Fix me. escrita por Sherry


Capítulo 15
Capítulo 15.


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Desculpem os erros de digitação desde já, e boa leitura.



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~ Dez dias depois ~


A neve da área rural finalmente chegou na cidade, trazendo aquele monte de ruas fechadas, e dias escuros, devido as repentinas e rápidas nevascas.

Todos estavam de férias da faculdade, e ansiosos para encher suas barrigas com comidas natalinas, e vestir roupas vermelhas.
E eu? Eu era um desses idiotas! Mas minha animação não tinha nada com esses motivos, eu estava ansioso porque Lucy havia prometido que passaria o natal comigo.
Bom, ela não especificou que seria comigo... Ela disse que não poderia viajar para a casa passar o natal com a família, porque tinha plantão na manhã do dia vinte e cinco, e não poderia faltar, por isso não teria como viajar para a região rural, desta forma, ela precisaria ficar na cidade, e eu, estou na cidade.

Então, é óbvio pensar que ela vai passar o natal comigo. Certo? Certo!

— Você acha que se eu comprar um presente de natal bem elaborado pra Natalie, ela volta a me tratar normalmente? — Lysandre perguntou pensativo, mexendo seu café pela milésima vez.
— Não sei. — respondi sinceramente, e mordi minha torta de nozes.

Lysandre empurrou a xícara de café para o lado da mesa, e lançou um olhar de repreensão.

— Que é?! — perguntei de boca cheia, e engoli o pedaço da torta antes do tempo — Eu não tenho intimidade com ela cara, não sei se ela vai ficar de boa contigo, se você comprar alguma coisa cara. — me expliquei, dando atenção ao meu copo de café expresso.

Lysandre escorou o cotovelo na mesa e respirou fundo, com a maior cara de paisagem. Resolvi ignorar o draminha’ particular do meu amigo por alguns segundos, só enquanto desfrutava da torta, do café, e o calor aconchegante da cafeteria.
Saímos de casa para fazer compras de natal no shopping de manhã bem cedo. Uma nevasca inesperada fez com que o comércio fosse interditado por alguns dias, esse imprevisto acabou nos atrasando, por isso viemos em cima da hora, e para tentar compensar o atraso, saímos de casa tão cedo que encontramos apenas o estacionamento do shopping aberto. Em resumo, entramos na cafeteria da rua do shopping, para esperar as malditas lojas abrirem.

— Você me deve um conselho Castiel. — Lysandre apontou, depois de alguns segundos de silêncio — Foi por causa de você, que ela se afastou de mim. — acusou, amargo.
— Oque? — perguntei ultrajado, com a voz abafada devido a torta.

Lysandre me olhou como se tivesse acabado de falar algo realmente óbvio, e eu precisei me esforçar para engolir o pedaço da torta, antes de começar a falar novamente.

— Ela começou a ficar distante, depois do dia que você insinuou que eu ela... Estávamos tendo um caso. — ele explicou, quase em um sussurro.
— Puta merda Lysandre, cacete! — reclamei, perplexo, a voz mais alta do que eu esperava.

A garçonete que estava debruçada no balcão, morrendo de tédio naquela manhã de neve, nos olhou surpresa. Eu acenei para ela, e fiz um gesto de que queria outro pedaço de torta, ela sorriu para mim e eu assenti, tornando a me voltar para meu amigo canalha, que adora me culpar por tudo.

— Eu não tenho culpa se você é um completo imbecil, e não percebe que ela gosta de você. — comecei, pegando minha xícara de café — Quem foi que debochou da possibilidade de vocês dois se pegarem, hein? Hã? — perguntei retórico, cheio de ironia, e bebi o resto do café — Foi você! — concluí, agitando a minha xícara, agora vazia, pra cima dele.

Lysandre pareceu ponderar por alguns segundos, então a garçonete apareceu me trazendo mais um pedaço de torta.
Ela sorriu pra mim educada, eu agradeci pela torta, e pedi mais um café expresso.

— Você acha que foi por isso? — ele perguntou, fazendo uma careta — Quer dizer, você realmente acha que ela ficou ofendida porque eu... Não levei a sério, a ideia de... Eu e ela, juntos? — ele perguntou, agora me encarando com ansiedade.

Apenas pude assentir, porque estava com a boca cheia.

— Ah cara... — ele balbuciou, estressado.

Me ocupei em encher a boca de torta e tomar café, enquanto ouvia Lysandre ponderar. Era bom que ele estivesse se ocupando com Natalie, porque assim, meu caminho fica menos embaçado com a Lucy.

Desde o dia que nos beijamos na chuva, as coisas estão indo bem entre a gente; Ela fala comigo todos os dias pelo whatsapp, e nos vimos três vezes nesses últimos dez dias, mas foram só em saídas coletivas, o pessoal tava sempre por perto, então, eu nem tive a chance de me aproximar. Não conseguimos conversar, e nem rolou uns amassos’, só aquela tortura, de ficarmos trocando olhares escondidos em meio a galera.

— Bom... Isso explica porque a Natalie não foi com a cara da Lucy. — Lysandre refletiu, deixando um sorrisinho safado aparecer em sua tremenda cara de pau.

Enfiei a última garfada de torta na boca, e dei com o garfo no braço dele. Lysandre puxou o braço, surpreso, e resmungou, afagando a área que eu acertei, mas ainda manteve aquela expressão meio safada.

— É um fanfarrão mesmo... — comentei, sem poder deixar de sorrir.

Lysandre não tinha jeito mesmo, há umas semanas atrás estava morrendo pela Lucy, e agora, estava ali, todo saliente com a ideia de Natalie gostar dele. Tsc.

— Não sou eu que to’ dando mole pra garçonete. — ele falou baixo, e apontou para o lado discretamente fingindo coçar o queixo.

— Oque? — perguntei descrente, e ri da ideia, mas olhei para onde meu amigo apontava.

A garçonete estava debruçada no balcão, ocupando os dedos com as mechas do cabelo loiro. Quando nossos olhos se encontraram, ela sorriu brilhantemente para mim, exibindo uma fileira de dentes brancos.

Fechei a cara e virei para frente, dando de cara com a expressão risonha e acusatória de Lysandre.

Creio que ela te considera garboso. — meu amigo cochichou, com uma expressão maliciosa, enquanto disfarçava fingindo estar interessado em seu café.

Trinquei os dentes irritado. Detesto quando Lysandre começa a usar esse linguajar rebuscado de estudante de literatura, pra zuar com a minha cara. É um chute no saco. Ou como ele diria “ Deveras enfadonho.”

— Não fode cara. — resmunguei, puxando meu cachecol para cima — Nem tinha percebido. — confessei, olhando pelo vidro da janela.
— Aham... — falou debochado.

Me inclinei na mesa, para olhar bem naquela cara de pau no meu amigo.

— Você só ta querendo fugir do assunto! — acusei, apontando o dedo quase em seu nariz.

Ele afastou meu dedo de seu nariz com um gesto bem tranquilo, e riu, levantando-se da cadeira.
Lysandre tirou a carteira do bolso do sobretudo pra pagar seu café, e eu fui pegar meu dinheiro pra pagar meu café da manhã.

— Ela ta vindo. — ele sussurrou, entre dentes, para ser discreto.

Mas, eu, idiota como sou, levantei o rosto na maior cara dura, e dei de cara com a garota.

— Vocês já vão? — ela perguntou no plural, mas olhava diretamente para mim.
— É. Vamos fazer compras de natal no shopping. — Lysandre respondeu amistoso, fazendo a garota olhar para ele animada.
— É mesmo?! — ela perguntou cheia de interesse, olhou para mim e voltou a olhar para ele.

Lysandre e a garota trocaram um olhar de cumplicidade, tipo “ Ah, você ta afim do meu amigo, eu te ajudo.” E ela tipo “ Claro, vamos nessa.”

— É. — falei rapidamente, e coloquei uma nota inteira em cima da mesa — Muito obrigada pelo atendimento, foi ótimo. — falei, passando por cima da garota pra sair do canto da mesa.
— Castiel! — Lysandre chamou perplexo, estagnado no lugar.
— O seu troco Castiel. — a garota chamou meu nome como se nos conhecêssemos há séculos, segurando a nota que eu deixei na mesa.
— Não tudo bem, pode ficar com o troco. — tentei soar educado — To indo nessa, valeu. — botei a mão na maçaneta para sair, mas a garota já estava em meus calcanhares com Lysandre.

Lysandre me segurou pelo ombro, e a garota puxou minha mão. Ela tirou uma caneta do bolso do avental de uniforme, e escreveu algo na minha palma. Eu nem olhei pra saber que era seu numero de telefone, estava ocupado fuzilando Lysandre com os olhos.

Meu amigo passou por mim, e saiu da cafeteria acenando educadamente para a garota, enquanto ela ainda segurava minha mão.

Olhei para ela, olhei para minha palma rabiscada com seu numero e nome, e olhei novamente para seu rosto. Ela me deu um meio sorriso, e se inclinou para falar baixo.

— Eu gosto dos tímidos. — contou para mim, e piscou — Vê se me liga. — pediu em um sussurro, e tocou a ponta do meu cabelo com os dedos, antes de se afastar.

Escancarei a boca, e fiquei parado por três segundos, com a mente vazia. Era permitido que funcionários flertassem tão descaradamente assim com clientes? Ponderei sobre isso, e mais algumas coisas, por alguns segundos, então Lysandre abriu a porta da cafeteria do lado de fora, me convidando em um ato silencioso para que eu saísse.
Passei para o lado de fora, sentindo o vento gelado arder meu nariz, e comecei a andar pela calçada molhada de neve, com Lysandre na minha cola, rindo da minha cara.


Quando entramos no shopping, me senti mais tranquilo. O aquecedor colaborou um pouco.

— Lysandre, que porra foi aquela? — finalmente perguntei, enquanto andava furiosamente pelos corredores do shopping recém aberto.
— Eu que pergunto. — ele falou, em uma mistura de surpresa e graça — Oque aconteceu cara? Você ficou mesmo bolado? — perguntou, agora mais cauteloso.

Virei o rosto pro lado oposto dele, e apertei o passo, conversando comigo mesmo.

Calma cara, relaxa. Não vale a pena meter o louco, só porque seu amigo tentou te tirar da seca. Ele não sabe que você ta super afim da ex-namorada dele, fica de boa.”

— Castiel? — ele segurou meu ombro, enquanto subíamos na escada rolante.
— Não foi nada cara. — falei, enfiando as mãos no bolso do meu casaco — Não tava esperando por um flerte violento as sete da manhã. — expliquei, soando mais tranquilo.

Ele soltou meu ombro, e me deu um tapinha nas costas, visivelmente acreditando na minha desculpa. Suspirei aliviado, afinal, não era uma desculpa mentirosa, eu realmente não esperava flertar com ninguém, essa hora da manhã, com a cara ainda meio amarrotada de sono em uma cafeteria, enquanto discutia com meu amigo com a boca cheia de torta. Foi algo realmente surpreendente.

— Aquela garota realmente não perdeu tempo. — ele comentou, concordando com a minha surpresa — Mas eu não esperava que você fosse fugir dela. — riu rapidamente — Que foi cara? Mudou de orientação sexual e não me contou? Devo começar a apresentar rapazes pra você? — provocou, usando aquele tom poético, só pra me sacanear.

Dei uma rápida risada de deboche, e bati com o ombro nele de lado enquanto andávamos; Lysandre quase tropeçou nos próprios pés devido ao meu esbarrão proposital, mas ele não se aborreceu, apenas sorriu.

— Não preciso que você me apresente ninguém Lysandre. — anunciei, arrogante pensando no meu progresso com Lucy — Eu sou bem capaz de conquistar quem eu quiser. — completei, confiante.

Lysandre assentiu todo cheio de deboche, e me olhou de lado, duvidoso.

— Jura? — perguntou retoricamente.

Chegamos na outra escada rolante, e subimos mais um andar.

— Você ficou de bom humor com tanta velocidade... — observei, encarando-o pelo canto do olho enquanto caminhávamos lado a lado, pelo shopping praticamente vazio.
— Você me fez perceber que eu dei mancada com a Natalie. — ele confessou, e deu de ombros levemente — Entender o problema, é melhor do que não saber qual o problema. — explicou.

Eu assenti, entendo completamente sua mudança de humor. Agora que ele entendia porque Natalie estava o tratando de forma distante, ele poderia começar a tentar resolver o problema. Eu não entendia oque ele via de tão legal na esquisitona, mas entendia que ele a considerava uma amiga importante.

— Tudo isso, graças a mim. — falei, nada modesto, apontando para meu peito — Sou um amigo e tanto, admita! — completei, ajeitando meu cachecol.
— Claro! Por isso eu quis te ajudar a conseguir a gatinha da garçonete. — ele anunciou, como se fosse obvio — Mas, parece que você perdeu a habilidade com as moças... — completou, provocativo.

Rolei os olhos e parei em frente a uma loja de roupa de grife. Rosalie havia dito que era uma boa loja para comprar presentes, então deveria ter alguma coisa para eu dar de presente pro pessoal.

— Vamos a tortura de fazer as compras. — falei, olhando para a enorme vitrine, cheia de peças com diferentes combinações.
— Agora, quem ta fugindo hein?! — ele insistiu em me provocar, com a mão no queixo teatralmente.
Poderia ir se foder, por obséquio? — tentei usar o tom irritante e poético que ele usava as vezes pra falar.

Ele colocou a mão no peito, e arfou teatralmente. Hollywood está perdendo esse cara.

Oras Castiel, não sejas mentecapto. — ele exclamou com seriedade, e logo abriu um sorriso perverso.

Entrei na loja, sendo recebido por um vendedor todo educado. Lysandre começou a despejar pedidos para cima do cara, e quando ele se virou para buscar as opções, Lysandre me provocou novamente, apontando para a garota que estava distraída mexendo no caixa.

— Duvido você convidar ela pra sair. — ele sussurrou, cheio de malicia.

Olhei para a garota. Ela era bonitinha, mas estava com uma expressão sofrida. Usava um casaco pesado, e os cabelos estavam presos em um coque frouxo, os olhos lacrimejavam levemente e o nariz estava vermelho. Era visível que a pobre garota, havia sido vitima de algum vírus maligno, ou praga bacteriana. Coitada.

— Credo cara, ela ta doente. — exclamei, no mesmo tom sussurrante.
— Com medo de uma gripe? — ele provocou novamente.

Rolei os olhos. Antes, essas brincadeiras de competição entre Lysandre e eu, era algo amistoso, e emocionante, mas agora que eu já tinha uma garota em mente, era bobo.

— Você não tem escrúpulos? — perguntei perplexo.

Ele revirou os olhos rapidamente, e franziu os lábios, prendendo um sorriso.

— Quer tentar o vendedor que ta nos atendendo? — provocou, erguendo as sobrancelhas.

Respirei fundo, ficando aborrecido com a brincadeira de Lysandre. Era incrível como antes, usávamos isso para nos animarmos, e agora a única coisa que esse joguinho me causava, era irritação.

— Depois que a gente terminar essa tortura que as pessoas chamam de compras, eu chego na garota que você escolher. — garanti, tentando esconder minha má vontade.

Lysandre me olhou de banda, me estudando, ele ia falar alguma coisa, mas o vendedor voltou, com um par de sapato estranho. Lysandre deu mais algumas dicas do que queria, e o cara voltou para o estoque para procurar.

— Vai mesmo? — perguntou descrente.
— Contando que seja uma garota, razoavelmente bonita, sem nenhuma esquisitice, e que não esteja sofrendo de alguma enfermidade... — decretei, cruzando os braços.

Ele assentiu, e esticou o braço para eu apertar sua mão. Apertamos as mãos, e antes que ele pudesse fazer alguma nova provocação, o vendedor voltou, convidando-nos para entrar na parte dos fundos da loja, onde haviam as araras com roupas, e os sapatos.



–--


Fizemos todos os tipos de compras, e eu tinha certeza que não estava esquecendo ninguém. Lysandre fez a coisa demorar ainda mais, porque a lista de pessoas que ele tem pra presentear, é três vezes maior que a minha, e ele ficava me perguntando quem falava o tempo todo, já que o imbecil fez o favor de perder a lista com o nome de todo o batalhão que iria presentear.

O fato é que alem de chato foi estressante, afinal, quem diabos esquece os amigos que vai presentear? É um absurdo.

Acabamos as compras quase meio dia, e eu ainda não tinha conseguido comprar o presente de Lucy. Eu não sabia oque comprar, e não podia pedir conselhos ao Lysandre. Alias, seria bom se ele nem soubesse que eu iria presenteá-la.

Nos sentamos na praça de alimentação para almoçar. Comida italiana, minha preferida. Nada é mais legal do que um monte de massa com vários tipos de molhos, e acompanhamentos diferentes para escolher.

Enquanto almoçávamos, eu pensava no que dar de presente a Lucy. Oque ela gostaria de ganhar? Será que ela aceitaria alguma coisa chique? Ela não parecia ser do tipo de garota de se ligava em coisas fúteis... Em contra partida, se eu desse algo simples, não iria parecer descaso? Talvez, fosse parecer que eu não me importava o suficiente.
Se fosse algo pessoal demais, talvez eu fizesse ela se afastar, e se eu tentasse não ser muito pessoal, e desse algo genérico demais?

Caralho, que merda, nunca passei por isso! É bem mais fácil largar o cartão de débito na mão da pessoa e falar " Vai lá, compra." Contudo, eu sabia que não poderia fazer isso com Lucy, a conheço o suficiente pra saber que ela não aceitaria.

Ok, oque eu realmente sei sobre a Lucy? Ela gosta de estudar, gosta de ler. Gosta de trabalhar... Gosta de cozinhar. Ela é simples, e morou a vida toda na zona rural... Puta merda, pensar nessas coisas, era ainda pior, só me fazia pensar, que ela não precisava de nada. Não precisava de nada vindo de mim.

— Ficar com molho no queixo é alguma nova tática de sedução pras garotas ao nosso redor? — Lysandre perguntou, chamando minha atenção para a realidade.

Pisquei duas vezes, e peguei o guardanapo para limpar o queixo.
Ele riu, espetou sua almôndega com o garfo, e ficou me olhando.

— Já escolhi. — ele falou, e apontou o garfo com a almôndega para mim.
— Hã? — perguntei, com a boca cheia.

Ele piscou calmamente, cheio de paciência.

— A garota. — falou com a voz baixa — Já escolhi a garota que você vai chamar pra sair. — completou, dando um dentada na almôndega.

Perdi todo o apetite. Joguei o garfo e a faca no prato de qualquer jeito, e larguei o corpo na cadeira, tentando relaxar.

— Não vou me agarrar com uma desconhecida que você considera interessante, só pra te provar alguma coisa. — comecei, abrindo o casaco — Eu vou chegar nela, e pedir o telefone dela, pra te provar que eu sou capaz de conseguir meus esquemas. — expliquei, apoiando os cotovelos na mesa.

Ele ergueu as sobrancelhas, me lançou um sorriso malicioso.

— Você não era tão seletivo... — comentou, analítico — Que foi? Ta apaixonado? — completou, erguendo uma sobrancelha.

Puta merda. Eu deveria perceber que o Lysandre acabaria notando alguma coisa de diferente em mim. Ele é muito perceptivo!

Rolei os olhos e bufei, tentando aparentar descaso, pra ver se disfarçava. Ele continuou me olhando especulativo, enquanto eu tentava fazer pouco caso da observação dele.

— Algumas pessoas crescem, e amadurecem cara. — falei, tentando soar o mais convincente possível.

Ele me encarou por alguns segundos, e então deu os ombros.

— Quem diria que um dia, veria Castiel Wolff, falando sobre maturidade. — comentou pensativo, pousando o garfo no prato — Pelo menos, o acidente teve uma parte positiva na sua vida, mano. — completou, com seriedade me olhando nos olhos.

Eu assenti o encarando de volta. Realmente, o acidente havia trago algo de positivo pra minha vida, mas não maturidade, foi a Lucy.

— Mas, selamos o pacto, você apertou minha mão, então vai ter que chegar em cima da garota que eu escolher, nem que seja só pra trazer o telefone dela. — decretou suavemente.

Eu assenti, sem muito interesse, e me endireitei na cadeira para ficar de frente para o meu amigo pilantra.
Lysandre olhou ao redor rapidamente, e se inclinou na mesa para chegar perto de mim.

— Ta legal. — ele começou, extasiado — Tem um grupo de garotas que acabou de almoçar, elas tavam' na mesa ali do canto esquerdo. Agora, estão na fila do quiosque de sorvete. — contou, e olhou para lugar que ele falava.

Segui seu olhar, e olhei por cima do ombro. Era um grupo de, quatro, cinco, seis garotas! Um fucking grupo de seis garotas, e o Lysandre queria que eu abordasse especificamente uma. Respirei fundo. Lysandre sabia como eu ficava desconfortável em grupos de garotas. Eu sempre detestei esse tipo de garota que anda em bando, tipo Ambre. Em geral, por algum motivo que eu desconheço, as garotas ficam bem idiotas quando estão cercadas das amigas. Rindo o tempo todo, falando besteiras, e agindo como se fossem rainhas do Suldão.

— Que cara é essa? Quer desistir? — ele provocou, quando virei o rosto de volta para encara-lo.
— Fala logo, qual delas? — perguntei, tentando esconder a amargura.

Ele me lançou aquele olhar maligno, típico dele, e assumiu uma postura ereta na cadeira.

— A baixinha, de cabelo azul. — decretou, cruzando as mãos em cima da mesa, formalmente.

Olhei por cima do ombro novamente. As garotas faziam uma pequena algazarra no quiosque de sorvete. Olhei por mais um tempo, e não demorei para achar a tal garota de cabelos azuis. Ela era a que mais falava, e que mais gesticulava. Parecia bastante agitada, e ria bastante, enquanto as outras garotas pairavam em sua órbita. Claramente, se o grupo tivesse uma líder, essa líder era ela.

Me virei novamente para Lysandre, entendendo o desafio dele. Ele queria que eu abordasse uma garota “popular”, pra ficar constrangido e ameaçado, no meio das outras, caso ela me desse um toco. Maldito amigo que fui arrumar.

Tentei dar um sorriso confiante para Lysandre, e me levantei indo na direção das garotas. Eu não estava nervoso com o fato de chegar em cima da garota, eu estava nervoso, porque não queria chegar em ninguém.

Andei em linha reta, até o grupo que garotas, que agora se afastavam do quiosque, cada uma com seu sorvete. Olhei para trás rapidamente, e vi Lysandre se levantar para observar discretamente “minha abordagem” .

Apertei o passo, e me enfiei no meio das garotas, e passei por elas, parando em frente a tal garota de cabelos azuis.
Ela não parou de andar, então, ainda de frente para ela, comecei a andar de costas, encarando-a. Ela ergueu as sobrancelhas para mim curiosa, e riu, quando eu esbarrei em um senhor, quase derrubando o coitado. Só então ela resolveu parar. E quando ela parou, suas amigas fizeram o mesmo.

Me aproximei, dei um meio sorriso. Ela sorriu de volta. Nos encaramos por alguns segundos. As amigas dela se entreolharam, e saíram de fininho. A garota de cabelos azuis entregou seu sorvete para uma delas e ela resmungou um sonoro “ Sempre a Lety. ”

— Oi Lety. — cumprimentei, erguendo uma sobrancelha sugestivamente.

Ela passou a mão no cabelo azul escuro, e me olhou de baixo pra cima, dando um sorriso interessado.

Tava no papo.

Estiquei o pescoço para ver se Lysandre estava assistindo, e o encontrei, no quiosque de óculos escuros, nos olhando disfarçadamente.

— Eu tô' de saída agora, mas você não poderia me dar seu telefone? — perguntei, colocando uma mecha de seu cabelo esquisito atrás da orelha.

Ela segurou a minha mão, e me puxou para perto. O choque me deixou sem forças, e eu quase cai em cima dela.

— Pra que esperar? — perguntou, e se pendurou em meu pescoço, enfiando a língua na minha boca.

Certo, eu realmente não esperava isso. Fiquei tão atônito, que não tive reação, me deixei ser atacado.

Que diabos está acontecendo com as mulheres nos dias de hoje?

Ela me soltou, segurou minha mão, olhou pra minha palma, e riu. Era a mão que a garçonete havia anotado seu nome e número, e eu sequer lembrava disso.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela saiu andando na direção de suas amigas, como se nada tivesse acontecido. Tentei não fazer cara de idiota, mas acho que a tentativa não deu certo, porque Lysandre veio na minha direção quase correndo, com o celular em uma mão as bolsas das compras na outra, o rosto moreno, quase roxo de tanto rir.

— Oque foi aquilo?! — ele perguntou entre risos, e me deu um tapinha nas costas.

Paramos por alguns segundos, e observamos as garotas se afastarem, dando risinhos, e falando entre si, enquanto olhavam para trás vez ou outra.

— Cara... — balbuciei.
— Você deveria ganhar a estátua de “ O sedutor ”. — debochou, digitando no celular.

Meu celular começou a vibrar no bolso. Peguei o aparelho, e fui me sentar no banco mais próximo, com Lysandre ao meu lado, digitando furiosamente enquanto sorria como um retardado.

Assim que sentei, e me recuperei “ do ataque ”, destravei a tela do celular e vi pelas notificações, que o grupo estava bombando.

— Lysandre, você ta contando isso pro pessoal? — perguntei, com medo de abrir o whatsapp.

Lucy estava no grupo também, se ele falasse alguma coisa sobre o beijo/ataque de Lety, a desconhecida, a coisa ficaria ruim pro meu lado.

— Eu não seria tão idiota. — Lysandre se adiantou em falar — Se eu contasse, talvez não acreditassem... Então, tirei uma foto do atentado que você sofreu, e mandei no grupo. — completou, virando seu aparelho para mim.

E lá estava eu na foto, inclinado pra baixo, com uma garota pendurada no meu pescoço, quase engolindo minha cara.

— Você mandou isso no grupo? — quase gritei, apavorado.

Lysandre riu, claramente sem entender os motivos do meu desespero.
Abri o grupo, e lá estava a foto, e vários áudios e mensagens, do pessoal curtindo com a minha cara e me parabenizando por “finalmente sair da seca”. Eu sabia que no momento Lucy estava trabalhando, e mais cedo ou mais tarde, com certeza ela veria aquilo.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora pra postar, mas a quantidade de pessoas que acompanha, em comparação a quantidade que comenta, é meio desanimadora, então fiquei meio que murcha de escrever, mas não entendam isso como chantagem, é apenas um desabafo.

Agradeço as queridas que comentam, vocês são uns amores. Até o proximo capítulo sz'



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