Três vidas inteiras escrita por Blue Butterfly


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

Prometi para mim mesma que nessa história os capítulos não passariam de 4 mil palavras cada. Mas que culpa tenha se sou obcecada por descrever tanto? Esse capítulo é um tanto quanto... pesado. Espero ouvir de vocês o que acham!



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Jane sabia desde que abrira os olhos que esse dia seria um dia emotivo. No dia anterior ela tinha descido até o escritório de Maura para lhe dar a notícia de que finalmente tinham fechado o caso que tirara elas da cama na madrugada de segunda-feira. Tinha sido um daqueles assassinatos nada misteriosos, cometido por pura vingança. Maura tinha escutado atentamente os detalhes enquanto Jane contava sobre a apreensão. Uma vez que o assunto tinha se acabado, a loira levantou da cadeira e passou as mãos em dobras inexistentes no vestido. Olhando em volta para se certificar de que não havia alguém para escutar o que estava prestes a dizer, ela respirou fundo e cruzou as mãos na frente do corpo.

'Eu... Agendei uma consulta no obstetra para amanhã às cinco da tarde.'

'Oh'. Jane corrigiu a postura e pareceu mais interessada.

'Só estou dizendo porque você disse que me acompanharia e... eu gostaria de saber se você ainda esta disposta.'

'É claro.' Jane respondeu naturalmente, afinal de contas ela tinha dito que estaria lá.

E desde que tiveram essa conversa, a única a respeito do bebê depois do dia em que conversaram na cozinha da casa de Maura, Jane estava se sentindo ansiosa. Preocupada. O único modo de se manter distraída foi ir para o trabalho e focar no relatório que tinha para digitar. Mesmo com sua atenção focada nas palavras e sequências de acontecimentos digitados, materiais catalogados e analisados, Jane conseguia sentir algo gravitando em seu redor. A tensão e uma sequência de outros sentimentos que ela desencadeava estava presente, girando em torno de si assim como as estrelas altas lá no céu. Tudo o que ela tinha que fazer era erguer a cabeça para cima e contemplá-las, questioná-las. Infelizmente, assim como todos aspirantes a descobrir respostas, ela nunca encontraria as delas. Qualquer coisa relacionada à Maura, ao que ela decidiria, ao que ela estava pensando e sentido parecia misterioso. Jane simplesmente não sabia.

A hora do almoço chegou mais rápido do que ela gostaria, e a contagem regressiva tinha começado em sua cabeça. Faltavam exatamente quatro horas para deixarem a delegacia. Cinco horas até a consulta. E logo depois disso... Jane não conseguia prever o que iria acontecer. Ela se encontraram na cafeteria e comeram em silêncio. Maura optou por uma salada, algo leve que ela se obrigou a comer. Ela não estava com fome, mas ela não conseguiria ficar o resto de dia em jejum. Jane pediu um hambúrguer e o comeu lentamente, e ela perguntou se o gosto era tão ruim o quanto ela estava sentindo, ou se era apenas sua boca que estava com o gosto amargo. Uma observação ou outra sobre assuntos aleatórios quebrava o grave silêncio que se instalara entre elas, mas não era o suficiente para desfazer o clima desconfortável. A verdade é que havia um elefante branco ali, um que elas estavam tentando a todo custo ignorar... mas que estava custando tanto à elas.

Quando o almoço terminou, elas se dirigiram para seus respectivos lugares de trabalho. Maura tinha seus próprios relatórios para fazer, e minuciosa e obcecada por detalhes, ela levava o tempo que precisava para deixá-los impecáveis, não se importando com a pressa, apenas com a qualidade do trabalho registrado. Quando o relógio marcou três da tarde, ela suspirou fundo e começou a organizar sua sala. Ela só voltaria ali no dia seguinte, e gostaria de encontrar tudo organizado quando chegasse.

Meia hora. Era esse o tempo que ela tinha para se preparar para as próximas horas. Ela enumerou todas as razões pela qual achava que deveria manter a decisão de escolher um aborto. Sua vida profissional era extremamente demandante. Ela não conseguiria equilibrar seu tempo entre cuidar de uma criança e o trabalho. Ela não sabia cuidar de uma criança. O que ela teria a oferecer de qualquer forma? Sua infância mal podia ser usada como inspiração para ser reproduzida com uma criança. Jack estava a um país de distância e sozinha ela simplesmente não podia. Pedir ajuda para os Rizzolis - se ela contasse ela seria fornecida mesmo sem sem pedida - estava fora de questão. Eles já tinham seus próprios dramas para lidar. E Jane... Ela prendeu a respiração. Jane poderia se afastar dela a qualquer momento. O simples fato de ela ter considerado a idéia de se mudar para o Afeganistão tinha partido Maura ao meio. Levado embora a confiança que sentia antes, a crença de que a morena estaria ao seu lado pelo resto de sua vida. E aquilo a deixava tão fraca, exposta a um tipo de horror que ela temia encarar.

Ela tinha feito sua escolha. A consulta ao médico apenas serviria como ponto de partida, como a própria Jane dissera dias antes, para iniciar o processo. Os resultados a ajudariam a escolher a data. A se preparar para a agressão que seu corpo - e ela não quis pontuar a mente– iriam sofrer. Apenas por um curto período de tempo.

E depois tudo voltaria ao normal...

Era o que ela esperava quando entrou dentro do carro. Ela o que ela acreditava fielmente que iria acontecer. Porque ela já tinha planejado tudo, e ela não podia ver como isso poderia dar errado, sair do controle. Ela faria uma consulta e mesmo temendo encontrar algo que questionasse sua decisão, ainda que levemente, ela continuaria com seu plano. Primeiro uma consulta, um exame detalhado de seu estado e do embrião. Depois... A parte mais complicada.

Eram dois passos, e ela estava prestes a eliminar o primeiro.

Ela não se sentiu nervosa na sala de espera. Jane ao seu lado lhe dava confiança, mesmo em seu silêncio indecifrável, e era isso o que ela precisava. Quando a médica chamou seu nome, ela se levantou e lançou um olhar para a morena. Ela não se importaria se Jane a acompanhasse. Ela sabia do procedimento, mas não se sentia desconfortável. Foi só quando a morena disse que a esperaria ali, que ela sentiu um pequeno frio na barriga. Ela meneou a cabeça e seguiu a médica que era loira como ela, mas tinha olhos azuis acinzentados, e era alguns centímetros mais alta.

De médica para médica, a conversa parecia mais profissional e impessoal, exatamente como ela esperava. Consciente do próximo passo, ela deixou que a mulher lhe indicasse o banheiro para que se arrumasse. Ela segurou em mãos firmes a vestimenta que usaria para o exame. Tirou o vestido e o pendurou cuidadosamente nos ganchos, no pequeno banheiro iluminado por luzes brancas. As peças de baixo vieram a seguir. Uma vez que o que parecia um robe estava em seu corpo, ela saiu e acenou com a cabeça. Ela estava pronta para a ultrassonografia pélvica por via transvaginal. O nome parecia mais assustador do que o procedimento em si.

A médica indicou-lhe a maca acolchoada, e ela deitou-se ali. As pernas ficaram separadas e apenas quando a médica inseriu o transdutor dentro de seu corpo foi que ela se sentiu invadida. Não fisicamente - ela já tinha passado por aquilos algumas vezes - mas emocionalmente. Ela não conseguiu olhar para o monitor. Ela sabia o que apareceria ali e ela simplesmente não queria ver. Ver significaria criar algum sentimento em torno daquilo, e ela não queria. Nem algo bom, nem ruim. O que ela queria, na verdade, era que se corpo não estivesse carregando aquilo. Ela se concentrou na respiração e contou até... Ela não sabia. Ela esqueceu o número no mesmo instante que a médica chamou sua atenção.

'Aqui está o bebê.' Ela anunciou encantada mas contida, e Maura entendeu o quanto ela gostava daquele trabalho. A procura por algo vivo e vivendo dentro de outro ser humano deveria no mínimo causar satisfação.

'É apenas um embrião.' A loira pontuou. 'Estou correta em pensar que essa é a quinta semana?' Ela desviou os olhos do pequeno conjunto de células e olhou para o teto.

'É o que parece. Sim! Com precisão é quase impossível dizer, mas se analisarmos as formas... Acho que podemos concordar em cinco semanas. As diferenças se tornam maiores com o avanço da gravidez.'

Maura apenas concordou com a cabeça. Ela se perguntou se agora seria o momento mais apropriado para fazer a pergunta - a qual já sabia a resposta.

'Bem... Parece que tanto você quanto o seu futuro bebê estão indo muito bem.'

Ela sentiu o transdutor sendo retirado e fechou os olhos. Não, nenhum deles estavam tão bem.

A médica lhe apertou amigavelmente o ombro e sorriu para ela. 'Você pode se trocar agora. Vou pedir para imprimirem a imagem na recepção enquanto isso. Você pega na saída.'

Maura se sentou na maca e respirou fundo. Cuidadosamente ela se levantou e caminhou para o banheiro, fazendo o processo inverso. Suas roupas voltaram para o seu corpo, e a vestimenta ficara pendurada ali. De volta ao seus saltos, ela olhou sua imagem refletida no espelho. A confiança que sua figurava refletia ali era tão aprimorada quanto falsa. O espelho definitivamente só refletia aparências.

Quando retornou à mesa da médica, ela cruzou as mãos na frente do corpo e não se sentou.

'Há algo mais que queira saber?' Os olhos azuis estudaram seu rosto, e ela se debateu com a pergunta que estava prestes a fazer.

'Se eu optar por um aborto...' Ela não conseguiu terminar a pergunta. Não soube se era por causa do olhar espantado que a médica tentou mascarar; se era pelo fato de que não havia necessidade de perguntar, sabendo como o procedimento funcionava; se era porque tinha visto, ela tinha visto!, o embrião... Ela não sabia. Mas a médica era gentil demais para acabar com sua agonia.

'Nós realizamos o procedimento aqui. Não na clínica, é claro. No hospital. Eu mesma já fiz vários procedimentos. Imagino que você saiba que quanto mais cedo, mais seguro. E você precisa considerar também que ele é legalizado até a décima segunda semana*.'

'Entendo.' Maura se limitou a dizer apenas isso.

'Isso lhe dá uma janela de sete semanas. Você pode utilizar desse tempo para tomar sua decisão. Seja ela qual for, você pode retornar aqui. Eu vou estar a sua disposição, Dra. Isles. Apenas pense sobre isso.' A médica lhe sorriu gentilmente, mas ela não conseguiu sorrir de volta. Ela acenou a cabeça em vez disso e olhou para a porta.

'Algo mais?' Ela piscou os olhos para a mulher.

'Não. Acredito que não.'

'Bem, porque não marcamos um retorno para daqui quatro semanas?'

'Certo.' Ela murmurou.

'Ótimo. Lembre-se de manter uma alimentação saudável, beber bastante água e evitar pesos.'

Maura balançou a cabeça em sim, se sentindo sufocada. A médica andou até sua direção e indicou a porta com a mão antes de abri-la. 'Você pode me ligar quando quiser, quando precisar. Meu telefone está num cartão anexado ao envelope que Rita vai te entregar.' Ela disse enquanto acompanhava a loira em seu andar até a recepção.

'Obrigada.' A loira agradeceu e apertou a mão da médica.

'Não por isso.' Ela sorriu e acenou a mão para Rita, a secretária que se encontrava sentada atrás de uma mesa. 'As imagens da ultrassom dela.' Ela disse com a voz macia, e depois apontou para Maura. Sorrindo, ela se despediu com a cabeça e retornou à sua sala.

Depois disso, Jane foi a primeira pessoa que ela viu. Os olhos negros a olharam em expectativa, ansiedade. Ela se levantou e caminhou até ela.

'Tudo certo?' Seu ombro foi pressionado levemente.

'Tudo certo.' E a afirmação parecia tão cruel. Ela estava prestes a terminar algo... que poderia ter dado certo, que por sua escolha seria arruinado.

'Dra. Isles?' Rita a chamou e ela se virou. 'Aqui está suas imagens.' Ela disse enquanto segurava as fotos recém-imprimidas em papel.

'Eu posso ver?' Jane se adiantou até a mulher e lançou a cabeça para Maura, esperando sua resposta.

'Sim.' Ela hesitou mas respondeu finalmente.

Nada havia desconcertado Maura até aquele momento. Expor seu corpo para alguém que ela não conhecia? Ela não se sentira desconfortável. Encarar, ainda que por alguns segundos o embrião que estava prestes a deixar seu corpo? Feito. Discutir e deixar claro suas intenções sobre um possível aborto com a médica? Parte do plano. Não tinha sido exatamente fácil, por definição, mas ela tinha se saído bem até agora. Como planejara. Até que Jane resolveu segurar aquilo nas mãos. Até que ela viu um sorriso cruzar o rosto da morena, um sorriso tão carinhoso e encantado que Maura jurava que ela tinha sido, por algumas vezes, a única que recebera aquilo até então. Os olhos da morena pareciam aveludados por um sentimento de ternura, e embora Maura desconfiasse de que a detetive não saberia distinguir qual ponto era o bebê - não, embrião - Jane continuava a sorrir, como se o idolatrando. Ela se sentiu obrigada a desviar o olhar para não ceder a força que estava apertando sua garganta mais uma vez.

'Podemos ir?' Ela disse sem encarar a detetive.

Tirada do transe, Jane balançou a cabeça e guardou folha dentro do envelope. Ela agradeceu a mulher com um sorriso e de despediu. E então começaria a parte imprevisível do dia. As duas retornaram ao carro para partirem para casa. As ruas já estavam escuras e mais fria do que na parte da tarde. Embora Jane e Maura estivessem aquecidas pelo ar quente do carro, o cenário lá fora combinava com o que elas estavam sentindo por dentro, naquele exato momento.

Jane virou sua cabeça para ela quando parou num sinal. 'O que a médica disse?' Ela tentou puxar conversa.

'Apenas o que previ. Bom desenvolvimento, cinco semanas.' Ela murmurou.

'E...?' Jane pressionou, querendo saber mais sobre Maura do que sobre a consulta em si.

'É muito cedo para qualquer outra coisa. Tudo o que é, é um acúmulo de células, Jane.'

A morena suspirou, se sentindo frustrada. Maura parecia indiferente ao assunto, e Jane se perguntou se ela estava se esforçando para manter a distância do bebê, da detetive. Se sim, ela estava fazendo um ótimo trabalho. Tudo ficara mais difícil porque mesmo que Maura não quisesse se envolver emocionalmente, ela ainda estava evitando de falar sobre aquilo como a cientista que era. Jane tinha certeza que ela tinha muitas curiosidades para dizer sobre a quinta semana de gravidez. Ela poderia, de quebra, adicionar um comentário constrangedor, comparando espécies, envolvendo algo sexual. Era a marca registrada de Maura. Mas nem mesmo isso apareceu naquele momento...

Por cinco minutos elas ficaram em silêncio. Por cinco minutos o som de carros passando por elas, pneus rodando em ruas molhadas de neve derretida, e som indistintos da cidade foi tudo o que elas escutaram. Jane perdida em seus próprios pensamentos. Maura concentrada em manter o foco.

Até que o silencio se tornou ensurdecedor. Jane precisava falar. Precisava ouvir.

'Maura, você... você já se decidiu?' Jane apertou a mão no volante. Ela não podia mais enfrentar aquela quietitude, ela não podia ficar na escuridão, na ignorância do que Maura pretendia ou não fazer.

'Você quer dizer se eu mudei de idéia sobre o aborto?' A loira disse pensativa, sem demonstrar muita emoção.

Jane lançou um olhar para ela, mas assim como Maura ela preferiu não demonstrar nenhum sentimento. 'É, tanto faz.'

A loira suspirou e lançou um olhar para o envelope que tinha as imagens do ultrassom ali dentro. Piscando os olhos, ela focou sua atenção na estrada, mas ela parecia nem estar ali. 'Você sabe... Nesse estágio ele não sentiria. O tubo neural que liga o cérebro e a medula espinhal ainda não se conectou com o cérebro nessa fase, então... Ele nunca saberia. O pequeno cérebro não registraria a dor.' As últimas palavras tremeram nos seus lábios e ela se castigou mentalmente. Ela não poderia se dar ao luxo de ficar toda emotiva agora. Ela deveria pensar racionalmente, estudar as condições em que se encontrava e se certificar de que a escolha que tomasse seria feita sob a mais crítica análise das contingências dispostas atualmente. Ela tinha concluído que por si só não tinha condições de dar a luz à um bebê e mantê-lo. Aquele princípio de gravidez já tinha consumido tanta energia e tempo que nessa altura ela já estava se sentindo exausta. O que aconteceria se ela decidisse passar por isso durante nove meses? E o que viria depois? Não. Ela já havia passado por estresse emocional demais nos últimos meses. Ela estava tomando a decisão correta.

Jane olhou preocupada agora para Maura. Ela parecia menor, cansada. Cortava o coração da morena em ver o quanto ela estava sofrendo, em conflito. O fato de analisar a situação por fora, como a médica que estudara para ser, pontuando fatos sobre terminações nervosas e desenvolvimento fetal, só a deixava mais preocupada. Isso significava que ela estava a todo custo tentando isolar suas emoções. E não estava conseguindo tão bem... Jane bateu os polegares no volante em pensamento e depois dirigiu a palavra à ela. 'Você saberia, Maur? Você... sentiria dor?'

E ela colocou a pergunta de um jeito que Maura entendeu que ela não estava se referindo apenas à dor física. Com uma arfada, ela olhou estarrecida para a detetive. A morena segurou seu olhar apenas por um instante, e a loira quase sentiu Jane tocando sua alma, enxergando através de si, lendo seus mais íntimos pensamentos. E apesar de estar um tanto quanto sobressaltada por ter sido exposta, ela se sentiu acolhida pela afeição com a qual Jane a encarara. Ela engoliu o nó na garganta e abaixou a cabeça, insistindo em manter seus sentimentos à distância... Mas dando uma brecha à Jane. 'Os efeitos colaterais tendem a ser mais psicológicos do que físicos.'

A morena suspirou desapontada. Como ela desejava que Maura parasse de falar sobre estudos que tinha lido em algum lugar e começasse a falar dela, do que estava sentindo. 'Bem, parece que você está se informando de tudo, não é mesmo?' Ela perguntou e dessa vez o sarcasmo morreu antes mesmo de aparecer.

'Eu tenho uma decisão a fazer, Jane. Não quero... escolher nada às cegas.' A voz baixa morreu num suspiro.

'Você tem... lido sobre bebês? Sobre... Eu não sei! Amamentação? Primeiro banho? Você já deve saber dessas coisas de qualquer forma, teoricamente, eu quero dizer. Mas você nunca se perguntou, Maura? Como é segurar o seu bebê pela primeira vez? Como é ver ele sorrindo para você? Quais traços ele vai herdar de você?' Ela disparou a falar, frustrada, indignada em como Maura podia se manter fria, afastada de todas essas perguntas, suposições, aborrecida pelo modo como ela só conseguia se preocupar em pesquisar e se informar sobre o aborto que pretendia fazer, sem se dar a mesma oportunidade pela opção de ter o bebê.

'Jane, por favor...' Ela se espantou com a morena mais uma vez. Lá estava ela, empurrando contra Maura tudo o que ela estava tentando evitar nos últimos dias.

'Não, Maura. Você tem feito isso? Você diz que tem que se informar e estudar suas opções, mas e quanto a essa que você está ignorando?' Ela pressionou e lançou um olhar para ela, num misto de desespero e acusação.

'Como eu vou, supostamente, lidar com isso tudo?' Não é fácil, Jane!' Ela apontou um dedo para a morena, e quando se viu consciente de sua ação abaixou-o imediatamente.

'Não me diga.' A detetive murmurou.

Maura bateu as costas no banco do carro, irritada. A garganta estava queimando e ela precisava chorar. Sozinha. Ela não queria Jane pressionando-a daquele jeito. Ela não queria a imagem daquele bebê sorridente cruzando sua cabeça. Ela tão pouco queria aquele maldito ultrassom. Não. Ela queria se trancar em seu quarto e chorar até dormir, até a dor que estava sufocando-a por dias sumisse. Podia ser covardia, mas ela precisava daquilo nesse momento. Ela apertou as mãos no envelope cor de carmim, tentando evitar as lágrimas. Ela não respondeu a morena porque não confiava mais em sua voz. De todo modo, se ela tentasse elas acabariam discutindo, e Maura não estava disposta a investir mais energias em voz alta e choro. Não. Ela fechou os olhos e tentou uma tática de meditação para se acalmar, pelo menos até que chegasse em casa.

O silêncio dessa vez, diferente de todas as outras, era inconfortável. Quando Jane parou o carro em frente da casa da médica, ela não tinha nenhum intenção em acompanhá-la lá dentro. Mesmo sabendo que mais tarde ela acabaria na casa da mulher, ela precisava de um tempo sozinha agora. 'Sabe... Eu preciso pegar algumas roupas em casa e dar uma olhada em Joe.' Ela abaixou a cabeça e não olhou para Maura.

'Vejo você depois.' Ela abriu a porta do carro, também sem olhar para a morena, e andou em direção à sua casa. As lágrimas cortaram seu rosto antes mesmo de cruzar metade do caminho. Ela rezou desesperadamente para que Jane não a chamasse, não mudasse de idéia e descesse do carro. Quando ela entrou e se virou para fechar a porta, entretanto, o carro da mulher nem estava mais lá.

Ela nem conseguiu chegar ao quarto. Ali mesmo na sala, ela se sentou no sofá e chorou copiosamente. O corpo tremia com os soluços e quando mãos não foram suficientes para abafá-los, ela deitou e enterrou a cabeça em uma almofada. O que Jane tinha feito com ela? Ela estava tentando a todo custo manter as coisas simples, objetivas. Entrar na clínica carregando um embrião, apenas um amontoado de células dentro de si, e sair de lá sem ele. Essa tinha sido a idéia desde o princípio. Entretanto, agora Jane tinha colocado aquelas perguntas em sua cabeça... E elas se multiplicavam em tantas outras. O bebê se pareceria com ela quando criança? Qual seria a sensação de seus pequenos dedos agarrando o seu? Os cabelos seriam claros como o dela ou escuros como o de Jack? Ela tentava a todo custo afastar a idéia de ter um pequeno ser humano nos braços, mas aquilo estava em toda parte, era sufocante. Ela não queria ter sido exposta a esse lado da gravidez porque ela sabia que iria quebrar, que a dor seria tanta que seria como se estivessem arrancando sua pele. Seu lado racional sabia que levantar perguntas como essas só a conectaria com o feto, e a partir disso seria tão mais difícil passar pelo aborto. E lá estava ela, agonizando com o pensamento. Se ela se sentiu desamparada quando descobriu-se grávida, agora ela estava completamente perdida. Sem norte. Sem rumo.

Ela odiou Jane por cada lágrima que estava derramando. Agora ela tinha vontade de gritar com a morena, dizer-lhe o quão invasiva ela tinha sido, de gritar o quanto ela estava sofrendo por causa dela. Por causa dela. Maura riu entre seu desespero. Ela não estava grávida de Jane, e o fato é que ela estava nesse estado por causa do bebê, e não de Jane em si. O único motivo pelo qual a médica a odiava agora era porque ela simplesmente tinha conhecido o outro lado, e fora Jane quem a levara lá. Você nunca se perguntou como é segurar o seu bebê pela primeira vez? Ela havia se perguntado sim. Não sobre esse bebê, mas sobre o bebê que ela tanto queria anos atrás. Um bebê que viria nas condições que ela escolhesse. Planejado, antecipado, um bebê que chegaria num momento apropriado porque ela estaria preparada para ele. Algo que nunca veio a acontecer, porque os planos foram sendo adiados... Mas, sim, ela já tinha se perguntado como seria. Agora, ironicamente, ela estava carregando um e nunca havia se perguntado como seria segurar ele nos braços. Se sentindo culpada, ela abraçou a barriga e tentou controlar a respiração. Ela virou para o lado e escondeu o rosto entre o descanso do sofá e a almofada. O esforço de chorar havia deixado o corpo cansado, e ela se sentia mentalmente exausta. Se ela ao menos pudesse ignorar tudo isso, apenas por um instante...

A crueldade era tanta que, mesmo se se concentrasse em outra coisa, seu corpo ainda a lembraria de sua situação. Os primeiros sinais da gravidez já estavam se mostrando, os sintomas muito parecidos com o da TPM. Os seios levemente inchados e doloridos, o corpo também inchado por causa do acúmulo de líquido, e seu abdômen... ela conseguia sentir que seu útero estava volumoso. Biologicamente e geneticamente programado para gerar e proteger um bebê. O bebê que ela queria abortar. Angustiada, ela fechou os olhos e chorou até o ponto em que não se sente mais nada. Onde todos os sentimentos são desgastados pelas lágrimas e tudo o que sobra depois é a calmaria.

E só depois ela adormeceu, e diferente do que ela esperava, acordaria na mesma situação. Tão grávida e perdida como antes.

...

Jane não estava melhor do que Maura. Quando ela estacionou em frente de sua casa, um nó apertava sua garganta. Ela sabia que se pressionasse Maura daquele jeito a loira iria acabar desolada, chorando. Ela não tinha intenção nenhuma de deixá-la mal, mas depois da consulta ela não conseguia parar de pensar em quão real aquilo era. Em quão próximo Maura estava de cometer um erro. Jane tinha certeza de que a escolha da médica não era com absoluta certeza o que ela queria. Se ela estivesse tão certa sobre o aborto, ela não teria se incomodado tanto em ter ouvido Jane sugerir o que tinha dito. Se ela se abalava com a possibilidade de perder um bebê fofo e sorridente, significava que ela não tinha de forma alguma pensado no que terminar a gravidez significaria. Se ela se incomodava com o fato de que não sentiria aquele bebê em seus braços dentro de alguns meses, Maura não tinha noção da escolha que ela estava prestes a fazer.

Isso a amedrontava. O que aconteceria com a médica se apesar de todas as tentativas de Jane, ela seguisse em frente com o aborto? O quão caro, emocionalmente, ela pagaria por isso no futuro? Jane tinha sofrido um aborto e ficara devastada por tanto tempo... E fora um que simplesmente acontecera, que ela não tinha escolhido. Ela queria ter aquele bebê, e o incidente no trabalho no dia que salvara Tasha a fazia se sentir culpada. Ainda que ela não soubesse que alguém a atacaria lá. Infelizmente acontecera, infelizmente seu bebê tinha... ido embora, mas não por escolha dela. E agora Maura estava escolhendo por conta própria abortar. Se ela se doía com a idéia de segurar um recém-nascido nos braços, Jane só podia imaginar o quão mal ela se sentiria uma vez que percebesse que aquilo não iria acontecer. Por escolha dela.

A idéia de presenciar o depois, de imaginar Maura sofrendo por causa de uma escolha errada e de principalmente não poder fazer nada para ajudá-la, sufocava Jane. Ela pegou a chave do apartamento e abriu a porta. Se sentindo cansada, ela arrastou os pés para dentro e fechou a porta atrás de si. A imagem de sua mãe parada alguns metros a frente quase a matou de susto.

'Mãe.' Ela disse em voz baixa, cansada demais para qualquer reação extrema. 'O que você tá fazendo aqui?' Ela se jogou no sofá e apoiou a cabeça nas mãos.

'Eu vim ver se está tudo em ordem. O que você tá fazendo aqui?' Ela perguntou e se sentou no sofá também.

'Essa é minha casa mãe.' Ela coçou a cabeça e lançou um olhar desanimado para a mulher.

'Eu quis dizer... Achei que você estava com Maura.' Ela disse naturalmente. Para sua surpresa, Jane curvou os lábios para baixo e balançou a cabeça em não.

Não, ela não estava com Maura porque ela tinha sido covarde o suficiente para não confrontá-la sobre a gravidez. Ela tinha sido uma péssima amiga e deixado a mulher sozinha, provavelmente desamparada e aos prantos. Ela não estava com Maura porque ultimamente nenhuma delas se abria demais com a outra e ela não imaginava o porquê. Estar longe demais doía, e perto doía também. E agora ela finalmente tinha entendido o porquê Maura tinha perguntado à ela se elas ainda eram elas. Possivelmente a insegurança em relação ao bebê vinha da insegurança da amizade delas. Maura era insegura, Jane soube desde quando se tornaram mais próximas. A relação com os pais, a infância sem amigos... Ela era uma excelente profissional e não se preocupava em ser humilde quando o assunto era seu conhecimento. É claro, ela nunca fora arrogante. Em contra ponto, com o lado social e emocional... Maura era a rainha da insegurança. Aquilo tinha diminuído consideravelmente desde que a amizade das duas se firmou, e percebendo isso, Jane sentiu uma pontada no peito. Será que toda essa situação difícil era apenas o susto de se descobrir grávida? Será que ela mudaria de idéia por si só e ficaria com o bebê? Ou será que, toda essa insegurança era o fator que mais influenciava sua decisão? Cansada demais para se importar, ela deixou que as lágrimas caíssem livremente de seus olhos.

'Oh, Jane!' Angela jogou os braços em torno dela e ela nem se mexeu. Devia ser algo grave. 'O que aconteceu?'

'Não é nada.' Ela murmurou entre as lágrimas e limpou o rosto.

Angela suspirou e puxou Jane para seu colo. Sem resistir, a morena encostou a cabeça no ombro da mulher e continuou chorando, o olhar perdido em algum lugar.

'Jane, eu sei o quanto você odeia quando eu pergunto sobre as coisas, mas... querida, o que está te deixando assim?' Ela disse carinhosamente enquanto acariciava as costas da morena.

A detetive não fez nada senão se encolher. Ela não podia contar, ela prometera a Maura que não iria. E ela mesma estava tão confusa com relação àquilo que ela não saberia se explicar. Ela só queria que as coisas ficassem bem.

'É sobre Maura?' Angela arriscou, sabendo muito bem que o palpite estava certo. As duas andavam aos cochichos ultimamente, não como se estivessem escondendo algo, mas como se algo estivesse acontecendo e incomodando ambas, tirando a vivacidade da relação que tinham.

'É-é.' A palavra se tropeçou em si mesma por causa de um soluço.

Angela ficou tensa. Seria algo grave? Algo passou pela sua mente. Ela não tinha considerado nada porque... por que ela assumiria isso de qualquer forma? Mas mais cedo quando passara na delegacia e perguntara por Jane, fora informada de que a morena tinha saído para uma consulta com a doutora.

'Jane... Ela... Está doente?' A voz soou receosa.

Jane quase se sobressaltou. 'Deus, mãe! Não, não está.' Ela sentiu o peito da mulher subir e descer em alívio.

'Vocês brigaram?' Ela tentou mais uma vez.

'Não... É o contrário.' A voz rouca soou incerta. Ela fez uma pausa para escolher as palavras. 'Nós não... Só está sendo difícil resolver uma situação.'

Angela plantou um beijo na cabeça de Jane. 'Eu não sei o que é que está acontecendo entre vocês duas, Jane. Ela parece tão miserável quanto você tem parecido nesses últimos dias. Se é algo entre a relação de vocês, eu digo que vocês estão sendo só idiotas!'

'Mãe! Nós não somos idiotas... E, droga. Você tem razão, ela está miserável e eu não sei o que fazer para ela se sentir melhor. Eu não sei como ajudá-la.' E diante das palavras mais lágrimas caíram. Era verdade. Jane chegara num ponto em que ela não sabia mais o que fazer para ajudar Maura.

'Oh, Jane... Você sempre foi tão boa com pessoas. Algumas coisas demoram mais para se resolver do que outras. Tempo pode fazer maravilhas. E o que quer que seja, querida... O que eu imagino é que se ela está tão mal, ela precisa de você. E você precisa mostrar que está com ela, Jane. Isso é bom para vocês duas. De que adianta ficarem nesse estado, sozinhas?'

'Eu não sei.' As palavras saíram por vontade própria.

'Então se recomponha e quando se sentir melhor, vá até ela. Vocês estão juntas por tanto tempo que conhecendo tão bem uma a outra, tenho certeza de que vão encontrar logo a solução.' Angela beijou a cabeça da filha e a soltou.

'Obrigada, mãe.' Jane olhou para cima, mas não se afastou.

Angela rolou os olhos e antes que pudesse perder a oportunidade abraçou a morena de novo. 'Não por isso, Janie.'

O abraço não durou muito tempo. Angela tinha que voltar para o trabalho e Jane precisava limpar a mente, ficar um pouco sozinha. Quando a mãe se foi ela pegou algumas peças de roupa e jogou sobre a cama. Depois, ela mesma se sentou ali, passando por várias vezes a conversa que tinham tido no carro. Ela tinha certeza que Maura estava em conflito, que ao mesmo tempo que queria o bebê, não queria. Jane só precisava ganhar tempo, evitar que ela decidisse logo pelo aborto, para que pudesse fazê-la compreender que manter a gravidez lhe traria menos tormento do que ela pensava. O problema era que Maura parecia estar irredutível quanto considerar essa opção. Mas Jane não ia desistir, ela tinha que se esforçar. Ela iria se esforçar. Ela queria que Maura com o bebê. Ela queria estar lá, vê-la segurando ele nos braços. Jane se lembrava da vez em que resgatara um recém-nascido e Maura fora servir como mamãe-canguru no hospital. A serenidade no rosto da mulher, o jeito delicado como os traços de contentamento e prazer desenhavam um semblante adorável que Jane pagaria para ver todo dia. A imagem permanecia perfeita em sua memória, e ela tinha certeza de que a loira seguraria o seu bebê assim, com a mesma felicidade e contentamento. Por que Maura não conseguia ver isso?

Suspirando, ela se levantou da cama para o banheiro. Um banho quente cairia bem, ajudaria a relaxar os músculos tensos. Depois de vinte minutos, ela finalmente saiu de baixo da água e se trocou. Duas horas tinham corrido desde o momento que deixara Maura em casa. Talvez já fosse hora de voltar, de tentar conversar novamente. Ela juntou sua roupa e se certificou de que havia comida para Joe. Depois de trancar a casa e entrar no carro, a corrida para a casa da médica tinha sido rápida. Estava frio e a neve tinha parado de cair por algum tempo, mas mesmo assim não eram muitas pessoas que saíam a qualquer custo de casa nesse frio.

Ela estacionou na entrada da garagem e relutante agora que estava ali, caminhou até a porta da casa. Ela não sabia o que iria dizer, nem como começar a conversa. A conhecida tensão estava ali de novo. Fechando os olhos, ela tomou coragem e bateu na porta. O coração disparou em ansiedade, inquietação. Quando Maura abriu a porta, o mundo pareceu parar por um instante.

Ela tinha, certamente, acordado alguns minutos antes de Jane chegar. O cabelo estava bagunçado, cara de choro. Parecia mais baixa do que o normal e frágil.

'Ei...' A morena disse.

'Ei.' Ela trocou o peso de pé e abaixou a cabeça. 'Jane, eu...'

'Maura, eu sinto muito por mais cedo.' Ela disse de uma vez, cortando a outra. 'Eu fui uma idiota, e... Não era assim que eu queria que você visse as coisas.' Ela respirou fundo e segurou o olhar de Maura. Ela pareceu surpresa com as palavras de Jane, como se não esperasse o pedido de desculpas, como se estivesse esperando por mais uma discussão em vez disso. Então, ela soltou o ar pela boca e franziu o cenho.

'Eu não sei o que fazer.' Ela disse abaixando a cabeça e cedendo à uma nova onda de lágrimas.

Jane não resistiu a urgência de colocar Maura em seus braços. Era o instinto de proteção, o gesto que fluía naturalmente quando ela sabia que Maura precisava de seus cuidados. Ela apertou o corpo da mulher contra o seu desejando que ela soubesse que a dor era compartilhada, e mais do que isso, que ela queria tirá-la dali. Ela fechou a porta com uma mão para acabar com a corrente de ar frio e a devolveu para a cintura da loira. Maura a segurava gentilmente, como se já não tivesse muito força restando. Jane acariciou suas costas e a ninou de leve, sem dizer uma palavra. De repente a noite parecia presenciar silenciosamente, como que em respeito, o momento de dor. Tudo o que a detetive conseguia ouvir era a respiração pesada de Maura ressoando durante seu choro. Depois de minutos, quando ela achou que a médica iria finalmente se afastar, a loira virou o rosto e encostou a testa em seu pescoço.

'Eu não sei, Jane.' Ela murmurou de novo.

E no momento em que as palavras atingiram sua pele junto com o ar quente, no momento em que Maura se encolheu em seu abraço, pedindo por conforto, no momento em que ela finalmente tinha deixado Jane entrar... A morena sabia exatamente o que fazer. Sua chance estava ali, esperando por ela, e uma vez que ela tinha Maura guardada dentro de seus braços, ela não se permitiria perder a oportunidade.


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Notas finais do capítulo

Obs: Meu outro defeito é ser ansiosa demais, então quero postar logo que termino o capítulo. Ignorem os erros, um dia corrigirei todos eles.



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