SixHunters (Interativa) escrita por Wondernautas


Capítulo 2
A dádiva do lago


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo! E importante: veja as notas finais do capítulo!

—-Por Thoma Dales--



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E eu pude ver claramente um anjo, carregando em seu punho direito uma longa espada brilhante, avançando contra uma grotesca criatura. São apenas flashs de uma visão sem sentido, que retrata a batalha entre dois seres míticos. O mais curioso de tudo é que o anjo não me parece estranho. É como se eu o conhecesse, e inclusive, muito bem...

"Tenho certeza absoluta que amanhã mesmo irá me procurar"...

– E vou mesmo! – exclamo para mim mesmo, em meu quarto.

Em seguida, tampo minha boca. Meus pais dormem no quarto ao lado e de jeito maneira devo acordá-los com gritos durante a noite. Pensariam que eu estou ficando perturbado. Talvez esteja mesmo, com esses sonhos que não cessam. Já são 4 da manhã e ainda não consegui dormir. Lá se foram 6 horas diretas de tentativas frustradas. Nos poucos momentos que consegui pregar os olhos, vieram aqueles sonhos esquisitos, um aperto no peito em companhia deles. Algo que não sei explicar direito.

– Acho que vou dar uma volta lá fora... – afirmo, olhando para a coelha adormecida em uma caixa de papelão próxima da minha cama.

Levanto da cama, coloco uma camisa e uma bermuda – sempre durmo com o mínimo de tecido em mim – e vou em direção à porta do quarto. Em poucos minutos, estou ali fora, no jardim da minha casa. Daqui em diante, caminho lentamente, observando a lua no céu. Terça-feira, segundo dia de aula do meu terceiro ano e um dia após o meu aniversário. Tudo deveria estar em um ritmo bem melhor do que está: sem coelhos e sem sonhos malucos.

– Thoma? – alguém me chama.

Quando me dou conta, estou parado ao lado da casa de duas das minhas colegas de classe, Tsuky e Lucky Scarlet. No momento, vejo ambas.

Pele clara, cabelos rosadas lisos e medianos, olhos curiosamente vermelhos e estatura mediana. As duas são assim. Sim, irmãs gêmeas. Porém, na personalidade, são completamente distintas. Lucky é determinada, firme e sabe se impor. Já Tsuky é tímida e doce. Tal como neste momento, sempre mantém o braço direito colado em seu busto, com os dedos próximos dos seus lábios. Acredito que seja uma forma inconsciente de defesa.

– Thoma, está surdo? – insiste Lucky, aparentemente irritada. – O que está fazendo andando por aí a essa hora?

Elas estão, juntas, assentadas no banco de madeira que fica próximo do portão da casa, na varanda. Dele, é possível ver toda a movimentação aqui fora, já que é um portão de grades.

– Sabe que nem eu sei? – correspondo, entre risos, levando minha mão direita para trás da cabeça por alguns momentos, meio sem jeito. – Perdi o sono e resolvi andar um pouco.

– Você é louco. – opina Lucky, cruzando os braços. – Quem em sã consciência sai de casa neste horário para andar pela rua?

Conheço as duas, e muito bem. Posso dizer que somos amigos de infância. E por isso já estou acostumado com a maneira de ser delas. Com apenas uma olhada, sem identificar quem é quem.

– Thominha, cuidado. – recomenda Tsuky. – Todo mundo na cidade tem medo da Loira do Lago. Você também deveria ter.

– Já te pedi mil vezes para não me chamar assim. – suspiro sabendo que nem adianta falar. – E sobre esses papos, não tenho medo dessas coisas.

A Loira do Lago é uma lenda na cidade de Usagi que diz que, durante a madrugada, uma mulher aparece nos lagos para os desavisados e lhes fazendo mal. Nunca levei isso muito a sério, mas Tsuky treme como vara verde só ao lembrar dessa história. E de fato, ela já está tremendo.

– Desde que nos contaram isso quando éramos pequenos, eu temo a Loira do Lago. – admite, trêmula, com os olhos cheios de água. – Toda noite, antes de dormir, pela janela do meu quarto, olho para o lago Tsukuyomi achando que ela pode estar lá.

A cidade possui vários lagos e o Tsukuyomi – que inspirou o nome de Tsuky, dado por sua avó – é o maior e o mais bonito deles. Durante a noite, ele reflete a luz da lua de modo tão mágico que dizem que se parece até com um lago do outro mundo. Pelo menos é o que falam.

É quando Lucky se levanta do seu lugar, chamando para si a minha e a atenção de sua irmã. Séria, ela determina:

– Então, de uma vez por todas, vamos resolver o mistério da Loira do Lago!!

– O que você está querendo dizer, irmã? – questiona Tsuky, assustada só de supor o que Lucky está pensando.

– Vamos aproveitar a oportunidade em que nós três perdemos o sono e estamos aqui para irmos até o Tsukuyomi. – declara ela.

– Você pirou!? Bebeu!? Cheirou gatinhos!? – a outra, se levantando também. – Nunca, mas nuuuuuunca na minha vida eu vou lá! Já foi um sacrifício sair da minha cama e vir para cá com você!

De imediato, Lucky vira-se para sua irmã. Com um sorriso perverso, pergunta:

– Então você quer que eu conte ao Thoma os sonhos que você anda tendo com ele e com o Yuru?

Vejo o rosto de Tsuky empalidecer. Em seguida, ela fica vermelha como um tomate.

– V-v-você e-e-está d-d-delirando! – declama, bem alto.

– Não estou não.

– Está sim! – Tsuky grita de novo.

– Não.

– Siiim! – grita mais alto ainda.

– Será que dá para as damas discutirem bem longe da minha janela, por favor!? – pede alguém, ao aparecer na janela do seu quarto, na casa ao lado da casa das gêmeas.

Os olhos azuis escuros dele, agora, parecem arder de raiva. Os cabelos pretos, bagunçados, sinal de quem estava dormindo profundamente e muito bem até pouco tempo. Uma pele levemente mais escura que a minha, mais alto e igualmente forte. Esse é meu outro amigo de infância, Yuru Lazuri.

– Yuru, Thoma. – se manifesta Lucky, alternando o olhar entre nós dois. – Sabiam que minha irmãzinha querida anda tendo sonhos estranhos?

– Sonhos estranhos? – pergunto, lembrando dos que ando tendo também. – Que tipo de sonhos?

– Afz... – resmunga Yuru. – No meio da madrugada, estou mesmo muito interessado em discutir sobre sonhos alheios...

Lucky sorri maldosamente. Quando seus lábios se abrem de novo, a voz que ouvimos, ainda exaltada, é a de Tsuky:

– Sonhos sobre coelhos assassinos que devoram as pessoas durante a noite, sugando o sangue até a morte para depois degustar suas tripas!

– Eu sabia que nunca deveria confiar em bichinhos fofos demais! – declamo. – Hoje mesmo vou jogar aquele bicho na rua!

Ignorando tanto eu quanto Yuru, que ainda está na janela, Lucky devolve seu sorriso malvado para a irmã. E pergunta:

– Então já está pronta para visitar o lago, não é?

– C-c-como nunca em toda a minha vida. – responde, com a voz e o corpo ainda mais trêmulos.

– Vocês são tão bestas! – reclama Yuru, fechando sua janela e desaparecendo para nós.

– Então está decidido. – declara Lucky, se voltando para mim. – Estamos indo para o Tsukuyomi!

E, de fato, estamos indo. Em poucos minutos, chegamos próximos ao lago, que fica no centro do bairro onde moramos. Ao longe, já avistamos ele. E de lá até aqui, Tsuky, com sua camisola de gatinhos, veio sussurrando as várias formas que a Loira do Lago poderia adotar para nos matar. Desde o clássico afogamento até virarmos comida de piranhas malignas atiradas pela boca da protagonista dessa lenda. Sim, a imaginação de Tsuky surpreende qualquer um.

– Enfim chegamos. – diz Lucky.

– E agora podemos voltar? – pergunta sua irmã, tão assustada que chega a dar dó.

– E agora posso contar pro Thoma o que ele faz nos seus sonhos?

– O lago à noite é mesmo lindo... – diz, ao olhar para o Tsukuyomi, ainda cagando de medo, mas disfarçando para eu não ouvir o que nem quero saber.

Por alguns segundos, nós três ficamos em silêncio, apenas observando o lago. E, de fato, ele fica realmente lindo durante a noite. É a primeira vez que tenho tal oportunidade e não me lembro de ter visto, na minha vida, algo tão bonito.

– Ei, Thoma... – Lucky se manifesta, agora com um tom diferente.

Olho para ela e noto uma feição meio triste, mesmo percebendo também que ela está tentando disfarçar. Com os braços cruzados, ela pergunta:

– Por que se afastou de nós?

Nossos olhares se cruzam. E eu não consigo responder. Na verdade, acho que nem há uma resposta. Eu, ela, Yuru e Tsuky, quando crianças, estávamos sempre juntos. Sempre mesmo. Nossas casas ficam uma ao lado da outra e era uma desculpa a menos para não nos vermos frequentemente. Tínhamos prazer de estar na presença um do outro. Para brincar, estudar, conversar e até para chorar. Porém, no meu aniversário passado, não me lembro exatamente o porquê, mas eu decidi me afastar das pessoas. O fato é que, mesmo com eles, eu ainda sentia uma angústia dentro de mim que nunca consegui explicar. Essa angústia só foi crescendo com o tempo até eu me tornar a pessoa fechada que sou hoje.

– Não tem resposta? – insiste Lucky. – Você é mesmo um idiota.

Nem correspondo. Afinal, não tenho mesmo nenhuma resposta para isso. Gostaria de ter, mas não tenho.

– Você mudou. – ela fala. – Mudou pra alguém que não reconheço mais. Parece até que...

– Santo Pai do céu!!! – grita Tsuky, nos dando um baita susto.

– Endoidou, Tsuky!? – Lucky procura saber, se voltando para sua irmã. – Se estivesse mais perto do meu ouvido, já poderia me declarar como surda!!

– Olhem lá! Olhem lá! – grita ela, muito mais assustada do que antes, apontando para o meio do lago.

E olhamos. É quando vejo algo ainda mais belo do que o Tsukuyomi durante esta madrugada. É uma imagem surreal, que meus olhos insistem em não acreditar: uma mulher de longos e ondulados cabelos loiros, de pele clara e com um grande vestido branco, surgindo entre várias ondulações de água que saem do lago para envolvê-la.

– A Loira do Lago!!! – grita Tsuky. – É elaaa!!!

Os olhos da mulher se abrem. São azuis como o mar infinito. Enquanto as ondulações continuam ao seu redor, ela permanece levitando sobre o lago. Seus cabelos, apesar do vento não estar soprando, esvoaçam acima do seu corpo. É uma visão deslumbrante. Percebo então que ela carrega consigo uma espada embainhada, como se estivesse pretendendo entregá-la para nós.

– Após séculos, é chegada a hora do despertar das sete Espadas Sagradas. – declara ela. – O mundo está prestes a entrar em colapso e somente os escolhidos por elas poderão corrigir as divergências que estão por vir.

Continuo fascinado pelo que vejo. Nem sei como Tsuky ou Lucky estão mais. Apenas sei como estou: deslumbrado e sem palavras diante de tal visão.

– A Loira do Lago vai nos enfiar uma espadaaaaa!!! – grita Tsuky. – Ela quer me estripar!!!

– É claro que não, sua burra! – grita alguém.

De repente, Tsuky cai no chão. Acabou de receber um chute de um coelho. Sim, de um coelho. Ou melhor, da coelha. Aquela coelha.

– Eu quero a minha mãe!! – grita Tsuky, aos prantos. – A Loira do Lago e um coelho assassino falante estão querendo me matar!!

– Eu tenho pavor de gente burra. – reclama o animal, que continua falando, agora assentado sobre a grama do local. – Ela não é a Loira do Lago, é a Dama do Lago. E eu não sou um coelho, sou uma coelha. E não quero te matar.

– Você é... – tento falar, mas logo sou interrompido.

– Sou Beth, seu tolo. – reclama a coelha, aparentemente nervosa. – Eu não reclamei de imediato sobre a cama pavorosa que me deu, mas eu deveria desde já dizer que não só ela, como seu quarto são de péssimo gosto. Mas depois discutimos sobre isso. Agora, por gentileza, façam o favor de prestar atenção no que a Dama do Lago está falando.

– Esta espada escolheu você, meu jovem. – diz a loira. – Você é aquele que deverá empunhá-la contra os males que se aproximam.

Fico espantado com o que acabei de escutar. E, de imediato, me lembro daquela visão em que o anjo enfrenta um monstro com uma espada reluzente.

– Excalibur, a lendária espada que foi utilizada pelo rei Arthur Pendragon tempos atrás. Ela escolheu você, Thoma Dales.

– Como sabe o meu nome? – indago, surpreso.

– A Excalibur me contou. – afirma a loira.

Repentinamente, a espada embainhada se afasta, de algum modo que não saberia explicar, da tal Dama do Lago. Enquanto Tsuky se levanta da grama e se coloca de pé outra vez, a espada, envolta por uma misteriosa luz, se aproxima de mim. Ergo minhas mãos como se eu tivesse a certeza de que ela realmente deve ser minha. E quando meus dedos a tocam, a luz se intensifica muito mais, mas por breves instantes. É um clarão luminoso que toma conta do local. Quando se apaga, a mulher já não se encontra mais aqui. O lago, normal, assim como estava quando chegamos.

Mais uma vez, uma visão, a primeira de todas: um sexteto diante de um grupo muito maior de pessoas. E agora, com mais clareza, vejo que entre elas estou eu.

– O que foi tudo isso? – se pergunta Lucky, pasma.

– Foi o que era para ser. – determina a coelha, chamando a atenção de nós três.

– Eu acho que o chá que mamãe fez estava estragado. – comenta Tsuky, risonha. – Nada disso pode ser verdade.

– Mas é. – garante a coelha. – Tudo isso foi e é real. Thoma foi escolhido pela Excalibur, uma espada mítica que atravessou eras para chegar até ele.

– Como eu posso acreditar que a lendária Excalibur, da qual nunca foi provada a existência, está agora nas minhas mãos? – pergunto, segurando a espada. – E, meu Deus, estou discutindo com um coelho!!

– Uma coelha. Eu sou uma dama, seu tolo. – reclama. – E já me apresentei. Meu nome é Beth!

– Detesto esse nome. – afirma Lucky.

– E eu detesto você, sua ridícula. – Beth, por sua vez.

– Como é que é, sua bola de pelos!? – ela se exalta.

– Ouviu muito bem. – rebate, fechando os olhos. – E não sou uma bola de pelos, você que está virando uma bola. Devo recomendar uma dieta?

Vejo Lucky soltando fogo pelas ventas. É quando me manifesto:

– Calma, Lucky. Não é legal você perder a cabeça com um bicho falante. Tudo isso é meio esquisito, mas deve ter uma explicação racional.

– É claro que tem. – declara a coelha. – Quando não se fecha a boca, só tem como engordar mesmo.

– Eu vou arrancar a sua cabeça, maldita!! – grita Lucky. – Não estou gorda coisa nenhuma!!

– Afz... – suspiro, entediado com essa discussão. – Vamos parar por aqui?

– Vamos mesmo, pois ainda tem algo que não foi decidido. – afirma a coelha.

– E o que seria? – pergunto.

– Quem será o meu guardião. – determina Beth.

– Como assim? – indago, ainda mais confuso.

– Você tinha como responsabilidade apenas me proteger enquanto a Excalibur não despertasse por completo. Cada Espada Sagrada possui alguém que induz o seu despertar e, nesse caso, sou eu. Como você foi o escolhido, eu precisava ficar ao seu lado até o momento. – explica. – Já que minha missão está completa, não é necessário que eu fique com você. Mas preciso de alguém que possa me proteger a partir de agora.

– Yuru gosta muito de coelhos. – comenta Tsuky, já mais calma.

Beth alterna seu olhar entre nós três. Ainda assentada, lança:

– E então? Como vai ser?

–---

Não muito longe dali...

Uma casa aparentemente comum por fora. E apenas por fora. Em seu interior, são identificados traços que a aproximam de um castelo medieval. Impressionaria qualquer um que a adentrasse. É o lar de uma das alunas da mesma escola de Thoma, Lucky, Tsuky e Yura: a casa de Sakura Inoue.

– Senhora, acabamos de receber a informação de que a primeira espada já despertou, Excalibur. – declara um serviçal, pelo que parece, o mordomo da casa.

– Maravilhoso. – comenta a jovem, diante da janela, observando o luar.

É uma jovem de pele clara, olhos castanhos escuros e pequenos, cabelos negros repicados até a nuca e estatura mediana. A julgar pela aparência, uma mera e inocente garota. Porém, seus olhos contrariam tal ideia, ao se voltarem para uma espécie de redoma de vidro próxima dela. Dentro da redoma, se encontra uma espada embainhada. Sorrindo, Sakura diz para si mesma:

– Isso significa que, muito em breve, a minha querida Kusanagi também irá despertar...


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Notas finais do capítulo

Primeiro quiz da fic: Com quem a coelha deve ficar? u.u

A)Thoma
B)Lucky
C)Tsuky
D)Yuru

A fic será construída a partir desses quiz, e tomará rumo diferente conforme forem traçados os destinos através da votação. Você, que vai comentar, vote e a opção com maior votação será a definida!