Não saberia descrever minha atual situação no momento. Por mais que tentasse, todo o misto de sentimentos que estavam em conflito no meu peito não podia ser explicado com palavras. Mas acho que se assemelha a estar num precipício e ter a escolha de pular para o vazio ou se afastar da beira.
Isso anda me fazendo pensar muito ultimamente.
Como o leitor já sabe, não possuo um pingo de força em meu ser, o que me faz vacilar sempre, oscilando entre a queda e o ponto seguro de propósito. Algumas vezes penso que tomarei coragem para me atirar para a Morte, em outras, lembro do quanto isso é egoísta, e estou decidida a voltar para um local seguro.
Conheço, agora, a verdadeira covardia.
Eu me sentia impotente e incapaz, sem conseguir tomar uma decisão definitiva. Ou eu viveria, ou morreria. Aquelas facas lá na cozinha pareciam tão atrativas agora... de qualquer modo, morrendo ou não, eu sabia que tinha nada. Sabia que não havia chão para pisar, sabia que não havia nada para me agarrar, e logo seria envolvida pelo vazio, pela enorme imensidão de nada. Pelo menos lá eu estaria longe de toda essa insegurança.
E observando o anoitecer, gravando mentalmente cada novo tom de azul escuro, que já dominava o céu, observei que este se tornasse cada vez mais presente e intenso, deixei que a escuridão jogasse a luz para além do alcance de minha visão. Neste momento, caro leitor, eu desejei mais do que nunca ser uma estrela.
As estrelas podiam ser solitárias, mas eram tão indiferentes quanto a humanidade.
Eram todas boas ouvintes, sempre recebendo a angústia infindável da Terra e seus habitantes, mas sem demonstrar reação nenhuma. Ah... Como queria ser estrela! Mas sei que estrela não posso ser, vou procurando por aí algum pó de estrela, imaginando que pode me ajudar, também. Estou na luta para achar aquele pingo de dignidade que nunca tive.
Ah, como eu queria poder aprender a ser indiferente, queria saber como não me importar com os outros e com o que eles pensam. Eu não desejo mais ser quem sou, por mais que isso não seja uma coisa legal para se dizer.
Dizem que eu sou corajosa, mas na verdade eu sou covarde, incapaz de quebrar o próprio casulo de mentiras que criei para fugir de mim e do mundo.
Se eu já não era capaz disso, devia simplesmente morrer.