Por Quem não me Apaixonar escrita por Anita


Capítulo 8
E o Contrato...


Notas iniciais do capítulo

E este é o último meeeesmo!!! Um super obrigada a todos que chegaram até aqui!



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Usagi não podia culpar Tuxedo Kamen de querer os cristais arco-íris. Sentiu-se traída quando ele o tomara de suas mãos e anunciara que, no tocante àqueles objetos e ao Cristal de Prata, eles seriam inimigos. Mas não podia culpá-lo. Nem ela sabia por que precisava encontrar a princesa da lua. Nada de sua missão fazia sentido... Só era fácil seguir em frente quando pessoas inocentes eram atacadas pelo outro grupo de pessoas estranhas que também caçavam o cristal.

Como Tuxedo Kamen sempre a resgatara, sempre estivera lá para lutar a seu lado, havia presumido que trabalhassem pelo mesmo objetivo. Talvez, ele também quisesse encontrar aquela princesa. Ou talvez, não suportasse presenciar os ataques a inocentes. A resposta de que ele apenas estivera à espreita por informações que o levassem ao Cristal de Prata...

Queria culpá-lo e muitas vezes o fazia, mas não era que o pudesse. Ele precisava do cristal e sempre soubera que ela também. Ainda assim, havia lhe salvado a vida – não apenas uma vez.

Mas Usagi havia decidido desistir dele e ocupar sua mente com outro. Mamoru Chiba. Sabia que suas discussões constantes e sua personalidade nada parecida a manteriam longe de Tuxedo Kamen.

Foi apenas depois de terminarem, depois de ela entender que não havia solução, que Usagi se agarrou a uma chance que persistia. Era pequena, mas real. Se encontrassem o Cristal, se Tuxedo Kamen, se Mamoru era realmente uma boa pessoa. Se fosse antes de ele já haver seguido em frente... As condições eram muitas, mas levavam àquela chance.

Quando entrou de volta à casa, com o peso de Mamoru hesitante sobre seus ombros, Usagi encontrou uma paisagem diferente de quando deixá-la meia hora antes. Makoto estava de pé logo à porta, o comunicador nas mãos.

– Sim, eram os dois mesmo. Pode voltar pra cá, Rei – ela disse para o aparelho sem qualquer precaução. Então, levantou os olhos e os encarou de tal forma que Usagi pensou pela primeira vez que Makoto seria ótima mãe. Antes de se encolher com medo de sua ira.

– Nós... fomos dar uma volta? – arriscou explicar, sua voz sumindo.

– Às duas da manhã? No meio do nada?

Ami apareceu atrás dos dois.

– Vocês estão bem? – perguntou resfolegante, passando a examiná-los dos pés à cabeça.

– S-sim... – Usagi respondeu, assentindo diversas vezes. Sentia já o suor nas mãos frias. Sua ira por descobrir que as amigas a haviam enganado a trazê-la àquele lugar evaporava. – Por que estão todas de pé? Cadê a Rei?

Mamoru mexeu-se um pouco a seu lado. Emitira um som tão baixo que talvez nenhuma de suas amigas o percebera, mas causou uma pontada de culpa no estômago de Usagi. Ela fez sinal que continuassem andando, tentando se lembrar da direção do quarto.

– Mako, por favor, ajude-os até o quarto do Mamoru – Ami pediu, suas sobrancelhas erguidas.

Uma vez que o sentaram, Ami abaixou-se até o chão e abriu sem cerimônias um lado do yukata até poder ver todo o curativo.

– Não parece estar sangrando – disse ao perceber que todos a fitavam.

– Que bom. – Makoto passou as costas da mão sobre a testa e sentou-se ao lado de Ami. – Ficamos que nem loucas quando ouvimos um barulho alto. A Usagi não estava na cama dela, nem o Mamoru no quarto. Mesmo não tendo nenhum vestígio de youma, a Rei achou melhor investigar mais o terreno e ver se sentia a presença de algo. – Ela balançou a cabeça repetidamente.

– Sinto muito... – disse Usagi, ainda de pé em um canto do quarto, uma mão segurando a outra.

– Acho que fui eu que as acordei, – Mamoru falava com grande esforço –, enquanto tentava me levantar. Também peço desculpas.

Mesmo sabendo que ele estava bem, Usagi não conseguiu ignorar a preocupação e o arrependimento. Não tivesse saído daquela forma, não apenas suas amigas estariam dormindo tranquilas, como Mamoru não teria se arriscado assim.

– Então, qual dos dois vai virar churrasco primeiro? – Rei havia aparecido à porta e os encarava furiosa.

Acostumada com aquelas broncas, Usagi pôde apenas rir, grata pela intervenção. Decidiu não comentar o que havia descoberto. Talvez, um dia até servisse de arma quando quisesse folgar em alguma missão chata. Sim, sem razão para mais problemas por aquela noite.

– Então, melhor irmos dormir. Talvez possamos estudar mais um pouco pela manhã – sugeriu Ami, levantando-se.

– Err... – Makoto riu de nervoso e bateu a palma da mão contra as costas de Ami, as duas já andando até a porta. – Sim, claro! É pra isso que viemos, estudar! Vocês vão em frente que eu vou dar uma corrida logo que acordar, não será nenhuma desfeita.

Usagi lançou um olhar até Mamoru e logo o desviou, recordando-se do abraço que recebera mais cedo.

– Boa noite – disse-lhe, a voz um pouco rouca.

– É melhor você ficar por aqui, Usagi. – Sem esperar resposta, Rei andou até o armário do quarto e retirou outro futon, abrindo-o a meio metro do de Mamoru. – Sei que ele não quer ninguém tomando conta, mas todos dormiremos mais tranquilos assim.

– Rei? – Usagi sentiu todo o sangue subir à cabeça, seus pés e mãos suando frio. – Como assim dormir aqui?

– Eu não disse dormir aqui. Vamos revezar, não se preocupe. Ami e eu acordaremos cedo e viremos pra estudar, aí você pode ir dormir se quiser. – Ela havia terminado de aprontar sua cama e andou até a porta. – Enquanto isso, você pode estudar.

Sem nem desejar boa noite, Rei saiu e fechou o quarto atrás de si. Parecia haver lhe dado uma piscada antes, mas àquela altura até o baixo intelecto de Usagi já havia entendido. Havia recebido permissão de suas amigas para conversar, para se entender com Mamoru.

– Elas devem achar que brigamos – o próprio disse, já deitado em sua cama. – Que por isso você fugiu.

Ser lembrada assim, de que ele já sabia por que ela havia disparado para a mata em plena madrugada, fez com que pensasse mais uma vez em todos os eventos que se seguiram. E no abraço.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

“Sinto sua falta”, ecoavam as palavras que Mamoru lhe sussurrara, seus lábios tão próximos e quentes que quase beijavam o ouvido de Usagi... Ela sentou-se sobre suas pernas em seiza no espaço entre os dois futons e permaneceu em silêncio.

Sem saber como responder, ou até corresponder, havia se deixado ficar inerte. Parte de si, permitindo-se afogar ali. Após muito tempo sem nada responder, Mamoru a deixara, soltando junto um suspiro lento de dor.

Mas o que ela poderia ter dito? O que ela poderia dizer mesmo agora?

– Que houve entre a gente, afinal? – a voz de Mamoru a fez voltar ao presente. – Eu andei me perguntando isso desde que terminamos. Sua reação... não sei se era o que eu esperava.

As lágrimas ameaçavam de novo cair dos olhos de Usagi. Inspirou fundo numa tentativa de retorná-las.

– Você não sabia de nada, né? – ele perguntou. – Antes de ficarmos juntos, você não fazia ideia. Depois que conversamos, e a forma como você reagiu sempre que nos reencontrávamos... Tenho me indagado se o melhor era eu nunca ter tocado naquele assunto.

Ela abaixou a cabeça, gesto que foi mal interpretado.

– Você não quer conversar... Desculpa. Eu... – Mamoru virou o rosto levemente para outro lado e puxou um pouco a coberta sobre si.

– Não é isso – Usagi disse com pressa. Os sons lhe saíam como se ela estivesse com uma enorme bala na boca. – Mas de que adianta? Não quero brigar, Mamoru. Não quero nada. Quero que tudo acabe logo e... – Ela assoou o nariz, mas era tarde demais.

Seus olhos já encharcados, ela mudou de posição para uma semelhante à da floresta, abraçando o próprio corpo. Escondeu o rosto entre as pernas e parou de resistir. Que suas lágrimas caíssem até secar. Sabia que não seria capaz de impedi-las desde que ouvira as palavras de Mamoru lá fora. E como era boa a sensação de chorar. Abrir um berreiro. Só não gritava alto porque não queria acordar mais ninguém.

– Usagi... – Mamoru havia se sentado e se aproximado. Ele pôs a mão sobre sua cabeça e a acariciou.

Mas ela afastou-se um pouco.

– Não pode. A menos que queira que eu chore mais. Não lembra que já fez isso antes, seu idiota?

Mamoru lhe devolveu uma expressão inicialmente confusa, mas logo pareceu compreender. Teria se lembrado de quando a tocara assim daquela vez? Havia sido em seu segundo encontro... quando o maior problema para o casal era apenas acertar o horário e o lugar.

Agora, notava estar Mamoru ainda mais perto, e ele a puxava para si delicadamente, como se Usagi pudesse se despetalar.

– Chore, então – ele disse quase sem emitir voz, a mão novamente em seus cabelos. – Por favor, chore.

Outro abraço... não...

Com a garganta dolorida, Usagi se debateu para escapar. Contudo, recordou-se de por que tivera que romper aquele contato previamente. Ela parou e fechou os olhos.

– Vai te machucar, pare – pediu a ele, apontando para seus curativos.

Ele finalmente se afastou.

– Eu me sinto tão convencido, tal como você sempre me chamou. Egocêntrico. Um idiota.

– Como assim?

– Não vale a pena. O Cristal. Ele não vale. Peço que me perdoe, que me dê uma chance, Usagi. – Ele parecia tão pequeno, tão não Mamoru ao dizer aquelas palavras...

Não entendia nem por que era ele quem lhe pedia isso. Não que ela própria achasse ter culpa no engano entre os dois; custara-lhe um tempo considerável até para suspeitar da possibilidade de um mal entendido. Mesmo depois que o próprio já havia indicado algo errado, ela não havia feito as devidas ligações. O que não significava que Mamoru o soubesse. Para ele, Usagi havia proposto todo o namoro forçado exatamente para se aproveitar de sua identidade.

– Te perdoar pelo quê? – perguntou ela, sua testa franzida.

– Por não perceber antes o quanto era importante para mim. Tão mais que um maldito cristal.

Ainda confusa, Usagi apertou os beiços para fora.

– Então, sua razão não era tão importante assim?

Mamoru sorriu ao ouvir a acusação implícita.

– Eu pensava que fosse – disse com aquele sorriso amargo remanescendo nos lábios. – Costumava ser – corrigiu-se e, em seguida, suspirou pesado, voltando seus olhos para bem dentro dos de Usagi. – Até perceber que minha busca talvez não tivesse mais sentido.

– A-algo que te fazia arriscar a vida perde o sentido assim tão fácil? – ela insistiu. Apesar de já haver compreendido o que Mamoru queria lhe dizer, ainda não conseguia confiar.

Com um sorriso consideravelmente mais aberto que o anterior, Mamoru lhe tomou a mão, acariciando-a. Não havia mais que dizer entre eles. Estava tudo ali, naquele olhar, naquele gesto, naquele toque trêmulo.

Usagi esticou um pouco o corpo e o beijou. O contato de seus lábios foi estranho a princípio. Não fazia tempo desde o último beijo, pensando bem. Mesmo assim, pensara tantas vezes que nunca mais experimentaria aquela sensação que agora nem sabia como interpretá-la. Após os segundos iniciais, quando Mamoru passara a mão por sua nuca, subindo os dedos entre seus cabelos... não havia nada mais natural que estarem juntos, unidos daquela forma.

– Mamo... – ela disse entre os beijos, seus corpos cada mais próximos. – Eu... – Não sabia ao certo o que queria dizer quando nem sequer era capaz de definir o que estava sentindo. Apenas que estava feliz. Mais que feliz. – Meu Mamo-chan... você voltou.

– Desde quando me chama assim? – ele perguntou, sem parar por mais tempo que o necessário; já haviam perdido demais.

– Desde hoje? Desde sempre? Eu não sei... eu só...

Mamoru riu entre seus lábios, mas seu corpo se contraiu discretamente.

– Você precisa descansar! – Usagi exclamou, repentinamente recordando-se de por que estavam naquele quarto.

– Na verdade, sinto menos dor te beijando do que se ficar quieto. – Vinda de qualquer outro, poderia ser um flerte, mas ele realmente parecia querer dizer aquilo.

Era difícil resistir. Ainda mais quando a saudade formava comichões no estômago de Usagi.

– Com dor ou sem dor, você precisa ficar quieto pra melhorar. Temos que te levar de volta a Tóquio amanhã! – Ela parou ao perceber que não planejaram nada assim. – Vai viajar com a gente, né?

– Se sobreviver até o ponto do ônibus. – Ele piscou um dos olhos, em parte também parecia ser em decorrência da dor. Em seguida, começou a acariciar o rosto de Usagi. – Não vou mais desgrudar de você, minha Usako.

Certa de que havia corado ao ouvir seu nome dito daquela forma, ela virou o rosto corado para longe. Contudo, a mão de Mamoru logo a fez tornar a encará-lo de novo.

– Vou deitar um pouco e tentar descansar – ele disse e lhe beijou suavemente.

Satisfeita que Mamoru houvesse decidido parar de forçar o corpo – apesar de também meio frustrada por precisarem interromper a sessão de carícias –, Usagi tentou como podia ajudá-lo a se deitar lentamente.

– Não tinha uma forma melhor de parar aquele aparador de grama? – ela perguntou, puxando a coberta até cobri-lo.

– Provavelmente. Acho que cabeças de vento são contagiosas e não consegui pensar na hora.

– Ei, que houve com Usako?

Ele apenas riu, seus olhos fechando pesados. Parecia enormemente cansado, agora que Usagi prestava atenção.

– Podemos falar de qualquer coisa? – ele pediu para sua surpresa. – Não consigo dormir com você só me olhando. Vamos falar algo, vamos. – Novamente aquela sensação de estar vendo um lado mais jovem dele. E ela gostava bastante dessa superioridade inesperada que ganhara.

Embora incerta sobre o que fazer daquele pedido, Usagi assentiu. Pôs a mão no cabelo escuro dele e começou a penteá-lo com os dedos.

– Se eu fizer isto toda noite, será que ele para de ficar todo arrepiado estranho? – ela comentou baixo, não queria realmente agitá-lo com a piada.

– Você realmente tem um problema com o meu cabelo, é? – Mamoru retrucou de olhos fechados.

– Não, gosto do seu cabelo. – Mas não desistiu de tentar domar aquela mecha.

– Que pena, eu ia sugerir que tentasse fazê-lo toda noite.

– Assim parece uma proposta de casamento – ela disse com uma risada e desceu o carinho até a testa de Mamoru, afastando os fios de cabelo de seus olhos.

– Ainda não. – Ele pegou a mão de Usagi na sua e a puxou junto de si. – Usako.

– Hm?

– Quando chegarmos ao meu apartamento amanhã, quero que pegue o cristal arco-íris e o leve.

– M-mas...

Ele ainda estava pensando nisso? Era verdade que Mamoru havia dito que pretendia desistir da busca pelo Cristal de Prata, mas não esperava um gesto tão definitivo. Não tão rápido.

– Você nem sabe por que nós o queremos, né? – ela disse enfim. – Por que não discutimos depois?

– Tenho certeza de que suas razões são bem mais altruístas que as minhas. – Ele abriu os olhos, mas olhava desfocado para algo atrás de Usagi. – Você se lembra dos meus pais?

Ela assentiu com a cabeça.

– Pois eu, não.

– Quê?

– Eu não lembro quem eles são, como eles se parecem... não sei nem o meu nome de verdade. A verdade é que sempre estive sozinho no mundo, sem saber de onde vim, sem ideia de para onde eu queria ir.

Usagi sentiu sua boca abrir sozinha, o corpo ameaçando levantar-se sozinho. Do que ele estava falando? Alucinação? A febre estava tão alta assim? Devia chamar a Ami?

– Até que uma princesa me chamou – ele continuava com o tom sério, não obstante as estranhas palavras que emitia –, e me disse que se buscasse o Cristal de Prata para ela, descobriria. Na verdade, eu não fazia muito ideia de que estava fazendo até ter em mãos aquele cristal arco-íris. Ainda não compreendo inteiramente. Nem preciso mais. – Ele soltou um pouco a mão que segurava de Usagi até agora e a beijou. – Não mesmo.

Noite adentro, Mamoru lhe explicou a história de sua vida de que poucos sabiam. Como havia sido adotado após um acidente que lhe tirara os pais, como nunca se sentiu em casa com os pais adotivos, como costumavam resultar em nada seus esforços para retribuir sua bondade graças a seu jeito de ser.

Até quando acordaram na manhã seguinte, com a chegada de Ami e Rei ao quarto, permaneciam de mãos dadas. Ainda sonolenta Usagi notou que suas articulações sentiam-se doloridas por haver apertado a de Mamoru com mais força que o necessário.

Por fim, suspirou um bom dia às suas amigas. Nada havia sido um sonho.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Fazia tantos dias, semanas desde a última vez em que Usagi visitara o apartamento de Mamoru. E conseguia, mesmo assim, lembrar-se nitidamente de correr até a cama, espreguiçar-se sobre ela, rolar seu corpo de tão feliz sentia-se com o estado atual do relacionamento. Ao menos, de alguma forma, eles haviam retornado àquele ponto. Seu primeiro instinto ao ver a porta para o quarto se abrir não era de observar o que Mamoru pretendia fazer conduzindo-a até ali sem qualquer cerimônia – antes, ele se opusera veementemente à sua pequena excursão privada por todo seu apartamento. Ela queria era pular de novo naquela cama, quem sabe terminar o que Mamoru interrompera?

Claro, não seria possível ainda. Mais que ela não se ver emocionalmente preparada para aquele passo, Mamoru mal estava conseguindo andar com o ferimento do dia anterior ainda latejando abaixo de seu peito.

Ao saírem do minshuku naquela manhã, Usagi havia duvidado que Mamoru chegasse em segurança até o ponto onde pegariam o ônibus para a estação de trem mais próxima – o que não significava ser realmente perto dali. Ainda assim, ele suportara a dor e não sequer pediu que Makoto o carregasse, como esta oferecera mais de uma vez pelo caminho. Que bom, Usagi duvidava ainda mais que a amiga pudesse realmente levá-lo morro abaixo. E se os dois saíssem rolando? E se aquilo acabasse de matar Mamoru? Agora podia rir das cogitações, mas suara ao chegar na metade do caminho, pensando que dificilmente poderiam retornar caso Mamoru desistisse; não seria uma subida fácil.

– Por favor, fique com estes aqui.

Usagi tornou o rosto com uma interrogação. Então, baixou os olhos para o que Mamoru acabara de lhe oferecer. Duas pedras coloridas. Familiares.

– Os cristais? Mas...

– Não te disse? Quero que fique com eles.

– Isto não é nenhum agradecimento, né? Sou eu quem te agradeço por ontem. Eu podia ter morrido e aí você...

– Vamos. – Ele se aproximou e pegou a mão de Usagi, depositando os cristais e a fechando com ternura. – Não estou me retirando por completo, não se preocupe. Pretendo ajudá-la a encontrar os dois que faltam. E recuperar aqueles que Zoisite conseguiu.

Devia realmente aceitar? Depois de ouvir a real motivação que seu Tuxedo Kamen– Mamoru possuía para buscar o Cristal de Prata, vinha pensando em um meio-termo.

– Sabe, você não precisa desistir de buscar quem você é – disse ela, ainda segurando indecisa as duas pedras. – Seu sonho, ele disse para encontrar o Cristal. Quem sabe basta você tocá-lo para recuperar suas lembranças? Eu não pude te dizer ontem, mas precisamos dele para encontrar nossa princesa. Depois do que fez por mim, sei que minhas amigas não seriam contra você ficar um pouco com ele. Não haveria muito mais uso até encontrarmos a tal princesa, né? É só uma hipótese e quem sabe tô falando besteira, mas só tava pensando nisso.

Mamoru balançou a cabeça.

– Apesar de, no início, eu querer simplesmente descobrir quem eram meus pais, de onde vim... hoje, entendo que o segredo de minha identidade vai além. Tem a ver com meu eu como Tuxedo Kamen, ou quem quer que essa figura realmente se chame. Mas, Usagi... E se eu for o monstro que te fiz acreditar ser? Não seria pensar muito.

Partindo os lábios suavemente, Usagi emitiu um som inicial de compreensão. Contudo, logo sua testa se enrugou. Depois, as sobrancelhas desceram fundo em seu rosto.

– Está com medo – acusou-o.

Não o pretendera, mas seu tom saíra ríspido. Arrependida, ela suspirou e decidiu que antes de qualquer palavra, precisava abraçá-lo. Após ter certeza de que ele não evaporaria de sua frente, prosseguiu com a voz mais baixa, compreensiva:

– Está mesmo com medo de descobrir quem é? Nada vai mudar, Mamo-chan. – E afundou seu rosto no calor do peito dele, afastando-se somente por haver se lembrado de sua condição. – Desculpa – murmurou, apesar de Mamoru não parecer ouvi-la.

Quando o olhou, ele parecia nem estar ali, tão concentrado se encontrava em seus pensamentos.

– Não importa mais. O que quer que o Cristal venha a me revelar, não importa – ele disse por fim, seu olhar ainda desfocado, perdido em outro mundo.

Não, em outro tempo. No seu tempo perdido, Usagi concluiu ao mesmo tempo em que sentiu não seriam verdadeiras aquelas palavras.

– Mamo-chan – começou a dizer, pronta a argumentar.

Contudo, ele a interrompeu ao pousar a mão sobre a bochecha de Usagi e fazer-lhe um singelo carinho ali. Sorrindo, Mamoru declarou:

– Já tenho bem aqui o que realmente me importa, Usako.

– Devo já te conhecer melhor que você mesmo – ela respondeu. – Sei que importa, sim. E eu também quero conhecê-lo. Conhecer o Mamoru que se perdeu. Quero saber tudo o que você foi um dia. Porque você não o é mais. Você é meu Mamo-chan agora, né?

– Usako? – Percebeu que as bochechas de Mamoru tingidas com um suave vermelho.

– Eu estou aqui. – Usagi lhe pegou a mão tal qual ele lhe havia feito pouco tempo antes. – Estarei sempre aqui. Confie em mim. Não vou permitir que este Mamo-chan que amo tanto suma por causa de um cristal idiota.

Seus olhos se encontraram e os dois ficaram inertes por um longo momento, como se um tentasse tocar a alma do outro. E talvez o fizessem, tão profundo era o contato que Usagi sentiu ali. Um contato que não necessitara de um só toque para que os conectasse.

Ao retornar daquele mergulho no coração de Mamoru, Usagi percebeu-se beijando-o. Não sabia quem havia iniciado o ato, mas correspondeu com toda a paixão que queimava dentro de si, com todo o amor que se multiplicava entre ambos. Apesar de até havia pouco estar pensando no que Mamoru perdera, era ela quem sentia haver acabado de recuperar um tesouro que por séculos, que sabe milênios, lhe fora arrancado de dentro de si.

Lágrimas molhavam o entorno de seus olhos quando se afastaram.

– Não me deixe, então – Mamoru pediu com a voz rouca.

Ela sorriu.

– Nunca. – Seu rosto se fechou tão logo o dissera.

Foram as palavras que Mamoru usara ou o tom com que as pronunciara? Mas aquela frase fez com que se recordasse de um evento logo no início – não, na véspera de seu namoro.

– Mamo-chan, queria deixar uma coisa bem clara aqui.

Provavelmente em razão de sua voz haver soado mais firme que o usual, Mamoru lhe devolveu uma expressão atordoada.

– Como? – perguntou com a cabeça um pouco torta.

– É que estamos de volta, né?

Mamoru pôs um dedo e empurrou um pouco a testa de Usagi.

– Tem alguma dúvida disso, cabecinha de vento? – disse ele, rindo.

– Não. Na verdade, como disse, tem um ponto que preciso sedimentar. De preferência, por escrito.

Quando ele continuou a encará-la com curiosidade, Usagi decidiu esclarecer logo:

– Aquele contrato já era, tá? Você gosta de mim, né? Então, não tem por que ter um monte de cláusula que sejam apenas pro seu benefício. Ou fazemos um novo, ou só rasgamos o antigo.

– Contrato? – O sobrecenho de Mamoru estava carregado. – Aquilo não era só uma brincadeira? – E começou a rir mais uma vez, com uma nuance de escárnio. – Espera, você levou aquilo a sério? Que espécie de pessoa faria um contrato pra namoro?

– Brincadeira? – Usagi repetiu em um grito nervoso. – Quer dizer que todas as vezes que me mandou parar de reclamar por causa do contrato, eu podia ter continuado a falar à vontade? Foi tudo uma piadinha? – Ela lhe deu um soco no ombro e inspirou fundo.

– Eu não sabia que você tava falando pra valer... – ele ainda argumentou, encolhido de forma a proteger o local em que se machucara.

– Tá decidido, Mamo-chan!

Percebeu que ele a olhou com alívio ao ouvir o apelido, mas aquilo fora apenas um detalhe calculado. O déficit de inteligência de Usagi não obstara bolar um plano de vingança pelo contrato, pela roupa nova manchada por culpa daquele homem, pelos chamamentos supostamente carinhosos e nada queridos a ela... Hora de dar uma virada e mostrar que ela não era nenhuma boba cabecinha de vento.

Usagi lhe apontou para o peito. Não, apontou para um pouco abaixo, na direção do ferimento pelo simples prazer de vê-lo tremer por instinto de novo.

– Sua punição é conhecer meus pais! – declarou, cruzando os braços com autossatisfação.

– Oh? Claro que eu pretendo um dia–

– Hoje! – ela gritou por cima da voz de Mamoru. – Ou sei muito bem uma informação interessante sobre a irmã do Motoki. Vai esta noite lá cumprimentar seus futuros sogros.

O pomo de adão subiu e desceu. Usagi podia jurar que até ele estava tremendo.

– Mas já está quase de noite – disse ele fraco. – E meu curativo, até eu limpar tudo e trocar... Também teria que chamar um táxi, né? Seria bastante até sua casa.

– Oh, é mesmo. – Mas a expressão de Usagi não mostrou qualquer preocupação além com a de não sorrir demais. – Eles vão ter que vir aqui!

Como?

– E, claro, enquanto os esperamos e pedimos a comida, eu vou dando uma arrumada neste mostruário de loja de móveis! – ela disse, correndo até sua bolsa e tirando dela uma fotografia sua meio amassada. – Depois trago uma melhor, mas por enquanto... – Tirou sua agenda escolar e abriu sobre a cama para mostrar uma folha cheia de purikura seus. Os com suas amigas estava em outras folhas. – A gente cola também estes no porta-retratos!

Pelo canto do olho, constatou a expressão pálida de Mamoru, que a observava sem parecer capaz de fazer qualquer movimento. Apenas ver suas gavetas e armários e arquivos revirados.

– Achei um! – Usagi ergueu-se vitoriosa. No fundo de uma gaveta do armário, havia localizado uma embalagem semiaberta de presente, dentro dela um porta-retratos prateado. – Sabia que teria! – Enfim, parou e encarou o namorado como se pedisse permissão.

– Vá em frente... – disse ele cansado, mas um sorriso ameaçou escapar-lhe os lábios. – Vou ligar para encomendar nossa janta.

Incrédula – ela não realmente planejava dar aos pais o endereço de seu namorado –, Usagi sentiu uma onda de alegria invadi-la. Conhecia Mamoru bem o bastante para entender o milagre que acabara de presenciar. E não queria perder tempo para ele se arrepender. Por isso, apenas deu um rápido selinho antes de voltar ao trabalho.

– Ah, Mamo-chan... – chamou-o com a voz afetada e um sorriso forçado. – Não se esqueça de que também tenho um irmão. Peça pra cinco.

Um irmão que não viria, mas deixasse-o pedir comida para cinco. Aquela alegria toda tinha dado tanta fome...

Com sua foto já na moldura e um purikura colado em seu polegar, Usagi enxugou o suor da testa e observou enquanto o namorado analisava a lista telefônica.

– Mamo-chan, saiba que pretendo engordar bastante. – E sorriu para um confuso Mamoru. – Está proibido de reclamar, viu?

Dias de alegria, era a cláusula pétrea daquele novo contrato que os dois haviam firmado.

FIM!

Anita


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Notas finais do capítulo

Terminooooooooooooooooooooooou! Foi mais de um ano escrevendo esta história. Nunca realmente posso dizer quando terminarei uma fic de capítulos, então não posso dizer que eu não esperava que custasse tanto tempo. Também não posso dizer que eu previa que ia demorar isso tudo. E o mais engraçado é que foi meio rápido ao mesmo tempo. Comecei, escrevi. E parei por uma eternidade!

Não sei como está a segunda parte escrita mais recentemente, mas eu realmente me diverti relendo a primeira. Embora eu sempre esteja escrevendo a mesma coisa, foi, eu diria, refrescante. A segunda parte ficou mais dramática, como já estava planejado, por isso não sei se quando eu reler me dará a mesma sensação.

Aliás, queria me desculpar com todos me seguindo aqui pelo Nyah!. Eu decidi participar de um evento em Novembro que me tomou todo meu tempo e mais que isso, todo meu cérebro. Na correria, porque não queria deixar de revisar o final da fic, eu apenas a postei no meu site. Resultado: eu achava que já tinha lavado minhas mãos quanto a esta história, rs. Mas a verdade é que nem o penúltimo capítulo tinha... Quase posto este último sem o antecessor. (Será que vocês sentiriam a diferente?)

Queria também agradecer pelo apoio de todos, desde antes mesmo de saberem sobre o que seria minha história. Não sabem o incentivo que é escrever sabendo que alguém lerá com certeza, rs. Um agradecimento especial à Nemui, à Spooky, à Pandora Imperatrix e à Mari Rodrigues. E claro, todos meus agradecimentos a você leitor que chegou até o fim! Mais ainda à Sophie Herlen, Pao Tsukino, Carol, Mari, Miaka-ELA, Danny, Fernanda e Professora de Italiano pelos comentários que me deixaram. É por vocês todos que eu termino, rs. Confesso que tenho sérios problemas de rendimento e ritmo quando me aproximo do final de qualquer história. Sabe, começo pra você no que dá, continuo pra ver o que acontece, mas quando vou terminar de escrever eu já sei tudo. São vocês leitores que não sabem, né? Por isso, não achem que seja mentira. É por vocês que cada história minha é terminada! Muito obrigada!

Confesso que entrei um pouco em crise enquanto publicava a fic. Infelizmente, estamos numa época em que as estatísticas só mentem pra mais, e o retorno que recebi me fez entrar em desespero: o que estou fazendo errado? No final, não descobri onde foi que a coisa desandou, mas garanto que, muito mais que nunca, os comentários e favs, ou simplesmente as visitas significaram um grande abraço pra mim.

Espero que possamos nos encontrar no meu próximo projeto de Sailor Moon, mas até lá aguardo seus comentários!

Sobre o que virá agora... disso ainda não tenho certeza. Enquanto revisava e publicava esta, cheguei a fazer mais coisas, mas não decidi ainda o que fazer. xD Sei que eu usualmente já anuncio aqui ao menos sobre o que as histórias são... bem, uma é mais ou menos no tempo desta, mas com uma temática um pouco diferente, falando sobre uma trupe japonesa de musicais. Meu outro projeto de Sailor Moon continua com o tema musical, mas será AU (ou realidade alternativa, aos que preferem um nome mais específico), ocorrendo na época em que a Usagi está na faculdade. Claro que todas são UsaMamo! xD

Se alguém quiser mais fics minhas, incluindo algumas exclusivas (não necessariamente boas, já aviso!), visitem meu site Olho Azul.

Até a próxima (seja qual seja)!



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