios. 

Ou... eles gostem de sofrer. Essa é a única coisa lógica que posso formular sonolenta.

É.

Eles gostam de sofrer.


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Notas finais do capítulo

comentem o que acharam, BEIJOOOO!



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