Os dois entram na casa, o cheiro de mofo preenche as cavidades nasais de ambos, um olha pra cara do outro e coçam o nariz. Ele sinaliza que vai pela esquerda e ela faz o caminho contrário, batendo com a faca nas paredes, nada vem até eles, então eles sobem as escadas e também não encontram nada, apenas três quartos, um de casal, um de menino com uma beliche enferrujada e outro de uma menina, provavelmente uma adolescente deslumbrada ou ninfomaníaca, a mulher para e vê uma colagem um tanto estranha na parte de trás da porta. Ela ri.

– Olha isso, Drake.

Drake caminha até onde Marie está, e encara aquela colagem. Muitos homens nus ou seminus em poses sensuais, algumas mulheres e fotos de casais em posições estranhas do kama sutra, Drake ri e arranca a colagem fora.

– Melhor tirar, o Carl não tem idade pra isso, eu acho.

Os dois descem as escadas e abrem as portas para o grupo, Glenn e Maggie entram primeiro com Hershel e Beth logo atrás, depois Lori com T-Dog, depois Ana e por último Daryl e Rick que estavam visivelmente cansados e preocupados.

– Vai dar pra passar a noite né? - pergunta Ana

– Talvez - Rick a responde indo para a cozinha e abrindo os armários, ele encontra duas garrafas d’água na geladeira e muito mofo no meio dos potes com comida podre dentro, queijo podre e até larvas lá, mas a água estava lacrada, ele dá um a Lori e Carl, que bebem um pouco e passam a diante.

Ana bebe um pouco e volta a garrafa para Lori. Drake abre a torneira da pia, a água sai com força quando ar começa a passar pelo cano, ele enche as garrafinhas e depois um pote, talvez um litro e meio de água e ai acaba o que tinha na tubulação. Marie acende o fogão e sorri quando um chama forte se faz, ela olha o grupo que sorri também.

– Só por hoje vamos jantar - ela diz

***************

Só é possível ouvir o barulho dos talheres batendo nos pratos enquanto o grupo janta feijão enlatado e arroz, mesmo naquela decadência de vida, o talento para culinária da Marie é nato. Daryl se saboreia em arroz, come igual a um animal, ele está apreensivo, isso não vai durar muito, logo terão que correr pra longe dali, um bando vai chegar e acabar com tudo.

Rick está no andar de cima da casa, fazendo a vigia sentado numa janela, seu prato que Lori fez está intacto, o rifle sniper na mão e o dedo no gatilho, pronto pra qualquer coisa.

Faz quatro meses desde que a fazenda foi a merda. Quatro meses que Andrea está desaparecida ou morta, Patricia morta, Jimmy morto, Shane, Dale, Otis, Sophia… Faz quatro meses que o grupo está ziguezagueando pela região, como nômades eles não tem um lugar fixo e isso irrita cada vez mais o ditador do grupo. Todos buscam auxilio com ele, e ele não sabe o que fazer, a barriga da Lori está começando a aparecer, e ela está fraca e magra, seus ossos são visíveis por baixo da pele e ela está cansada. Não pode ficar correndo, o que será dela depois do bebê? Ou com o bebê depois de nascer? O que será do grupo?

Carol oferece mais arroz para o grupo e Daryl estica o prato, ela sorri servindo ele e Marie se irrita. Faz quatro meses que eles estão na estrada e do nada, Dary e Carol se aproximaram muito. E Marie e Daryl se afastaram, ela se afastou dele por medo. Medo de se apegar e se ferrar, ou medo de estarem tão próximos e ficarem vulneráveis, como quase aconteceu… Estavam no meio da floresta, o clima estava esquentando, ambos estavam sem camisa, foi quando Daryl a jogou contra uma árvore e se posicionou atrás dela que eles viram um novo bando se aproximando. Mal se vestiram e correram para avisar o grupo. Depois disso, nem se beijaram mais. Isso faz dois meses.

Ele se afastou por medo de pôr a vida dela em risco por causa de um desejo sexual masculino estúpido e conversar faz ele esquecer disso, seja lá com quem for, no caso, a Carol. Ela não se importa com o que aconteceu com ele, só o que está acontecendo no momento, e no momento ele está com fome…

Beth e Carl se aproximaram no terceiro dia na rua, quando ele a ajudou com sua arma que falhou enquanto matavam alguns errantes, desde então são amigos. E Beth esconde uma leve paixonite adolescente por Drake, desde quando eles foram buscar água e ele cantou para ela uma música que ela conhecia e depois ainda matou um errante criança de forma sutil para não deixa-la mal. Ninguém sabe de nada, isso faz um mês.

E ainda tem Lori, ela tem medo de tudo. De comer demais ou de menos, dormir demais ou de menos, de correr demais e principalmente de correr de menos. Ela tem medo todos os momentos, e seu medo só vai aumentando quando ela percebe que a cada dia está se aproximando do nono mês e estão na estrada, como ela vai ter um bebê na rua? Cada choro dele será um sentença de morte, e ele sempre vai estar com fome. E como ele vai crescer? Ela ainda reza para ele não nascer com nenhum problema físico ou mental.

Na divisão dos quartos, Lori e Carl ficam no quarto de casal, Maggie, Beth e Glenn no quarto com a beliche, Hershel no quarto da garota ninfomaníaca, T-Dog, Carol, Ana, Drake, Marie e Daryl ficam na sala. Ana, Marie e Carol ficam no sofá cama, Daryl na poltrona e T-Dog e Drake ocupam os outros dois sofás.

Rick não saiu da janela do andar de cima. Marie demora pra dormir e fica olhando Daryl. E ele, encarando ela. Ela daria tudo por um lugar tranquilo onde pudessem ficar juntos, faria qualquer coisa para não ficar com medo de que ele morra toda vez que sai da vista dela.

E ele… Ele faria qualquer coisa, qualquer coisa, para ter um dia considerado “normal” com ela.

Marie finalmente adormece, mas isso acontece quando o dia já está amanhecendo, Daryl acaba cochilando, mas Rick logo desce e toca seu ombro, Daryl se ajeita e prepara a besta para sair, Rick acorda Ana e Drake.

– Venham comigo fazer a ronda - ele sussurra - Carl está de vigia.

Ana leva alguns segundos para acordar, faz algum tempo que eles não dormem de verdade e aquilo foi bom, ela está com a lateral do rosto marcada pelo sofá e o cabelo está amassado.

Os três saem e começam a andar por toda extensão da rua, Daryl entra na floresta com Drake para procurar rastros e não vê nada, exceto um, que acabou ficando presto numa árvore com um galho forte atravessado em sua barriga, Drake bufa entediado e enfia a faca na cabeça do morto. Os braços esticados caem automaticamente.

– Acho que podemos ficar aqui, Rick - diz Ana tentando ver o rosto dele, três passos a frente - Por um tempo… O que acha?

– Acho que você está falando alto.

– Desculpa - ela baixa o tom - E agora?

Rick olha pra trás e sorri - Agora tá bom… Acho que temos que ter certeza de que estamos seguros antes de tirar as malas dos carros.

– Eu tô cansada.

– Eu sei. Eu também estou.

– Então nós vamos ficar?

Rick a olha e suspira, os olhos dela estão brilhando esperando a resposta, sim ele quer ficar.

– Que tal se a gente tentar--

GRRR

Os dois olham para o lado, e até os ombros caem com a desanimação.

– Vamos embora - ele diz já empurrando ela pra trás, os dois começam a correr de volta pra casa para a visar os outros e irem embora de uma vez, eles encontram Daryl e Drake no caminho - Temos que ir.

Os quatro entram na casa e todos já estão ali embaixo - Vamos!

Eles se levantam rapidamente, Rick espera todos saírem e então ele sai. O bando já está na rua em que eles estão e apressam o passo quando vêem a grande movimentação de carne fresca, mas nem dá tempo, eles saem às pressas dali.

***************

A porta dupla se abre com um chute de Rick, o errante que estava em “standby” é morto por um tiro silencioso, ele entra na casa rápido, vasculhando tudo, Carl, Ana e Daryl logo atrás, Ana sobe correndo e Daryl vai junto, ele abre a porta de um quarto e ela de outro e para olhando um coruja bonita com as asas levemente abertas em sinal de alerta.

– Daryl - ela sussurra, ele se vira e mira por cima da cabeça dela.

A flecha dispara e prende a coruja pelo pescoço na parede.

Carl entra na cozinha e o errante magricela que estava ali se vira para ele, ele mira e espera dois segundos antes de atirar silenciosamente, a mulher cai e ele vai pra cima dos armários.

Rick sinaliza que o grupo pode entrar e eles correm pra dentro, Maggie e Marie ficam por último para fechar a porta.

Eles se sentam na sala, Daryl depena sua coruja, Carl chega com algumas latas na mãos e se senta ao lado da mãe e da Beth. Drake vê de longe o que é e diz a si mesmo que se recusa a comer aquilo.

Rick se aproxima e pega uma das latas, lê o rótulo e joga aquela lata de mistura para cachorro do outro lado da sala assustando Daryl.

Marie olha pela janela e vê um errante aparecendo por detrás das folhagens. E depois outro.

– Merda… pss… - ela já está de pé com o facão na mão.

Ana ajuda Lori com sua barriga de nove meses levantar e então eles vão pra fora, Ana põe Lori do jipe, e se senta no banco do motorista, Drake e Marie correm para os bancos de trás e eles vão embora, de novo.

O grupo para na beira da estrada pra comer a coruja que Daryl arranjou.

– Pra onde vamos agora? - pergunta T-Dog.

– Daremos um jeito - Rick pega o mapa de dentro do carro e abre no capo.

– Quando esse bando se juntar com esse - Maggie diz - Ficaremos bloqueados - ela aponta duas marcas no mapa, feitas com uma caneta grossa preta, que indicam dois dos vários bandos que passaram. Nunca chegaremos ao sul.

– O que você acha? - pergunta Daryl - Tinha um cento e cinquenta naquele lá...

– Isso semana passada - fala Marie - Pode ser o dobro agora.

– Pessoal, a única coisa a fazer é ir pela 27 e voltar para Greenville - aponta Rick, uma das únicas estradas sem pontos pretos de caneta.

– Fazer o que, né? - T-Dog diz desanimado - Passamos o inverno todo vasculhando a área, não tem nada lá.

– Eu sei, eu sei. Vamos depois pra oeste, não fomos ainda. Não podemos continuar de casa em casa - ele olha para o jipe lá atrás, onde Lori repousa olhando a floresta - Precisamos de um lugar pra ficar.

– Beleza, tudo bem se a gente procurar água? Estamos sem.

– Tudo bem.

O grupo se dispersa.

– Aí… Enquanto eles lavam as calcinhas a gente caça - Daryl fala, enquanto carrega a besta com uma flecha - Aquela coruja não deu nem pro cheiro.

Rick olha para Ana e arqueia as sobrancelhas, esse tem sido o sinal dele pra ela de “Toma conta pra mim”, ela balança a cabeça.

Eles vão pelos trilhos, passando ao lado de um rio e uma grande construção que as árvores ainda não deixam identificar o que é. Mas quando a folhagem acaba, eles podem ver que é uma prisão.

No ponto de vista do Dixon, só um lugar cheios daqueles bichos andando pra lá e pra cá.

No ponto de vista do Grimes, uma fortaleza de pedra. Muros, grades, espaço, proteção… E aquilo será dele.

– Uma pena - diz Daryl

– Ou não.

Daryl olha Rick se perguntando se o que ele acha que o Rick está pensando, é realmente o que o Rick está pensando.

***************

– Ah… Isso é loucura!

Rick quebra a grade com um alicate e olha Ana - Vai me agradecer…

Ela entra logo atrás dele. Eles estão entre duas grades, uma dá para o lado de dentro da prisão e a outra para a floresta, as duas juntas fazem uma área segura, que circula toda a prisão e dá entrada nas torres de vigia em cada ponta dela.

Eles correm pelas grades até o portão de entrada, tem um ônibus tombado ali.

– É perfeito - diz Rick, ele olha para o alto do gramado, para a outra torre, ao lado tem um portão entreaberto - Se pudermos fechar o portão, já teremos um grande espaço. Tomamos o campo até o anoitecer.

– E quem vai fechar? - pergunta Hershel.

– Eu fecho - diz Glenn - Vocês me cobrem.

– Glenn, é quase suicídio - diz Marie.

– Eu sou o mais rápido.

– Ah, não é - ela diz.

– Mas você não vai, Marie - diz Drake.

– Eu vou - fala Rick - Glenn, Maggie e Beth atraiam o máximo “praquele” canto. Matem pela cerca. Daryl, você na outra torre, Carol, você já tá atirando bem, mas vá devagar. Marie fique nessa torre com o Carl.

Marie e Carl vão para a torre, tem uma grande escada em aspiral e uma porta no teto, eles sobem correndo e Marie abre a porta acima da sua cabeça devagar, só esperando que alguma coisa enfie a cabeça ali, mas não tem nada, ela abre por completo e sobe mais dois degraus, seu corpo já está pela metade dentro da torre, o chão é de ferro, tem um banco ali e um porta, ela se impulsiona pra cima e se senta quando consegue entrar. Carl sobe os dois degraus e Marie o ajuda a subir. Eles fecham a porta no chão e vão para o lado de fora.

– A visão seria legal se não tivesse uns mortos muito loucos por ai - ela diz para ele e puxa a espingarda pra frente.

Daryl e Carol saem para a sacada da torre oposta e também olham em volta. T-Dog, Glenn e Drake matam alguns pela grade com as facas, Ana, Beth e Maggie estão mais afastadas e fazem o mesmo.

Lori abre o portão e Rick entra, contorna o ônibus e vai, ele começa a correr atirando nos que se aproximam mais.

Daryl dispara uma flecha em um antes de pegar a arma, Marie atira precisamente em outros que tentam correr para Rick, Carl atira sem ordem, mas acerta. Ao contrário da Carol, que perde o controle da arma e o tiro passa raspando do pé do Rick.

Puta merda. Rick e Marie pensam juntos, ambos lançando a ela um olhar um pouco irritado.

– Foi mal!

– Carl, o portão - fala Marie e então muda a direção da arma, ela atira em dois que já estavam passando por ele, um deles quase cai pra frente, mas Rick o chuta pra trás, Carl atira em alguns que estão do outro lado. E Rick fecha o portão, prendendo com uma haste de mola.

Carl volta a atirar nos que se aproximam do pai e Rick entra na torre, matando dois que estavam ali. Os tiros param e eles esperam alguns segundos até Rick aparecer lá em cima.

– Aí, ele entrou - diz Marie.

– Mandem bala! - Daryl grita

Todos sacam suas armas e começam a atirar, é extremamente divertido para a Ana, atirar sem estar correndo perigo.

Rick recarrega o rifle sniper e olha seu grupo matando todos do gramado. Limpando aquilo que será deles. Ele vê Ana que sorri e dá pulinhos involuntários a cada tiro e não pode deixar de rir.

– Isso é… Foda demais! - Ana corre para dentro da prisão, olhar aquele tanto de espaço, ela se vira para Daryl - Olha isso!

Ele dá um sorriso para ela, nunca tinha visto ela realmente animada com alguma coisa. Ela está bem empolgada e acaba tropeçando em um dos errantes que levanta a cabeça com sangue escorrendo da lateral da testa, um tiro de raspão derrubou ele, Glenn corre e enfia um ferro em sua cabeça.

T-Dog ergue os braços - Uhuul!

Rick sai da torre e toca o ombro de quem passa por ele, Ana segura a mão dele e sorri.

– Obrigada.

Ele concorda com a cabeça e vai pra perto da Lori.

***************

Depois de um dia quente, quando a noite chega, a temperatura cai e eles fazem uma fogueira, não só para assar as quatro codornas deles, mas para se aquecer. Drake está deitado com a cabeça no colo da Ana e ela mexe em seu cabelo. Beth vê a cena e deseja que fosse ela no lugar da morena. Ela come em silêncio vendo os dois conversarem. Marie está ao lado dos amigos e da Lori, que se sentá meio deitada por causa da barriga de nove meses.

Rick está rodando as cercas da prisão, procurando alguma falha que impeça a passagem deles lá dentro.

– É a terceira ronda dele - diz Ana - Se tivesse alguma coisa ele já teria visto.

– Ele deve estar pensando, ou comemorando, sei lá - diz Drake, pegando um pouco de sardinha do seu pote que está em seu peito.

Ana olha em volta e diz baixinho para Marie - É bom momento pra falar com ele, não é?

– Porque? - Marie olha lá pra frente, onde Daryl está, em cima de um ônibus, ele está puxando Carol pra cima - Afinal… Já tem alguém lá com ele.

Drake olha lá para o ônibus e bufa - Nada a ver… Você é paranóica, Marie. Vamos nos concentrar em… Viver essa noite. Vai ser muito bom dormir com esse barulho de… chuva – ele diz em tom irônico.

Beth dá uma risada, ele a olha e dá uma piscada, sem saber o efeito que isso causa nela. Ela quase suspira. Drake se senta e deixa o prato a sua frente.

– Amanhã a gente vai juntar os corpos e manter longe da água - diz T-Dog - Se der pra cavar um canal por baixo da cerca, vamos ter muita água fresca.

– E esse solo é bom, podemos plantar umas sementes. Cultivar tomates, pepinos, grãos de soja... - diz Hershel

– É um bom lugar pra ter o bebê - Beth fala para Lori sorrindo - É seguro…

– AH, AI JÁ É DEMAIS!

Todos olham para Marie, ela baixa a cabeça - Desculpa… Não tem nada a ver com o assunto daqui… Eu tô pensando sozinha… Esqueçam… Desculpa, mesmo.

Daryl fazenda massagem na Carol?! Com ela, ele pode demonstrar afeto a qualquer momento?! Mas agora com a Marie… Não! Não se aproxime mais de um metro, porque ele rosna! Filho de uma puta! Ela esgana os dois por pensamento e sente que sua temperatura está subindo.

Mal sabe ela que Carol e Daryl não tem nada, nunca tiveram e do jeito que se tratam, nunca vão ter… Seria tão estranho quanto Drake e Ana juntos… Mas cabeça de mulher cria muitas coisas com base em uma única cena.

– Aí, Beth - chama Drake - Porque não canta? Hoje não tem perigo.

– Não… - ela diz com vergonha, e não sabe se é do grupo ou dele unicamente - Ninguém quer ouvir.

– Cante… Cante Parting Glass– ele sorri

O sorriso dele é tão lindo.

– Tá bom… - ela fica olhando ele e então começa:

Oh all the money that e'er I had

I spent it in good company

And all the harm that e'er I've done

Alas, it was to none but me

And all I've done for want of wit

To memory now I can't recall

So fill to me the parting glass

Good night and joy be with you all

Rick se aproxima do grupo para ouvir a música, Carol e Daryl também, e Beth se sente mais envergonhada. Ela olha a irmã. Por um instante Maggie não entende, mas então elas cantam juntas:

Oh all the comrades that e'er I've had

Are sorry for my going away

And all the sweethearts that e'er I've had

But since it falls unto my lot

That I should rise and you should not

I'll gently rise and I'll softly call

Good night and joy be with you all

Good night and joy be with you all

– Lindo - diz Hershel

– É melhor a gente dormir - Rick diz - Vou fazer guarda, amanhã temos um grande dia.

– Como assim? - Marie pergunta

– Eu sei que tá todo mundo cansado, foi um grande vitória - ele olha o gramado todo - Mas temos que forçar só mais um pouco. Olha… a maioria dos errantes estão vestidos como guardas e prisioneiros, parece que esse lugar sucumbiu bem cedo. Pode significar que os suprimentos estão intactos. Pode ter um enfermaria - ele olha de relance para a barriga da esposa - Uma cantina, sala de armas, fica fora da prisão, mas não deve estar muito longe. Pessoal, a sala do diretor tem informações do local. Comida, remédios, esse lugar pode ser uma mina de ouro.

– Estamos com pouca munição - Drake diz - Até as nossas estão acabando - ele se refere às que Marie e July coletaram, há talvez um ano - Vão acabar antes de limparmos metade disso tudo.

– Por isso vamos entrar… Mano a mano - ele se levanta e deixa o grupo pensando sobre o que disse, Lori vai atrás dele.

Drake se vira para as amigas - Vai foder, eu não quero vocês lá.

– Como assim? Podemos ajudar - Ana fala

– Caralho, Ana, não! Uma vez, uma vez! Não. Seja. Teimosa.

Ela faz bico, muito revoltada. Ao contrário da Beth que acha fofo o jeito dele.

Marie fica quieta, mas Drake não esqueceu dela.

– Você também não vai.

– OH!

– Não vai.

– Me obrigue.

– Vou te amarrar!

– Afe, Drake. Depois de tudo, acha que não conseguimos?

– Eu sei que conseguem, mas são muitos.

– Tô nem ai.

– AH! Que menina teimosa! - ele olha Daryl que observa tudo quieto - Pode isso?!

Daryl está com a cabeça apoiada na besta, sentado no chão, ao lado da Beth e ergue os ombros.

– Não vejo necessidade pra vocês irem.

Marie semicerra os olhos - Tá preocupado com a gente agora? - ela fica em pé - Cínico - e vai embora

O grupo sabe porque ela tá assim, e T-Dog não se controla, acaba rindo alto.

Daryl larga a besta e se levanta, seus joelhos estalam - Que porra, cara! - ele olha Drake - A melhor coisa a fazer na presença de uma mulher, é ficar quieto.

Drake ri - Vou anotar.

Daryl caminha atrás da Marie, essa putaria já durou muito tempo, até quando ela vai ficar sem falar direito com ele?

– Ei!

Ela se vira para ele rapidamente e começa a andar mais rápido.

– Vai tentar fugir? Vai pular as grades? Agora você tá presa… Ah… Literalmente! E eu não vou correr atrás de você então PARA AI, MARIE!

Ela congela e se vira, ele apressa o passo e para na frente dela.

– O que você tem?

– O que você tem? - ela devolve - Cara, a gente tava super bem e de repente… Acabou - ela olha pra baixo.

– O que acabou? Olha pra mim - ela ergue o rosto de novo - A gente não tinha nada pra ter acabado, mas eu também não sei o que aconteceu. Por que em um dia eu tava dormindo no seu ombro, no outro, a gente tava correndo, e dai a gente tentou transar e… - ele ri de leve - Foi mal… Agora eu dou risada, na hora achei que a gente ia morrer.

– Eu também.

– Eu tenho certeza que um dos motivos de eu ter me afastado de você, foi porque eu não queria que aquilo acontecesse de novo.

– Ah… O que tá acontecendo, Daryl? Você tá próximo da Carol e…

– Carol?! HÁ! Capaz - ele inclina a cabeça - Você não tá achando que eu e a Carol… Putz, sério?

– Eu não achei nada.

– Mentira.

– A gente pode recomeçar?

– Eu ia adorar - ele estica a mão - Daryl Dixon.

Ela aperta - Marie…

– … Fresca…

– Cala a boca… D’Jacques Bathelemy. Muito legal te conhecer, Daryl.

– Bom te conhecer também - ele solta a mão dela - E então, Marie… Quer apreciar a vista comigo?

Ele se senta e fica olhando os poucos mortos se jogarem contra as grades em vão. Ela se deita ao lado dele.

– Prefiro olhar o céu…

Ele deita do lado dela.

– Olha, Daryl, estrelas, amanhã vai fazer sol. Acredita nisso? Estamos olhando o céu, sem medo de ser atacado por trás e sem armas… Você até largou a besta.

Eles se olham.

– Por algumas pessoas… Vale a pena largar a besta.

Ela sorri e volta a olhar as estrelas com o som da “chuva” como trilha sonora.