POV ALISON

Fiz o que ela mandou, e em poucos segundos meu corpo relaxou ao seu toque, sentindo-o ser aquecido, cuidado... protegido.

Já havia escurecido e nós continuávamos naquela mesma posição... nenhuma das duas ousava se mexer bruscamente, pois a atmosfera estava maravilhosa.

Emily: O que você faz durante a semana? Digo... você não vai à escola não é?

Alison: Não. – é claro que ela sabia. – Sou educada em casa. De segunda à sexta, cinco horas por dia.

Emily: E você só sai de casa aos sábados? Pro Grupo de Apoio?

Alison: Praticamente. – confessei. - Mas eu já saí de bicicleta, duas vezes. – Sim. Isso pra mim é motivo de orgulho.

Emily: E pra onde você foi?

Alison: Só dei umas voltas pelo bairro. Na verdade, a primeira vez eu só fui porque eu peguei minha mãe chorando em seu quarto. Ela conversava com meu pai, dizia que eu ia acabar definhando em nossa própria casa. Fazia quatro meses que eu não passava do jardim. Ela se lamentava, dizendo que não sabia mais o que fazer... – lembrei do seu choro aquele dia... foi uma das cenas mais difíceis que eu já presenciei. – Então eu coloquei um moletom, peguei a bicicleta na garagem e avisei que iria dar uma volta. Há quatro meses eu não via um sorriso dela. – disse com uma voz triste.

Emily: Eu entendo, é um processo complicado, que requer bastante paciência. – falou ternamente, meio que me consolando. – E eu quero muito te ajudar com isso, Alison. – finalizou.

Alison: Você já está ajudando. – minha voz saiu mais baixa que o normal.

Emily: Fico contente em saber disso, mas sei que posso fazer mais... e eu quero fazer mais! –falou confiante - Que tal a gente sair uma vez na semana... entre segunda e sexta? Você escolhe o dia. – propôs.

Alison: Emily, não posso fazer isso. Quer dizer, você já me disse que anda atolada com a faculdade e o trabalho no GA... e agora que seu pai viajou, mais responsabilidades serão colocadas em cima de você.

Emily: A última coisa com o que você tem que se preocupar é isso. Apenas diga-me o dia e a hora que eu devo te buscar, o resto é comigo.

Até quando tenta ser mandona, a Emily consegue ser a pessoa mais fofa do mundo. Há todos esses dias eu procurava um defeito nessa garota e sinceramente não encontrei nenhum. A não ser esse súbito interesse em me ajudar. Minha maior vontade é perguntar ‘por que?’ ‘Por que eu?’

Emily: Está ficando tarde, devemos ir. – se mexeu um pouco, de modo que conseguíamos ver o rosto uma da outra.

Alison: Eu não quero. – afundei ainda mais em seu colo.

Emily: Eu também não quero... – acariciou meus cabelos. - mas olha, seus pais devem estar preocupados. Faz assim, liga pra eles dizendo que tá tudo bem e que nós vamos comer alguma coisa e que em seguida eu te levo pra casa, ok?

Alison: tudo bem. - Nos levantamos e voltamos para o carro.

Só durante a viagem que eu pude notar o quão longe estávamos de casa. Demoramos cerca de quarenta minutos até chegarmos ao restaurante, que ficava na metade do caminho pra minha casa. Eu disse que uma pizza ou um hambúrguer era o suficiente, mas Emily não deixou... disse que eu deveria comer algo saudável, já que não havia almoçado.

Enquanto comíamos Emily falava sobre a faculdade e principalmente sobre o curso. Disse que estava adorando as disciplinas e que não via a hora de começar a estagiar. Contou que suas áreas de atuação seriam com crianças ou fisioterapia desportiva.

…

Emily: Você acha que é melhor eu descer e falar com seus pais? – perguntou enquanto estacionava em frente à minha casa.

Alison: Não precisa. – desprendi o cinto de segurança. – Obrigada por esse dia, Emily. De verdade.

Emily: Não por isso. – inclinou-se, ficando com o rosto bem próximo ao meu. Arfei.

Depois de perceber que eu não me afastei, e que nem iria, Emily abriu um pequeno sorriso e depositou um doce beijo em minha bochecha esquerda. – Boa noite Alison. – completou se afastando.

…

POV EMILY

Após deixar Alison, fui direto pra minha casa, pois lembrei que meu pai havia viajado e Chris estava sozinho. Apesar de já ter dezessete anos ele mal sabia colocar água pra ferver. Tinha medo que ele explodisse nossa cozinha ao tentar fazer seu próprio jantar.

Assim que entrei dei de cara com meu irmão estirado no sofá da Sala assistindo jogo de basquete.

Chris: Puxa Emily, aleluia! Não tem nada pra comer nessa casa!

Emily: Oi irmãozinho, boa noite pra você também. – ironizei. – Falou com o papai?

Chris: Aham. Ele me ligou do aeroporto. Disse que eu iria treinar um novato amanhã na oficina da loja. – revirou os olhos. – vou pra lá direto da escola.

Emily: Hmm... entendi. Eu vou tomar um banho, e depois eu preparo algo pra você comer ok?!

Chris: E você já comeu? Onde?

Emily: Jantei com uma amiga.

Chris: Amiga, amiga… ou amiga...– fez uma cara maliciosa

Emily: Christopher, não é porque eu seja bissexual, que toda menina que eu saia eu queira pegar. Entendeu?

Chris: Ok, me desculpe... não tá mais aqui quem falou. Agora anda, vai tomar banho que eu tô morrendo de fome.

…

Tomei banho pensando no que havia dito ao Chris. Será que eu disse mesmo a verdade pra ele? Será que eu realmente não penso na Alison de uma forma romântica?

Eu sabia que o assunto que meu pai queria tratar comigo envolvia isso. Ele deveria estar com medo de eu me envolver com a Alison. Isso nunca aconteceu antes, eu nunca saí com ninguém do grupo... sempre estive disposta a ajudar todos e todas, mas sempre durante as sessões, nada de mais pessoal. E claro, ele já percebeu que com ela as coisas estão tomando proporções maiores.

Terminei o banho, me troquei e desci. Enquanto eu preparava um macarrão ao molho branco, pedi ao Chris pra pelo menos preparar um suco, coisa que ele demorou séculos pra fazer e sujou a pia inteira.

Deixei ele lá comendo e subi de volta pro quarto, ainda estava com essa dúvida martelando a minha cabeça... será que eu estou gostando da Alison?

O barulho do meu celular interrompe minha reflexão. Como se soubesse o que eu estava pensando, Alison me envia uma mensagem. Sim, a primeira que eu recebo dela.

“Você... eu não posso e nem quero explicar. Eu agradeço.”
Boa noite.
– Alison

Respondo a mensagem com o maior sorriso do mundo, mas também com um pouco de medo. Pois agora eu sei a resposta pra minha pergunta.