Borboletas no Jardim Negro escrita por Jhulliaty, Cross Loreswolf


Capítulo 1
As borboletas que aqueceram meu coração


Notas iniciais do capítulo

" Por mais que eu deseje, por mais que meu corpo me empurre e implore por isso, eu não consigo. É como se algum maldito fantasma sussurrasse falando " Você não pode" Entretanto... Irei ignora-lo"



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Mais uma vez, o cotidiano monótono escolar voltou.
As várias vozes animadas rodeando o lugar, esbravejavam a saudade ou os assuntos que as férias trouxeram para eles.

E para também não mudar em nada, os olhares que eram dirigidos para a garota. Olhares tanto de admiração e relacionados, ou olhares com um pouco de medo. Tudo é efetivamente ignorado por ela. Nenhum deles interrompeu seus passos.
“Não há motivos para me importar com eles.” Pensou ela, enquanto acompanhava a multidão de alunos, indo para suas respectivas salas.
Se sentou não muito na frente na fila de cadeiras. Tirou um livro da bolsa, e começou a lê-lo, enquanto junto disso, cochichos sobre ela começaram ao seu lado.

– Ela não deve ter nenhum amigo, pessoazinha antipática.

– Parece uma boneca, deve quebrar se a empurrarmos.

Apenas frases frequentes de pessoas que não conhecem a outra. Possivelmente jogando suas invejas, rezando para que a “popularidade” da garota criasse asas e voasse até elas.
“Como se isso importasse para alguém, tola.” Ignorou mais uma vez a todos, e aguardou que a aula começasse.

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Dias escolares, a garota de cabelos vermelhos realmente odiava eles, digo, eram chatos! Ouvir pessoas falando de seus cabelos, tentando ser simpáticas, a pura falsidade ao redor, não que importasse, não estava lá para “ brincar” mesmo.

Que o Mundo exploda.

Fazia alguns anos que não ia para a escola, um bando de pirralhos falando sobre tudo, menos algo útil, ótimo.

Olhou ao redor, armários pequenos para guardar qualquer merda e alguns livros. Do lado de fora tinha… Um pátio, lanchonete, mesa para alguma porcaria que chamavam de almoço, e… Um jardim! Que escola tem um jardim?! Para os pequenos talvez? … Ok, isso fazia sentido, mais o menos.

A garota entrou na sala correspondente, em pleno século XXI e ainda não podem dar a porcaria de um papel para você se orientar em uma escola maior que o Mundo!

De qualquer forma, era notável a presença de pessoas “ estranhas” lá, fora as roupas, claro, era como se… Aquele lugar fosse diferente.

Analisar pessoas, identificar sangues e voalá, não terá quem…

“ Que linda… “ Esse pensamento nada rápido fez a garota parar de andar e praticamente se encostar na parede ao seu lado.

Era simplesmente bela! Mais do que isso, era uma perfeita boneca para se colocar em uma caixa de vidro e nunca mexer.

Longos cabelos pretos que desciam pela sua cintura, tão lisos e esvoaçantes que o movimento de suas mãos enquanto lia era o suficiente para fazer o cabelo se mover, sua pele era tão branca, tão sedosa, que parecia feita a mão, parte por parte, enquanto o criador tentava alcançar a perfeição de seu trabalho. Seus olhos, belos, delicados, perfeitamente colocados, olhos vermelhos como o sangue, em contraste com o cabelo que era negro, os olhos brilhavam, em curiosidade e um pouco de medo… Medo?

Quando a garota voltou a realidade, se viu andando para a carteira que preferiu, não iria sentar na frente, mas…

Ela se sentou atrás da garota de cabelos negros.

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O que teria sido aquilo? Essa pergunta ficou ressoando na cabeça da morena por longos segundos. O máximo que conseguiu ver sem levantar o rosto foram cabelos vermelhos, tão vermelhos que pareciam sangue.
Será mais uma que olhou para ela e a desejou mal? Não. Ela sabia que não era isso. A presença que aquela garota emanava não era hostil. Bem, não hostil nesse sentido.

Por algum motivo estranho, era uma presença um pouco quente e curiosamente confortante.
Ao se sentar atrás dela, foi o exato momento do professor entrar na sala e mandar os alunos se sentarem.
– O que foi isso?... – Um sussurro que mais parecia um leve sopro foi dado por ela, segundos antes do professor começar sua aula.

A aula passou desconfortavelmente com a sala agitada. Conversas, sussurros, berros do professor para as pessoas se manterem quietas, bom, nada que o mesmo tentasse iria funcionar. Três aulas depois, todas com berros e gritos, o sinal tocou mais uma vez. Academia Militar? Não, todas as escolas eram assim, infelizmente. O sinal para você comer alguma coisa ou dormir por 20 minutos.

A garota de cabelos vermelhos preferiu ir até onde havia visto mais cedo, o pátio.

Ao sair de dentro do colégio, viu a notícia não mais animadora do Mundo, o céu estava escuro, iria chover, e logo.

Que seja.

Ela se dirigiu ao banco, próximo ao jardim. O vento passando pelo seu pescoço, sussurrando nomes e palavras que ela não entendia, sussurrando desesperos de Mundo aleatórios que não a interessavam, mas mesmo assim, era um sentimento gostoso.

Ficaria ali por horas.

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Dentre todas as coisas que era audível na gritaria que a sala e o corredor estavam, apenas uma se destacava: Logo iria chover.

A garota de olhos vermelhos calmamente se levantou e andou até um lugar aberto, que desse para diminuir nem que seja um pouco, todo aquele barulho.

Chegou no pátio, onde as pessoas estavam em menor número e bem mais espalhadas, criando assim uma espécie de silêncio no lugar.
Deu um leve suspiro de alívio. Tinha esquecido que aquela parte do colégio era calmo. Pelo que parecia, os alunos se amontoavam mais no refeitório e na cantina. Por que eles faziam isso? Provavelmente adoram calor humano.

– E também o fato de que talvez chova. – Dizia a si mesma quando começou a andar. Nos poucos passos que deu, se lembrou de alguns boatos que comentaram na sala de aula, a respeito do jardim da escola ser amaldiçoado ou coisa do tipo. Tentou se lembrar onde ficava ele, mas tentou seguir a lógica humana.

Ninguém sequer quer ficar perto de algo que amedronte-o.
Em resumo, a área que tiver menos pessoas, provavelmente era o lugar que procurava. Olhou ao seu redor, e percebeu que em uma parte mais afastada do lugar, onde havia alguns bancos, estava totalmente vazio.
Voltou a andar com passos rápidos, já que a sua curiosidade a estava empurrando para que acelerasse.

O lugar a fez dar um pequeno espasmo.

Um grande jardim, divido em três partes. Dois de tamanho médio nas extremidades, enquanto a última parte ocupava grande parte do espaço que ficava entre eles. Mas não foi apenas isso que a tirou o folêgo.
O que a impressionou foram as flores que ali estavam presentes.

Rosas negras. Negras como a noite, que possuíam pequenas gotículas de água , fazendo lembrar pequenas estrelas.

– Como podem chamar isso de amaldiçoado? ... – Seu corpo parecia ser puxado para o meio das flores. Uma coisa que não acontecia a tempos, ocorreu ali. Um sorriso começou a se formar e seu rosto.
Havia espaço para andar entre elas sem machuca-las, então deixou seu corpo ser puxado enquanto admirava as flores.

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Ao ver aquela garota entrar no jardim, aquela bela garota entrar no jardim, a menina de cabelos vermelhos fez um pequeno corte no pulso e usou o sangue para criar algumas borboletas, afinal, controlar sangue tinha sua parte divertida.
Estava perto o suficiente para fazer aquilo e ela não notar.

Delicadamente, as diversas borboletas voaram em direção a outra, batendo as asas como se fossem reais, elas pegavam as gotículas de água e algumas pétalas das flores e moviam, jogavam de lugar para lugar, as outras borboletas pegavam tudo. Aqueles seres feitos de sangue brincavam com o que tinham. Brincavam com o cenário.

E então, a garota de cabelos vermelhos quis fazer uma brincadeira.
Fez as borboletas cercarem a cabeça da menina, duas pegaram a metade da parte da frente dos longos cabelos dela e puxou para trás, logo, outra em seguida prendeu aquele cabelo em sangue. Sangue cristalizado, duro.

Ao longe, não dava para ver a reação da garota. Qual seria seu nome? Por que tão bela?

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Borboletas? Por que elas estavam ali? Quando começaram a mexer em seu cabelo, estranhamente não se importou com aquilo. O que chamava sua atenção era que aquelas não eram borboletas normais.
Eram feitas de sangue.

Colocou a mão em sua cabeça e sentiu uma espécie de presilha prendendo-o.


– Cristalizado? – Perguntou a si mesma. A visão era tão linda e agradável, que inconscientemente, voltou a andar e dar pequenos giros pelo jardim. No que fazia isso, de suas mãos, pequenos flocos de neve negra eram liberados, voando e caindo vagarosamente pelo lugar.
A garota de cabelos negros parecia dançar pelo jardim, parecia um ser místico brincando, seus olhos brilhavam de alegria dando ênfase no vermelho que voava junto com o negro do lugar amaldiçoado, de acordo com os humanos. Mas para ela, aquele lugar parecia muito mais encantado do que o Mundo lá fora.

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As borboletas pegavam alguns flocos de neve, e jogavam novamente, no ar, umas para as outras, tão delicadas que qualquer coisa poderia ser pega por elas, até mesmo o ar.

Com um movimento de mãos, a garota de cabelos vermelhos fez um desenho no céu, perto daquela garota, feito pelas borboletas.

“ Qual seu nome? “ Era o que dizia na primeira mensagem “ Ficamos sozinhas por muito tempo” Era o que dizia a segunda.

Uma mensagem do coração da floresta, do coração daquela garota, para aquela menina estranha, tão bela e estranha.

A morena encarou as mensagens com certo receio. Não sabia como responder aquelas pergunta ou se devia responde-la.

Um pouco apreensiva, respondeu em um tom neutro, mas não hostil. – É falta de educação não se apresentar antes de perguntar o nome de alguém. – Parou de andar e começou a acariciar algumas rosas ao seu lado.

“ Eu sou a floresta “ enquanto a mensagem era escrita por algumas borboletas, as outras brincava com algumas flores. “ Eu não possuo nome”

– Nesse caso, eu sou a geleira. – A garota de cabelos negros olhou para cima, encarando o céu nublado com um olhar triste. – Tenho apenas forma, mas não um nome.

“ Todos tem um nome, eu tinha um nome “ Uma borboleta bem pequena pousou na mão da garota “ Mas eu não lembro mais dele, qual o seu nome pequena? “

Por um segundo, sua voz vacilou.

Nesse mesmo segundo, sua mente a avisou.

“Você quer passar por aquilo novamente? ”

Abraçou a si mesma por reflexo, e o ar a sua volta ficou frio de repente. As borboletas que voavam ao seu redor congelaram imediatamente, caindo sobre as flores.
– Por que essa insistência? – Sua voz soou totalmente indiferente. Seus olhos estavam sendo escondidos por sua franja. – Por que essa curiosidade em relação a mim? – A única coisa que não congelou, foi o sangue usado para escrever as falas da floresta.

Ao fundo, ao ver suas borboletas congelarem, a garota usou ainda mais sangue para as descongelarem, ela estava ficando meio fria, mas não se importava, todo e qualquer sangue podia ser reposto com um pouco de comida e algumas horas de sono.

Ela usou o sangue para continuar a escrever.

“ Já disse, não? Eu estive sozinha por muito tempo, seu nome não lhe matará criança”

Atrás dela, uma garota feita totalmente em vermelho, a abraçou, não deixaria mancha, não deixaria marca, deixaria calor, aconchego e um pouco de carinho.

“ Você não precisa ter medo do Mundo”

Ela tentava congelar aquele ser, mas não conseguia. Ele era quente demais.
Era… confortável demais. Por quê? Por que aquele ser a fazia se sentir segura?

Sua voz tentava sair, a sua mente tentava impedir. Parecia que um cabo de guerra ocorria em sua subconsciente.

– Kõ… – Finalmente saiu, mesmo em baixo tom. – Kõri… Eiminzo. – Disse timidamente. Ao falar, seu corpo relaxou, aceitando a proteção daquele ser. Mas ela ainda não entendia por que aceitou…

A garota feita de sangue deixou de a abraçar e ficou na frente da mesma, estendendo a mão, sorrindo.

“ Oi, Kõri “ Aquilo era escrito no céu, em cima da garota “ Me chamam de Claret, por eu ser feita de sangue, quer brincar? “ Ela abriu um largo sorriso.

– Brin – Ela levantou o rosto. Seu olhar era de...dúvida – Brincar?

“ Uhum” A garota feita de sangue girou um pouco, com as mãos para o lado, as borboletas acompanhavam o movimento “ Brincar! ” E ela se jogou no chão, se desfazendo.

Pelas folhas, outra garota saiu. A verdadeira Claret, ela sorriu gentilmente e olhou para a menina a sua frente, olhou para Kõri.

– Você parecia mais feliz a um tempo atrás.

– Você é… – Aqueles cabelos a fizeram lembrar. – Aquela garota que me encarou… – Se afastou um pouco dela, descongelando o jardim e as borboletas. – Por que eu? Se está tão sozinha, a milhares de pessoas nessa escola que podem entrete-la. – Voltou a sua postura e seu olhar de sempre. Indiferente e fria.

– Bom – Ela sorriu e moveu um pouco os dedos, fazendo as borboletas brincarem ao redor de Kõri – Parece que os opostos se atraem.

As borboletas mais uma vez, congeleram

– Com licença – Se virou e começou a andar. Não tinha para onde ir, apenas queria ficar sozinha.

“Não posso arriscar. Não posso ficar perto dela…” Mordia seu lábio em angustia.

– Por quê? – Ela quase gritou para a menina – Por que foge? Sabe que até mesmo o gelo nunca está sozinho, então por que foge?!

–Eu… – Foi parada pelo grito da ruiva. Agarrou com força o vestido na parte de sua cintura. – Eu não… Eu não quero mais sentir aquela dor! – Gritou com todas as suas forças. Mas o grito era mais para ela mesma, como um lembrete do por que fazia aquilo. – Eu não preciso de outros ao meu redor. – Se virou para a garota de cabelos vermelhos. Seus olhos vermelhos brilhavam levemente, por causa das lágrimas que começavam a pedir por liberdade. – O gelo nunca está sozinho? Por isso que eu não entro nesse caso. – Congelou o chão e as rosas ao seu redor. – Eu sou a exceção dos gelos. O gelo negro. Não dependo de ninguém, e preciso apenas de mim mesma para continuar a viver.

Claret fez todo o sangue, todas as borboletas que estavam caídas, voltarem a “ vida” as borboletas praticamente empurraram a menina para trás, voltando em direção a garota de cabelos vermelhos, que quando chegou perto, a abraçou.

– Mesmo assim, você não está sozinha. – Segurando forte, ela impedia da garota se soltar, e então colocou o queixo na cabeça da mesma, que era um pouquinho mais baixa do que ela – Você parece uma boneca.

A garota por reflexo, criou duas estacas de gelo nos lados da ruiva, mas não conseguia atacar ela. As estacas tremiam por causa da indecisão das ações de sua invocadora. Logo desapareceram, pela desistência da garota de olhos vermelhos.

–.... Não é justo. – A voz de Kõri estava trêmula. Lágrimas teimosas começaram a cair em seu rosto. – Por que você emana essa… essa aura confortável? – Colocou suas mãos nos braços que estavam envolta dela. – Por que… eu me sinto protegida por você, uma desconhecida? – Apertou os braços de Claret. – Me responda.

A garota de cabelos vermelhos deu um sorriso, ainda com a cabeça apoiada na da outra – Eu não sei, eu só… – O que era aquilo? Aquele frio que fazia o corpo ficar quente, aquela sensação de… Calma – Eu não sou uma desconhecida, eu já lhe vi nos meus sonhos, e eu sei que você me viu nos seus.

– Stalker. – Disse ainda com a voz chorosa, mas deu pequeno um riso abafado. – Esse tipo de clichê não combina com alguém que tem a sua aparência, sabia? – Deu um leve suspiro e limpou seu rosto. – Sim, eu vi alguém parecido com você nos meus sonhos. Alguém que… pudesse me fazer sentir segura. Alguém que pudesse me libertar desse mundo cinza e sem graça.

– É, eu sei – Ela puxou a garota para trás, fazendo as duas cairem no meio das flores, os espinhos machucaram as costas de Claret, que somente usou o sangue para criar lindas bailarinas dançando com seus parceiros em um ritmo de alguma música invisível aos ouvidos. – O que você acha? – Outras gotinhas de sangue fizeram uma espécie de céu estrelado, e os amantes naquela noite estrelada dançavam por pura diversão – Do céu a noite.

– Eu o amo. – Disse congelando as gotículas de sangue, mas não totalmente. – Admirar ele é um costume meu. Me faz esquecer das coisas a minha volta, e me faz imaginar inúmeras coisas divertidas que poderiam acontecer neste mundo. – Deu uma risadinha. – Ou algo do gênero.

Claret ficou brincando com o cabelo da garota enquanto controlava o sangue a cima, fazendo mais imagens, dados se batendo, flores se quebrando e com o que se quebrava, as gotas se transformavam em crianças correndo, para logo desaparecerem.

Kõri ficava admirando silenciosamente as imagens que a ruiva criava, as vezes complementando em alguma coisa, nos efeitos de dissipação principalmente.

– E quanto a você. – Levantou seu rosto um pouco. – O que você acha dele? – Flocos de neve negra começaram a cair ao redor delas, enquanto a morena aproveitando a “massagem” que recebia em seu cabelo.

– É melhor do que o céu de dia – Ela sorriu, aqueles olhos vermelhos a olhavam com tanta curiosidade, carinho… – E bem mais bonito – Ela deu um leve beijo na testa da garota, os bailarinos também se beijaram, e voltavam a dançar.

– Não se aproveite da situação. – Corou um pouco, virando seu rosto para o lado. Levantou os braços, e puxou as bochechas de Claret. – Espertinha.

Alguns sons indefinidos saiam da boca da menina enquanto Kõri apertava suas bochechas. Quando ela finalmente parou de apertar, foi puxada pelos braços da outra, para junto do corpo.

– Eu me aproveito sim – A de cabelos vermelhos riu da situação, ainda a abraçando – Você é muito fofa!

– C-Calada. – Seu rosto estava quase tão vermelho quanto seus olhos. Virou-se para encarar Claret, apoiando seus braços sobre o peito da ruiva, e rapidamente mudou sua feição, para um olhar curioso e um pouco preocupado. – Se importa se eu fizer uma pergunta?

– Hum? – Ela olhava para aqueles olhos curiosos – Faça.

– Você… é igual a mim? Digo… – Ela desviou seus olhos por um segundo, mas não se permitiu desistir. – Você também escolheu evitar o Mundo?

– Sim e não – Ela sorriu perante a pergunta, que fofinha! – O Mundo decidiu me evitar.

Kõri inclinou um pouco a cabeça, em dúvida.

– Como assim?

Ela apontou com a cabeça para cima, as imagens de sangue mostravam uma criancinha sozinha, chorando.

– Quando pequena, meus pais me chamaram de monstro, e eu fui tirada de casa, por ser diferente – Depois mostrou uma garota com um cachorrinho, já na rua, era notável aquilo – E sozinha, comecei a ser ignorada e temida pelas pessoas, já que eu era, o que chamavam de Vampiro, e então, fiquei sozinha. – Ela abraçou ainda mais a garota – Mas eu não ligo, nem um pouco – Claret abriu um grande sorriso – E o que houve com você?

– Devo dizer que tem mais chances de eu ser chamada de vampira do que você – Disse com uma cara de desprezo em relação as pessoas que falaram aquilo.

Ao receber a pergunta, olhou para baixo por um tempo, com um sorriso triste.

– Minha mãe e eu fomos atacados por um homem. Ele tentou me atacar com uma faca, mas a minha mãe entrou na frente e foi esfaqueada no meu lugar. – Colocou uma mão em seu próprio rosto. – O sangue dela caiu nos meus olhos, os deixando do jeito que são hoje. Quanto ao assassino – Voltou seu olhar a Claret. – Eu o congelei por toda a eternidade. Em resumo, eu o matei, foi nesse dia que despertei meus poderes. Desde então, eu me isolei de tudo e todos, criando essas muralhas de gelo ao redor do meu coração.

– Você o matou? – Ela fez o desenho de uma criança matando um homem com uma estaca que parecia de gelo – Não consigo ver isso como algo ruim – A imagem se desfez e depois apareceu uma mulher adulta e uma garotinha brincando – Sua mãe só a protegeu.

– Agora imagine uma criança de 7 anos encarando isso tudo na sua frente, uma das pessoas mais importantes da sua curta vida, sendo morta por um desconhecido. – Disse em um tom um pouco sério. – Eu sei que ela me protegeu, mas… eu não conseguia aceitar isso. Ele estava atrás de mim, e ela morreu no meu lugar. Foi isso o que criou a culpa que carrego até hoje. – Olhou para o desenho. – E eu não o empalei, eu o congelei.

– Bom, isso é melhor ainda, ele sentiu a morte – Ela sorriu e bagunçou o cabelo de Kõri – Você não tem que se culpar por isso, não é? Qualquer mãe daria a vida pela filha, tenho certeza de que ela não gostou de você ficar tanto tempo sozinha. – Ela adorava fazer figuras com o sangue, cristalizar o sangue, aquela fora sua única diversão por anos. No céu, uma garota brincava com muitas borboletas ao redor, girando e girando. – Não é mais divertido assim?

Kõri bagunçou o cabelo já desarrumado de Claret, em vingança pelo que ela fez.
Ela ria bastante. Fazia muito tempo que não ria tanto em sua vida.

– É… talvez assim seja melhor. – Apoiou agora seu rosto no peito da ruiva, a olhando com um grande sorriso.

De repente, o sinal do fim do intervalo tocou

– Somente porque estava chegando na melhor parte – Ela abraçou com mais força Kõri ao ver que tentava se levantar para ir para a sala – Vamos ficar, não quero mais ter aulas.

– Provavelmente seremos repreendidas por isso, sabia? – Não tentou sair, apenas finalmente devolveu o abraço e afundou seu rosto no peito da ruiva.

– Não irão sentir nossa falta – Claret voltou a fazer carinho na cabeça da garota – Estou cansada dessas aulas chatas, e é mais gostoso aqui.

Os desenhos a cima pararam de ser feitos, somente as gotículas de sangue que mais pareciam estrelas permaneciam lá.

A morena deu uma leve risada.

– Acho que irão dar graças a deus de eu não ter aparecido. E isso seria um alívio enorme.

– E isso realmente importa? São um bando de condenados a morte, você deveria simplesmente ignorar eles. – Ela era realmente uma boneca se fosse pensar, era tão leve e tão delicada que não importava o movimento que fizesse, parecia somente uma pena em cima dela – Não se importe com eles.

– Nunca me importei com eles. – Levantou um pouco sua cabeça. – Mas não muda o fato de ser um pouco irritante. Às vezes, da vontade de congelar elas, para ver se param de uma vez de encher o saco. – Deu suspiro de cansaço e apoiou o queixo na Claret.

– Eu sei como é ruim – Ela sorriu vendo o cansaço da garota – Um dia podemos mata-los, ia ser divertido.

– Já mexeram com você também? Digo… Você ainda exala uma aura hostil. – Levantou uma sobrancelha, em um tom irônico.

– Hostil ou gentil? Talvez perverso… – Ela levantou um pouco a cabeça de Kõri com os dedos segurando o queixo dela – Afinal... – Abaixou um pouco a voz – Eu nunca fiz nada a ninguém… – Claret estava tão perto da garota, que dois centímetros fariam as duas se encostarem

Kõri encostou sua testa com a de Claret, e olhou no fundo dos olhos dela, dando um sorriso logo em seguida

– Eu sei. Eu sei que você é inocente. E eu sei só porque você tem esse poder, você não é má.

Claret deu um riso abafado – Você realmente acha isso? – Não se aproveite. Essa mensagem continuava a correr em sua mente, mas aquilo era impossível. Ela virou brutalmente, fazendo Kõri ficar em baixo dela, apesar de ter tido cuidado para não machuca-la. – Desculpe decepciona-la – Os olhos amarelos dela pareciam ter algo a mais do que uma… Brincadeira. Ela prendia a garota no chão colocando os braços ao lado da cabeça dela, um joelho entre as pernas da mesma e a outra perto de sua coxa. – Eu não sou tão inocente assim.

A morena ficou surpresa com a ação da ruiva, entendendo aos poucos as intenções dela. Seu rosto ficou um pouco vermelho e apenas ficou encarando Claret.
Ela não sabia o que fazer. Não sabia como agir quanto aquela situação.

– C-Claret… – Foi a única coisa que conseguiu sair de sua boca.

– Eu poderia fazer tantas coisas com você… – Aquela linda boneca intocada, por qualquer um ou qualquer coisa, não importava o quanto se olhasse. Ela havia tomado tudo que havia direito, como o gelo domina uma grande cidade em poucas horas, e aquela vontade em seu pescoço, era impossível aguentar, mas… – Mas você parece tanto uma boneca, que tenho medo até de tocar – Ela impulsionou seu rosto para beijar Kõri, entretanto desviou o caminho no final e deu um beijo na bochecha dela. Não podia, era impossível. – Você tem sorte de ser assim – Falava no ouvido dela, ainda na mesma posição.

Seu rosto, mais uma vez, estava da mesma cor que seus olhos, e quando Claret sussurrou em seu ouvido um calafrio enorme percorreu seu corpo, e não conseguiu conter um leve gemido.

–S-Saia de cima, por favor. – Sua voz era baixa e tímida, empurrando levemente a garota de cabelos vermelhos.

Claret afastou um pouco o rosto, rindo da situação da garota que estava abaixo dela – Eu saio sim – Ela pegou a garota pelas costas e se jogou no chão, fazendo elas ficarem na antiga posição – Pronto, melhor assim? – Ela ainda sorria, até que do lado de Kõri apareceu uma rosa completamente vermelha, cristalizada. – Pegue.

– Retiro o que disse. Malvada… – Encolheu-se um pouco, falando com uma leve voz zangada.
Seu coração estava quase querendo sair de seu peito de tanto que batia rápido. Olhou para a rosa ao seu lado e passou a mão nela. Aos poucos, uma fina crosta de gelo negro cobriu as pétalas, deixando em um tom mais escuro.
Ao lado dessa flor, criou um lírio de gelo, apenas por diversão. Gostava daquela flor, gostava do jeito que era tão delicada e pura, mesmo em uma cor mais escura.

Deu um leve sorriso enquanto encarava as duas flores.

Claret olhou o lírio criado e logo em seguida para o rosto de Kõri, subindo um pouco, olhou para a testa e para seu cabelo…

Girou os dedos em alguns movimentos, cristalizou e… Pronto.

– Deixe-me ver se serve – Ela colocou na frente da garota outra de suas criações. Uma coroa de flores, lírios e rosas – Você combina com vermelho.

Colocou a mão na coroa e deu um sorriso para Claret.

– Obrigada. Curiosamente, eu sempre acabo comprando alguma coisa vermelha para mim. Só percebo quando uso. – Deu uma risada.

Olhou um pouco pensativa para a ruiva e teve uma ideia. O ar em volta de sua mão ficou muito mais frio, e o barulho de congelamento soou pelo ambiente.
Abriu a mão e dentro dela tinha um brinco negro, em forma de uma chama.
– O que acha? Você usaria algo do tipo?

Claret pegou uma gota de sangue que estava no ar e colocou na ponta do nariz de Kõri, até parecia um cachorrinho, pensou, e aquilo a fez rir – Por que não? Seria bom inovar.

Kõri ficou olhando vesga para a gota de sangue, e aproximou o brinco do nariz.

– Coloca ele aqui. – No brinco, tinha uma espécie de gota congelada. Ela fez uma pequena abertura no mesmo, para que a gota pudesse entrar nele.

– Prefiro deixar onde ele está – Que fofa! Pena que ela não iria gostar nada disso – Mas como está pedindo… – Ela pegou a gota e colocou no brinco, tendo certeza que a gota não congelasse.

–Hm… ficou realmente bom. – Fechou a abertura do brinco, e ficou aliviada que o sangue não congelou. – Aqui está. – Entregou-o para Claret e se virou, deitando sobre ela de barriga para cima. – Achei que iria chover hoje. Estavam falando tanto disso, e o céu parecia concordar.

– Talvez a chuva esteja nos esperando, as vezes acontecia isso comigo – Ela colocou os braços em volta da barriga da garota, aproveitando para guardar os brincos no bolso da jaqueta – Ou talvez ela esteja com preguiça de cair, como nós estamos.

– Esperando? – Fechou os olhos e sem querer, por puro reflexo, começou a esfriar o ar a sua volta. – Bem que ela poderia cair… – A estação preferida de Kõri era o inverno, e tendo poderes gélidos ela praticamente aproveitava isso o tempo todo. Por isso, ela criou um hábito de quando está relaxada, abaixar a temperatura a sua volta para poder dormir ou apenas aproveitar.

Claret ficou acariciando a cabeça da garota, enquanto aos poucos fechava os olhos.

O frio era delicioso… Para dormir, pegaria no sono se esfriasse tanto, com ela em cima ainda…

– Bem, não controlo o tempo, talvez se você pedir para as estrelas…

– Então... – Ao redor delas, uma fina camada de gelo começou a se formar, e ao se fechar, se deu a forma de uma cúpula negra um pouco transparente. – Se você não se importar, por favor faça chover, Taketsuhiko-sama… – E aos poucos, deixou-se levar pelo sono.

– Algum tipo de reza? – Ela falou baixo já, o sono a consumia pelo frio, e como tinha gastado muito sangue– Você é estranhamente fofa Kõri… – Aos poucos sua mão parou de se mexer no cabelo da garota. Também era possível ouvir algumas gotas de chuva ou de algum líquido cair sob as arvores, entretanto não encostavam nela.

Pingos começaram a cair aqui e ali pelo campo de flores. Aos poucos, sua intensidade aumentou e finalmente, começou a chover.

Não era uma chuva de cair o mundo, mas sim uma vagarosa e que não traz perigo a ninguém. O barulho da mesma batendo na cúpula gélido onde as duas garotas estava, ressoava levemente criando uma estranha melodia que traria calma para qualquer criatura.
As flores ao redor pareciam comemorar silenciosamente a chegada dela, talvez graças ao pedido inocente da jovem, ou foi apenas uma obra do destino aquilo ter surgido.

O corpo da ruiva já pesava mais do que o normal, e sua respiração estava levemente mais lenta e profunda, o primeiro estágio do sono, do sonho.
As pessoas diziam que quando você chega no décimo primeiro sono, você não tem mais noção nem do próprio corpo, e bem…. Isso era no mínimo perigoso, mas se deixou levar, afinal, aquilo tudo parecia um grande sonho. Tudo, menos a bela boneca em seu colo, que estava viva.

Mesmo em todo aquele frio com melodia de chuva, a garota de olhos vermelhas ainda conseguia sentir um calor perto de si. Normalmente, ela odiaria isso, já que sua relação com o calor não é a melhor de todas, mas, sentia-se feliz perto disso. Sentia-se aconchegada, quase como se estivesse deitada perto de uma fogueira. Seria aquilo um sonho? Seria aquilo apenas sua mente brincando com sua cabeça?
Não.
Ela sabia que aquele calor gentil pertencia ao Vermelho que sempre aparecia em seus sonhos. O Vermelho que se provou ser real e possuir forma e nome.
Preguiçosamente, levou suas mãos aos braços que novamente abraçavam ela, e abriu um doce sorriso.
Um sorriso de alívio e satisfação.
Pelo que parecia, seu sonho se tornou realidade.


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Notas finais do capítulo

Notas de Jhulliaty: Agradeço muito por você, que veio parar nesse fim de mundo, e leu essa estória.As personagens são originais, e bem... É xD Comentem se gostarem dessa one shot, que os Anjos abençoem vocês. Notas de Cross: Bem, pelo que provavelmente iremos compartilhar, os ataques de fofura durante a leitura foram maravilhosos XDEspero que tenham adorado essa fic, como eu amei, por que romance não é meu forte, mas que fiquei muito satisfeito fiquei ^^Até uma futura outra fic, e se vocês não se importarem, deem uma lida na nossa outra fic ;3