O Relato De Uma Garota Com Asas escrita por ADivas


Capítulo 1
O relato de uma garota de asas


Notas iniciais do capítulo

Uma histórinha escrita para passar o tempo. Qualquer confusão foi proposital, para deixar o leitor seguir com sua imaginação, dando ele próprio um final a história.Boa leitura.



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Trancados ali era impossível ter a certeza se era noite, tardinha ou dia. Era sempre escuro e sempre silencioso. Sempre solitário. Às vezes, por mais contraditório que fosse, era até satisfatório escutar os passos dos guardas em direção à jaula que estavam trancafiados. Ao menos os seus olhos eram tomados por uma figura humana... Por mais insano que fosse mesmo desejar ver um humano, sendo que estes eram os responsáveis pelas prisões.

Prisão de mutantes menores. O asseguramento que adolescentes diferentes não vão estar entre os normais, Katrina gostava de completar mentalmente quando lia ou escutava o nome daquele lugar que a prendia.

Há três anos os mutantes, independentemente de serem crianças, adolescentes, adultos ou idosos eram capturados e presos, mesmo que não tivessem cometido nenhuma inflação ou delito. Eram presos apenas por serem diferentes. Uma injustiça tão gigante quanto os sentimentos negativos que tomavam os pensamentos dos presidiários.

Com o avanço da tecnologia era muito mais fácil detectar os mutantes. Soldados completamente armados contra inocentes crianças que mal sabiam controlar os seus dons. Ou maldição, por assim dizer.

Um estalo alto e distante tomou conta dos ouvidos de Katrina, e isso sufocou sua garganta, assustada. Ergueu-se do colchão mofado e gélido, do chão sujo e frio de sua cela, e aproximou-se das grades que ajudavam na sua prisão, naquele minúsculo espaço. Os olhos procuravam uma resposta, mas não se podia ver além da escuridão.

A garota havia sido capturada há dois anos, enquanto juntamente com um grupo de outros adolescentes, vivia escondida nos subúrbios perto de um rio. Era um grupo pequeno, mas enorme no campo da afetividade. Samantha, James, Ícaro, Sofie e...

Mais um estrondo alto, e dessa vez foi possível ouvir o acompanhar de gritos indecifráveis.

A adrenalina tomou conta de vez do corpo da garota, a fazendo soltar um grito, mesmo que não tão grande quanto gostaria. Estava fraca. Sempre estava, na verdade. Alimentava-se muito mal, e isso refletia na pouca força que tinha em seu corpo. Por muitas vezes, sentia as pernas bambearem, ao menor esforço. Talvez os remédios que recebiam afetassem nisso também.

O governo agora estava tentando desenvolver um antídoto para dar um jeito nos genes rebeldes dos mutantes, a fim de torná-los normais. Katrina acredita que os mutantes eram as próprias cobaias, que as injeções não eram antes testadas de nenhuma outra forma. E era por isso que ela acreditava que Ícaro havia falecido.

O garoto foi o primeiro do grupo a ser capturado. Tinha treze anos e um infeliz azar de ter um dom que não o ajudava em combates – todos os dons que assim fossem, para Katrina, era um verdadeiro desperdício. O garoto tinha elasticidade nos membros superiores, mas um péssimo controle. Certo dia, ele saíra, para nunca mais voltar. E dias depois, seu rosto cheio de sardas estavam estampado na folha de um jornal, completamente desfigurado, sobre a legenda: “Mutantes, uma ameaça cada vez mais assombrosa.” Katrina nunca chegou a terminar de ler a matéria.

Os gritos naquele ambiente não cessavam, e agora era possível ouvir passos apressados também. Correria. Explosões. Uma mistura de loucura.

Ela sabia que as celas eram separadas uma das outras em uma distância considerável, e cada estrutura das mesmas eram planejadas de acordo com as habilidades do mutante encarcerado. A dela, por exemplo, não tinha nada de especial. As paredes foram erguidas normalmente, sem nenhum elemento especial, e as grades eram feitas por ferro sem nenhum efeito. Isso porque, infelizmente, Katrina podia voar. Nas suas costas, um par de asas amareladas se erguia, perfurando sua camisa.

Tinha que admitir, ela realmente sentia falta de utilizá-las. Sentia falta de batê-las e cortar o vento, acima do chão, com elas.

A garota então conseguiu ver um lampejo de luz. Um lampejo de luz que se movia e se aproximava. Seus lábios ressecados não demoraram a sorrir, expressando de forma intensa a satisfação por ver quem estava vendo. Se bem que depois, a preocupação tomou conta dela.

Com seus cabelos reluzindo uma forte luz branca, Samantha agora estava agarrada as grades da cela de Katrina, que sentia as lágrimas descerem de forma espontânea, por ver aquela pequena garota. Tão pequenina e com um sofrimento tão grande no rosto...

Samantha costumava ter os cabelos batendo em sua cintura, pois eles eram os responsáveis por seu dom: uma luz tão intensa, que não poderia ser comparada a nenhuma outra fonte de energia luminosa. Todavia, agora, seus fios eram pouquíssimos. Era incrível poder ver o quanto podiam iluminar, mesmo daquela forma. Junto a ela, um garoto espinhento e com um grande nariz parecia satisfeito consigo mesmo. Katrina não o conhecia, mas conhecia muito bem o garoto que o agradecia.

“É uma rebelião, Katrina!” Samantha falava, animada. Estava muito suja e magra, tanto que seus ossos quase podiam ser contados, se não pelo macacão alaranjado que serviria fácil para duas Samanthas. “Estamos fugindo. Muitos estão.”

A boca de Katrina se entreabriu, os olhos nunca parando quietos, indo do rosto iluminado da garotinha, para o rosto sem expressão de Pietro.

Se na época que eram um grupo tinham um líder, ele era Pietro. Era o mais velho e o mais experiente. Segundo ele, nunca teve problemas para controlar seu dom, e segundo ele, teve que sempre lutar para viver, e seria assim independentemente se tivesse sido um mutante ou não.

“Vamos logo!” Ele bravejou, e Katrina deu alguns passos para trás, já sabendo o que aconteceria.

Pietro seguro as grades com suas duas mãos gigantes e quase sem esforços, a arrancou, dando liberdade para a garota de asas.

O tempo encarcerado realmente não tinha feito bem para o garoto. Os cabelos negros estavam horríveis e ele tinha riscos de sujeira e arranhões por toda o rosto. Os olhos ainda estavam coberto por uma frieza esmagadora, mas Katrina sabia que esse olhar era reservado especialmente para ela.

Haviam tido um relacionamento bem confuso, nunca tendo sido denominado como alguma coisa. Katrina realmente admirava Pietro, se sentia segura com ele e amada, mas amar... Amar mesmo, ela amava James. E James a amava. E era com James que ela se sentia feliz, e isso era tão evidente, que ainda que ela nunca tivesse beijado James na frente de Pietro, ou de outra pessoa, todos sabiam que eles pertenciam um ao outro, e isso era afirmado sempre por suas trocas de olhares.

E hoje, Katrina nem sabia onde James estava. Fora o único do grupo que não fora capturado. Pelo menos, até onde ela sabia, afinal, faziam dois anos que ela estava trancafiada ali... Fazia dois anos que ela não tinha notícias de ninguém.

Samantha agarrou em suas pernas, com um abraço apertado, e Katrina logo a tirou do chão. Infelizmente, teve que colocá-la rapidamente no solo, pois a sua força se fora.

“É hora de ir.” Anunciou o garoto espinhento, já correndo na mesma direção ao qual veio.

Katrina segurou firmemente na mão magricela de Samantha, e prometeu para si mesma que por nada a soltaria. Pietro correu para acompanhar o garoto espinhento, com os olhos sempre atentos em busca de algum soldado armado.

A garota de asas estava perdida na sua quase liberdade. Não sabia como tudo tinha começado, nem mesmo como as coisas estavam acontecendo. Não sabia como a rebelião começara, e não sabia o que aconteceria quando – se é que conseguiria – atravessasse os portões.

Mutantes e mais mutantes, vestidos com as mesmas vestimentas se esbarravam, enquanto era possível ver guardas desacordados no chão, com suas armas nas mãos de outros mutantes magrelos, alguns fazendo questão de ferir gravemente aqueles humanos que tanto os fizeram sofrer.

Um zumbido tomou conta do lugar, e o garoto espinhento de nariz grande foi ao chão, se desfigurando. Uma imagem horrível de se ver. Samantha gritou e Katrina segurou com mais força na sua mão.

O reforço chegou.

“Não é hora de parar.” Gritou Pietro, passando o braço pela cintura de Samantha e a colocando sobre o seu ombro, em busca da saída, que aliás, não estava longe.

Grandes portões de ferros se derretiam lentamente, mas com um buraco considerável para qualquer mutante daqueles conseguir atravessá-lo. Ali, bem ali, tão perto, aconteceria a liberdade daquele pequeno grupo.

Katrina sentiu suas asas baterem, quase automaticamente. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela sabia que já era a hora. A hora da liberdade. Seus pés já se erguiam do chão lentamente, e abaixo de si, por mais grandes que fossem aquele bando de fugitivos, ela se sentia maior que eles.


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Notas finais do capítulo

Clipe: https://www.youtube.com/watch?v=a7SouU3ECpUObrigada!



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