Hora de Recomeçar! escrita por Nany Babalu


Capítulo 11
Descoberta de sentimentos




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Olhou a hora em seu relógio de pulso pela segunda vez em apenas 5 minutos. Se estivesse completamente no horário certo então faltava cerca de meia hora. Sentado em um pequeno banco ao lado da lanchonete da faculdade estava um impaciente e ansioso rapaz. Olhava para todos os lados a procura de alguém. A busca era incansável. De repente avistou a pessoa por quem procurava. Ikki esperava incansavelmente pelo irmão, pois precisava falar com ele sobre o que aconteceria dali a alguns minutos. Não que Fênix conversasse com Shun sobre mulheres, mas é que naquele exato momento sentia sim uma necessidade muito grande de contar todo o ocorrido para o irmão caçula, talvez por estar se sentindo tão ... estranho em relação a Ágata.
– Você demorou. O que estava fazendo? – Ikki perguntou a Shun em um tom de impaciência.
– Estava organizando algumas coisas que ficaram pendentes ... nada de importante. Estava me esperando?
– Sim, é que preciso contar uma coisa ... – Fênix logo corou a face.
– Verdade? E do que se trata? – Shun se acomodou em uma cadeira próxima ao irmão, com uma expressão de imensa curiosidade.
– É sobre a garota da qual lhe falei.
– Sobre a Ágata? O que você fez desta vez?
– Não fiz nada, quer dizer, nada de ruim, acredito.
– E então, vai dizer ou vai ficar enrolando? – Shun já estava perdendo um pouco a paciência.
– Eu a convidei para almoçar.
– Demorou todo esse tempo para me dizer isso? O que há de errado em convidá-la para almoçar?
– Você não acha estranho? Quer dizer, nem a conheço e já a convidei para sair comigo ...
– Não me parece nada anormal, até acho que você demorou demais. Olha Ikki, fala sério, vai. Eu sei que você se interessa por ela, mesmo sem conhecê-la.
– Por que você sempre tem tanta certeza do que diz?
– Porque é a realidade. Eu observo você meu irmão, todas as suas expressões e atitudes. Quando me contou sobre o ocorrido no corredor da faculdade, seus olhos estavam cheios de um brilho que raramente vi em você. Algo nessa garota chamou muito sua atenção, não foi? Ela tem alguma coisa que te atrai, não é?
– Eu levei muito tempo para assumir a mim mesmo de que ela realmente me atrai. E você simplesmente olha nos meus olhos e deduz sozinho o que estou sentindo ... Você me conhece mais do que eu mesmo, meu irmãozinho.
– Já te disse, eu observo. Sente-se inseguro?
– Não sei, acho que me sinto perdido. Tomei a decisão de convidá-la por impulso, não sei se fiz certo. É que não sei que interesse repentino foi esse que surgiu em mim. Eu nem ao menos sei explicar ...
– Então não tenta explicar nada, Ikki. Eu entendo você. Por que não deixa as coisas acontecerem? O tempo vai responder todas as suas perguntas. Talvez, conhecendo-a melhor, você acaba se apaixonando. Afinal de contas, já está na hora de alguém roubar seu coração.
– Ah Shun, não começa com essa história. Você sabe o que penso disso tudo. Está sempre querendo me arrumar uma namorada, mas sabe que ninguém ocupará o lugar que foi de Esmeralda. Não quero errar de novo, assim como ocorreu com Pandora.
– Ikki, sabe que detesto ter que dizer isso, mas eu preciso lembrá-lo que Esmeralda não está mais nesse mundo. É doloroso Niisan, mas é a realidade, você precisa voltar a viver novamente. Esmeralda morreu e eu lamento por isso, mas você está vivo e precisa encontrar seu próprio caminho, sua felicidade. Não coloque barreiras em seu coração, meu irmão.
Antes que Ikki pudesse responder, uma voz atrás dele fez com que seu coração batesse mais forte, indicando o nervosismo que sentiu repentinamente. Virando-se, encontrou o olhar calmo e pacífico que vinha de Ágata. Ela sorriu, cumprimentando os dois rapazes que conversavam distraídos, sem nem ao menos notar que o horário marcado já havia chegado.
– Oi Ikki, estou adiantada? – perguntou Ágata.
– Não. Claro que não, eu que não havia percebido que o tempo havia se passado – Ikki não conseguia disfarçar o nervosismo – Bom, este é Shun, meu irmão.
– Olá Shun, é um prazer conhecer você.
– Oi. É um prazer conhecer você também, Ágata. Meu irmão me contou que ele lhe causou um grande susto. Espero que já o tenha perdoado.
– Sim, está tudo bem agora. Ikki me pediu desculpas, aliás, ele fez isso várias vezes – disse Ágata corando ao olhar Ikki, que parecia meio sem jeito.
– Ah, claro, isso é algo muito típico do comportamento de meu Niisan. Mas garanto que se conhecê-lo melhor vai ver o quanto ele é especial – brincou Shun enquanto era fuzilado pelo olhar censurado do cavaleiro de Fênix.
– Eu não duvido disso, Shun. – Ágata entrara na brincadeira.
– Bom, a conversa está muito boa, mas preciso ir. Adorei ter conhecido você, Ágata. Espero que a gente se encontre outra vez. Vejo você mais tarde, Ikki.
– Até logo, Shun. – despediu-se a garota.
– Se cuida. Nos vemos a noite – Fênix dizia ao irmão.
– E então, aonde vamos almoçar Ikki?
– O convite foi meu, mas você escolhe o restaurante.
– Ah, não, isso não é uma boa idéia. É que sou nova na cidade e não conheço muitos lugares por aqui. Escolha você, confio no seu bom gosto.
– Bom, se você insisti ... vamos.
O cavaleiro de Fênix parecia encantado pela presença da garota. Não se lembrava de ter se sentido tão a vontade com a companhia de outra mulher. Mentalizou todos os nomes dos bons restaurantes que havia conhecido, todos por indicação de Shun, é claro. Gostaria de poder levar Ágata ao restaurante onde o irmão trabalhava como chefe de cozinha, pois teria a certeza que a garota ficaria satisfeita. Mas Shun estava de folga aquela tarde e Ikki precisaria escolher outro lugar. Decidiu então levá-la a um restaurante de comidas italianas, que era com certeza o seu favorito. Ao chegar no local escolheram uma mesa e logo fizeram o pedido. Iniciaram uma conversa agradável sobre seus estudos e empregos, mas foi de Ágata a iniciativa de mudar o rumo da conversa.
– Ikki, não quero que pense que estou incomodada com o assunto de nossa conversa, muito menos que estou entediada. Mas é que gostaria de conversar sobre outra coisa. Na verdade, quero pedir que me fale um pouco sobre você, sobre sua vida, sua família ... isto é, se você não se importa, é claro ... – Ágata parecia envergonhada pelo o que pedira, mas é que realmente queria saber mais sobre o rapaz a sua frente.
– Bom, é claro que não me importo. O assunto estava mesmo ficando cansativo – dizia Ikki sorrindo – o problema é que não acredito que falar sobre minha vida seja algo interessante ...
– Ah, não diga isso, só quero te conhecer melhor.
– Tudo bem, agora deixe-me ver por onde devo começar... – Ikki dizia enquanto lembrava das coisas pelas quais havia passado, obviamente teria que ter cuidado para não revelar seus segredos como cavaleiro – Bom, primeiro devo dizer que não tenho família. Eu e meu irmão somos órfãos.
– Eu ... eu sinto muito, Ikki. Perdoe-me por perguntar sobre sua família. Não precisa falar sobre isso, eu entendo que deve ser doloroso. – Ágata disse muito sem jeito.
– Não tem problema, não precisa se preocupar. Essa é uma dor que já superei. Meus pais morreram quando eu tinha 4 anos e meu irmão apenas 1. Como não havia nenhum lugar para onde pudéssemos ir, vaguei pela rua com meu irmão no colo, talvez esperando por um milagre. O milagre apareceu em forma de homem, que nos levou para o orfanato do qual tomava conta. Algum tempo depois recebi a notícia de que meu padrinho havia morrido e em seu testamento deixou para mim um pequeno apartamento no centro da cidade. Eu não sabia da existência de meu padrinho, achava que não possuía mais nenhum parente, a não ser o meu irmão. Lembro-me que fiquei triste por saber que ele existia e não se importou em cuidar de nós quando ficamos órfãos. Mas depois soube que ele estava em fase terminal de uma doença incurável, passou seus últimos anos no hospital, por isso não entrou em contato conosco.
– Nossa Ikki, tudo isso é muito triste. – Ágata estava surpresa por tudo o que estava ouvindo.
– Sim, é verdade. Quando completei dezoito anos consegui obter a guarda de meu irmão através de uma audiência no Juizado de Menores. Deixamos então o orfanato e nos mudamos para o apartamento que recebi de meu falecido padrinho. Tive que arrumar um bom emprego para suprir nossas necessidades básicas. Como meu irmão ainda era menor de idade preferi que ele ficasse só por conta de seus estudos. Quando Shun completou a maioridade ele pode enfim arrumar um emprego e graças a isso foi possível que nós dois entrássemos na faculdade.
– Bom, apesar de tudo fico feliz por vocês dois terem batalhado juntos por uma vida melhor.
– Antes de minha mão morrer, me lembro de ouvi-la dizer que tudo em nossas vidas daria certo se ficássemos sempre juntos. E foi o que aconteceu, Shun e eu nunca nos separamos. Ele é mais do que um irmão pra mim, é um amigo muito especial que está sempre disposto a me ajudar quando é preciso.
– Acredito que Deus foi generoso com você, pois apesar de ter levado seus pais, deixou seu irmão para lhe fazer companhia. Assim você nunca esteve sozinho.
– Na verdade, nós dois nunca estivemos sozinhos, porque no orfanato encontramos alguns garotos dos quais nos tornamos grandes amigos e até hoje vivemos como uma grande família. Aliás, quando surgir uma oportunidade, quero que você conheça todos eles, são pessoas maravilhosas.
Espero então que surja alguma oportunidade para conhecê-los. Mas Ikki, há algo do qual você ainda não falou ... – Ágata respirou fundo antes de dizer o que queria, pois precisou tomar coragem para a pergunta que ia fazer logo em seguida – Você não me contou nada a respeito de seus relacionamentos, quero dizer, você tem namorada, não é?
– Eu? – Ikki sentiu sua face corar – Não, não tenho mais namorada. Pra te falar a verdade, o dia em que esbarrei em você e estava tão nervoso era justamente por causa de minha ex-namorada. Eu não suportava mais estar com ela e naquele dia perdi completamente a paciência. Eu não sentia nada por ela, acho que por isso o nosso relacionamento não deu certo.
– E você nunca se apaixonou? Nunca viveu uma história de amor?
– Amor? Já, apenas uma única vez ... – Fênix entristecera os olhos e a expressão de seu rosto mudou, o que a garota não deixou de perceber. Ikki ainda permaneceu em silêncio por alguns instantes, imaginando se seria uma boa idéia contar a Ágata sobre Esmeralda – Bom, eu amei sim uma mulher, mais do que a mim mesmo.
– E o que aconteceu?
– Ela morreu em meus braços ... Foi morta pela fúria descontrolada de seu pai. Passei por momentos muito difíceis em minha vida, mas não houve tragédia maior do que ver a mulher que eu amava morrendo na minha frente, sem que eu pudesse fazer nada para impedir, já que fomos pegos de surpresa. Isso já faz cinco anos, o nome dela era Esmeralda.
– Ikki, eu ... eu sinto ... eu sinto muito ... – Ágata não tinha palavras para expressar o que estava sentindo, uma sensação imensa de tristeza invadiu seu coração e ela rapidamente perdeu o brilho nos olhos que tanto atraia Ikki.
– Não Ágata, por favor, não fique triste. Não gosto de contar sobre minha vida para as pessoas porque não quero que sintam pena de mim, ou que fiquem tristes por minha causa.
– Só o que posso fazer é pedir desculpas por ter perguntado sobre sua vida. Me perdoe, pois eu deveria ter ficado calada – dizia a garota já se arrependendo de ter começado aquele assunto.
– Não precisa me pedir desculpas. Se falei de minha vida pra você, de minhas tristezas, foi porque não queria esconder nada de você. Não queria que meu passado parecesse inexistente pra você, pois achei que merecia saber tudo sobre mim.
Depois das revelações de Ikki, Ágata perdeu o sorriso no rosto e passou o restante do encontro quase calada. Quando Fênix pediu que ela falasse sobre sua vida, ela apenas respondeu que não havia nada de interessante, nada que valesse a pena ser dito. Depois das insistências de Ikki, a garota apenas disse que havia se transferido de cidade por causa do emprego de seus pais e que agora ela estava sozinha porque eles haviam se mudado temporariamente para outro país a trabalho. Quando terminaram o almoço, Ikki se ofereceu para levar Ágata até o local onde ela trabalhava.
– Aqui estamos. E você está sã e salva, como prometi. Além disso, você não chegou atrasada no trabalho como temia ... – Ikki brincava com a garota tentando animá-la.
– Eu quero agradecer pelo almoço, o restaurante é ótimo e a comida estava magnífica.
– Acredite, tudo ficou bem melhor com a sua companhia – Fênix arriscou a dizer, fazendo Ágata corar um pouco.
– Também quero pedir perdão se incomodei você com minhas perguntas. Sinto muito se te causei alguma dor te fazendo lembrar do seu passado.
– Já disse que não há o que perdoar. Por favor, Ágata, eu te imploro que não fique triste por mim. Como você disse, tudo agora é passado. Eu estou pronto para viver meu presente e esquecer de tudo o que me fez sofrer.
– Eu desejo que você seja muito feliz Ikki, pois você merece. – Ágata tocou carinhosamente a face do cavaleiro e depois beijou docemente o seu rosto, como forma de despedida. – Eu te vejo amanha na faculdade.
– Até logo, Ágata.
Enquanto a garota se afastava, Ikki a observava. Tocava o rosto aonde Ágata havia beijado. Um sorriso se formou em seus lábios e ele logo percebeu o quão tinha significado aquele beijo. Fênix se sentia feliz como a muito não se sentia. O fato de Ágata não sair de seus pensamentos indicava que o cavaleiro realmente sentia algo pela garota, apesar de não saber ao certo o que era. Pensava se Shun tinha razão, se realmente aquele era o início de uma paixão. Apesar de seus sentimentos estarem se despertando, Ikki sabia que seria muito difícil tirar de seu coração e de sua cabeça a imagem tão viva de Esmeralda, pois sabia que para ser feliz com outra mulher, precisaria esquecê-la por completo, e isso parecia algo impossível.
Ao chegar em seu apartamento a noite, Ikki encontrou Shun assistindo televisão e se sentou perto do irmão a fim de contar-lhe tudo o que havia ocorrido.
– Não acredito que contou a Ágata sobre Esmeralda. – Shun parecia indignado.
– E por que não? – Ikki não entendia o questionamento do irmão.
– Ora, Niisan. Não tem medo de que isso afaste ela de você? O que quero dizer é que talvez Ágata pense que você não está disposto a se apaixonar de novo. E se ela achar que você jamais poderá esquecer Esmeralda?
– Eu achei que Ágata merecia saber tudo sobre o meu passando, meu irmão. Além disso, não quero enganá-la. Esconder dela a existência de Esmeralda poderia ser algo trágico.
– Fala como se não estivesse preparado para esquecer a Esmeralda.
– E acho que não estou. Não sozinho. Mas talvez Ágata possa me ajudar a esquecê-la. E se ela puder me amar, mesmo sabendo do meu passado, então ela é a garota certa pra mim. – Ikki dizia enquanto se dirigia ao quarto a fim de tomar um longo banho.
– Cuidado para não magoar essa garota, Ikki. – Shun ainda gritou antes que o irmão fechasse a porta.
Ao deitar em sua cama, exausta pelo dia tão atarefado que enfrentou, Ágata só desejava um banho quente e uma boa noite de sono. Pensara em Ikki todo o dia, sentia uma tristeza muito grande por saber de todo o sofrimento que o rapaz havia enfrentado. Mas talvez o que mais a deixara triste foi saber da existência de Esmeralda. Ágata sentiu que, apesar da morte da garota, Ikki ainda a amava, e isso seria uma barreira entre eles.

Diferentemente de Ikki, Ágata já havia assumido a si mesma de que realmente gostava do rapaz, de um jeito bem especial. Gostaria de conquistar o coração do cavaleiro e provavelmente não desistiria disso. Sentia que Ikki também se interessava por ela e então decidiu que somente iria deixar de ter esperança quando Fênix dissesse a Ágata de que não seria possível esquecer Esmeralda. "Eu o ajudarei a esquecer seu passado, Ikki ... e vou me dedicar ao máximo a fazer você feliz." Ágata pensava enquanto enchia a banheira do quarto para um banho confortante.
Ao chegar em casa, Hyoga encontrou uma bela mesa de jantar, enfeitada com rosas e velas. O delicioso cheiro que vinha da cozinha prometia uma refeição deliciosa. Shunrei e Eire chegariam em uma hora. Cisne havia pensado neste jantar o dia inteiro. A imagem bela de Eire não saia de sua cabeça e o clima romântico criado por Shiryu talvez servisse para aumentar o encanto daquela noite. Começou a pensar que, provavelmente, o amigo havia preparado o jantar especialmente para aproximar ele de Eire, pois sabia que Shiryu desejava muito a sua felicidade. Lembrou que prometera ao amigo que não fugiria do amor se esse viesse a bater na porta de seu coração. Sorriu ao imaginar Eire em seus braços e se sentiu intimamente feliz por acreditar que isso pudesse acontecer. A voz de Shiryu acordou Hyoga de seus devaneios. Dragão lembrou Cisne de que as garotas logo chegariam e que ele deveria se arrumar. A partir daquele instante, Hyoga passou a contar cada minuto que o separava de Eire, sentia-se ansioso por ouvir a doce voz da garota e olhar seus belos olhos que tanto lhe transmitiam paz. O que o cavaleiro não sabia era que aquela noite seria muito mais do que especial.


(continua...)


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