Conversamos mais um pouco e quando deu a hora de ir para festa, nos despedimos e desligamos. Resolvi passar lápis de olho e um pouco de gloss, porque ir para um aniversário de cara lavada não era a melhor das ideias. E, claro, eu podia tombar com o amor da minha vida no meio do caminho ou passar na frente da lanchonete que ele trabalha. Depois de desistir de tentar passar o rímel feito gente, peguei minha bolsa em cima da cama e saí de casa.

Normalmente, eu tentava evitar ao máximo andar sozinha. Mas dessa vez, não tinha muita escolha. Detestava porque sempre parecia que todos iam me encarar e tentar me roubar, então não era muito a minha praia andar por aí sozinha.

Caminhando rápido como uma tartaruga, cheguei quase em cima da hora na casa de Melody, e ela me recebeu com um sorriso. E isso foi muito bom, porque se fosse Rosa, eu seria recebida com duas pedradas no meio da testa. Ok, dois pontos para Melody.

Entrei lentamente e vi todas as meninas jogadas no sofá. Íris, Rosa, Violette, Kim, Bia e mais algumas garotas do colégio estavam lá, todas com pijamas infantis. Rosa usava um pijama roxo e Melody usava um do Rei Leão.

– Pensei que não ia vir mais – disse Kim.

– Minha casa é um pouco longe.

Melody me mostrou a casa e disse que seus pais tinham viajado. Tinha três quartos, dois banheiros, uma cozinha enorme e uma sala maior ainda. Era muito bem decorada no estilo vintage e era claramente uma casa de gente cheia da grana. Por um segundo, pensei o que Melody estaria fazendo em Sweet Amoris ao invés de estar em um internato caríssimo em outro país. Em todo caso, me limitei só aos pensamentos e não perguntei nada, já que não precisava criar um clima desagradável bem no dia do aniversário dela.

Depois de aprender o caminho até um dos banheiros, peguei minha bolsa e fui lá para trocar de roupa. Coloquei o meu pijama rapidamente e voltei para a sala, encontrando todas prontas para começar a noite. O que não foi tão animador, já que talvez fosse bem mais legal ir em uma balada ou pub. Mas como não bebo, não sei dançar e não consigo ficar em lugares lotados, tive que me contentar com uma festa na casa da Melody mesmo.

Depois de muito discutirmos sobre o que fazer, apagamos as luzes da sala e improvisamos um karaokê. Essa ideia de karaokê gerou uma briga imensa, porque cada uma tinha um gosto musical e cada uma queria cantar sua música favorita.

– Se você colocar Katy Perry, te faço engolir essa almofada – Kim ameaçava Rosalya com uma almofada de oncinha na mão.

– Então o que você sugere? Rap? Hip Hop? – Rosalya estava impaciente.

– Gosto de jazz – disse Bia.

– Ninguém se importa – respondi, da forma mais doce e amável possível.

– Meninas! Não vamos brigar, ok? Podemos chegar em um acordo... – Melody se esforçava para não abrir a porta e chutar todo mundo para fora.

– Cara, sério, coloca Britney – disse Íris e eu olhei pra ela com uma cara de "quem é você e o que você fez com a minha amiga?".

Depois de vinte minutos de muita briga, gritaria e ameaças de almofadas enfiadas em gargantas, Melody pegou um pen drive e misturou várias músicas conhecidas. Cantamos e dançamos todos os tipos de músicas, rimos bastante e tiramos algumas fotos com as piores caretas possíveis. E então, passamos de um bando de garotas briguentas para melhores amigas pagando mico juntas, o que foi lindo.

Depois do karaokê, assistimos alguns filmes de terror e todo mundo chorou de medo - menos a Kim, que só sabia rir. E, na verdade, foi por causa das ameaças dela que acabamos concordando em ver esses filmes. Bom, não é que eu tenha medo dela ou algo do tipo, mas gosto da minha garganta do jeito que ela é.

– Quando nós vamos cantar parabéns? – Íris resolveu perguntar.

– Logo, só precisamos fazer o bolo – Melody sorriu. No mesmo segundo, todo mundo virou a cabeça e encarou Melody com a sua melhor cara de "de que merda você está falando?".

– O que você quer dizer com fazer o bolo? – Rosalya parecia indignada.

– Meu pai achou que seria mais divertido se nós tentássemos fazer o bolo! – Melody parecia gostar da ideia.

Bom, eu tenho uma notícia para dar: ele achou errado.

– E como se faz bolo de aniversário? – Íris tirou as palavras da minha boca.

– Não sei, mas deve ser parecido com o jeito de fazer bolo normal.

– E como se faz bolo normal? – quase abracei Íris e disse “sei como você se sente”.

– Que tal miojo de aniversário? Sou boa nisso – disse.

– Parece uma boa ideia – Rosalya concordou.

– Gurias! Qual é o problema? Vamos fazer o bolo! – disse Kim.

– Tudo bem, mas acho melhor deixar o número dos bombeiros anotado – disse, rindo de leve.

Kim arrastou todo mundo para a cozinha. Melody colocou a batedeira, formas e tudo que fosse necessário em cima do balcão. Kim fingiu que a casa era dela e abriu a geladeira, pegando ovos, leite e margarina. A aniversariante colocou chocolate em pó no balcão da cozinha e todos os outros ingredientes que faltavam.

– Pronto! O que nós fazermos agora? – disse Kim.

Elas acabaram optando por pesquisar vídeos de culinária no Youtube, e eu e Rosa ficamos vendo alguns clipes musicais. Depois de algumas broncas, nos juntamos as futuras candidatas do MasterChef e distribuímos o serviço. Cada garota deveria fazer uma parte, e eu acabei ficando com a de untar as formas.

– É sério que não posso usar luvas? – insisti.

– Guria, pega a margarina e passa na forma sem frescura – Kim parecia me amar cada vez mais.

Fiz bico e peguei a margarina, que acabei passando nas formas e no nariz também. Rosa me deu um pano e voltou a se concentrar na batedeira. Íris parecia nem fazer ideia de como se fazia um recheio e Violette caprichava na mistura que íamos usar como cobertura. Melody e Kim discutiam sobre qual o grau correto para assar e o tempo necessário. Umas garotas gritavam, outras cantavam e eu ficava enojada com as mãos melecadas. Mas de um jeito ou de outro, aquilo parecia estar dando certo. Ou não.

Depois de misturarmos as massas e colocarmos nas formas, deixamos assando na cozinha e fomos ver a série do Arqueiro Verde. Era divertido assistir televisão com tanta gente, porque os comentários não paravam um segundo sequer. Eram muitas risadas e conversas paralelas, o que não me deixava sentir solidão e nem tristeza. Era uma noite agradável e divertida, que me fazia querer repetir muitas e muitas vezes mais.

– Esse protagonista é um gato – disse Rosa, como se nem lembrasse do namorado.

– Só queria um desses pra mim – Melody estava se soltando.

Depois de algum tempo, os bolos estavam assados e nós colocamos nossos aventais novamente. Voltamos para a cozinha e fizemos uma roda.

– Equipe, é o seguinte: Vamos nos separar em Time Unicórnio e Time Pocahontas no campo. O Time Unicórnio decora o bolo de chocolate e o Time Pocahontas decora o de laranja. Quero bons resultados e não aceito moleza. Alguma dúvida da equipe? – disse Kim.

– Não, senhora – disse, em um tom de voz mais grosso.

– Então, estamos entendidas.

Nos separamos rapidamente e começamos a disputar para ver qual time decorava mais rápido. No time Pocahontas, colocamos morangos, chantily, um negócio verde e a cobertura de mousse que a Violette fez. A aparência era um pouco bizarra, mas o gosto deveria ser melhor. Pelo menos, era isso que eu esperava.

Melody levou o rádio para a cozinha e ficamos trocando de estação até o time Unicórnio terminar. O bolo delas era ainda mais bizarro, mas o cheiro era muito bom. Quer dizer, mesmo se a aparência for de papelão amassado, dá pra comer se o cheiro estiver bom, certo?

Melody pegou umas velas na gaveta e distribuímos nos bolos. Colocamos chapéus de festa e tiramos algumas fotos antes de cantarmos parabéns, porque precisávamos pagar ainda mais mico numa noite tão especial. Depois disso, ela fez um pedido e assoprou as velas.

Depois de todas estarmos cheias de bolo, limpamos a cozinha e voltamos para o karaokê. Cantamos, gritamos e dançamos novamente, com a mesma animação. Conversamos sobre tudo e mostramos nossos talentos, que, no caso, eram talentos para quebrar janelas e copos.

Foi uma noite divertida e acho que acabei ganhando novas amigas.