Reflexos escrita por Anjo das Sombras


Capítulo 1
Um dia qualquer.


Notas iniciais do capítulo

Yooo galera!
Bem, esse é meu segundo One Shot e eu o fiz especialmente para o Desafio de 10 anos do Nyah! Fanfiction, que no mês de maio é focado no yuri, resolvi participar com esse light aqui.
Escrevo sobre gênero tem um tempinho, ficarei imensamente feliz se vocês derem uma olhada na minha longfic e no meu outro One Shot, ambos são yuri mais pesado com Orange.

Espero que curtam, boa leitura ^^



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O topo é, definitivamente, a melhor parte de todo este prédio. Eu nunca tinha vindo aqui antes de algumas coisas acontecerem na minha vida, dá pra ver tudo até os morros mais distantes e com um pouco de sorte o mar bem no fundo, como uma estreita faixa de azul que manda seus ventos até o meu rosto. Talvez aqui, seja o único lugar em que a paz consegue dominar um pouco de mim e do meu inquieto coração, todos os outros prédios distantes me parecem apenas meros figurantes no grande espetáculo que é o nascer do sol. Mas o nascer do sol indica que mais um infeliz dia começou, mais um infernal dia em que terei que descer e encarar a realidade que eu tanto odeio e que em pouco tempo estará acabada. Pelo menos para mim.

Desço os degraus depressa, daqui a pouco minha irmã irá acordar de mais um dos seus infinitos porres com um dos namorados, estou morta de enxaqueca de novo só de imaginar o cheiro de bebida barata e aqueles cigarros empesteando a sala. Ótimo, já estou no 10º andar, faltam apenas mais 3 até eu chegar no meu, descer isso correndo me faz lembrar como ainda estou viva e como sou fraca, chegando morta no 7º. Se eu chegar tarde ela vai encher meus ouvidos me dizendo que a mulher da assistência social vai brigar com ela de novo e que eu acabarei ficando em um orfanato até os meus 18 anos, afinal no que depender dela isso já teria acontecido. Abro a porta de casa depois de um tempo procurando a chave na minha mochila e sou dignamente recepcionada pelo barulho de garrafas caindo e algumas até quebrando, respiro fundo no ar puro do corredor até entrar corajosamente lá.

Meu nome é Mirna Lemos, tenho 16 anos extremamente recém feitos, na verdade até ontem eu ainda tinha 15, hoje é o meu aniversário e não creio que ninguém além dos meus 2 amigos lembrarão disso. Eu adoraria que uma certa pessoa lembrasse dele também, mas levando em consideração a minha total falta de presença ela nunca se quer saberia... Bem, meus dois anjos com certeza lembram, Ariel e Nicole. Atravessei parte daquela bagunça da sala e abrindo as janelas deixei o sol entrar, afinal aquele cheiro estava me enjoando, minha irmã estava no quarto dela provavelmente tentando dormir. Tive uma infeliz surpresa quando fui para o meu quarto, tinha um dos garotos dela deitado em cima do meu tapete e, ao lado dele, um balde cheio de vômito, respirei fundo e fui direto para o banheiro do meu quarto largando a mochila em cima da mesa com o notebook.

Quando me vi no espelho percebi que aquelas malditas olheiras só se multiplicavam, eu precisaria de uma boa dose de maquiagem para esconder, já havia deixado meu uniforme dentro do pequeno armário trancado a chave e uma roupa casual também. Tranquei a porta e entrei debaixo d’água por um bom tempo, mesmo não sendo a água que eu gostaria de sentir, eu vou arrumar um modo de sair daquele manicômio hoje á tarde e ir para a praia. Alguns poucos minutos depois ouço a porta do quarto bater e após uma imensa discussão entre eles dois, um barulho de garrafas quebrando alto e de repente... Silêncio. A porta da sala é batida fortemente, termino de tomar banho, visto meu uniforme, penteio meu cabelo com as mãos mesmo e saio de lá. Vou para a cozinha, a louça está na pia como sempre pego uma caixinha de suco na geladeira e uma maçã, quando me virei vi Rafaela, com os braços marcados de roxo e um corte no supercílio fazendo com que seu sangue descesse para todo o lado esquerdo do seu rosto.

- Bom dia maninha, como está?! –sorriu forçadamente deixando o sangue lhe entrar na boca

- Com certeza melhor que você –mordi um pedaço da maçã e quando ia desviar dela fui contida pelo seu punho

- Onde estava a noite toda pirralha?! –apertou meu punho com força

- Não te devo satisfações da minha vida, maninha... –disse sarcasticamente tirando meu punho com força daquela prisão

- Ah, você me deve sim. Eu sou mais velha que você, sou sua única irmã e também o que restou da merda dessa família! Se eu quiser colocar um rastreador em você eu posso fazer isso! –dei as costas ignorando-a -Você não passa de uma pirralha inútil, com desenhos mais inúteis ainda!

Parei por um minuto olhando para ela por cima do ombro.

- O que fez com eles...?! –o ódio nascia em mim

- Ainda nada, mas sabe acidentes acontecem... –tirou uma folha de dentro do bolso da calça e me mostrou. Era a Lótus que demorei semanas para concluir.

- O-o que vai fazer?! –disse respirando fundo e fechando o punho

- Sabe, o algodão acabou então acho que terei que estancar meu sangue com o que tenho aqui mesmo... –sorriu e passou a folha por todo o lado ensanguentado do rosto deixando-a completamente manchada para em seguida jogá-la no chão.

As lágrimas estavam caindo do meu rosto sem que eu percebesse, minhas unhas estavam quase entrando na carne de tanto que eu fechava os punhos. Eu poderia brigar com ela ali mesmo, porém não queria me atrasar e além disso o estado dela não era um dos mais favoráveis, desde o início senti o cheiro de bebida vindo de seu hálito. Simplesmente dei as costas seguindo para o meu quarto depressa, joguei todas as coisas que estavam sobre a mesa na mochila, coloquei o tênis e saí dali. Ainda eram 6:55 da manhã e eu só tinha minha primeira aula ás 8:00, era menos de 40 minutos até a escola mas apenas 15 até a casa do Ariel, andei depressa até o térreo saindo do prédio senti uma liberdade maravilhosa. Me senti bem com o vento que vinha me encontrar novamente como se me desejasse feliz aniversário balançando minhas mechas longas de cachos um pouco mal definidos.

Andei calmamente até a casa do Ariel, parecia mais um dia comum, as pessoas passavam de um lado para o outro, para chegar até a casa do meu amigo são duas esquinas a pé e um cruzamento até chegar no portão de grades branco. Quando passei por uma padaria na primeira esquina uma família tomava café, duas meninas o pai e a mãe, eu andava depressa querendo muito me afastar daquela cena. Naquele dia não, não no dia que fiz 16 anos. Já passaram 1 ano e meio desde que isso aconteceu e definitivamente eu não quero lembrar de mais nada, balancei a cabeça negativamente para mim mesma aumentando o volume dos meus fones. Ao chegar na frente do portão o wifi conectou automaticamente, abri meu WhatsApp e algumas mensagens de feliz aniversario sendo a melhor delas dos meus dois melhores amigos. Respondi-o dizendo para vir na frente e mais alguns minutos ele aparece com o cabelo laranja lindamente bagunçado, um abraço receptivo e estávamos dentro de casa novamente.

- Seus pais já saíram né?! –joguei minha mochila num canto qualquer da sala

- Ah, já! Meu pai saiu daqui tem pelo menos 1 hora e minha mãe saiu quase que junto dele –ofereceu-me café que neguei com a cabeça –Ah, antes que eu esqueça...

O vi ir para a cozinha e voltar com um tabuleiro coberto por um pano de prato.

- Ah não... Não, não, não... Eu já to muito gorda você vai e ainda faz isso... É injusto demais comigo cara! –começamos a rir ele colocou o recipiente sobre a mesa de centro

- Ei, ei, ei! Você é linda moça! E sabe o que mais?! Moças lindas merecem presentes legais como esses! –tirou o pano de prato mostrando vários brigadeiros enfileirados com confete colorido

- São 7:15 da manhã, comer agora não seria uma boa ide –fui interrompida

- Quem se importa?! Toda hora é hora de brigadeiro, agora pega logo e pare de frescura! Vou tomar banho e me arrumar no quarto ok?! Minha prima ainda não acordou mas se ela descer diz oi, seja simpática, sociável, fofa... –joguei uma almofada nele e disse:

- Cherry, isso eu já sou –rimos e ele saiu para o banho levando a roupa

Mal deu 10 minutos e a Débora desceu, como sempre estava com um shortinho minúsculo e uma blusa enorme do Barcelona, branca como o primo mas com cabelos castanhos, olhos da mesma cor e com muitas curvas afinal ela tem 19 anos. Natural do Rio Grande do Sul está aqui no Rio de Janeiro porque passou para a UFRJ e como parte da família dela está aqui ela se hospeda na casa deles ficando com parte dos serviços domésticos, juntamente com Ariel. Por algum motivo alheio a minha vontade eu fico tensa com a presença dela, aquilo tudo é bem... Impressionante. Como sempre ela veio falar comigo super legal perguntando se podia pegar alguns docinhos e eu disse que sim logicamente afinal tinha no mínimo uns 60 ainda ali. Sorriu gentilmente e pegou uns 3 eu acho, quando veio com aquela tão comprometedora pergunta com um sotaque marcadíssimo:

- Então guria e os namoradinhos? –sentou do meu lado

- O de sempre, nada. –ri sem graça, na verdade namorados nunca existirão.

- Você é lindinha, aproveita enquanto tá nova, porque daqui há um tempo vai tá nessa escravidão de faculdade. Bah, nem queira saber como é complicado... –levantou quando o ruivo chegou

- E aí meninas, como estou?! –deu uma voltinha quando nos entreolhamos e dissemos

- Ainda na mesma, só bem mais cheiroso! –todos rimos

- Primo, vou comprar cacetinho para o café você quer ou vai comer alguma coisa na padaria? –andou para a cozinha enquanto eu continha meu riso

- Não obrigada, eu to atrasado e com vontade de comer pão na chapa. Vou só dar um jeito no cabelo aqui, pegar as coisas e ir com a Mi pra escola, alias hoje é niver dela! –apontou pra mim com os dois indicadores em forma de arminha

- Porque tu não me disse guria! –pulou sobre mim me abraçando, não preciso mencionar que fiquei sem jeito –Feliz aniversario!

- Obrigada! –abracei-a de volta

- Bem, até mais então! –foi para a banheiro

- Você realmente não sabe disfarçar nem um pouco –começou a rir da minha timidez

- Por que não foi você que quase morreu amassado há 5 minutos atrás! –riu ainda mais

- Olha guarda uma parte do brigadeiro para a Nicole, pega um pote na cozinha e põe um pouco se não ela vai nos matar –entrou no quarto terminando de arrumar o cabelo

- Ok! –organizei-os no pote e os coloquei na mochila –Vamos?!

- Vamos! Tchau Debs! –saímos ouvindo ela gritar tchau de volta

Já na rua conversamos sobre assuntos diversos e claro sobre o Felipe a paixão do moço, enquanto ele tomava café, eles já ficaram uma vez mas o problema é que o Ari gosta dele mas ele não liga muito pra isso... E ele é amigo da Lara, a minha paixão platônica. Ah, a Lara, por que justo a Lara?! O meu dom de conquista já é um verdadeiro desastre e eu ainda tenho que estar apaixonada pela menina mais popular e linda da escola, que até os meninos mais bonitos e populares já tem um puta trabalho pra conseguir sequer um pouco de atenção, imagina eu?! Enfim, pegamos o ônibus e encontramos a Ni que sentou perto de nós no fundo do ônibus, no meio do caminho eu apoiei minha cabeça no colo dela e dormi por uns minutos até que chegamos na escola quando Nicole me abraçou em um super pulo me desejando feliz aniversário. O portão já estava aberto e toda aquela gente já estava lá: Populares, garotas de cabelo colorido, nerds, gente vagabundeando logo cedo no pátio, casais irritantemente perfeitos, gente se pegando e lógico o povo da minha turma.

Não que eu não goste deles , mas entre fazer testes com um coelho e com algum deles acho a 2ª opção bem mais justa... Eu poderia gastar muito tempo falando deles, contudo dividi-los em grupos já é suficiente. Tem o povo que eu odeio por me irritar insistentemente, o grupo que não concorda com essas brincadeiras comigo mas acaba rindo de mim por achar as piadas boas e tem os dois corajosos que andam com a “miss chokito”. Acho que “miss chokito” é o menor dos apelidos, tem toda uma gama relacionada ao meu peso, minha altura, meu cabelo, meu nome... Enfim, minha vida lá dentro só não é um inferno pior ainda por causa dos meus amigos. Tivemos dois tempos de física de manhã e um de biologia antes do almoço eu estava morrendo de fome como sempre porém, preciso emagrecer então comi bem pouco para me auto ensinar que aquilo é bom.

A tarde saí cedo porque minha professora de história faltou, logo hoje que eu precisava tanto conversar com ela no meio do caos que é aquele lugar, o sinal bateu e como sempre a primeira a descer do ônibus foi a Ni, seguimos juntos até o Ari se separar e eu descer na praia. Andei rapidamente a rua que dá até a costa e fiquei sentada na areia encarando aquela imensidão azul na minha frente, pensei se as sereias existiam e ri da lembrança da Nicole quase sendo afogada ali por uma onda há uns 2 anos. Quase no mesmo instante lembrei dos meus pais comigo e com a Rafaela quando ainda era gente, eu senti muito quando eles partiram com certeza mas ela muito mais, sem duvida. Como estava de fone, mal percebi quando alguém sentou ao meu lado uma menina morena com cabelos marcados do sol e um corpo lindo tocou no meu ombro perguntando:

- Me desculpe, mas sabe dizer como chego no Posto 12?! –os olhos eram escuros como o mar noturno

- Sim, segue reto até o final pra lá –apontei

- Obrigada! –levantou tirando a areia do short

- De... nada. –limpei um pouco perto da minha cabeça

- Desculpa, de verdade –passou as mãos pelo meu cabelo e eu levantei afinal já estava começando a ficar tarde

- Tudo bem, não precisa se preocupar comigo –sorri para ela calmamente

- Você está com tempo livre?! Sem querer abusar da sua boa vontade, mas já abusando podia ir comigo até o Posto? –sorriu sem jeito

- Ah claro! Vamos –começamos a andar até lá enquanto o sol começava a ficar mais fraco

- Você nem sabe o meu nome, que falta de educação a minha, me chamo Solange mas me chama só de Sol ok?! –disse me encarando

- Ok, me chamo Mirna, você não perguntou mas tudo bem... –rimos da situação tensa de silêncio –Vai encontrar alguém no 12?

- Na verdade não, só queria o por do sol de lá mesmo. Dizem que é muito bonito, daí queria ver se isso é verdade. –havíamos acabado de chegar ao posto 11

- Eu tenho a impressão que te conheço de algum lugar... Isso é bem estranho... –paramos num quiosque onde eu comprei água e vi no reloginho do lugar que estava quase na hora do sol se por

- Talvez, conheço bastante gente. Desde que passei a andar mais por aqui conheci tanta gente... –pegou uma água de coco

- Sinto te dizer mas acho que não chegaremos no horário, veja falta pouco tempo. –mostrei-lhe a hora

- Então, se não for abusar demais poderia ficar aqui no 11 comigo? Juro que é a ultima coisa que eu peço, depois você pode ir pra onde quiser, prometo mesmo, não que eu esteja te prendendo a mim... –gesticulava com as mãos com um tom de desespero que me fazia rir

- Tudo bem eu fico. –sentamos no areia um pouco longe da maré

- Então Mirna, o que acha do mar?! –olhou para mim

- Acho uma coisa tão incrível e misteriosa... Não sei como explicar direito, sempre que me sinto mal ou algo do tipo venho visitá-lo, me faz refletir e sentir bem. Como uma espécie de calmante enorme e muito eficaz –ri e lhe perguntei o mesmo

- Acho que o mar nos ensina a seguir em frente... Tá vendo as ondinhas ali? Elas vem e vão como se nada tivesse acontecido, como se nunca ninguém guerreasse sobre as águas ou morrido nelas. Apenas vem e vão, com seus dias de fúria e seus dias de paz. –sorriu olhando para o mar a nossa frente

- Está na hora. –o sol se punha vagarosamente

- As pessoas são um pouco do mar... As vezes se enfurecem, as vezes ficam tão de bem que nada mais parecem do que um grande oceano de paz com suas ondas uma após a outra. Como tudo deve ser, sempre em frente... Me desculpa te encher e obrigada por me acompanhar –sorriu e ficou de pé

- De nada, eu que agradeço. –trocamos nossos números e facebook, em menos de meia hora eu já estava em casa.

Minha irmã estava dormindo na sala como sempre, liguei para meus amigos virem aqui em casa e em poucos minutos já estávamos na parte de cima. Eles descobriram meu esconderijo e eu descobri como a vida pode ser louca, o céu estava limpo e a Ni estava com o telescópio ali, brincamos um pouco e eu tive certeza de foi um momento feliz. Naquele dia ganhei um presente surpresa que foi um cometa sobre nossas cabeças, talvez sejam meus pais em algum lugar me desejando feliz aniversário. Depois que todos partiram abri o celular e vi uma mensagem da Sol me desejando feliz aniversário, conversamos um pouco até ficar tarde, combinando de nos ver no sábado que vem no Posto 12.

Entrei no quarto, limpei algumas coisas e fiz o rascunho numa folha de ofício de um sol e algumas outras estrelas antes de dormir.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, é bem levinho diferente de quase tudo que escrevo, uma nova experiência, talvez um novo caminho...
Deixe seu comentário aqui em baixo, prometo que respondo (mesmo que demore um pouco pra isso acontecer XD)
É isso aí, tenham todos uma boa semana repleta de sorte e felicidade :D
Até a próxima.

Anjo das Sombras.



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