O armário magico escrita por Blair Bass


Capítulo 1
O armário do sótão




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Era a primeira vez que Camila passeava pela cidade sozinha. Não que ela não conhecesse a cidade, ela ia lá durante férias de que conseguia se lembrar, só nunca tinha saído muito da grande e velha casa que os pais tinham comprado quando ela e sua irmã eram pequenas. Brookside era a representação de tudo que Camila odiava, a cidade era muito pequena, tinha apenas cinco mil habitantes e antigamente havia sido um monte de fazendas.

Na verdade, Camila nunca entendeu por que os pais compraram aquela casa, a casa era velha e feita de madeira, no primeiro andar tinha a cozinha, a sala, um quarto, um banheiro, e uma porta que dava para o porão. No segundo andar eram duas suítes e no teto do corredor tinha uma porta que dava para o sótão. O sótão era um lugar escuro, com apenas uma janela pequena e sem lâmpadas, nele tinha um monte de tralhas, inclusive um armário de madeira pintado de dourado que sempre estivera trancado. Quando era menos ela e a irmã fingiam que ele era uma passagem secreta para um reino onde viviam fadas.

Naquele dia, os pais e a irmã decidiram sair para olhar uma fazenda numa cidade vizinha, ela não quis ir e por isso ficou em casa, como o dia estava quente e a casa não tinha ar condicionado, ela saiu para caminhar pelas ruas da cidade. Camila usava um vestido fininho vermelho e sapatilhas brancas com renda, seu cabelo castanho estava preso num rabo de cavalo e ela não usava maquiagem.

Apesar de quente, o dia estava agradável e Camila parou para tomar um sorvete na única sorveteria da cidade. Ela pediu o mesmo de sempre (uma bola de morango, uma de caramelo e calda de chocolate) e se sentou na rua para comê-lo. Foi quando ela avistou um rapaz no outro lado da rua, ele dirigia uma moto, mas estava sem capacete, e mesmo de longe, ela conseguiu ver que ele era bonito, tinha uma barba rala e cabelos castanhos. Enquanto ela o olhava, o sinal abriu e a moto disparou.

Depois de tomar o sorvete ela voltou a caminhar, chegando a uma parte de cidade que não reconhecia ela decidiu voltar, mas não sabia como. Todas as lojas daquela rua já tinham fechado, exceto uma. A loja de penhores. Ela se lembrava de ter ido lá quando era menor, no dia em que os pais compraram o armário que ficava no sótão. Ela bateu na porta, sem resposta, então ela entrou. A loja era cheia de coisas como joias, armas e moveis, e atrás de um balcão tinha um velho senhor lendo o jornal. “Que estranho” ,pensou ela “ a data é de 2004, o ano que compramos o armário” .

–Com licença- falou- eu estou perdida, pode me dizer como chegar em Westcourt?

–Senhorita Elesis, que prazer vê-la. Veio buscar a chave do seu armário?

Camila ficou confusa, sua mãe se chamava Marcia Elesis, será que ela achava que ela era sua mãe? E que chave? A do armário do sótão? Mas porque a chave estaria aqui e não em sua casa? Só havia um jeito de descobrir.

–Sim, vim pegar a chave. Faz quanto tempo que a deixei aqui? E porque deixei aqui com você?

–Memoria fraca a sua- disse o velho enquanto procurava a chave- Deixou a ontem, quando comprou o armário. E deixou-a aqui para suas filhas não a encontrarem, foi difícil fazer Camila e Claudia se esquecerem do que viram uma fez, uma segunda seria ainda mais.

Do que ele falava? Vai ver o velho era doente, mas isso não importava, ela sempre tinha querido abrir o armário e agora estava ainda mais curiosa para saber o que tinha lá dentro e porque sua mãe não queria que elas visem aquilo.

–Aqui esta, disse por fim o velho dando- lhe a chave- tome cuidado, o quadro é perigoso.

O quadro? Que quadro? Camila tinha que descobrir a verdade. Ela tinha todo o plano bolado, chegaria em casa e esconderia a chave para os pais não a acharem, esperaria pela irmã e contaria o que aconteceu a ela e depois as duas abririam o armário descobririam o que tem dentro e convenceriam sua mãe a conta-las o que elas haviam esquecido.

Ao sair da loja, Camila percebeu que não sabia onde estava, tinha esquecido se de pedir informações para o velho da loja de penhores. Quando se virou para voltar e fazer sua pergunta, viu que a loja estava escura, oque não fazia sentido, a alguns segundo estava aberta e agora não tinha nada e ninguém lá dentro.

–Esta loja faliu há anos- disse uma voz atrás dela- ninguém comprou o terreno até agora.

Camila se virou assustada e viu o rapaz da moto, aquele que ela tinha visto da sorveteria. Oque ele dizia não tinha sentido, ela tinha acabado de sair de lá, como poderia ter fechado?

–Está pedida? Posso te dar uma carona se quiser. - falou.

–Sim eu estou e uma carona seria ótima. Há quanto tempo esta loja faliu?

– A uns onze anos. Para onde devo te levar?

–Para Westcourt, numero 654.

–Como quiser. Oque fazia por aqui? Não é uma área muito turística.

–Estava procurando uma loja, mas quando cheguei já estava fechada. E não sou turista, moro aqui durante o verão.

Depois disso os dois ficaram em silencio e quando ela finalmente chegou em casa desceu da moto. Quando foi agradecer, ele já tinha sumido de sua vista. A moto era mesmo muito rápida. Ela olhou o relógio e para sua surpresa já eram sete horas, seus pais já estavam em casa e deviam estar preocupados.

Ela abriu o portão e passou pelo jardim, que estava impecavelmente bem cuidado, e entrou na casa. Seus pais estavam na sala sentados frente a frente com o telefone no meio e a irmã estava andando em círculos envolta do sofá. Quando sua mãe a viu se levantou e veio correndo abraça-la.

–Nos chegamos e você não estava em casa! Ficamos tão preocupados e você não atendia o celular. Nunca mais saia sem deixar pelo menos um bilhete. Nunca mais!

Sua mãe estava mesmo brava, mas Camila não ligava, ela queria saber sobre o armário. Ela só pensava no armário e na loja fechada-aberta. Aquilo era tudo que importava no momento e ela tinha que falar com a irmã sobre isso. Elas tinham que descobrir a verdade.

–Claudia, podemos conversar?- perguntou Camila gentilmente

–Claro, pode esperar só um minuto, quero comer algo- E então Claudia foi até a cozinha.

Camila não queria esperar e seguiu a irmã pelo corredor até chegarem a cozinha, onde Claudia foi procurar uns biscoitos e Camila se sentou na mesa pensando em como começar a conversa.

–Você se lembra do armário que tem no sótão? Aquele sempre trancado?- Começou

–Sim por quê?- respondeu a irmã.

–Bem... Eu encontrei a chave dele.

–A chave? Serio? Onde estava? Acho que você deveria dar para a mamãe e para o papai.

–É uma longa historia, acho que você não vai acreditar na metade, mas eu conto- Se ajeitando no banco Camila começou a contar o que tinha acontecido. – Hoje eu fiquei entediada e decidi sair para caminhar, eu estava meio distraída e acabei entrando numa rua cheia de lojas fechadas, como não sabia como voltar para casa decidi perguntar para alguém e como só tinha uma loja aberta, eu entrei lá. La dentro tinha um velho lendo um jornal de 2004...

–E? É um velho, eles gostam de coisas velhas.

–Eu não terminei ainda. Aquela era e loja em que compremos o armário do sótão, o jornal era do dia seguinte aquele. O velho achou que eu era mamãe e disse algo sobre um quadro, algo sobre termos nos esquecidos de algo horrível, depois me deu a chave e disse que eu não devia deixar a Camila e a Claudia olhar de novo a pintura. Estava tão distraída que me esqueci de perguntar sobre o caminho e quando sai um rapaz que passava por lá disse que a loja estava fechada há sete anos. Depois ele me deu uma carona e quando fui agradecer ele tinha sumido.

–Acho que você andou bebendo um pouco demais. - Disse Claudia rindo

–Isso é verdade, realmente aconteceu.

–Então cadê a chave?- insistiu a irmã

Camila colocou a mão no bolso traseiro esquerdo de sua calça e tirou o pequeno objeto metálico dourado que havia recebido do vendedor esquisito.

–Aqui. - Disse Camila abrindo a mão

–Pode ser de qualquer coisa. Isso pode ser só mais uma das suas mentiras ou brincadeiras. Não acredito nisso. Tenta outra.

–É verdade!- gritou Camila- Você vai ver. É real. Não estou mentindo, não dessa vez.

–Jura pelos seus brincos de diamantes?

–Juro.

–Certo, mostre-me o armário, acredito que tem algo lá, mas deve ser só uma coisa velha, sem importância nenhuma.

As duas voltaram para a sala e subiram pela escada até chegar ao segundo andar. Caminharam pelo corredor e chegaram à porta. Cláudia abriu e com cuidado puxou a escada de madeira que as levaria para cima. As duas subiram a escada e depois a recolheram- a e fecharam a porta.

–Aqui- disse Camila puxando o pano que cobria o armário

Camila então pegou a chave e a colocou na fechadura e girou. Depois de destravado, Camila tirou a chave e Claudia abriu a porta. Lá dentro tinha um quadro coberto por um lençol branco.

–Será que devemos levantar o pano?-perguntou Claudia?

–Acho que sim, acho que devíamos ver isso ai.

De repente as duas ouviram passos no corredor e achando que podia ser de um dos seus pais, as duas entraram no armário e fecharam a porta por dentro. O armário tinha uma lâmpada e para poderem enxergar melhor Camila a acendeu. Por dentro o armário era bem maior do que parecia visto de fora e entre elas estava o quadro coberto com o lençol. Claudia fez sinal para que Camila ficasse quieta elas escutaram oque acontecia lá fora.

–Aqui, o armário está trancado como sempre esteve, não peguei a chave não tem como nenhuma delas abrir a porta ou retirar de qualquer outra forma o que tem lá dentro, o armário é magico, não pode ser quebrado. – Essa era a mãe delas falando, e ela parecia preocupada com algo- Acho que você se enganou, Camila mal conhece a cidade, vai ver ela realmente se perdeu.

– Acho uma grande coincidência, e ela parecia estranha ficou meio surpresa quando falei que a loja já tinha fechado há anos. - Camila, que já achava que conhecia a voz, descobriu quem era com essa ultima frese.

Camila então cutucou a irmã com o braço, para chamar sua atenção, e com uma caneta que tinha no bolso escreveu na porta do armário “quem está com ela e o rapaz que me deu carona hoje mais cedo”. Quando terminou de escrever voltou a prestar atenção na conversa, mas não tinha mais barulho, as duas esperaram mais para ter certeza que não havia mais ninguém no sótão e abriram a porta.

Quando saíram do armário, Claudia gritou, tinha um homem parado no meio do sótão e ele parecia que não estava lá procurando por um sofá velho e mofado. Camila, ao vê-lo caminhou em sua direção e disse:

–Agora está me seguindo? Entra na minha casa, conversa com minha mãe sobre o meu “armário magico” e depois me espera sair dele para oque? Por acaso é tão obcecado por mim?

Camila estava mesmo furiosa. Seus pais estavam mentindo para ela e para sua irmã sabe-se lá desde quando e até o motoqueiro bonitão sabia sobre oque era.

–Ei espera um pouco, só estou fazendo oque me mandaram. A proposito se você continuar gritando sua mãe vai subir aqui, e ela não vai gostar nem um pouco de saber o que vocês fizeram.

–Quem é você? Você segue minha irmã até o fim da cidade e depois vem aqui em casa para falar com a minha mãe. Seria muito melhor se soubéssemos seu nome. –Agora Claudia também gritava com o rapaz.

– Me chamo Philip, mas pode ser só Phil se preferirem. E eu disse para pararem de gritar.

Camila e Claudia se olharam, não sabiam se podiam confiar em Phil, mas sabiam que ele sabia o segredo dos seus pais, talvez até fizesse parte disso. Mas como não tinham outra escolha, as duas irmãs decidiram que ouviram o que ele tinha dizer. Após tirar um pouco do pó que tinha no sofá os três se sentaram sendo que as duas estavam de frente para Phil e após alguns minutos Camila finalmente perguntou:

–Oque tem embaixo do pano dentro do armário?

–Você não vai querer a resposta.

–Ai que você se engana, eu quero mesmo saber porque seja lá oque for, parece eu já sabia sobre isso mas apagaram da minha memoria. Então se você não contar eu descobrirei sozinha.

–Nisso você está certa, realmente apagaram aquilo da memoria de você duas. Mas quanto à parte de descobrir sozinha, acho que você não poderia abrir o portal de novo.

–Que portal? – Perguntou Claudia.

–O de dentro do armário, não se lembram disso também?

–Não. Mas como acabamos de sair de lá e ainda estamos em casa não acho que tenha nos transportado para algum lugar diferente- Disse Camila secamente.

–O portal fica dentro do quadro- Respondeu ele como se fosse obvio.

–Ah, claro. Um portal magico dentro de um quadro. Como não percebi isso antes?- Falou Claudia ironicamente.

–Exatamente- Disse Phil sem perceber a ironia na voz de Claudia.

De repente os três ouviram passos vindos do corredor abaixo deles e então foram se esconder, enquanto abriam a porta do armário ouviram a tranca do alçapão do sendo destrancada e quando perceberam que os três não caberiam dentro do armário já era tarde demais, a escada tinha sido puxada e seja lá quem fosse, estaria lá em alguns segundos, os três tinham que ser rápidos, Camila então puxou o pano que estava sobre o quadro apenas alguns segundos antes de seu pai aparecer e gritar:

–Phil, o que você contou a elas?

Então tudo começou a girar e a ultima coisa que ouviram antes de apagarem foi o pai delas dizendo que Phil tinha fazer seu dever e cuidar das “escolhidas” para que ela voltassem para casa inteiram pela segunda vez.


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