O Caminho do Guerreiro escrita por Matheus Carvalho


Capítulo 1
Pergaminho I


Notas iniciais do capítulo

Bem, esta é um Fiction já publicada por mim, porém em outra conta, onde creio não ter tantos leitores quanto essa, portanto passarei para esta conta e se for do agrado de vocês continuarei ela.



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Capítulo I

“O Caráter de um Samurai faz o seu destino”

“... Eis que dizem que o mundo foi feito por uma espada, como também dizem que antes de tudo quando o mundo não passava de um oceano sem fim os deuses do alto de seu pedestal mergulharam uma lâmina lendária no oceano e ao retirarem-na diversas gotas perfeitas retornaram ao mar. E uma delas deu origem a Konoha. Mas eu vos digo que Konoha foi criada por uma gama de honrosos e corajosos guerreiros e heróis, cuja suas glórias não estavam em centros, armaduras ou coroas, e sim em vossos corações, dispostos a dar a vida por algo que aos poucos vem se tornando esquecido; a Honra... ” – Em cima de um pequeno palanque de madeira, Iruka-sensei recitava o verso. Caminhando vagamente com o livro na mão de um lado a outro sempre mantendo o peito estufado e os olhos aguçados como sinal de tamanho gosto por exaltar tais palavras.

Suas vestes tal como sua feição representavam perfeitamente tamanha seriedade que ele encarava os fatos. Vestido cinza folgado e longo que caiam até suas meias cor branca, sandália de madeira em conjunto a jaqueta alva como neve e por baixo uma blusa da mesma cor, que ostentava orgulhosamente o símbolo de sua família. No fim, tudo oque era preciso para compor um Kimono. Na sua cintura seu símbolo Samurai, o daishô, que era composto por duas espadas uma se chamava wakizashi, ela era curta cinquenta centímetros toda a lâmina. E a grande, Katanacuja apenas a lâmina media setenta centímetros. Ambas em suas respectivas bainhas bordadas por um artesão.

Assim que nos tornamos samurais, ganhamos o direito e, o dever, de carregar um par de espadas para manter a ordem na Vila. E até lá, eram permitido a nós apenas espadas de madeira.

De fato, eu realmente não sabia se reclamava ou louvava, embora muitos sonhem com tal dia...

Ressoava sobre aquela sala apenas o som de suas sandálias de madeira, afinal, algo além nem poderia...

E Como um raio que cortava os céus, fez-se assim o barulho do livro ao se encontrar no quadro negro... “Seus pivetes, acham em algum momento de suas curtas e míseras vidas, que podem se tornar samurais sem amenos ter o conhecimento básico da literatura?!” – Voz ensurdecedora que retumbou ao longo da sala, despertando e assustando todos os infortúnios alunos que sonolentos; cochilavam.

Inclusive eu, que viajando nos meus pensamentos e mundo onírico tamborilava a mesa de madeira rústica com a ponta dos dedos.

Não entendam errado, Iruka-sensei não é mau, ríspido ou rabugento, mas assim como todos os adultos sua paixão pelos bons e velhos costumes apenas eram demasia. Não aguentaria ver alguém menosprezando estimados ensinamentos, mesmo que tivessem apenas doze anos.

Sua feição enraivecida e as sobrancelhas arqueadas davam um único sinal – horas e mais horas de bronca. – Assim como um livro tão fácil lê-lo é. E como o alívio dos oprimidos – Nossos ouvidos– os sinais foram tangidos, alertando a todos o término da aula.

“Tche! Salvos pelo gongo, amanhã nos veremos pirralhos. E não se esqueçam de que é o grande dia, será realizado o teste físico e teórico.” – Intimidou-nos fechando os olhos, o livro e a face.

Não demorou muito, ou melhor, nada para que os dispersos de seus pensamentos começassem a esvaziar sala.

A sala era grande e espaçosa, com praticamente duas colunas que obtinham suas mesas e cadeiras alinhadas e enfileiradas perfeitamente se transformando em uma, e no meio das duas, uma escada de madeira que as separavam degrau a degrau dando ligação a outras fileiras localizadas acima ou embaixo.

Quadros de honrosos e dignos Samurais em suas armaduras espalhados pela sala junto a sabias escritas. Tudo composto por madeira rústica cor marfim, polida e encerada. E atrás do Sensei um gigante quadro negro cheio de versos e provérbios.

Enfim, mas uma vez travando as divagações, observei a saída de alguns alunos. Para eu sair da sala agora seria - na melhor– um ato suicida bem mais doloroso e degradante que o próprio Seppuku. Uma vez que a ultima fileira rapidamente se erguiam para ir embora e se transformavam prontamente em predadores em busca do almoço; A liberdade...

Barulhos para lá, estardalhaços para cá “Ei, Shikamaru... Que acha de irmos para a churrascaria?” – Pude escutar atrás da minha fileira, de forma pidona, Chouji perguntar.

“Humm? Onze horas, nem direito respiramos e você quer ir para churrascaria?” – Provavelmente revirando os olhos contestou. “Nem pensar. Não tenho dinheiro como da ultima vez que me deu prejuízo, além do mais, não penso em nada a não ser dormir.” – Se levantando e começando a caminhar, sabiamente recusou.

“Ahhh.” – Choramingou enquanto o seguia. “Mas você era um dos que mais dormia, seus pais ficariam bravos...” – Insinuou com um sorriso travesso.

“Chantagem é?” – Reclamou enquanto ajeitava sua espada de madeira na cintura, e se distanciava, andando lenta e preguiçosamente.

“Pronto, os lobos e bárbaros se foram, agora os cordeiros podem ir.” – Disse uma voz meiga e dócil, porém esnobe. Dita como uma das crianças mais belas de toda Konoha, enquanto descia lentamente. Sakura Haruno, ou Haruno Sakura? Bem isso não me importa. Sua beleza certamente lhe subiu a cabeça faz tempo.

Mas era de fato, impossível não olhar para ela. Chamativa como uma árvore de Sakuras no meio do deserto.Kimono branco com pétalas de Sakura desenhadas a mão ao longo de todo o vestido, Uma fita tão rósea quanto seu longo cabelo situada na cintura para dar suporte ao Kimono, meias tão brancas como algodão e sandálias de madeira. Traços suaves e gentis junto com um par de esmeraldas. Não pertencia a uma das famílias mais ricas ou nobres de Konoha, mas certamente era invejada.

“Se pelo menos o Sasuke-Kun não tivesse faltado hoje. Ele me protegeria” – Sussurrou uma loira para si mesmo, que de sussurro não teve nada. Atrás da personificação da cor de rosa se encontrava Ino Yamanaka, outra bela, porém supérflua.

“Não seja idiota, como se ele por acaso soubesse de sua existência” – Provocou a rosada começando mais uma, de suas intensas e duradouras discussões.

Não me dignei a olhá-las, não mais. Disperso em divagações e julgamentos pessoais o tempo foi se passando. Até...

“Naruto!” – Chamou minha atenção batendo a mão firmemente a mesa enquanto me encarava. Sua vasta cicatriz que cortava o nariz no meio paralelamente aos olhos se destacava, dando assim maior veracidade a sua postura autoritária “Já está na hora de deixar a sala. Por que você sempre tem de ser o último a sair? Não tem a vontade de ir para casa?” – Uma voz calma e serena junto a sobrancelhas arqueadas em forma de protesto.

Hesitei, e mesmo surpreendido pela pergunta revidei. “... No começo eu até sinto... Mas ai eu lembro que no final, não terá ninguém me esperando.” – As palavras simples, porém significativas saíram do céu de minha boca como se já quisessem há tempos, parecendo até mesmo, tocar seu coração. E em seguida um breve e inabalável silêncio abranger toda a sala.

“Desculpe. Esqueci.” – Após ter se lembrado, recompôs-se.

“Não faz mal... Sensei, uma vez li em um livro que cicatrizes são a biografia de um samurai, por trás de cada uma delas há uma história a se contar, portanto, um samurai vivido as ostenta com muito orgulho, agora me diga, é verdade?” – Com um sorriso bobo perguntei apontando para seu nariz.

“Bem, não é como se fosse uma humilhação é verdade, mas isso varia de caso em caso, depende das circunstâncias, dos inimigos. Existe toda uma filosofia por trás do nosso mundo Naruto, sempre tente interpretar as coisas da maneira menos óbvia.” – Coçando a bochecha com o indicador, respondeu pensativo. “Humm, falei bonito né? Talvez daqui alguns anos essas palavras perpetuem em livros de história, sinta-se honrado por ser o primeiro a ouvi-las.” – depois de uma careta e um olhar orgulhoso de si mesmo... Não aguentamos e sorrimos. Bem humorado como quase sempre. Momentos como esse, certamente valiam o meu dia.

Iruka-Sensei, um dos poucos senão o único que não me tratava como se não existisse. Não posso reclamar do velhote do Imperador, mas com toda sua importância, certamente não deve ter tempo nem para seu neto, quem dirá para mim.

“Sensei me empreste à chave da biblioteca tem histórias que quero ler e lições a alcançar, isso tudo antes do anoitecer” – Finalmente me levantando encarei a janela ao meu lado, cuja qual resplandecia todo o intenso brilho do sol que se espalhava com avidez pela sala e sua decoração clara, provável meio dia. Ainda há no mínimo seis horas antes de começar a entardecer de vez, porém seis horas quando bem aproveitadas não parecem nada mais que seis minutos.

“Naruto, por que tanto fascínio por livros? Tudo o que se é preciso saber para se transformarem em Aspirantes a Samurai eu já lhes ensino. Não entenda errado, não quero limitar teu saber, mas também deveria focar em artes marciais, já que nunca o vi praticando” – Explicou parecendo se lembrar de algo.

“Nenhum herói honroso ou guerreiro condecorado se fez com apenas o necessário e o Sensei sabe a dificuldade que tenho em praticar artes marciais por possuir tanto chakra quanto um recém-nascido, ou por ter um corpo tão frágil como raposa, por isso eu pretendo compensar minha falta de habilidade com todo o conhecimento que estiver ao meu alcance.” – Olhar determinado e palavras firmes.

“Transforme o pouco em suficiente, e o fraco em resistente. Caso contrário nunca alcançara aquilo que quer” – Cuspira duras verdades na minha cara, bem eu sabia disso. Mas para mim, é complicado segurar uma espada sem tremer, mesmo que essa seja de madeira.

“Entendo Sensei. Trarei minha espada amanhã.” – Relutante comigo mesmo falei, de qualquer jeito não haveria outra maneira de se fazer o exame sem a espada, não? “E quanto à chave da biblioteca Iruka-sensei?”

Suspiros...

“Francamente Naruto. Você passa muito tempo preso em salas ou sozinho.” – Respondeu intrigado. Sua feição mudou da água para o saquê, do alegre para o abatido. “É verdade que ultimamente não posso lhe fazer muita companhia, mas tente respirar um ar puro às vezes, isso assim como conhecimento e sabedoria fazem bem...” – Dizia cordialmente com os olhos fechados. Uma mão no queixo e a outra balançando no ar, como se tivesse me ensinando o certo e o errado, mas essa lição eu já conhecia tão bem quanto às palmas das minhas mãos, e esperar ele terminar seria cansativo e metódico.

Com um sorriso audacioso pulei sutilmente sobre a mesa e logo avancei em sua direção, me encontrava na primeira fileira da ultima coluna e ele a minha frente estático, devido ao barulho dos meus pés se encontrando ao chão, ele percebeu ali minha ação, mas já era tarde. Parando na sua frente como uma raposa engenhosa me agachei e peguei o chaveiro de sua cintura furtivamente. “Acha que não sei sobre isso? Bem, deixo esses momentos de ar fresco para quando você resolver me pagar um ramen!” – Com um sorriso escancarado saí correndo em direção à saída, abrindo o Fusuma de carvalho para qualquer lado e deixando um Iruka-Sensei surpreso para trás.

“Idiota! Vê se não deixa uma bagunça como da ultima vez...” – E essas foram as ultimas palavras audíveis que escutei antes de me fundir com o vento e sair rasgando os corredores da Academia Samurai.

{...}

Tão rápido como quando peguei as chaves, já me encontrava na biblioteca da academia. Tratei antes de qualquer coisa, tranca-las, seria um incômodo ser interrompido enquanto inerte nos livros me encontrava.

Era de dia, mas por trás de cada enorme estante a sombra prevalecia. E Graças às sombras e as janelas o ar estava amistoso, nem frio nem tão quente.

As decorações em nada se diferenciavam das da sala de aula, exceto pelo fato de ser um espaço completamente amplo e cheio, mas cheio mesmo, de estantes e estantes de livros, organizados categoricamente pelos funcionários da academia.

O Piso era claro e entalhado fielmente em cubículos de madeira chegando a escorregar de tanta cera. As estantes de livros tinham sua cor mais escura, quase como o marrom enquanto os livros que nelas repousavam pareciam travar uma guerra de cores e possibilidades.

“Melhor aproveitar a claridade do sol enquanto fartamente a possuo.” – Pensei alto e me referi às janelas. “Mas, oque ler hoje? Um conto heroico de samurais, por sinal meus preferidos. Ou continuo a ler sobre artes marciais, me preparando ainda mais, mesmo que apenas em teoria, para os testes de admissão a Aspirante?” – Novamente pensando alto e falando sozinho.

Dilema eterno...

Era minha sina ora, afinal, meu maior anseio é me tornar um honroso e corajoso Samurai, e ai quem sabe, finalmente me tornar importante para Konoha. Ter meu nome cravado a fogo nas memórias dos moradores, os mesmos que hoje me desprezam sem nenhum motivo claro. Por isso contos heroicos me extasiam tanto, elas dão asas a minha imaginação me fazendo rasgar os céus e atravessar as nuvens, e como.

Reconhecimento. Respeito. Admiração. Honra. Glória. Oque aspiro?... Tudo.

“Tche!” – Resmunguei. Nunca realizarei meu objetivo se viver de contos e histórias.

Ainda na frente da porta e ao lado do balcão de recepcionista - por sinal vazio - pude contemplar mais uma vez, várias e várias seções divididas por estantes e do alto de cada uma delas havia uma letra, separando-as assim na ordem alfabética. Letras de A até Z que começavam da minha esquerda para direita.

Decidido sobre o que ler; fui atrás da letra F. Caminhando calmamente enquanto o barulho das minhas sandálias se fazia. Como a maioria que aqui vinha preferia assim como eu, contos heroicos, parábolas, e até versos soltos, os principais livros de estudo se encontravam sempre empoeirados e no final de cada seção.

Parei na penúltima seção e tateando os livros com a ponta dos dedos achei algo escrito – Fundamentos dasArtes Marciais– me apoiei na ponta dos pés em uma tentativa frustrada de alcança-lo por completo. Mal sabia eu que seria uma péssima ideia.

Logo depois de tanto ardor para alcança-lo, desgraçadamente me desequilibrei e cai com a bunda no chão. Isso é claro não seria um problema se uma dúzia de livros grossos e pesados não tivessem sido atraídos...

Queda!

“Mais hematomas para coleção” – Resmunguei enquanto coçava minha cabeça. “Sinto muito Sensei, mas pelo visto você terá bagunça amanhã também!” – Ri sozinho enquanto imaginava a indignação e o infarto fulminante que provavelmente teria. Desde bebê foi me passado pelo velhote; a sempre procurar o lado bom da história, e se cair, ganhar alguns hematomas e ainda causar uma bagunça tivesse o lado bom; esse certamente seria ver a irritação do Iruka-sensei depois.

Pelo menos o livro que queria veio junto... Capa de couro, porém empoeirada, e na frente o nome do livro bordado em dourado. As folhas eram um misto de amarelo e marfim, quase se igualando ao piso, oque denunciava sua idade.

Parei de enrolar, me distanciei dos demais livros e me jogando no chão de qualquer maneira, comecei a ler de onde parei.

*Parte 10 – Entendendo o Chakra*

*Chakra; a energia elementar e sobrenatural de todo ser vivo da classe guerreira. Energia que por si, transcende os limites do possível e impossível, da realidade e da ilusão*.

*Ao longo das eras o chakra sempre foi visto como o espelho da alma, dependendo do caráter do guerreiro; ela poderia tomar colorações mais claras do que lã de carneiro ou mais escuras do que a pelagem dos lobos selvagens*.

...

{...}

Nas primeiras semanas e quem sabe meses, não, mas atravessando os dias e as dificuldades foi que conquistei o hábito da leitura, e desde lá, tudo ficava assim como a água, cada vez mais claro. Interpretação de diferentes e complexos contextos, palavras finas e rebuscadas que em suas maiorias mal aproveitadas. Imersão nos contos, histórias, parábolas. Esse era meu dia-a-dia, oque facilitava em muito as lições que eram passadas na Academia ou nas que eu simplesmente só encontrava aqui, em livros...

Já se fazia anoitecer, as janelas nada mais refletiam do que as luzes esbranquiçadas e suas peculiaridades a parte. Pequenas rajadas de vento se difundiam a madeira pelo lado de fora, causando assim um grunhido irritante e desconfortável ao ponto de perturbar minha leitura. Que antes era fluída e leve como puma, agora defasada e arrastada.

Entretanto o que mais incomodava não era o grunhido e nem tão pouco a mansidão do luar, que naquela ocasião se fazia tão bela. Mas sim o ronco e a dor do meu estômago. Onde parecia haver duas Katanas entrando em um intenso conflito; faiscando por entre as minhas entranhas.

Como consegui ficar desde o café da manhã sem comer nada? E pior, nem percebera?... Tche! Como se souber essas respostas agora fizesse alguma diferença.

“Desisto” – Balbuciei enquanto que com o corpo dolorido me levantava, ou simplesmente tentava. Superando algumas falhas e tropeços foi que finalmente consegui me reerguer depois de tanto tempo intrêmulo. “Deixarei esta bagunça para o Sensei.” – Pigarreei sobre os livros e as chaves que não chão, jogadas se encontravam.

Só de pensar nas suas reações...

Preguiçoso? Relaxado? Mal agradecido? Não, mas se pelo menos uma pessoa se lembrar... Sentir raiva, indignação ou simplesmente pena de mim, não importa! Desde que eu faça parte de uma vaga lembrança ou sentimento na vida de alguém, não estará assim tão mau. Porque no fim, se há coisas piores do que a morte; a inexistência com certeza é uma delas.

Esticando as mãos bifurquei calmamente a janela. Reparei na noite nada mais do que antes já tivera notado, e como anúncio de uma tempestade, soou um trovão rasgando os céus e parecendo abrir nele; passagens para outras dimensões.

“Logo choverá” – Com esses pensamentos em mente; não houve mais. Esforçando-me concentrei a ínfima minoria de chakra que possuía; nos pés. Até finalmente senti-los formigar e saltando da plenitude do segundo piso me encontrar desajeitadamente a terra. Já não possuía mais chakra, só me restava agora andar calmamente.

A janela dava de frente a Academia, logo, encontrava-me defronte a sua saída, cuja era apenas uma grande reta distanciada do centro de Konoha com o único intuito de dar espaço e liberdade para batalhas e treinos ou apenas aulas práticas.

A cada passo, assomavam-se mais e mais árvores e flores, que se fossem vistas de dia poderiam oferecer toda a beleza colorida de mil arco-íris, entretanto por agora; se confundiam com simples arbustos...

Depois de tanto andar, suar e até mesmo descansar. Já havia chegado ao Centro de Konoha, lugar onde interligava toda a vila e obviamente a mais habitada. E logo de início sentia meu rosto arder e novamente ser-me o centro das atenções. Sussurros e xingamentos jogados como cartas em uma mesa de jogos. Olhares de desprezo, ódio, indignação e indiferença. Nada qual eu já não esteja acostumado, é verdade, mas mesmo assim...

Os nobres, Senhores feudais assim como os grandes líderes de Clã transitavam por ela em suas vestes mais honrosas, cabeça erguida e nariz empinado, sempre em carroças de madeira ostentosas. Carregadas por dois ou três homens dependendo é claro; de quantas pessoas ali fossem carregadas.

Damas com suas vestes mais respeitosas, maquiagem leve para ressaltar o necessário. Cabelos sempre presos em Coques e em suas mãos leques coloridos e variados, posturas ensaiadas, polidas e formais. Porém nunca sozinhas. Sempre acompanhadas por seus pretendentes ou parentes, uma vez que era mal visto uma mulher de família andar sozinha.

Logo atrás, Samurais com seus Kimonos ou Armaduras exibindo seu poder e status com suas espadas. Como pavões que erguiam suas penas para unicamente aparecer, alguns realmente eram assim. Abaixo deles se encontravam os Mercadores, que em suas barracas de madeira fina e cheias de mercadorias, gritavam, rugiam, rosnavam ou; simplesmente tentavam vender algo.

Por entre o centro; diversos postes de madeira que alimentavam chamas junto com lamparinas, colocados estrategicamente pelas calçadas de pedra. Todas as casas, todas as barracas, todos os edifícios que aqui ou mais afastados se encontravam, tudo, tinha na sua arquitetura a simplicidade e o refinamento intrínseco...

Dor seguido de barulhos constrangedores. Já havia distinguido várias e várias barracas de comida, mas assim como me faltava dinheiro, não queria logo hoje; nesta noite auspiciosa, ser escorraçado por alguém.

Depositando minha mão sobre a barriga, continuei.

Passando pelas ruas principais que ligavam centro de treinamentos, templos, memorial, termais, e longos e ricos bairros dedicados única e exclusivamente a poderosos Clãs. Finalmente cheguei. E estava de frente, ou melhor, de lado. Era uma pensão, entretanto eu não entrava pela frente e sim em uma entrada separada que para mim tinham motivos óbvios, mas eu preferia acreditar no impossível; que era especial. Será que eu poderia me dar esse Luxo pelo menos uma vez? Não... Afinal, eles construíram – improvisaram – aquela passagem para tão somente; não se esbarrarem a mim, que ficava difícil procurar o lado bom.

Localizada em um bairro classe média. A pousada era assim como todas as outras, mantinhas seus aspectos feudais e em si quase totalmente de madeira com suas decorações budistas. Três pisos. Na frente um enorme Fusumaamarronzado com as escritas - Bem vindo! – Uma janela característica em ambos os lados e acima telhados de ripa constituídos de madeiras polidas e requintadas. A Pousada se destacava apenas por sua coloração mais obscura do que as demais.

Mas oque fazia observando tudo isso mesmo? Minha inerente entrada era por um dos hediondos becos sem saída que cercavam a casa. O qual me aprofundando ainda mais na escuridão e passando pelas caçambas de lixo; foi que pude subir a bamba e gasta escada caracol e assim no fim me deparar com o único Fusuma. Que diferente dos demais não tinha número, decorações ou qualquer outro detalhe...

A indiferença, humilhação e até mesmo agressões com a qual eu era tratado é algo que merecia um livro inteiro para ser retratada. Mas mesmo assim, preferia não reclamar, afinal como poderia? O velho do Imperador deveria ter usado de todas as suas artimanhas para me disponibilizar tal aposento. O mínimo que poderia fazer é retribuir com o silêncio e tentar ignorar o tratamento indiferente que pareço receber até dos animais.

Agachando-me fui capaz de levantar o tapete e encontrar uma velha e enferrujada chave, a qual obviamente servia para algo. Já era de noite, estava faminto e arriscava dizer que sonolento também, então sem protelação; enfiei a chave na fechadura e a abri.

Antes de qualquer coisa; acendi a lamparina situada no canto direito do quarto. Um simples e pequeno, porém aconchegante cômodo. Todo envernizado e sua cor naturalmente amarronzada. Encontrava rente a mim um simplesFuuton e logo após uma janela, a esquerda uma entrada para o banheiro e a destra a da cozinha.

Entretanto para a sociedade e todos os seus costumes nada disso era mais importante que o; Tokonoma, uma alcova decorativa com a única finalidade de ser o ponto focal e principal; pequena mesa de madeira dedicada a um arranjo de flores – girassóis -, acima as simplórias escritas - Dois fatores importantes perpetuam aqui;palavra e honra – Escritas que escondiam por detrás de sua simplicidade um mundo de significados. E ao lado das flores se encontrava o mais peculiar; uma Katana que em sua bainha bordada a ouro repousava.

Suspirei cansado, enquanto me ajoelhava perante o Tokonoma tocando minha testa ao chão. Não era escolha minha ter aquela lâmina mortífera logo em meu leito, mas assim como todos os velhos e sábios o Imperador sabia persuadir. Não sabia seus nomes, seus rostos e nem quem eram, ou quem um dia já foram. Sabia de uma única coisa; que aquela Katana pertencia a eles e agora conforme as tradições a mim.

Intrigante, não? Se pelo menos eu tivesse a coragem de desembainhá-la, observar tudo minuciosamente à procura de respostas e a partir daí...

A Despeito da minha curiosidade sabia muito bem os meus limites. Insensatez seria retirar a lâmina da bainha, não conseguiria. Todavia, quem sabe algum dia?

Levantando-me percebi uma carta ao lado do arranjo; tinha a sua caraterística o selo e o carimbo do Imperador que eram assim como o branco; predominantes.

“Oque será que fiz dessa vez. Será que foi por causa dos monumentos? Ou o muro das mansões Feudais? Não, não, talvez seja devido a ruas do Clã Hyuuga. Por falar nisso minhas tintas já acabaram.” – Com um sorriso irreverente estampado na face, cochichava sozinho. Fizera isso a mais de semanas, será que só agora eles deram a devida atenção?... Enfim, depois de tomar um bom banho poderei ler a carta.

Com esses pensamentos em mente joguei-a de volta à mesa enquanto me despia rumando ao banheiro.

{...}

Encharcado no cúbico banheiro rasamente iluminado, o qual a minha esquerda só tinha uma espécie de bacia de madeira cheia de água, a destra um pequeno local reservado as necessidades fisiológicas provenientes de qualquer ser humano, e por trás a saída.

Aqui e agora, de frente a um pequeno pedaço de espelho que refletia não só minha imagem como minha alma. Pude não só sentir como também ver; minhas mãos criando vida própria enquanto passeava pelos meus braços, peito, abdômen e até mesmo costas, quase sempre sendo atraídas pelas mais profundas cicatrizes, hematomas e as leves queimaduras que aqui residiam. E tão somente a isso meus batimentos se dedicaram prontamente a acelerar e minhas pernas a bambear. Era fato consumado que não! Entretanto mesmo assim; fantasiava com um dia em que pudesse me olhar no espelho e não mais as ver.

Remoer meu passado nunca seria nostálgico, confortante ou sequer agradável, muito pelo contrário, entretanto; inevitável.

Minha sina? Meu fardo? Não, apenas meus fantasmas...

– Não é como se fosse uma humilhação... – Palavras que ainda perambulavam pela minha mente. O Sensei disse que tudo dependia. Dependia das circunstâncias, dos inimigos e disse até para não compreender as coisas da maneira que elas dão a entender. Mas e no meu caso? Como poderia interpretar tamanha enfermidade? Honra ou humilhação? Honra certamente não seria, uma vez que eu não as adquiri em batalha, mas quem sabe não fosse motivo para tanta humilhação? Queria saber, precisava saber, mas como? Impotência nunca me fizera tão mal.

Já havia criado das mais diversas teorias para explicar tais acontecimentos; Poderia... Ser um bastardo mestiço? Não, se assim fosse nem mesmo o Imperador com toda a sua bondade me acolheria. Quem sabe filho de algum criminoso? Também não, pois já haveria de ter minha vida condenada a trabalhos duros e pesados para que com sorte; depois de setenta anos saldasse e honrasse a dívida de meu pai. Poderia quem sabe então ser filho de um Ronin? Difícil, ronin são conhecidos por não terem senhor ou sequer um mestre, ficam por ai vagando sem rumo ou destino ao certo, sendo a sua honra facilmente contestada. Desta forma eu seria mandado provavelmente a um pobre e miserável vilarejo e antes mesmo de saber oque é uma espada, morreria.

Então o que? Se bem que eu poderia ser tudo e ao mesmo tempo nada, cidadãos tão supersticiosos e discriminantes, pelo simples fato de ser órfão já poderia ser enforcado ou queimado.

Mas mesmo assim... Qualquer criminoso mau caráter, ser das profundezas do inferno ou um pirralho de doze anos, tem o direito de conhecer suas origens, mesmo que talvez se arrependessem ou decepcionassem. Fazer oque? Acontece! Cabe a nós passar por cima e seguir em frente.

Desanimado comecei a pegar a toalha jogada no chão e me secar abruptamente, em seguida enrolá-la a minha volta, caminhando a passos largos e ainda escorregadios. E sem perceber já estava de frente ao Tokonomacom a carta na mão.

Carta que prontamente abri e sem esconder o mínimo de curiosidade ou pressa; varri meus olhos por tal.

*Jovem Naruto*

*Amanhã no Palácio, antes do amanhecer*.

*Destinatário: Uzumaki Naruto*

Breve e curto como sempre, não gostava de se expressar por cartas ou sequer comunicar-se. Então por que sempre fico ansioso? As escritas na carta eram quase sempre as mesmas, embora hoje ele tenha sido; bem mais ríspida e autoritária que o habitual, dando-me a entender que amanhã, provavelmente ouviria em demasia...

E ainda inerte nestes pensamentos minha barriga gritou, bradou, uivou ou simplesmente protestou pela imprudência de seu dono. Afinal podia ser esse um dos motivos de minha fraqueza física; comia pouco, bem pouco, diria até que muito mal.

Já havia pensado em reeducar meus hábitos alimentares, para futuramente, quem sabe ser avantajado? Entretanto, só de pensar em me tornar uma replica do Chouji. Desisti, não seria legal para minha saúde ou produtivo para as tarefas de um samurai.

E jogando a carta em qualquer lugar, rumei à pequena e claustrofóbica cozinha, na esperança de achar um ramen. E depois dormir, dormir bem de preferência, amanhã seria um longo e quem sabe inebriante dia?

Continua...


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Notas finais do capítulo

or onde começo... Bem, é um projeto que espero agradar a muitos que passarem por aqui, mas a todos sei que será impossível. nada me da mais vontade que concluí-lo então não esperem que eu desista, entretanto não tenho um final definitivo em mente e não pretendo escrever sem ânimo, portanto as postagens podem demorar uma semana tanto quanto um mês, se você for um daqueles leitores abusados que acha que o autor tem a obrigação de postar rápido; dê meia volta. Mas é claro não gostaria de ver minha tão estimada Fanficion parada por mais de um mês, será difícil isso acontecer, mas não impossível. Tenho planejado para ela em mente, uns trinta capítulos ou um pouco mais, com essa média de palavras: 4, 5, 6 e até 7 mil palavras. e bem gosto de criticas então critiquem. Falem oque gostaram ou não, o que gostariam de ver ou não, prometo pelo menos pensar sobre as críticas que dizem respeito ao enredo. Sobre a parte gramatical ou ortográfica, se viram algo de errado por favor me alertem.E ah claro, reviews podem me incentivar então não se contenham, ainda mais se forem reviews robustos ^^. façam valer meu tempo e litros de café gastos e quem sabe os capítulos não surjam do nada?



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