Mudanças são necessárias em nossa vida, mas nem sempre elas acontecem por vontade própria. Hoje começam as aulas e eu sempre gostei do início do ano letivo. Começar novas aventuras, conhecer pessoas novas, tudo isso sempre chega com a primavera a minha estação preferida.

Eu sei que esse sempre foi o meu sonho, mas agora que estou conseguindo realizá-lo estou querendo voltar atrás. Afinal eu sou uma pessoa simples que agora vai estar entre os melhores, uma novata entre os populares, isso realmente vai ser muito divertido. A única força que me faz ficar em pé é a Yui, afinal ir para o colégio Keio era o nosso sonho, eu só não sabia que iria ter que realizá-lo sozinha.

Ao chegar ao colégio Keio eu nem podia acreditar no que via era tudo tão... Perfeito! Dez, cem, mil vezes melhor do que eu imaginei, e olha que eu sonhei a minha vida toda com este lugar. Ao entrar pelo portão principal havia uma rua que era cercada por jardins de ambos os lados. Esses jardins eram enormes e deviam cercar todo o prédio do colégio, cheios de sakuras florescendo, entre elas havia caminhos feitos de pedras e por todo lado havia bancos de madeira todos detalhados. Eu me perdi em meus pensamentos observando essa paisagem. Eu queria tanto que a Yui estivesse aqui para admirar este lugar comigo, Yui e eu sempre dividimos tudo eu confesso que não sei o que seria de mim sem ela.

Depois de caminhar quase um quilômetro, cheguei ao prédio principal “isso aqui é um colégio ou uma cidade?”. O prédio também era enorme e muito bonito, a pintura estava intacta e perfeita como se tivesse sido pintado a menos de uma semana, devia ter uns quatro andares e por mais que eu olhasse para a direita ou esquerda o prédio não parecia ter fim.

Acho que eu não vou me dar muito bem com esse lugar, por todos os lados há pessoas lindas e elegantes, filhos das pessoas mais importantes do país. Enquanto eu estou apenas com uma saia com pregas azul escura que ia até o joelho e uma blusa com mangas três quartos rosa claro junto com uma sapatilha da cor da blusa. Sinceramente odiei o fato de saber que os estudantes fizeram com que fosse abolido o uso de uniformes, isso só vai me fazer sentir ainda mais desconfortável, perto dos outros estudantes. Senti-me como uma plebeia entre os membros mais importantes da realeza.

Nos poucos minutos que fiquei aqui, já vi de tudo um pouco, um grupo de garotas muito bem arrumadas e maquiadas que não paravam de me encarar, um grupo de pessoas com um estilo meio estranho, meio gótico, e um grupo de garotos rodeados por dezenas de garotinhas que só faltavam babar em cima dos garotos “idiotas”, eu juro que tentei me aproximar de algumas pessoas, mas elas me olhavam dos pés à cabeça e saiam de perto de mim enquanto riam e cochichavam. Tudo bem que eu sou antissocial, mas essas pessoas estão me dando medo.

Quando o sinal tocou tive de me virar, eu não conheço nada aqui e esse lugar é enorme. Como eu morava numa cidade a alguns quilômetros de Tóquio eu iria ficar no dormitório do colégio “eu já disse que esse colégio em de tudo?”, pelo menos um funcionário do colégio fez o favor de levar minhas malas para o meu quarto ou eu iria me atrasar e muito. Depois de me perder umas vinte vezes, eu encontrei a minha sala e por sorte a professora me deixou entrar, era aula de matemática, minha preferida “pelo menos alguma coisa boa”.

Depois de três aulas eu já não aguentava mais, tantos os alunos como os professores me tratavam como se eu fosse algum tipo de praga venenosa.

Na hora do intervalo, eu deslocada de novo, decidi dar uma volta pelos jardins, mas descobri que cada jardim era destinado a certo grupo de estudantes e eu como não pertencia a nenhum grupo, não podia ficar ali. Quer saber de uma coisa? Sinceramente esse sonho já está virando pesadelo.

Enquanto seguia para a minha próxima aula acabei esbarrando em um garoto que era seguido por vários outros garotos em que as meninas ficavam babando.

— Olhe por onde anda garota. — disse um cara alto, cabelo ruivo e olhos cor de mel, ele parecia estar enfurecido apenas com um simples esbarrão.

— Des… Desculpe-me, eu não te vi. — Não sei o que deu em mim, mas ver todos aqueles garotos me encarando me deixou tão intimidada que nem consegui pedir desculpas apropriadamente.

— Então nesse caso você deveria procurar um oftalmologista. O que está olhando? Saia da minha frente. Alias de que planeta você saiu? — ele disse me encarando dos pés a cabeça e depois saiu rindo com os amigos.

Eu não sabia o que fazer, estava morrendo de raiva e vergonha ao mesmo tempo, tive que me segurar ao máximo para não deixar escapar uma lágrima que queria sair. Estava recolhendo meus livros do chão quando uma garota se ofereceu para me ajudar, ela era muito bonita, tinha cabelo castanho claro curto, olhos azuis e... Baixinha? Parecia uma criança do fundamental, não sabia que aqui havia todos os ensinos.

— Obrigada pela ajuda. — Evitei olhar a garota nos olhos porque certamente meus olhos deviam estar vermelhos.

— Não foi por nada, eu já tinha te visto mais cedo, só que eu fiquei com receio de falar contigo, mas não aguentei ver o que o Haru fez com você.

— Haru? — perguntei confusa.

— Sim, Ahmon Haru, aquele idiota, ele se acha o maior por ser o mais popular do colégio. — disse a garota apontando para a direção em que os garotos tinham ido.

— Eu não entendo como uma pessoa como ele possa ser o mais popular daqui.

— Eu concordo com você, mas as garotas daqui são loucas, ficam todas no pé dele só porque ele é... Perfeito! — Ela tentou segurar o riso, mas não conseguiu e soltou uma gargalhada alta, porém gostosa de ouvir.

— Que bom eu não costumo reparar em idiotas.

— Hahaha! Gostei de você! A propósito eu sou Sakura Chiyo, mas pode me chamar de Chiyo mesmo.

— Prazer em conhecê-la Chiyo-san! Meu nome é Nekorini Mio, mas todos me chamam de Mio.

Pelo menos algo começava a dar certo no meu dia, Chiyo era uma pessoa divertida e não se importava com o que iam falar ao verem ela com a “bolsista”. Pelo que ela me disse eu fui a primeira pessoa a passar no exame admissional para bolsistas. Descobri que tínhamos todas as aulas juntas, ou seja, ela tem a mesma idade que eu, o que me surpreendeu, e eu não iria me sentir mais tão sozinha.

Ela me ensinou como funcionava o colégio, havia uma garota chamada Sunako Kin, ela era filha dos donos do colégio por isso gostava de ser tratada como a princesa do colégio, mas quem realmente manda em tudo é o Haru, afinal todos os garotos querem ser ele e todas as garotas o querem, inclusive Kin, que pelo o que eu entendi, ela era a única garota que ele jurou que não ficaria por nada desse mundo.

Após a aula Chiyo e eu fomos até o meu quarto por que tínhamos que fazer um trabalho “quem é que dá um trabalho no primeiro dia de aula?”. Como os quartos eram feitos para duas pessoas e minha colega de quarto se recusou a ficar sob o mesmo teto que eu, Chiyo ficou de falar com a direção do colégio para deixarem ela se transferir para o meu quarto e recebeu um sim sem ter que perguntar duas vezes. Depois fiz uma vídeo chamada com a Yui, aproveitando a oportunidade para apresentá-la a Chiyo. E é assim que começamos a nossa amizade.