Joias Celestiais escrita por Lucas José


Capítulo 1
Capítulo 1 A primeira joia


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura para vocês, espero que gostem.



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A pedra era oval e encaixava direitinho em sua mão, tinha um brilho fraco e opaco que se destacava na penumbra da tempestade e dava um tom especial ao objeto.

Porem isso não era o mais impressionante, pois a sua frente havia uma garota olhando para ele com uma feição sinistra por causa do brilho da joia.

E por mais irreal que parecesse, Arthur sentia uma forte ligação com ela mesmo nunca tendo a visto antes.

Mas pra que tenha um entendimento do que está acontecendo precisamos voltar um pouco, para o mesmo dia só que mais cedo.

Arthur acordou cedo, como sempre fazia desde que saio da casa dos seus pais e foi para a casa da sua avó.

Seu quarto tinha tamanho suficiente para sua cama um guarda roupas e uma escrivaninha, onde ele estudava, e isso era o suficiente para o garoto pois naquele momento ele estava satisfeito com sua vida e com o que tinha.

Arthur só ia para a escola pela tarde, o que o deixava livre para ajudar nas tarefas de casa pela manhã.

Então ao acorda ele escovou os dentes e foi fazer a primeira, que era cuidar do jardim.

Começando pelas hortaliças indo para os legumes e finalizando nas flores, ele tira as ervas daninhas, rega e aduba enquanto assovia sem nem perceber, ele anda de uma planta para a outra como se flutuasse.

 Por causa de seus cuidados pela manhã e de sua avó pela tarde as flores estavam sempre com cores vivas e alegres, os legumes e hortaliças sempre cresciam fortes e saldáveis correspondendo aos esforços dos dois.

— Arthur, vem merendar filho! — a avó lhe chamou com uma voz alta e forte.

— Já vou vó — Respondeu levantando do canteiro e indo em direção a porta da cozinha.

O cômodo era grande e bem organizado, era colorido com dois tons de amarelo, sendo da metade da parede para cima um tom mais suave, e da metade para baixo mais escuro. A pia era toda adornada com pedras coloridas de todos os tamanhos o que dava um tom bem alegre para um lugar que o garoto gostava tão pouco — lavar louças não era uma de suas tarefas preferidas — ao lado seguia o armário onde era guardado as louças, na diagonal ficava o fogão e um botijão de gás coberto por um bordado de crochê feito sobre medida para ele.

Ao centro da cozinha encontrava-se uma mesa cheia das coisas que o Arthur mais gostava de comer, bolo de milho, café com leite, pães quentinhos e um bom suco de cajá.

— Lave as mãos antes de comer — disse a avó.

— Sim senhora.

Seus dois primos já estavam sentados à mesa e degustavam aquele banquete.

— Como vai na escola primo? — perguntou sua prima enquanto bebia um pouco de suco e nem se dava o trabalho de olhar para ele que se encontrava não muito longe da direção da visão dela.

Arthur sempre sentiu que os primos não gostavam dele, e só não se davam o trabalho de demonstrar com palavras.

— Normal! — respondeu enquanto sentava à mesa.

— A vovó falou que você estava tendo problema com alguns colegas — Ela falou ainda sem olhar para ele.

Seu primo levantou os olhos para ele com um ar de curiosidade, como uma criança que espera ouvir uma boa história.

— Já faz um tempo que isso aconteceu, e foi só uma confusão besta, tudo já se resolveu — Respondeu Arthur enquanto comia seu pão com manteiga.

— Se acontecer de novo me avisa — Disse o primo rindo — eu vou adorar filmar pra ter como recordação.

— Para de implicar com ele Diego! — Repreendeu a avó ao entrar na cozinha.

— Eu estava só brincando vovó.

— Sei, brincando, porque você não vai trabalhar já está na sua hora.

— Tá bom, vovó, já estou indo — Diego se levantou e saiu.

— Acho que também já vou indo.

— Vão com Deus meus netos — disse a senhora.

— Amém — responderam os dois.

Depois de alguns segundos o som da porta da sala abrindo e fechando ecoou pela casa.

Seus primos eram mais velhos que ele e muito ocupados por esse motivo passavam o dia todo fora de casa, assim o Arthur só os via pela manhã o que era um alivio pois assim não tinha que conviver com os questionamentos e zombarias.

A garota se chamava Debora tinha 22 anos, ela estava morando na casa da avó porque ficava mais perto da faculdade de agronomia. Sempre que podia ela perguntava como estava indo na escola e como estavam as notas, ele sabia que se ele não se dedicasse ela usaria isso para tentar manda-lo de volta para a casa de pais.

O Diego era o irmão mais velho da Debora, ele morava na casa da vovó por que ficava perto do emprego de fachada que ele tinha em um bar onde ele e sua gangue tinham uma boca de fumo.

Arthur descobriu isso enquanto praticava parkou perto do bar, e decidiu que não se meteria com esse assunto, isso poderia deixar a avó preocupada, então ele não contou pra ninguém.

— Agora que eu terminei de merendar vou cuidar das outras tarefas — ele falou ao se levantar da cadeira.

— Sim, mas não deixe de estudar — disse a avó em um tom de repreensão — e sobre os garotos da escola...

— Já sei vó — Arthur balançou a mão e repetiu o conselho que a avó lhe deu — “fugir não e vergonhoso”.

— Isso mesmo.

— Não se preocupe, eu não vou brigar — afirmou o garoto.

Depois de terminar todos os seus afazeres em casa Arthur se arrumou e foi pra escola.

A distância de onde ele morava até a escola era de quatro quilômetros. No início do ano letivo ele pegava ônibus para percorrer essa distância, mas desde que começou a sua pratica de parkou, ele decidiu que ia usar esses quatro quilômetros para treinar. Então ele corria toda essa distância todos os dias e indo pelos lugares com mais obstáculos o que fazia quatro quilômetros parecer seis.

Nas primeiras semanas ele quase desmaiou e sua farda ficava ensopada de suor e seu corpo fedia, então ele começou a ir com roupas próprias para esportes e carregava a farda na mochila, tomava banho na escola e trocava de roupa.

Nesse dia ele teria que ser um pouco mais rápido pois a previsão do tempo apontava grandes pancadas de chuva pela tarde e o céu já começava a se encher de nuvens carregadas.

Quando ele estava chegando na praça da ponte — ela tinha esse nome por causa da grande ponte ornamentada que atravessava o lago artificial de um lado a outro — o dia já estava escuro como se a noite já estivesse chegando mas era apenas 11h da manhã, e a tempestade caia furiosamente como se o mundo fosse se desmanchar em água.

Arthur se abrigou no lugar mais próximo que o manteria longe da chuva e do vento gelado, e esse lugar era de baixo da ponte.

— Aaah cara, se continuar assim eu vou acabar não conseguindo chegar na escola e terei que voltar daqui o que vai ser uma droga pois a Debora vai encher a minha paciência por eu não ter ido de ônibus.

O vento soprava violentamente e a chuva não dava nenhum sinal de que ia acabar, então o Arthur resolveu sentar em uma rocha que tinha ali de baixo e espera a chuva pelo menos diminuir.

Ele ficou sentado pensando na desculpa que daria para a avó quando chegasse em casa enquanto observava a água bater violentamente na encosta. O garoto sabia por experiencia própria que naquela região o rio tinha mais ou menos uns 30 centímetros de profundidade porem a água estava tão agitada que ficava impossível distinguir a profundidade.

No meio dessa reflexão ele começou a notar um ponto brilhante na superfície agitada da água. Não era forte e nem se destacava muito, mas como os sentidos do garoto estavam aguçados ele conseguia notar aquela pequena luz ofuscada por toda aquele movimento desregular.

Ao se aproximar fez-se uma revelação. O pequeno foco de luz não estava no fundo do rio, mas sim no alto da ponte.

— O que será isso? — questionou-se Arthur — pode ser valioso, vou tentar pegar.

Examinando o local em busca de achar uma forma de chegar até o objeto (ou não) que ele almejava percebeu que havia uma viga de sustentação vertical que se encontrava com outra na horizontal no alto da ponte, e esta por sua vez passava perto do ponto luminoso.

— É hora de pôr minhas habilidades a prova — murmurou enquanto colocava suas luvas de esportes.

Depois de um breve alongamento ele começou seu desafio. Pulou na viga ligada ao chão e a escalou a te chegar a outra, se pendurou nela com os braços e se locomoveu até chegar no ponto designado. O garoto deu uma balançada mais forte e jogou seu corpo para cima da grande haste de metal que agitou um pouco e depois se acalmou.

Olhando mais de perto Arthur percebeu que o que estava emitindo aquele brilho era uma pedra meio solta no alto da ponte, que ele só alcançava ficando na ponta dos pés.

A tal pedra se movia um pouco quando ele forçava, mas não soltava então ele a puxou com força. Com o Arthur apoiado na viga só com as pontas dos pés é bem previsível o que aconteceu.

Em uma hora ele estava no alto da ponte, em outra em queda livre e der repente SPLASH seu corpo se chocou contra a água.

O garoto não enxergava nada e a dor em suas costas era agonizante. Antes que ele entrasse em desespero seus pés se apoiaram no fundo do lago e com isso ele sabia para onde tinha que ir.

Por sorte ele caiu em um local não muito fundo e nem muito raso, o impacto lhe causou dor mais não foi forte o suficiente para causar um ferimento.

A água chegava a sua cintura o que dificultou a sua saída do lago.

Ele estava deitado ofegante no chão enquanto toda aquela situação se repetia em sua mente e ele dava graças a Deus por esta vivo. Seu corpo estava encharcado e tremia de frio, mas não estava arrependido, pelo contrário, estava agitado pelas descargas de adrenalina e alegre por ter sucesso em sua missão.

— Tomara que tenha valido apena todo esse sufoco que eu passei — Disse enquanto controlava a respiração e ficava de pé.

Enfiou a mão no bolso e retirou o objeto que ele arrancou do alto da ponte.

Bem, então chegamos finalmente no ponto motriz dessa história, da que em diante nada será normal ou de fácil compreensão. Tudo será um amontoado de confusões e sensações, desespero e esperança, mas vamos deixar que você veja com seus próprios olhos tais acontecimentos e tire suas próprias conclusões.

— Aaaaaah! meu Deus! — gritou exasperado dando um salto para longe da garota — caramba garota, quer me matar de susto?

Arthur, auxiliado pela fraca luz do dia e pelo brilho dos relâmpagos consegue enxergar os detalhes da garota a sua frente, ela tinha cabelos ruivos destacando seu delicado porem critico rosto, seus olhos verdes o fitavam como se ela o avaliasse em seus medos mais íntimos, a pele branca a caia bem lembrando todas as garotas bonitas que ele já se apaixonara, mas ela era diferente suas asas eram grandes e se mantinham aberta mostrando sua plenitude flutuava no ar, e seu cheiro se espalhava por todo o local, um doce aroma de camélias ao desabrochar, o que o lembrou das flores do jardim, olhando novamente vê salpicadas sardas quase que imperceptível no rosto dela.

— O que é você? — indagou Arthur de queixo caído e olhos arregalados.

— Meu nome é Rachel Levesque — entoou a garota com um tom firme na voz — e eu sou o que vocês chamam de anjo.

— Espera um momento? — exclamou o garoto atônito com a revelação — quando você diz anjo, quer dizer tipo ANJO?

— Você e retardado garoto?

— Claro que não — respondeu exaltado.

— Então porque faz perguntas sem sentido!

— É que você me pegou de surpresa com isso — Arthur andava de um lado para o outro nesse momento com suas mãos nos bolsos e os olhos fitando o chão sinal de que ele estava confuso.

— Você não parece bem — afirmou a anja — Sinto que está incomodado com algo.

Ele parou subitamente e olhou para ela, nesse momento ele notou um detalhe que tinha passado despercebido, talvez pelo susto da queda ou pela ansiedade que a revelação “anja” lhe causou. Nesse momento ele olhou para cima, desviando os olhos da garota e sentindo o seu rosto enrubescer.

— Você está nua — gaguejou o garoto claramente envergonhado.

— E isso e errado? — questionou Rachel enquanto olhava para o próprio corpo.

— Perto de outa pessoa, é sim — respondeu Arthur indo em direção a viga onde ele tinha amarrado sua mochila.

Voltou ainda mantendo a garota fora de sua linha de visão, e entregou a ela sua farda que estava guardada dentro da mochila.

— Veste isto — ele virou de costas e esperou.

— Pronto — falou a anja — a camisa não passava pelas asas então improvisei.

Arthur virou-se para Rachel e seu rosto enrubesceu novamente. A calça de farda coube perfeitamente, mas como a garota mesmo disse a camisa não passava pelas asas então ela a amarrou em volta dos seios como se fosse um tomara que caia que lhe caia muito bem.

— Bem, ta melhor do que antes — ele balançou a cabeça para desvia o foco daquele assunto que agora já poderia ser considerado resolvido.

Nesse momento a chuva já estava se acalmando e o Arthur só queria resolver logo aquela confusão e ir para casa já que não daria mais tempo de ir para a escola e nem de entra na mesma pois sua farda estava em posse de uma anja.

— Então você é uma anja, isso eu entendi — resmungou o garoto voltando a andar de um lado para o outro — porem uma coisa ainda não entra na minha cabeça.

— E o que seria?

— Como você veio parar aqui? E porquê?

— Para de andar de um lado para o outro — expressou a garota mostrando um certo incomodo com a mania de Arthur — ta me deixando agoniada.

— Eu faço isso quando estou intrigado com algo ta bom, e não é só porque você quer que eu vou parar — bufou o garoto.

— Porque Deus em sua eterna bondade e sabedoria, faria eu me ligar com um ser humano tão rude? — nesse momento ela olhava para o Arthur com o mesmo olhar crítico de antes.

— Não e como se eu tivesse pedido isso — vociferou o garoto — e até agora você não me deu nenhuma resposta, só me deixou mais confuso.

— Não precisa gritar, eu não sou surda — retrucou Rachel — e se quer saber algo porque não para, me olha nos olhos e pergunta.

Arthur parou de andar, virou-se para ela, e com as sobrancelhas curvadas, mostrando seu descontentamento, reuni todas as suas dúvidas restantes em uma só frase.

— O que um ser celestial está fazendo debaixo de uma ponte no meio de uma tempestade e que papo é esse de estar ligada a mim?

— Certo, certo — Rachel colocou a mão na cintura — cadê a selenita que você pegou?

— Cadê o que?

— A pedra que você pegou lá em cima — falou enquanto apontava para o auto.

— É mesmo, a pedra — agitou-se Arthur — depois do susto que me deu eu até esqueci dela.

O garoto enfiou a mão no bolso do short e pegou a pedra. Ele tinha a colocado ali no intuito de esconde-la no momento do susto, torcendo para que a garota misteriosa não tivesse percebido a gema. Só que com todos os outros acontecimentos ele acabou esquecendo.

— Essa e minha joia — reverberou a anja com um tom firme e sério na voz.

— Ah mas não é mesmo — Arthur colocou o corpo na defensiva enquanto envolvia a pedra com as duas mãos, mantendo-a longe de Rachel — eu passei por um perrengue para conseguir pega-la.

— Deixa de ser idiota — retrucou a anja — o que eu quero dizer é que eu estou presa a essa pedra, e quando você a tocou isso me libertou criando uma ligação de alma entre nós dois tendo a pedra como objeto de ligação.

— Espera, espera — o garoto demonstrava estar aturdido com a revelação da anja — o que isso quer dizer?

— Eu não me lembro bem — falou Rachel enquanto esfregava as têmporas com os dedos — minha memória está nebulosa.

— Fala logo, você ta me assustando.

— Se você morrer eu também morrerei — Arthur percebeu que a expressão da garota estava seria com uma pitada de medo o que mostrava que ela estava falando sério.

— Caramba, isso e sério — eles dois ainda se encaravam — tem mais alguma coisa que eu deva saber?

— Não consigo lembrar.

— Tem como reverter essa ligação?

— Eu não lembro, ta bom — a anja falou claramente exaltada enquanto lagrimas escorriam de seus olhos cansados.

— Ta bom — disse Arthur — vamos deixar as coisas assim por enquanto.

— Como se tivéssemos outra escolha — nesse momento Rachel olhava para baixo claramente envergonhada pelo seu estouro anterior.

— A chuva já está mais fraca, então vou voltar para casa — Arthur apontou na direção onde morava — você tem algum lugar para ficar?

A garota começou a ficar transparente e em poucos segundos desapareceu. Arthur olhou em todas as direções e não via sinal da anja, mas ainda sentia a presença dela ali próxima a ele.

— Onde você for eu vou — a voz de Rachel ressoou dentro da cabeça do Arthur — afinal de contas, estamos ligados, eu gostando ou não disso.

Depois de passar pelas preocupações da avó, que exigiu que ele tomasse um chá de ervas do jardim para não ficar gripado, Arthur subiu para o quarto com a intenção de interrogar a anja mais um pouco, em busca de respostas mais congruentes.

— Seu quarto e pequeno e aconchegante — a voz da anja ecoou na cabeça do Arthur — reflete o que tem no seu coração.

— E o que você sabe sobre o meu coração? — o garoto perguntou enquanto se aconchegava em sua cadeira e colocava a selenita em cima da escrivaninha.

Rachel se materializou sentada na cama de frente para o Arthur.

— Eu já te falei que estamos ligados — enfatizou Rachel — tudo que vier do seu coração eu sentirei, e tudo que estiver no meu coração você sentira.

— Você tem super poderes? pode me mostrar? — perguntou Arthur com um ar curioso.

— Infelizmente não posso — Rachel respondeu com a voz amargurada — minha energia está sendo utilizada para manter a nossa ligação e para que eu possa me manifestar na minha forma humana.

— Que pena, eu gostaria de ver seus poderes.

— Sério, porque?

— Ah, porque seria legal ver algo assim na vida real.

Ela ficou de pé rapidamente, e por um segundo seu corpo ficou translucido. Arthur sentia a empolgação que vinha da anja como se fosse sua e ao mesmo tempo não fosse, e intuitivamente, ou compartilhada MENTE, entendeu a ideia que ela teve, então ele também levantou empolgado e os dois disseram em uníssono:

“e se você usar meus poderes”

“e se eu usar os seus poderes”

— Tá, quais são seus poderes?

— Eu só me lembro de conseguir levantar coisas sem tocar neles.

— Isso e incrível — vibrou o garoto — manipulação da gravidade, eu já vi isso em um jogo.

— Vamos testar logo — a anja se mostrava tão empolgada quanto seu companheiro.

— Como? Eu não faço ideia de como fazer isso.

Rachel andou até o Arthur, e da escrivaninha pegou um lápis.

Retornou para a cama e sentou-se novamente, segurou o lápis na altura dos olhos e disse:

— Puxe ele até você.

— Certo.

— Concentre-se na nossa ligação, pois sem ela você é só um humano normal e isso quer dizer sem poderes.

Arthur se concentrou e apontou a mão para o lápis, sentiu uma espécie de calor fluindo pelo corpo e então imaginou o lápis saindo de onde estava e indo até sua mão, porem o objeto apenas tremeu.

— Mais uma vez — disse a anja.

— Certo — o garoto estava decidido a conseguir.

Quando já ia dar duas horas da madrugada, pela primeira vez ele conseguiu fazer todo o percurso da mão da anja até a sua sem perder a concentração e deixar o lápis cair.

— Vamos dormir — ele disse ofegante.

— É uma boa ideia — disse Rachel enquanto bocejava — Você progrediu bastante por hoje.

Então a anja desapareceu, voltando para dentro da joia.

Nesse momento Arthur sentiu a energia dela ficar menor, não ao ponto de desaparecer, mas ficava quase imperceptível como uma pequena folha flutuando em um lago, gerando pequenas ondas que se propagam até a margem.

E foi assim que o garoto dormiu, mergulhado naquela sensação da pequena folha.

No outro dia Arthur utilizou suas tarefas para treinar seus poderes. Na jardinagem ele fez a água da mangueira se espalhar por pôr todo o jardim dividindo-a no ar, e na hora de limpar a casa ele puxava o material de limpeza para próximo dele quando sua avó não estava olhando.

Com a ajuda de suas novas habilidades o garoto terminou de fazer as tarefas matinais na metade do tempo e então decidiu fazer algo que ele só fazia no domingo, que era ir no shopping.

— Você não deveria avisar sua avó que está saindo?

— E você não deveria ser intangível — murmurou entre lábios — suas asas estão esbarrando em tudo.

o caminho onde passaram anterior mente estava um caos, as lixeiras tinham sido derrubadas e o lixo espalhado pelo chão. Pessoas estavam se levantando de quedas repentinas derivados do que eles diziam ser “esbarrões invisíveis”, além de outras coisas que não valem a pena mencionar.

— Eu sou invisível, e não intangível — retrucou o ser celeste — lembra do lápis ontem à noite?

— Tudo bem, mas será que não dá pra dar um jeito nas suas asas, elas estão esbarrando em tudo.

Rachel, pela primeira vez pôs seus pés no chão e começou a caminhar ao lado do Arthur, suas asas desapareceram como se nunca tivessem existido.

A garota estava claramente incomodada com aquele novo jeito de se locomover. Ela flutuava desde sempre e estava habituada com isso, não tinha que mover as pernas a cada segundo para ir de um lugar a outro.

— Você não pode ficar andando descalço por aí — ele retirou seu par de tênis esportivo da mochila e entregou a garota.

Rachel sentou-se em uma calçada e começou a pôr os tênis.

— Porque você está com essa mochila?

— Pretendo ir do shopping para a escola, então já trouxe tudo que eu preciso — Arthur respondeu enquanto ajudava a anja a amarrar os cadarços.

Ao chegar no shopping eles foram para a sala de jogos. Arthur recarregou seu cartão com 10 reais e começou a jogar nas maquinas de games de luta, depois de uns 12 minutos ele pede para que Rachel se junte a ele, e assim eles permaneceram jogando até os créditos acabarem.

Sentados na praça de alimentação o garoto curtia um bom copo de refrigerante acompanhado de um Subway, que pela expressão do no olhar do garoto, parecia estar muito gostoso.

— Porque você é tão solitário? — indagou a anja — Você não tem amigos?

— Mais é claro que eu tenho amigos.

— Você é o único sozinho em um lugar repleto de pessoas da sua idade — insistiu a anja — você estava jogando sozinho em um lugar onde todos estavam acompanhados.

— Eu só não estou com meus amigos aqui porque, porque — o garoto se mostrava nervoso ante o questionamento da anja — porque não combinamos de vir.

— Você está mentindo — Rachel sentia um pouco de preocupação com o nervosismo de seu parceiro.

— Não estou — Ele falou entre dentes para que os outros não pensassem que ele era louco.

— Esta sim — Rachel insistiu no assunto, tentando tirara a verdade do garoto.

— O que você sabe sobre mim — Arthur claramente perdeu o controle, pois falou tão auto que todos ao redor olharam para ele e algumas cadeiras que estavam próximas foram repelidas na direção contraria do garoto — não faz nem um dia que nus conhecemos.

Ao percebe que as pessoas estavam olhando em sua direção Arthur abaixa a cabeça e volta a comer seu Subway. Suas orelhas e rosto estavam vermelhos como um pimentão.

— Desculpa — ela disse com uma voz suave e calma — eu não sabia que esse assunto era tão delicado.

Depois de alguns minutos de silencio o garoto respondeu

— Esquece isso.

— Você está notando algo estranho? — perguntou Rachel mudando o tom da voz de calma para apreensiva.

— Como o que?

— Olha como as sombras estão esquisitas.

Ao prestar atenção ao redor o garoto percebe do que o ser celeste estava falando.

As sombras não possuíam formas fixas, pelo contrário, bruxuleavam como as chamas de uma fogueira.

— O que é isso? — nesse momento Arthur começou a sentir um pequeno incomodo que ele já conhecia muito bem, ‘MEDO’, essa sensação fazia o coração acelerar e as pernas tremerem, ‘MEDO’, deixava a mente confusa dificultando o raciocínio, ’MEDO’.

Antes que ele conseguisse ao menos se levantar o chão se rompeu ante seus pés e todo o segundo andar desmoronou em um piscar de olhos.

Arthur não conseguia enxergar nada pois a escuridão se estendia por todos os lados.

O medo e o desespero, juntamente com a dor dos ferimentos, já tomavam conta da mente do garoto, drenando suas forças física e mental.

Quando ele estava à beira do desespero e seus braços e pernas já não aguentavam mais sustentar o peso dos escombros, uma voz surgiu em sua mente.

— Aguenta firme — disse Rachel — eu sei que você consegue repelir esses escombros.

— Eu queria muito conseguir isso — respondeu mentalmente — mas meu corpo inteiro dói, e minhas forças já estão na reserva da reserva.

— Que papo é esse? — continuou a anja — cadê aquele garoto que escalou as vigas de uma ponte durante uma tempestade.

— Rachel, se eu morrer aqui, será que vou pro céu? — ele perguntou com uma voz fraca e chorosa, claramente desgastada pela fadiga.

— Você não vai morrer aqui — a anja também já estava em desespero. Ela queria sai da joia e segurar todo aquele peso no lugar do Arthur, mas não havia espaço para ela naquele local, e mesmo que houvesse, no seu estado atual ela não conseguiria nem ao menos diminuir o peso que sufocava os dois.

— Deus — rogou Rachel — se você ainda pode me ouvir, por favor, nos ajude.

Do topo dos destroços, bem à frente do Arthur, surge uma luz como se Deus tivesse ouvido as preses da anja, e da luz sai uma mão. Nesse momento todo o peso que o garoto sustentava nas costas sumiu e ele agarrou aquela mão com todo vigor que lhe restava. Enquanto ela o puxava para cima, sabe-se lá como, os destroços se sustentaram e os que estavam a sua frente se moviam para que ele passasse sem sofrer nenhum arranhão.

— Estamos salvos — pensou Arthur.

— Não estamos não — falou Rachel com a voz tremula de medo.

— O que você quer dizer com “não estamos” — bem nesse momento o garoto foi completamente erguido dos escombros, e ele notou o que a anja queria dizer.

Arthur estava sendo erguido a um metro do chão por uma sombra. Na extremidade que o segurava se encontrava uma mão negra e oscilante, e ligada a mão tinha uma sombra fantasmagórica que estendia até os pés de um cara que parecia ter siado dos filmes do extermina a dor do futuro.

Os óculos escuros impediam Arthur de enxergar os olhos do homem que agora estavam direcionados a ele, mas não precisava olhar nos olhos dele para saber que suas intenções não eram boas, ninguém que use sobretudo e óculos escuros e bem intencionado.

A sombra arrastou o garoto até ficar cara a cara com o homem de sobretudo. Ao olhar novamente nos olhos daquele cara misterioso o coração do Arthur acelerou mais ainda, pois no lugar onde devia estar os globos oculares havia somente escuridão, uma escuridão tão densa que até a luz parecia se perder dentro delas.

— Cadê a joia? — o ser das trevas perguntou com uma voz rouca e pesada.       


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Notas finais do capítulo

o que será do Arthur e da Rachel agora? e quem e esse cara misterioso?



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