Enemies of Space - A Invasão escrita por Erik Alexsander


Capítulo 7
Em Busca de Respostas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/619569/chapter/7

A princípio ele achou que o que estava acontecendo seria algum tipo de vingança pessoal de Gabriel. Um plano maligno que fora planejado quase que meticulosamente pelo amigo e que fosse á altura da tapa que ele levou á alguns momentos antes.

Aquela garota linda e perfeita com quem ele sonhava a vida inteira apareceu repentinamente durante aquela fuga em pleno apocalipse, no dia em que fugiram de carro e sofreram o acidente em que caíram do viaduto. E agora, aquela menina linda estava encolhida no chão, com ferimentos por toda a parte de seu corpo, suando como se a temperatura ambiente fosse de 300 graus célsius.

O choque de vê-la daquela forma também afetara Gabriel e ele ficou sem se mover, apenas contemplando o inimigo que outrora era um aliado. Ou aliada, não sabia como se referir a ela agora.

Enquanto todos observavam surpresos para a garota no chão, um breve pensamento passou pela mente de Erik. Um pensamento que ele foi debatendo com seu eu-interior em uma conversa sem fim. Não deviam ter confiado na garota desde o início. Deveriam tê-la deixada sozinha para ser morta pelos Aliens. Era um pensamento ridículo e egoísta, mas era o que sempre fora mostrado em programas de apocalipse zumbi. Confiar apenas em si mesmo e fugir. Talvez se tivessem feito uma escolha totalmente diferente e mais sensata, aquilo não estaria acontecendo. Talvez se tivessem fugido e não parado para acudir a garota eles não estariam passando por aquilo. Mas não. Por conta do extinto humano, eles decidiram ajuda-la permitindo que ela se juntasse á eles. E tudo para quê? Para, no final, serem traídos e quase mortos por ela.

Aquilo o deixou furioso. Mas ele conteve essa fúria para que ela o ajudasse a agir de forma fria e calculável. Nada de sentir pena ou alguma afeição. Nada de sentimentos que interferiria em decisões como aquela. Á partir daquele momento não deveria pensar em Larissa como um ser humano, mas sim como algo maligno e medonho. Uma criatura que surgira dos livros de ficção ou fantasia. Algo que viera de outro mundo para aniquilar a raça humana.

Uma ideia nova surgira em sua mente, crescendo á cada milésimo de segundo e que ia se estendendo na sua visão. E se eles conseguissem alguma informação dela? Afinal, seria a única chance de conseguirem alguma resposta para uma série de perguntas que ainda não tinham sido respondidas. A oportunidade estava ali nas mãos deles. Não poderiam deixa-la escapar tão facilmente ou não sobraria mais nenhuma esperança para a humanidade. Precisavam fazer de tudo para conseguir as respostas, nem que fosse necessário mata-la. Sim, mata-la porque ela não era um deles. Ela era um alienígena na forma literal da palavra.

Larissa fez um movimento brusco, uma fuga repentina. Jorge a interceptou rapidamente entrando em seu caminho e desferindo um golpe com seu enorme punho. A cabeça da garota foi jogada para trás com a força do golpe e ela caiu de costas sobre o asfalto. Um líquido viscoso escorreu pela lateral de sua boca e espalhou quando caiu no chão. Juscelino, que estava junto de sua mulher e filha, agora se aproximava cautelosamente formando um circulo junto de Erik, Gabriel e Jorge. Não haveria escapatória. A sombra deles, projetada pela lua imensa no céu que escapava por entre as naves espaciais, incidiu sobre ela como uma forte ameaça.

– Sua puta!! – Jorge urrou. Seus olhos cintilavam de puro ódio, mas permaneceu parado onde estava, com o pulso cerrado e tremendo.

Ao lado de uma casa moderna com arvores na calçada, Patrícia cobriu os olhos da menina quando Jorge segurou Larissa pela gola da camisa e socou o rosto dela, fazendo mais sangue escuro jorrar da boca. Seus olhos estavam quase fechados de dor.

Ele deu mais um golpe. Mais outro. E mais um. Até que Erik se viu acordando de seus pensamentos com o choque da realidade á sua frente. Ele hesitou, mas por final gritou.

– NÃO JORGE! PARA COM ISSO!

Ele se precipitou para cima do homem, segurando seus braços musculosos em vão.

Gabriel se aproximou e conseguiu puxar Jorge para longe da garota traidora. Gabriel era o único capaz de detê-lo pela força similar á dele. Por mais que o ódio pela garota crescesse em seu intimo, ele não podia deixar que Jorge á matasse com porradas. Era algo violento demais, e além disso tinha algo na mente dele que o dizia para parar com aquilo.

– Tá ficando maluco ô moleque? Ela é um deles! – A saliva voou da boca de Jorge quando ele se aproximou furioso de Erik.

– Eu sei, mas presta a atenção! – ele tentou argumentar. Sua pernas tremiam com o medo que relutava em ir embora. - É a única oportunidade que temos! – Era isso. Sua mente relutava em deixa-la ser espancada até a morte porque eles realmente precisavam dela viva. Estava ansioso para ter uma conversa com Larissa, isso ele não podia negar. Á partir dessa conversa é que eles descobririam tudo. Mas primeiro Erik precisava convencer o grupo inteiro á não esquarteja-la.

– Que oportunidade o quê! – Jorge agitou os braços violentamente. - Eu vou é descontar minha raiva nessa desgraçada. São criaturas como ela que deve estar assustando minha filha. – Ele berrou cuspindo.

– Precisamos prendê-la de alguma forma e leva-la conosco. – Erik olhou implorando para Juscelino. Ele, que não era como Jorge, sempre agiu com lógica e foi o único a que poderia recorrer. Portanto ele compreendeu quase que de imediato qual era o plano de Erik e saiu em busca de alguma coisa para prender a prisioneira. Seria quase impossível de encontrar algo que servisse naquela escuridão noturna... Quase, mas não impossível. Ele já sabia onde encontrar.

Um som de risada preencheu a noite.

Erik se voltou para Larissa e viu a garota no chão rindo louca e histericamente. Os lábios formando um “U” enorme e maníaco. Por um momento, ele se lembrou do personagem dos quadrinhos com uma mescla de Yuno Gasai. O cabelo dela estava encharcado de suor e grudava nas maças do seu rosto dando um ar mais aterrorizante e assassino.

– Acha mesmo que vai conseguir me prender humano? – a voz dela não era mais a mesma. Ela, no momento em que se revelou uma inimiga, não fez mais questão de continuar com aquela farsa. Erik não entendia o porquê de ela ainda estar na sua forma humana já que todos ali sabiam sua verdadeira identidade, mas deixou esse pensamento de lado.

– Por que acha que algo nos impede? Você não está armada pelo que vejo. – Erik tentou parecer despreocupado, mas imaginou que seu rosto não transmitia tal sentimento. Ele sentia o sorriso de deboche vacilar, prestes a se transformar numa expressão de medo.

Ela tateou nas costas e seus olhos se arregalaram ao perceber que sua arma não se encontrava ali. As veias do seu globo ocular eram como um vírus mortal se espalhando pelo corpo dela. Sua pele estava pálida e uma queimadura feia formava um contraste aterrorizante em seu rosto, na altura do olho. A pele derretida pelo contato com o sinalizador que Gabriel acendera. Ela grunhiu como um cão com raiva.

Erik não pode conter o sorriso pelo canto da boca e ergueu na altura dos olhos a arma que os Aliens usavam na destruição em massa ao planeta.

– SEU VERME IMUNDO! – ela berrou ao ver a arma em posse humana.

– Jorge, faz ela calar a boca! – o grito saiu da boca de Erik antes que ele pudesse impedir. O nojo por aquela criatura o tomando por completo, deixando a empatia de lado.

Jorge se aproximou dela como Erik havia pedido.Ela começou a se encolher de medo e Jorge socou mais uma vez o rosto da menina, fazendo-a mergulhar na mais profunda escuridão.

***

– Como se sente querida? – Patrícia perguntou á Yasmin.

Elas estavam sentadas no sofá do apartamento onde Erik e os outros haviam se escondido. Retornaram silenciosamente pelas ruas vazias e abandonadas com medo de que a algazarra toda houvesse chamado atenção demais.

A garota permaneceu encolhida no sofá coberta por um lençol grosso e confortável. Ela não respondeu á mãe, apenas ficou fitando-a. Patrícia acariciou o rosto da filha com pena pela garota por ter de passar por todos aqueles acontecimentos. Algo em que uma criança no máximo imaginaria em seus piores pesadelos. Mas Patricia não tinha culpa por ter envolvido a filha. Nenhum deles jamais imaginara passar por tal situação.

– Vai ficar tudo bem tá! A mamãe vai estar aqui com você. – Patrícia prometeu á Yasmin. A menina acenou com a cabeça e Patrícia a abraçou forte.

Juscelino chegou perto das duas e as envolveu em seus braços. O carinho foi retribuído pelas duas.

Erik ficou comovido com a cena, mas não podia deixar de pensar que talvez aquele fosse o ultimo momento em que aquela família estaria reunida. Com muito esforço ele saiu do transe e se dirigiu á Jorge. Lilith estava ajudando ele com um curativo no braço, mas Erik não se importou.

– Onde você a colocou?

– Ela tá presa lá numa salinha do estacionamento. – ele disse sem retirar os olhos das feridas que ardiam.

Erik se lembrou do dia em que quebrara o braço. Algum tempo depois ele teve de retirar o gesso, que permitia que seu braço ficasse imóvel, para poder tomar banho. A imagem da carne de seu próprio corpo costurada por fios pretos lhe dava calafrios até hoje.

O ferimento de Jorge não era profundo, mas era o suficiente para deixar uma longa cicatriz futuramente.

– Preciso interrogá-la. – Erik disse com receio. Jorge não seria convencido de que aquilo seria a coisa certa a fazer no momento. – E vou precisar de você e do Gabriel para isso.

– Tá brincando né? – ele agora olhou para Erik. – Você acha que aquela piranha, ou o que quer que seja, vai nos dar alguma informação?

A pergunta de Jorge soou mais como um desafio do que um questionamento. Erik não gostava de ser desafiado e logo seu receio se tornou fúria e ele disparou para Jorge.

– Olha aqui Jorge, eu sei que nós temos todos os motivos do mundo para matar aquela desgraçada, mas se não tentarmos arrancar alguma coisa dela a gente tá fudido! Você vai sim comigo lá embaixo e ponto final.

– E você manda em alguma porra agora?

– Bom, se for você que vai decidir o que o grupo deve fazer ou não eu prefiro me entregar pelos Aliens e ser morto.

Erik deu as costas para Jorge e foi procurar Gabriel na cozinha. O encontrou sentado na pia com um prato enorme de arroz, feijão e o que parecia ser salsichas em cima da bancada. O estômago de Erik protestou por comida, mas ele se segurou. Não era o momento para comer. Ele tinha que fazer o questionário primeiro. Era sempre assim. Primeiro ele cuidava dos assuntos mais importantes (não que se alimentar não fosse importante, mas ele julgava importante tudo aquilo que precisava ser resolvido de imediato), depois se preocuparia com o restante.

– Encontro você e o Jorge nas escadas em dez minutos. – Ele deu as costas, mas logo voltou-se para Gabriel novamente. – E come logo essa porra, que eu não vou ficar esperando não. Eu to morrendo de fome, então se descer atrasado te arrasto pelos cabelos! – Ele ameaçou e saiu, mas ainda conseguiu ouvir o “Tá bom caralho!” abafado pela comida na boca do amigo.

Erik saiu do apartamento á passos largos e seguiu pelo corredor, descendo as escadas até o primeiro andar. Durante a descidas pelos longos lances de escadas ele ia formulando as perguntas que faria para o inimigo que, no caso, era Larissa. Ou ele simplesmente exigiria que ela contasse como e porque tudo aquilo de invasão aconteceu? Parecia ser mais simples e talvez responderia todas as questões de uma só vez. Mas será que ela responderia? Erik não saberia dizer. Estava confuso quanto ao lado em que aquele Alien estava. Se ela era inimigo porque não os matou logo quando se encontraram? Porque só depois é que demonstrara sua verdadeira face? Eram tantas as perguntas que Erik não conseguia se segurar de angustia.

De súbito um som de passos se fez ouvir e no topo das escadas ele viu as formas de Jorge e Gabriel descendo. Jorge segurava em uma das mãos um enorme bastão de beisebol enquanto Gabriel segurava algum tipo de maquininha. Parecia a maquina que os cabeleireiros usam para cortar o cabelo das pessoas, mas era um pouco diferente.

– O que é isso na mão de vocês? – Erik se assustou. – Vocês não prenderam ela, seus burros?! Não vai ser necessário isso.

– É claro que prendemos, mas não custa nada levar só por segurança. Caso não tenha percebido “burro”, ela é um ser que não conhecemos. Não podemos achar que ela tá completamente imóvel. – Gabriel disse. – E você não trouxe nada para se proteger né sua “bicha”!

Ele avaliou Erik, procurando por algo com que o garoto pudesse se proteger e emitiu uma careta de desgosto ao perceber que Erik não trazia nada consigo.

– Eu não sou medroso como vocês, “meninas”! – Erik defendeu-se. O fato era que ele nem havia pensado em se proteger. Estava tão ansioso em busca de respostas que nem ousou sequer em pensar em armas. Mas não iria demonstrar o quão burro ele mesmo fora.

– Vamos logo, que eu tive de deixar um pouco de comida no prato. – Gabriel reclamou tomando a frente do trio.

Jorge e Erik o seguiram silenciosamente enquanto eles desciam as escadas que levavam ao estacionamento do prédio. Erik suava frio e tremia muito. O silencio que era preenchido pelo som dos sapatos deles davam um ar sombrio á situação, fora a escuridão quase total que era quebrada apenas por algumas luzes de emergência que ainda funcionavam.

Eles seguiram para uma pequena sala que Erik imaginou que poderia ser de algum porteiro ou algo do tipo. Apesar de parecer pequena por fora, os três entraram sem problemas. Tinham espaço o suficiente para se movimentarem.

O corpo inerte da garota estava encolhido em posição fetal no canto da sala. As lâmpadas fluorescentes piscavam assustadoramente. O cabelo dela estava empapado de suor e caia sobre seu rosto que parecia ter emagrecido dez quilos.

A primeira questão saiu antes que Erik pudesse segurá-la.

– Quem são vocês?

Sua voz ecoou pelo recinto e um momento de tensão pairou no ar. Não houve resposta por parte da prisioneira. Achou que a pergunta soara infantil. Mas como não era possível ver os olhos dela, Erik imaginou que ela estivera dormindo. Ele a tocou com a ponta do all-star e repetiu a pergunta.

– Quem são vocês?

Silencio.

Erik lançou um olhar para Gabriel transmitindo nele um pedido de ajuda, pois não sabia o que fazer para acordá-la.

Gabriel se aproximou e desferiu um golpe com a pequena maquininha. Uma luz azulada transferiu uma descarga elétrica de vários volts fazendo o corpo da menina se mexer em espasmos.

Ela arquejou e levantou o rosto para eles. A fúria emanada por ela era tanta que Erik cogitou em dar um passo para trás antes que ela o matasse pleo simples fato de olhar para ele. Mas não o fez.

Ele apenas a encarou e tentou usar a ultima gota que ainda tinha de paciência para argumentar. Caso o plano da argumentação não funcionasse, teria de usar medidas mais drásticas.

– Olha, se você cooperar conosco, vai ser muito melhor para você. Não queremos... – olhou para Jorge. - ... machucá-la.

Jorge abriu a boca para protestar, mas a gargalhada cortante da menina preencheu o lugar e o impediu que falasse algo.

Era macabra a forma como que ela ria. O som parecia quase gutural.

Ela inspirou após alguns segundos e enfim falou com a voz rouca.

– Vocês acham mesmo que vão conseguir algo de mim?

O sorriso tomou conta de seu rosto.

– Vocês, humanos, não sabem com quem estão se metendo. Em breve vocês estarão mortos, assim como o resto dos humanos que matamos ontem, e uma nova raça irá tomar conta desse planeta. Uma raça muito mais evoluída e melhor que a de vocês. Ah sim – Ela olhou para Erik que agora estava petrificado perante a ameaça dela. – muito em breve. Iremos vingar o que vocês fizeram conosco.

Erik não entendeu o que ela quis dizer com “vingar”, mas permaneceu quieto esperando por mais alguma informação, mesmo que não entendesse.

Porém, Jorge perdeu a paciência com a risada dela e girou o taco de beisebol no ar. A ponta do objeto atingiu-a no rosto e alguns dentes voaram. Sangue jorrava pela sua boca, mas Jorge não parou por aí. Golpeou várias vezes, em diversos locais no corpo dela, deixando hematomas e feridas onde o taco atingisse.

O estômago de Erik embrulhou com tanto sangue e ele decidiu sair dos aposentos. Apesar de não ser humana, ela tinha o corpo humano. E isso era forte demais para que ele conseguisse aguentar, mesmo tendo visto cenas piores em filmes de ação ou terror. Pessoalmente as coisas sempre eram diferentes. Na vida real as coisas sempre eram diferentes.

Ele ficar aguardando do lado de fora do prédio. Estava com receio de que, deixando Gabriel e Jorge sozinhos com Larissa, eles fizessem algo de errado e acabassem de vez com caixa de informações que tinhas, mas não conseguia ficar mais lá com tanto sangue.

Apesar de estar claro lá fora e ele correr perigo de ser visto, não se preocupou. Estava debaixo de algumas arvores e detrás de um muro, seria praticamente impossível de encontrá-lo ali. Ele se sentou no barro gelado de um canteiro de flores e apoiou a cabeça no joelho fechando os olhos.

Sentia falta de sua mãe. Sentia falta da vida normal. Quantos dias haviam se passado desde o começo do ataque? Um? Dois? Ele não sabia dizer, estava preso no espaço-tempo. Estava preso em um lugar onde tudo parecia estar acontecendo ao mesmo tempo. Ele sequer reparou na vibração em seu bolso do jeans. Quando a musica tema do Spider-Man começou a tocar em alto e bom tom foi que ele percebeu que seu celular estava recebendo alguma chamada.

Ele se levantou desesperado e retirou o celular do bolso. Na tela estava escrito “CHAMADA DE JACK”.

Ele ficou perplexo. Durante todo aquele tempo estivera sem sinal para ligações, e agora ele estava recebendo uma ligação. Deixou as perguntas para depois e atendeu o telefone.

– Alô Jack? Está tudo bem com você? Onde você tá menina? Eu não te vi lá no trabalho... Esses dias!!

– Erik do céu, finalmente consegui te ligar, já estava preocupada! A Simone me disse que não tinha te visto e eu...

Ela falava apressada quase sem tempo para respirar.

– Calma calma! Respira fundo mulher! E explique tudo o que está acontecendo!

– Eu tô aqui em um dos refúgios que fica próximo á estação de metro. Eu tava indo pro trabalho quando tudo aquilo aconteceu. Eu encontrei a Simone correndo feito louca e viemos aqui pra baixo o mais rápido possível para fugir daqueles cara armados. Por sorte meus pais vieram para cá com o Cleber e os pais dele... Onde você está? A Lilith tá ai com você?

– Nossa Jack, se eu te contar tu não acredita. Mas preciso primeiro saber o local certo que vocês estão para a gente fugir praí urgentemente!

– Ô criatura, a gente tá aqui na estação da Luz, só que... bem mais no fundo se é que me entende. Você precisa descer nos trilhos do metro se quiser entrar e tem que provar que é humano senão os guardas não deixam você entrar.

– Nossa, ainda tem isso? – Erik resmungou. Parecia que as coisas não seriam tão fáceis.

–Pois é. Mas fala logo o que aconteceu com vocês!

Quando Erik abriu a boca para falar a ligação caiu. Ele olhou para a tela do celular e o sinal havia caído. Estava sem comunicação por tempo indeterminado. Porém ele tinha informações que não havia conseguido com o irmão. Sabia onde tinha um refugio mais próximo. A questão era: como fazer para chegar lá sem serem vistos? E como fazer para levar um Alien junto, porque se eles não conseguissem a informação de Larissa, ele tinha a obrigação perante á humanidade de entregar a Alien para as autoridades.

E sua mãe? Será que ela estaria lá também? Uma centelha de esperança se acendeu em seu interior. Ele correu para onde Gabriel e Jorge torturavam a criatura que agora estava caída em uma poça de sangue esverdeado. Nenhum ruído fora ouvido dela. Nem sequer um choro ou gemido de dor.

Estava caída assim como uma manga despenca da mangueira.

Erik ignorou-a e falou para os dois ofegante.

– Eu consegui falar com a Jack!

– O que? – eles perguntaram quase que ao mesmo tempo.

– Como você conseguiu falar com ela? Onde arrumou celular com sinal?

Se fosse Erik também desacreditaria. Estavam em uma situação onde sinais de celular era raro e escasso. Mas por alguma sorte do destino imposta á ele, ele conseguira se comunicar. E não foi só isso, conseguira informações cruciais para a sobrevivência deles. O garoto já arquitetara todo um plano estratégico para fugirem dali e poderem retomar a Terra das mãos dos Aliens antes que fosse muito tarde, apesar que á cada momento que passava já se tornava tarde o suficiente para fazer alguma coisa.

Ele contou a eles o que conversara nos rápidos momentos com Jaqueline.

– Cara, a gente precisa ir pra lá agora. Tipo, agora mesmo. – Gabriel disse. – Talvez minha mãe e meu irmão estejam lá!

– E minha mulher e minhas filhas também.

– Ou não – Erik rebateu. – A Jaqueline não disse nada sobre isso, mas é muito provável que tenha algum refugio em todos os cantos do país. Seria impossível eles virem até aqui são e salvos. Se demora duas horas de Guaianazes até aqui de trem, imagine se eles não tiverem trem para vir.

Gabriel meneou com a cabeça. Erik sabia que no fundo o garoto ainda tinha esperanças de sua família estar intacta e ele não desmancharia o pouco de esperança dele.

Jorge olhava atônito para a parede, provavelmente pensando em sua mulher e filhas, mas Erik não podia deixar que os dois caíssem naquela melancolia. Era perda de tempo ficar se preocupando com aquilo. Ele também tinha esperança, mas também não podia deixar de ser realista.

– Escuta, temos que montar um plano para sair daqui. Vamos nos juntar aos outros e...

As ultimas palavras de Erik foram cortadas pelo grito de Lilith.

– GEEEEEENTEEEEEEEEE!!!!!!

Erik ouviu os passos apressados da garota descendo os lances de escadas cada vez mais próximo.

Por fim, após alguns longos segundos de tensão, ela chegou aonde estavam. Arfava loucamente em busca de ar. Só depois de inspirar três vezes é que ela se deu conta de que todos olhavam para ela estáticos.

– Já pode falar Lilith, o que aconteceu?

Erik perguntou. O suor descia pelo seu rosto, já imaginando o tipo de tragédia que os olhos arregalados de Lilith trariam.

Depois de longos segundos agonizantes ela soltou.

– Eles estão vindo!

– Quem? – Erik se desesperou. Haviam descoberto onde o grupo deles estava escondido. Ele não sabia como, mas uma coisa era certa: eles precisam sair de lá AGORA.

– Os Aliens formaram um grupo, sei lá! Tão vindo pela avenida, mas o César disse que eles estavam vindo de vários lugares ao mesmo tempo. É como se soubessem onde estavamos todo esse tempo e tivessem planejado um ataque contra nós! A gente tá cercado, não tem como sair daqui!!

– Espera, deixa eu pensar um pouco. A gente não pode desistir assim tão fácil.

Ele tentou se acalmar fechando os olhos e inspirando ar lentamente.

Sair pela porta da frente, ou qualquer outra, seria suicídio. Precisava checar algumas coisas. Primeiro, eles sabiam que eles estavam no prédio. Mais cedo ou mais tarde precisariam entrar ali. Não, eles iriam com toda a certeza do mundo entrar para matá-los. A segunda coisa era que, já que não poderia fugir pelas portas, saltar pelas janelas estava fora de cogitação. Seria uma morte horrível caso caíssem daquela altura Se estavam cercados eles não tinham para onde fugir. O céu estava coberto de naves espaciais gigantescas, á qualquer momento eles poderiam identificá-los ali. Era uma loucura, imaginar que estavam sendo perseguidos sem um motivo lógico.

Tentar fugir pelo chão, não dava, nem pelos... Espera um instante. A expressão de Erik se alterou. Seus olhos agora abertos transmitiam uma felicidade imensa.

– Tive uma ideia, mas, analisando as possíveis falhas pode ser que não dê certo mas...

– Fala logo caralho! A gente não tem o tempo todo não! – Jorge vociferou.

– O subsolo! Podemos fugir pelo subsolo!

Eles se entreolharam. Mas não fora transmitido nenhum olhar de desaprovação, foi um olhar de esperança. Um olhar de “Ei! Isso pode dar certo!”.

– Vamos avisar o pessoal! – Erik disparou pela escadaria subindo de dois em dois degraus.

Quando chegou no ultimo lance de escadas ele sentiu o piso sob seus pés tremer. Mas não era apenas o piso, o prédio inteiro sacudia levemente fazendo pó cair nos olhos deles.

– Me diz que não é terremoto! – Erik disse assustado olhando para as paredes. – Já está ruim o suficiente para ter terremoto aqui no Brasil.

– Não é terremoto nada! – Lilith gritou e entrou correndo no apartamento.

Eles a seguiram temerosos.

No momento em que adentraram no recinto avistaram César. Ele estava na sacada e se virava de costas pronto para correr quando um jato de luz azul iluminou tudo ás suas costas e uma explosão o lançou com força infinita na parede.

Os outros foram lançados para trás com a mesma intensidade e quase caíram de costas nas escadas se não tivessem se segurado pelos corrimões.

O barulho de estourar os tímpanos cessou, mas a fumaça cobria tudo na frente de Erik. Ele tossiu sem conseguir respirar direito e sem abrir os olhos. Percebeu que seu óculos não estava mais em seu rosto e tentou tatear pelo chão em busca dele.

– Eles estão invadindo! – Telma gritou no meio da fumaça. Logo ela foi materializada no corredor junto com eles.

Seu rosto e suas roupas estavam cobertos de poeira e cinzas. Gabriel veio logo atrás dela em seguida nas mesmas condições.

– Cadê o César e o Jussa? – Erik perguntou quando finalmente encontrou o óculos no meio de pedaços de concreto.

– Não sei porra! Eles estavam lá dentro, mas sumiram derepente.

Erik se lembrou de César voando quando tudo foi iluminado e logo após houve a explosão.

– OH MY GOD! CÉSAAR! – Ele gritou entrando novamente no apartamento.

Estava tudo destroçado. O sofá aos pedaços, a TV repartida em várias partículas debaixo de entulho. Água caía dos canos estourados e um vento forte soprou levando toda a poeira embora. Nesse instante Erik viu que metade do apartamento não existia mais. Quase havia pisado no limite que agora dividia o céu e o apartamento. Depois daquele limite uma queda de sabe-se-lá quantos metros o aguardava. Ele sentiu uma leve tontura e recuou alguns passos. Quando olhou para trás viu o corpo de César mutilado debaixo de pedras enormes do prédio. Estava todo ferido e sangue jorrava de sua garganta, de onde havia um corte feio e profundo. Seus olhos ainda abertos fitavam o chão para toda a eternidade.

Erik levou as mãos á boca e sufocou um grito de horror. Todo seu corpo começou a tremer da mesma forma que acontecia quando você treme ao sair da Montanha-Russa do Hopi Hari.

– Patrícia? Cade você?

Erik ouviu a voz de Juscelino e o encontrou aonde deveria ser o outro comodo. Ele puxava pedras para trás e retirava pedaços de cômodos dos lugares, mas aparentemente não achava o que queria. Lágrimas escorriam pelo seu rosto formando um caminho por entre a poeira e fuligem. O local que antes era a cozinha se transformou em um inferno ardente entre as chamas.

– Jussa, elas não estão aí! – Erik foi puxá-lo pelo braço, mas Juscelino se desvencilhou. Uma mancha vermelha cobria parte de seu braço.

– Não, ela tá aqui sim! – ele insistiu já sem forças para retirar uma pesada madeira do lugar.

Erik se aproximou dele com calma. Seus olhos marejados de lagrimas que foram contidas com uma respiração forte e decidida.

– Juscelino, precisamos sair daqui agora, senão... Senão todos nós vamos morrer. – Erik disse calmo. Não podia mencionar a morte da sua afilhada e sua mulher. Provavelmente elas haviam caído no abismo e por esse motivo Juscelino não as encontrara.

Juscelino abraçou o garoto que poderia ter sido seu irmão e Erik retribuiu sentindo um pesar enorme pela morte da família dele.

Mais um tiro e um brilho de luz fora disparado e quase os atingiu. Pedaços de pedra do apartamento superior que fora atingido caíram sobre eles. Juscelino parou de chorar subitamente com o susto e Erik aproveitou o momento para puxá-lo para o corredor do prédio.

– Gente o que vamos fazer? – Lilith perguntava abalada.

– A gente tah fudido!

– Não tem como fugir mais, eles vão entrar e nos matar!

– Calem a boca! – Erik gritou. Eles ficaram quieto e Erik avaliou cada um deles. O medo puro estampado em seus rostos.

– Ainda temos chances, eles não entraram no prédio. Só que vai ser difícil chegarmos ao subsolo, e preciso que cada um de vocês deem o máximo de vocês! Entenderam?

Eles concordaram com a cabeça.

Erik teria que formular mais um plano. Ele não sabia de onde saía tantas ideias. Era bem provável que ler muitos livros acabou dando a ele a capacidade de criar ideias de escapatória em casos como aquele.

– E ai, o que a gente faz então? – Jorge perguntou com desdém.

– Vamos ter que tomar algumas armas deles, e pra isso, vamos ter que nos esconder.

– Tá brincando né? – Telma perguntou. – Porque eu não vou encarar essas coisas horrorosas nem morta!

– Ou você faz como a gente, ou você vai estar morta Telma, não é brincadeira. Cada um de nós precisa arrumar uma daquelas armas, já que a que tínhamos perdemos na explosão.

– Qual é o plano?

– É o seguinte...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Enemies of Space - A Invasão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.