Sete dragões - O despertar escrita por Lord of Gods


Capítulo 3
II - Caminhos cruzados


Notas iniciais do capítulo

Sinto ter talvez demorado um pouco para postar esse capítulo, espero que ao menos possa valer a pena. Essa parte em um livro, seria como uma continuação direta e ininterrupta do capítulo anterior, então por isso podem acabar estranhando uma diferença ou outra na edição (Como não ter subtítulos informando o local e etc). Partes que talvez ainda não tenham ficado tão claras, mais adiante serão melhor explicadas, essa ao menos é a intenção. Tenham uma boa leitura!



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A escuridão enfeita o céu como uma cortina de mistérios. Nem mesmo os sábios conhecem precisamente como será o amanhã. Muito menos sabem quanto, o dia que se finda, foi importante na vida de toda uma sociedade.

Os barulhos já começavam a se findar, quando Uragan avistou as primeiras cabanas de sua vila. O ancião que o acompanhava, analisava cada elemento daquele pobre vilarejo. Cachorros brigavam entre si por um osso sujo, e crianças já não eram vistas correndo pelas ruas, provavelmente obedecendo a ordens de seus patriarcas.

Notando alguns olhares seguindo a trajetória que percorriam, o rapaz de olhos verdes tentava o máximo não aparentar estar cansado e com machucados, os quais muito doíam. Seu insucesso era tão medonho que arrancava debochados risos de alguns aldeões. Guiando o caminho até a residência de sua família, ele imaginava quão grande seria a bronca que receberia, e quanto ele a merecia, tendo em vista que suas recentes ações, por mais que movidas pela honra, não eram um exemplo dos modos como foi criado.

Os poucos animais de criação se escondiam da maneira que conseguiam, parecendo prever o que se aproximava.

Antes que pudessem perceber, o céu alaranjado era invadido por cinzentas nuvens. O vento intensificava sua força e as vestes de ambos os homens esvoaçavam, uma noite molhada estava por vir. A agitação dos moradores era grande, precisavam proteger suas cabanas da chuva caso a mesma caísse de forma brutal.

Acanhado, Uragan cruzava a pequena cerca de madeira que demarcava os limites de sua morada. O jovem muito desejava ter a mesma coragem demonstrada na floresta, para lhe dar com sua mãe naquele momento. A velha porta rangia, anunciando sua chegada. Os olhos do rapaz, não poderiam visualizar uma cena que trouxesse mais pesar sobre sua consciência. De cabelos sujos e despenteados, olhos repletos de lágrimas, mãos tremulas e lábios secos, Rose Saol chorava preocupada com o bem estar de seu único filho.

Ao ver o jovem moreno vivo, a senhora Saol corria em direção aos seus braços. Um abraço forte colava o corpo de mãe e filho, sendo separado apenas pelo furioso patriarca. – É pedir demais para você não se comportar feito uma putinha? Peço para fazer um favor e some! Eu e sua mãe não merecíamos ter um bandido como filho! – As palavras do homem perfuravam a dignidade do aventureiro como se fosse uma lâmina. – Estava buscando uma vida melhor para nossa família! Não é como se fosse gastar todo o ouro que encontrasse, bebendo com os amigos! – Até mesmo o mais ingênuo dos seres naquele momento conseguiria notar o sarcasmo na voz do ladino. – Como ousa?! – A mão de Charles preparava para socar o rosto de seu filho adotivo, parando apenas quando notava sua mulher pela frente. – Basta! Não iremos brigar feito animais! – Rose amenizava a situação, e olhando para seu marido, suavizava a voz. – Vá se lavar para o jantar amor, somos uma família e devemos permanecer unidos. – As mãos da mulher acariciavam o rosto do homem.

Bufando feito um touro raivoso, o homem de meia idade andava de um lado para o outro da pequena sala, ponderando apenas por saber o que encontraria em sua cama no cair da noite; o banho não seria apenas pelo jantar. Seus olhos avermelhados notavam a presença de Senzo, o ancião que Uragan salvou em meio á floresta. – E quem é esse? Seu cafetão? – Aquele não parecia ser um bom dia para o chefe daquela família, e o álcool em seu sangue pouco ajudava a manter o controle de suas emoções. – Queira me desculpar por minha insolência meu caro senhor, não são modos de entrar em uma residência eu pressuponho. Meu nome é Senzo Klog, tive o privilégio de ser salvo pelo jovem Uragan agora a pouco. – Todos se calavam, naquele instante todos os olhares iam do idoso para o moreno. – Como? – Rose não parecia entender as palavras do senhor, ou pelo menos esperava que estivesse delirando. – Sou um dos anciões do dragão, mais precisamente o mensageiro do santuário. Estou retornando para o Vale dos Dragões, mas acabei encontrando bandidos em meio á floresta. Se na fosse á coragem do filho de vossas senhorias... – O casal permanecia imóvel, aquele desconhecido seria alguma espécie de doente mental? Louco? Um dos lendários anciões dentro daquela humilde casa? Certamente se não estivessem boquiabertos, iriam gargalhar daquela piada.

Notando a falta de ação daqueles que eram para serem anfitriões do viajante, o mais jovem Saol se adiantava. – Mais tarde explico para vocês, mas o senhor Klog é um convidado. – Não desejosos de precisarem esperar por mais informações, a mãe do garoto o puxava para á cozinha, e Charles caminhava logo atrás dos dois.

O ancião notava os gestos feitos pelos três. Estaria o seu salvador contando a história de como se conheceram? Com suas vestes um pouco sujas, ele preferia esperar, não desejava enfurecer ainda mais a família Saol. Sua curiosidade não o deixava ir embora, havia notado o brilho no olhar daquele rapaz em meio ao combate, em seu íntimo sabia que o destino não orquestrou toda aquela situação por acaso.

∾ ༒ ∾

Incontáveis foram os minutos que se passaram; até o senhor Saol regressar juntamente com seu filho e esposa. – Queira nos desculpar caro ancião, não desejava ter o ofendido. – Sorrindo de maneira amigável, Enzo retirava do bolso de suas vestes um papel. – Não se preocupe, eu que não deveria ter entrado em sua casa sem antes pedir permissão. – Mostrando o papel para os três, o velho suspirava um pouco mais confortável. – Como podem ver, esse é o selo dos anciões, juntamente com uma autorização do conselho para mostrar esse documento em casos que julgue necessário. – Os três pares de olhos vislumbravam o pergaminho, constatando o símbolo circular de um dragão voando, e em seu centro, constava o número sete alado por asas draconianas. Não sabendo ler, nem mesmo se preocuparam em tentar entender o pequeno texto que acompanhava o desenho, estavam verdadeiramente fascinados.

Uragan tinha em seu rosto um largo sorriso. Por mais que pudesse ter sido ingênuo ao confiar nas palavras de um desconhecido, sabia que aquela atitude não foi um equívoco. - Aceite nossa hospitalidade meu senhor, uma chuva se aproxima e assim como eu, deve estar faminto. – A voz do rapaz de cabelos curtos ecoava pela casa. – Não desejo incomodar. Posso procurar por uma estalagem jovem garoto, ter me salvado já foi um grande ato de caridade. – Sem graça, o patriarca segurava o papiro, encarando ainda o selo. – Insistimos, fique e ceie conosco; eu e meu marido teremos muito prazer em recebê-lo. – Charles nada dizia, obrigando a senhora Saol á lhe dar um escondido beliscão. – Ai! – O homem exclamava e se afastava um pouco da mulher. – Quer dizer, claro. – O vento uivava fora da residência, fazendo os galhos das árvores colidirem entre si. – Tudo bem, mas irei partir pela manhã e insisto em pagar. – Os dois adultos não sabiam o que fazer, mas animado, Uragan se adiantava. – Fechado. Irei mostrar seu quarto. – Com um sorriso no rosto, o ancião acompanhava o jovem que mostrava sua própria cama.

∾ ༒ ∾

Mais de uma hora se passou até que todos voltassem ao normal. A presença do ancião não apenas serviu para entreter a todos com suas histórias antigas. Pela primeira vez naquele ano, a ceia não seria sopa de legumes.

Sentado ao redor da velha mesa, na qual todos os dias as refeições eram servidas, Senzo detinha para si toda á atenção dos presentes. A noite chuvosa passava tranquila. Enquanto se banqueteavam com o cozido de peixe e legumes, preparado por Rose, lendas sobre heróis fascinavam os ouvintes. – É fantástico! Como a magia é incrível! – o jovem moreno de olhos verdes imaginava como deveria ter sido viver nas épocas de paz, antes da Grande Guerra e antes da magia ser proibida naquele reino. – Não entendo. Como algo tão maravilhoso pode ser proibido? - Senzo ria ao tomar um gole de vinho, fazendo em seguida uma careta; a bebida quase estava transformada em vinagre.

Feliz por trazer alegria para aqueles aldeões, e por saber que Uragan tanto se interessava por aquelas lendas, o ancião descansava sua colher e seu copo. – Os seres vivos se tornaram temerosos após a Grande Guerra, principalmente por ela ter sido gerada pela ganância de uma bruxa. Mesmo trazendo paz, os dragões muito foram temidos. Os humanos principalmente, se amedrontam até os dias de hoje, cegos pela ideia, de um indivíduo novamente sucumbir aos desejos de controlar as forças mágicas do universo.

O olhar do garoto aos poucos perdia o brilhar da emoção. – Mas ainda devem existir feiticeiros e magos, não? – O velho olhava pela janela, a mesma estava fechada, porém o semblante que se formava na face do sábio entregava uma melancolia e saudades. – Ninguém sabe. Ao passar dos séculos, o número de magos reduziu drasticamente, seus livros foram queimados e suas moradas mágicas destruídas. – Todos os três familiares compreendiam quão tristonho aquele fato era para Senzo, um dos últimos humanos adoradores daqueles tempos, em que a natureza se encontrava coberta de paz e pureza.

Não mais tocando no assunto, os quatro voltaram a comer, deixando o silêncio governar aquele recinto.

∾ ༒ ∾

Aparentemente, o “ligeiramente” robusto idoso foi o que mais agradou da comida. Deixando que os homens tomassem o vinho de péssima qualidade, a senhora Saol recolhia os utensílios sujos, os levando até a cozinha. – Gostaria que existissem no Vale, cozinheiras tão habilidosas quanto sua mulher. – Os três riam, estando levemente alterados pelo álcool.

Senzo olhava com certa admiração para seu salvador. – Sabe, espero não soar indelicado, muito menos desrespeitar á cortesia tão solene com a qual me receberam. – O copo vazio do ancião, pousava uma última vez sobre a madeira apodrecida da mesa. – Mas notei que estão a passar dificuldades. – Charles bebericava um pouco mais de sua bebida. – Infelizmente os tempos não estão bons, confesso alias, não sei exatamente se nossa vila algum dia passou por tempos favoráveis. - O idoso sentia muito pesar por aquele vilarejo. – Oras meu caro, confesso também que já não mais estou com um corpo tão forte quanto tinha em minha juventude, minha viajem é longa e as estradas perigosas. – Olhando nos olhos de seu anfitrião, prosseguia a falar. – Tenho uma proposta a fazer. Gostaria de convidar Uragan para ser meu companheiro de viajem, assim estaria mais seguro e quando chegarmos ao Vale dos Dragões, o recompensarei com um bom pagamento. Tenho certeza que será o suficiente para garantir um inverno com grande fartura e conforto a todos vocês. - Um barulho soou pela cozinha.

O mais depressa que conseguia, o jovem Saol correu até o cômodo. Rose pegava do chão uma das cumbucas que havia deixado cair. – Tudo bem mamãe? – Uragan ia até ela para ajudar. – Sim, sim, apenas fui um tanto quanto desajeitada. – Com a ajuda de seu filho, a senhora Saol voltava á sala. – Como podemos aceitar tal proposta meu senhor, ele é nosso único filho. – De mãos trêmulas, a mulher deixava um pouco de vinho cair sobre suas velhas roupas de algodão. – Sinto que não seja uma escolha fácil, entretanto certamente fará bem a ele. – Os olhos de Charles passeavam pelo corpo de seu filho. – Poderíamos poupar o dinheiro de nossa próxima colheita, deixando para gastá-lo na primavera. – Aparentemente estava um tanto quanto pensativo. – O que? Como pode pensar em aceitar? – O semblante de Rose adquiria uma enraivecida tonalidade avermelhada.

Seduzido pelos saberes que poderia adquirir, e pela possibilidade de sair daquela vila ao menos uma vez em sua vida, o jovem moreno segurava carinhosamente a mão de sua mãe. – Papai está certo, sabe o quanto nossas vidas poderiam melhorar com essa oferta. – A mulher levantava e olhava para os três homens. – Vocês estão loucos! – Tomando á dianteira, Senzo retirava de seu bolso um pequeno saquinho feito de couro. – Aqui, posso adiantar uma pequena parte do pagamento. Uragan sabe se defender, e se os deuses permitirem, não encontraremos nenhuma dificuldade em nosso caminho. – O objeto caia sobre a mesa, deixando escapar de seu interior três moedas de ouro. Nunca antes tendo visto uma daquelas, o ladino segurava uma das peças douradas e a observava atentamente. Os olhos do senhor Saol chegavam a brilhar por estarem diante daquela quantidade de dinheiro, principalmente por notar que dentro da bolsinha, se escondiam algumas peças menores de prata. – Amor... – Lágrimas enchiam os olhos da mulher. – Maldito ouro que queima á alma das criaturas vivas! Façam o que quiserem! – Ela apontava um dedo indicador na direção do ancião. – E cuide de meu filho tão bem quanto cuida de sua barba branca, caso contrário... – Puxando novamente sua mãe, um sorridente Uragan sentava a mulher ao seu lado. – Tudo ficará bem, essa é a minha vontade mamãe. –

Calados e afogados em um desagradável clima, os quatro não mais discutiam, aproveitando o barulho da chuva para descansarem.

∾ ༒ ∾

Dois dias se passaram, até Rose Saol ter certeza de que os ferimentos no corpo de seu filho estavam curados. Intimamente todos sabiam que ela apenas adiava aquele momento, mas enfim estava na soleira da porta, olhando para Uragan e Senzo. – Não se preocupem meus caros, ele estará de volta antes que percebam. – Sorridente e trajando roupas limpas de camponeses, o ancião batia de maneira amigável, uma de suas mãos sobre o ombro esquerdo do moreno. – O senhor Klog está certo, e quando voltar, poderemos ter uma vida mais feliz. – Abraçando seus pais adotivos, o jovem evitava deixar lágrimas escorrerem, afinal de contas, estava prestes a embarcar na viajem de sua vida.

Aos prantos, Rose o apertava em seus braços. – Que os deuses tomem conta de você meu filho. – Soltando o rapaz, ela entregava nas mãos do idoso, uma trouxa feita de pano. – Coloquei alguns legumes e frutas, espero que ajude. – Agradecendo silenciosamente, o sábio pegava o embrulho, enquanto Uragan despedia de seu pai. – Tenho certeza que ficará bem, grande é o meu orgulho por você. – Charles colocava suas mãos sobre os ombros de seu filho, sendo surpreendido quando o rapaz entrelaçou os braços sobre suas costas, o abraçando.

O sábio e seu protetor assim partiam, tomando direção da estrada que os levariam até a floresta. Silencioso, o senhor Saol apenas contemplava a dupla se distanciando pelo começo do amanhecer, abraçado com o corpo de sua mulher. Secando as lágrimas geradas por sua esposa, seus lábios tocavam a testa da mesma. – O destino de todos nós de agora em diante está mudado, que seja para melhor. – Assim permaneciam até pouco depois dos andarilhos desaparecerem entre as casas.


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Notas finais do capítulo

Tomara que esse capítulo tenha ficado tão bom quanto esperavam. Irão notar que a história se passará de maneira harmoniosa, sem que eu force a retirada de alguns momentos para que a trama aconteça mais rápidamente, espero que não se importem com isso. Estejam ansiosos para o próximo capítulo, muito mais será abordado sobre o reino. Um abraço carinhoso a todos e obrigado pelo apoio, até as próximas linhas de nossa história. :3