Coração Inglês escrita por FireboltVioleta


Capítulo 1
Chegada, Mudança, a Escola Nova e Surpresas


Notas iniciais do capítulo

Oie, pessoas!
Esta é a minha mais nova fanfic! *u*
Bom, eu fiz essa história originalmente quando estava na sexta série (2006), quando eu tinha doze anos, e acabei decidindo posta-la aqui no site.
Não mudei nada da estrutura original, então não liguem para eventuais erros de portugues e incoerências na história.
Caso localizem alguma, por favor, não deixem de comentar.
Foi concebida para ser uma história infantojuvenil, então não reparem se transcorrer de um jeito bobo.
Boa leitura, e espero que gostem!



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Tudo começou quando uma família de ingleses decidiu se mudar de sua terra natal para o Brasil.

Eram quatro ao todo: Cindy Summer, uma mulher extremamente bonita para a sua idade; Jay Summer, o marido de Cindy, um homem simpaticíssimo e meio careca; Bob, o filho mais velho de Cindy e Jay - que na época tinha cinco anos -, um menino bagunceiro e alegre, e Raven, a caçula, uma encantadora e brincalhona garotinha de três anos.

A viagem não foi tão agradável; a Sra. Summer começou á ficar pálida apenas cinco minutos após o avião levantar voo. Enquanto o Sr. Summer implorava á uma aeromoça brasileira por alguma ajuda, Bob e Raven haviam escolhido aquele momento para disputar um bichinho de pelúcia, quando Raven disse sua primeira frase em português (solta já!). Na altura em que todos desceram, o Sr. Summer já tinha dado um safanão nos filhos, que ainda soluçavam de tanto chorar, e a Sra. Summer já ficara aborrecidíssima.

Mas quando olharam para a imensa cidade do Rio de Janeiro, esqueceram imediatamente a desastrosa viagem. Cindy deu um “oh!” de prazer ao pensar na vida que poderiam construir ali.

Raven, ao olhar para a grande massa de gente á sua frente, bateu palmas, toda alegre. Mal sabia a garotinha que ainda teria muito que ver e aprender do novo lar.

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Treze anos depois, o Sr. Summer arrumou um emprego na cidade de São Paulo, e, consequentemente, teve que se mudar outra vez, com a família inteira, para outro lugar.

Bob, agora um adolescente muito bonito e meio encrenqueiro, não gostara muito da ideia.

Raven, que agora era uma bela garota de dezesseis anos, detestara completamente a novidade, mas ao se lembrar de que não ia perder muita coisa no Rio – afinal, nem sequer tinha amigos de verdade, muitas vezes só pelo fato de estranharem sua origem – revirara os olhos e fora para seu quarto, começando á encaixotar seus pertences com uma expressão martirizada.

Ao chegaram a São Paulo, os quatro entraram na nova casa e desfizeram as malas. Raven se lembrou pelo resto da vida daquele dia como o dia em que quase tivera um ataque ao saber que já iria para a nova escola na manhã seguinte.

Apesar de ter ficado irritadíssima, murmurou apenas algo que soava em inglês como “não pode ficar pior” e, junto de Bob, foi conhecer o novo quarto. Foi dormir ansiosa, só de pensar no que aconteceria nos próximos dias naquela cidade desconhecida.

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A cidade amanheceu chuvosa naquela manhã cinzenta. O relógio na parede da casa dos Summer já indicava cinco horas, mas apenas Raven levantara da cama.

Já desfilava pelo quarto com o uniforme novo da escola, tão nervosa com o que seria seu primeiro dia de aula que comentava para o seu hamster, Chuchundra, tudo o que lhe passava pela cabeça.

- É hoje, Chuchundra! Ai, Cristo... não faz nem dois dias que a gente mudou pra essa terra de ninguém. Que loucura! Um monte de paulistas vai me olhar como se eu fosse um E.T., ou alguém vai gostar de uma filha de... de ingleses? Podia morar em Londres, Oxford, New Castle, até no Rio de Janeiro, onde essa coitada que sou eu estava quietinha até agora... – ela inspirou, bufando - mas não...eu tinha que vir morar aqui, justo aqui. Oh, céus...

A garota parou, pega de surpresa, quando ouviu uma batida exageradamente forte na porta.

Ao atender, sentiu-se sorrir: era Bob.

- Nossa, Bob! Que susto, mano!

- Foi mal, maninha... apesar de você me assustar também com esse jeito de falar feito moleque... – desculpou-se o rapaz, erguendo a mão pálida – só passei pra avisar que... é que eu estou... bem, meio que em dúvida sobre esse negócio de você ir para essa escola estadual. Ouvi falar que o povo que frequenta essa escola não vai com a cara de estrangeiros.

Raven sentiu a garganta se fechar em um nó. Bob devia ter percebido isso, pois acrescentou depressa:

- Mas deixa pra lá, Raven! Aliás, o uniforme ficou dez!

- Ahn... obrigada – suspirou ela.

- Falando nisso, o que você está fazendo? – indagou Bob.

- Conversando com o Chuchundra. Por quê?

Ouviu-se um barulho irritante de algo mergulhando em água; o hamster se chocara contra a vasilha de água da sua gaiola.

- Conversando com o Chuchundra? – repetiu ele, rindo – dezesseis anos... .e conversando com um hamster? Ah, Raven! – exclamou, rindo – fala sério!

A expressão brincalhona da garota era de quem achava que o irmão não tinha nada para fazer da vida.

- Cai fora, moleque!

- Claro, senhorita – respondeu o garoto, torcendo as mãos para não rir outra vez, e saiu.

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Já eram sete horas quando Raven entrou pelo portão da escola Hermes, um dos colégios estaduais mais procurados e bem-estruturados da cidade. Tinha resolvido que fazer aquela expressão de estudante apagada no primeiro dia de aula iria ocultar qualquer coisa que indicasse a mínima relação dela com a Inglaterra.

Mas, por azar do destino, a mochila denunciara; seu pai encomendara-a com a etiqueta Imported From Brazil. Quis o azar que também ainda exibisse a nota fiscal da compra abaixo da etiqueta – endereço e tudo.

As conversas mais próximas pararam na hora. Todos ao redor olharam para ela, e nem mesmo um aluno, ao ver aquele adesivo, não tirou a mesma conclusão que o outro.

Os murmúrios não tardaram a começar.

- Será? Uma inglesa?

- Você viu?

- Caçamba, essa escola está indo para o brejo. Deixam qualquer um entrar aqui...

- Tudo bem se um pigmeu viesse pra cá, mas uma britânica...

- Pigmeu? Que nada! Melhor um gorila do que essa aí botando os pés na minha sala.

Os que não acharam graça nenhuma nas brincadeiras logo falaram:

- Até negros entram aqui, e toda essa bagunça por causa dessa inglesa? Ih, rapaz, você está perdendo a coerência, hein?

- Exato! – falou uma menina com um leve sotaque alemão – metade dos alunos é negra, a professora Maria é japonesa, as gêmeas Ling da 2°C são chinesas e a vice-diretora é espanhola. E eu sou filha de alemães! Qual é o maldito problema, poxa?

- Mas agora não é uma alemã, uma chinesa ou uma africana! É uma britânica!

- E qual é a diferença?

- Muita!

Ouvir todo aquele descontentamento por sua causa deixou Raven profundamente magoada.

Ela deu meia volta, prestes á cair no choro, quando se chocou com uma menina loira que vinha na direção oposta.

A garota olhou para ela com um leve ar de interesse e compreensão; Raven se animou ao ouvir a simpatia em sua voz:

- Desculpe... é Raven... Summer... a nova aluna, não é?

- É.. – respondeu ela, sem jeito, olhando nervosa para as pessoas que haviam reclamado de sua presença há pouco. A garota notou.

- Não ligue – disse ela, dando de ombros, com um sorriso sincero - Seja quem você é, não quem esses idiotas preferem. Meu nome é Mila. Mila Santos.

- Prazer.

- Aliás, qual é sua sala, Raven?

- Ah...acho que 2°G.

- Ahhhh... - exclamou Mila – a minha sala!

A tensão de minutos atrás desaparecera: era como se Raven estivesse no pior dos pesadelos e uma milagrosa mão tivesse lhe dado um tapa para acordar.

Esquecera até o que fazia ali; tudo o que fez foi acompanhar Mila até a sala, maravilhando-se com a possibilidade dela ser sua primeira – e até mesmo melhor - amiga.

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- Chegamos!

Mila parou exatamente em frente da sala com uma expressão engraçada, como de tivesse se engasgado com um chiclete. Raven correu os olhos pela sala e respirou fundo antes de entrar.

- Está nervosa? – indagou Mila.

- Um pouquinho – confessou a garota. – aí, vamos sentar aqui! Tem uma vista linda do estacionamento...

Mila riu; evidentemente, Raven a divertia, e isso a deixou extremamente feliz.

- Eu sei lá...você que sabe, amiga.

Ouvi-la chamar-lhe de amiga fez Raven se acalmar na hora. Mas seu suspiro virou um assobio aborrecido quando uma garota loira de mechas castanhas empurrou a carteira das duas e quase a jogou no chão.

Mila bufou, indignada, com os olhos apertados.

- Oh, God... quem é a filhote de pavão? – resmungou Raven, chateada pelo empurrão que a garota lhe dera.

- Amanda Silveira. A “poderosa” da escola – Mila comentou com desprezo, quando a garota se afastou – dizem que se você mexer com ela, essa oxigenada metida te enche o saco até você berrar que vai se suicidar. Os professores a acham santinha, mas de santa essa garota não tem nada mesmo. E pior... ela odeia qualquer um que tenha um pingo de sangue imigrante nas veias... e você, que é inteirinha made in Inglaterra...

Mila olhou para Raven, com uma expressão preocupada, e por isso Raven era muitíssimo grata.

- Bom, tomara que ela não tenha me visto... se ela tiver ouvido aquele quase-primeira-página-de-jornal que aconteceu no pátio, só se eu evaporar daqui.

- Ah, não sei.- opinou Mila -você não é...

- ... O tipo de ralé que devia estar aqui – ecoou uma voz atrás delas.

A garota voltara para onde as duas estavam sentadas.

Raven a olhou. Os olhos frios e azuis da menina diziam claramente o quanto queria lhe causar problemas.

- Quem diria – disse Amanda, exibindo um sorriso cruel – a inglesinha e Mila. Só uma ralé como você para ficar com esse tipo de laia.

Os dedos de Raven estralaram. Não ligou para como Amanda a chamara, e sim para como se dirigira a Mila.

Erguendo-se da cadeira de um salto, ela vociferou:

- Quem você pensa que é para falar com ela desse jeito?

- E quem você pensa que é para falar comigo, sua trouxa? – rugiu Amanda.

Aquilo estava quase virando uma briga. Só não ocorreu nada por que o professor entrara na sala.

Raven, dando um riso zombeteiro para a sua furiosa – pelo menos era o que deduziria – inimiga, sentou na carteira ao lado de uma Mila pasma.

- Raven...você enfrentou a Amanda! Ninguém nunca teve coragem até hoje para se virar contra ela! - Sério? – indagou Raven, surpresa – ninguém?

- Nem uma alma...viva, pelo menos – respondeu Mila, equilibrando distraidamente o lápis na mesa.

Enquanto emudecia ao ouvir a revelação, Raven levou um susto quando um rapaz passou correndo por sua carteira, tão rápido que seus cabelos castanhos voavam pela fileira de carteiras.

Talvez o susto que levara a fez sentir um arrepio estranho na nuca, ou era por que notara que o garoto era realmente bonito...

- Ah – riu Mila – meu irmão, Josh.

- Seu irmão? - Raven gemeu.

- É. Atrasado como sempre – sorriu ela, revirando os olhos.

Raven sacudiu a cabeça, chocada. Sentiu-se aliviada quando o professor de História entrou na sala, desviando sua atenção do irmão de Mila.

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As duas garotas saíram da sala para o intervalo, rindo e tagarelando alegremente, como se fossem amigas há muito tempo.

Raven ouvia, sorrindo, a colega comentar as aulas anteriores.

- Joana D’Arc deve ter sido uma mulher de ferro. Ser queimada em pura Guerra dos Cem Anos com certeza foi a gota d’água para ela.

- Imagine só quantas semanas vamos ficar trancadas nos nossos quartos para ler Dom Casmurro inteirinho para a aula de Português! – exclamou Raven, fingindo uma dramática irritação só para divertir Mila – ah, a Língua Portuguesa! Por que existes, assombração dos vestibulares? Diz-me, Língua Portuguesa! Cadê a minha linguinha querida nesse fim de mundo, meu...

- Eu sei lá, mas se alguém tem culpa, são os romanos que inventaram o latim, colega – disse Mila, lançando á Raven uma piscadela sapeca – vou te dizer, você é a melhor coisa que aconteceu nessa escola até hoje... Ao menos para mim.

Raven olhou agradavelmente surpresa para a colega.

- Você... acha? – indagou, envergonhada e feliz – puxa, obrigada!

- Você merece – sorriu Mila – aí, Ray... a última que chegar na cantina é a mulher do padre!

E quando Raven se deu conta, estava correndo que nem uma louca até o pátio, derivando o máximo de prazer da brincadeira infantil. Quando Mila berrou alegremente “perdeu, neném!”, em vez de se emburrar, Raven sorriu e deu uma risada gostosa, como se tivesse voltado á ter cinco anos de novo.

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- Alguém viu a maluca da Ginevra por aí? – indagou uma voz á umas cinco carteiras da de Raven.

A garota virou para trás, assustada. A voz alta que ouvira era do irmão de Mila, Josh.

Chocou-se apenas pelo seu tom de voz, que indicava o tipo de pessoa que adora tirar um sarro dos colegas e ainda assim consegue não magoar ninguém.

- Eu vi! – gritou esganiçado um garoto da outra carteira, causando uma erupção de risinhos da classe.

- E para avisar precisa gritar, Fausto? – riu Josh, fazendo Raven se encantar cada vez mais com ele – e onde ela estava? Acabando com os refrigerantes da cantina?

- Cheguei, galera! – anunciou uma garota ruiva no batente da porta, segurando a maçaneta como se fosse um revólver com uma mão e segurando uma garrafinha de refrigerante na outra – desculpa a demora, tive que falar com o retardado do coordenador para mostrar pro desgraçado que eu passei de ano...você está rindo do quê, Érica? Você não repetiu, engraçadinha? – completou para uma morena que gargalhava na fileira da frente, fazendo-a parar de rir e amarrar a cara para ela.

Mila e Raven caíram na risada com a cara da menina, parando apenas quando Amanda passou por elas estralando os dedos com uma cara de quem quer causar a maior confusão logo no começo da aula e se sentia impotente de não poder fazer isso.

- A Amanda já era um saco antes de eu vir para cá? – gemeu Raven para Mila, fazendo uma careta martirizada.

- Era a mesma imprestável de agora – respondeu ela, fazendo cara feia para Amanda.- a mesma idiota. Ah... pode ter certeza, amiga.

Raven vez um gesto involuntário com a mão em direção á Josh quando o rapaz fez menção de se ajoelhar ao lado de sua carteira e sorrir para ela.

- Oi. Você é Raven Summer, certo?

- Sou – respondeu ela, quase gemendo, sentindo um friozinho louco na nuca – Josh, não é?

- É – riu ele, olhando-a interessado – a Mila me falou que você nasceu lá na Inglaterra. Legal.

- E Josh... – sorriu ela, com um ar intrigado, mas mais do que nunca torcendo para não bancar a boba na frente dele – não é nome americano?

- Ah, sim – Josh fez uma careta - Nosso tataravô veio dos Estados Unidos para cá. Minha mãe vive dizendo que ele só saiu de Nova York para vir procurar emprego no Brasil. Em “homenagem” ao quase-sem-teto que o pobre era, me deu esse nome. Céus, isso é nojento, meu Deus – completou ele, olhando a matéria de Biologia na lousa que estava sendo passada, e Raven riu ao ver que era sobre o sistema digestivo.

- Tem razão – concordou ela – é melhor você sentar... o professor já olhou para cá duas vezes. Daqui á pouco vai matar cachorro aos gritos.

O rapaz deu uma gargalhada gostosa, fazendo-a corar.

- Ah... Mila tem razão...Você é uma figura! – sorriu ele, deixando-a ainda mais envergonhada - O.K., eu já vou. Até o intervalo, Raven!

- Tchau – sussurrou Raven, dando um suspiro indefinível quando começou a escrever o texto no caderno.

Quando Mila se virou para o lado, Raven deixou escapar um gemido, enquanto olhava o teto, perdida em mil pensamentos:

- Josh...

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- Eu não posso acreditar que ainda faltem duas linhas para a redação de Artes – gemeu Mila, com um tom miserável de voz – Ginevra escreveu uma folha, frente e verso, e a letra da infeliz é microscópica, menor que salário mínimo de professor. Jesus, como é que pode? Pô, Raven, me dá uma ajudinha aqui, mana... please?

- Nem que o porco espirre, colega – brincou a menina – coloca qualquer coisa aí e já era. É sobre o quê?

- “Heranças do folclore” - respondeu ela, com uma careta de desgosto – ah, pelo amor de Dom Pedro II, tenho mais o que fazer, sua professora imprestável!

Raven riu.

- Quando é o Campeonato Intercolegial de Esportes desse ano? – cochichou Ginevra com Mila, um pouco ansiosa.

- Sei lá. Já disse que não me importo com Educação Física... – Mila deu de ombros - se bem que vale a pena fingir jogar vôlei de qualquer jeito, só pra ver o gato do professor apitar pra gente.

As garotas caíram na risada.

- Olá, meninas...

Josh aparecera do nada na frente delas, fazendo Raven abrir uma careta de susto, vergonha e, por mais estranho que fosse, fascinação.

O menino sorria, e ela ficou um pouco hipnotizada com o sorriso dele, antes de disfarçar e olhar sem direção para seu caderno, engolindo em seco. Ela gemeu algo que soava como “ai, cacetada”.

- Oi, Josh... como vai? – riu Ginevra.

- Um saco, como sempre – brincou Mila, mostrando a língua para o irmão.

- Você é uma figura, mana – Josh balançou a cabeça, rindo – e você, Raven?

Raven demorou um pouco para responder, seus olhos ainda presos no sorriso do rapaz.

- Ah... sim, eu... estou bem. Novidades?

- Nada. Nossa aula de Física foi uma porcaria mesmo. Ah, Mila... – Josh, pela primeira vez, engoliu em seco - ... colei... na prova de Inglês.

- O QUÊ? –ganiram as meninas.

Mila deixou a mecha de cabelos loiros na sua mão cair no ombro com o choque.

- Seu pilantra, você pirou? – gemeu a irmã.

- Coisinha feia, hein? – reprovou Ginevra – é bom subornar a Mila pra ela não contar para seus pais. Se bem que seria merecido...

- Quer saber? – Mila deu um macabro sorriso sádico – a Raven é que decide se eu abro a boca ou não.

- Bom... Raven... – ele se virou para a garota, que quase caiu da cadeira ao fitar o rosto dele.

Os olhos absurdamente pretos e a boca do rapaz estavam contorcidos numa expressão provavelmente sincera e comovente de timidez; era de cortar o coração – fosse falsa ou não.

– Você que sabe. Vai deixar a Mila me dedurar?

- Não! – ela arfou, fazendo da negação uma exclamação – não, você... você não merece uma coisa dessas... e...se você colou... é porque não tinha opção.

Mila e Ginevra a olharam, chocadas.

Mila gemeu algo semelhante á “como é que é?”, e os olhos de Mila viraram poços de indignação e, além isso, desconfiança. Ambas a olhavam como se questionassem sua sanidade.

- Não tinha opção? Que história é essa, Ray? Foi ele que não estudou!

- Ah, Mila – ganiu a menina, correndo para se defender – qual é o mal de uma coladinha de nada de vez em quando?

- Raven! –ganiu Mila, olhando de Raven para Josh com uma mescla de confusão – você sabe o que está dizendo, por acaso?

- Olha, Mila... – a menina respirou fundo, erguendo as mãos - Josh fez uma pergunta e eu respondi. Essa é minha resposta final. Se quiser fazer isso com o coitado, vá em frente. Você que sabe.

Mila parecia querer dar um soco na cara de Raven - ou coisa pior - mas limitou-se á bufar, chateada, e se virar para cochichar algo com Ginevra.

A garota já estava ensaiando um sorriso ao se virar para Josh, mas vacilou quando olhou para o rosto dele, deslumbrada com o rapaz.

- Puxa, Raven... obrigado por me defender – o rapaz sorriu, rindo, quase fazendo Raven se derreter de vergonha e admiração – foi bem... legal da sua parte.

- Imagina – riu a menina, apesar de não haver muita graça; sentiu que, se não risse para se distrair, ia acabar tonta de encanto olhando para Josh. Os olhos do rapaz se cravaram nos seus por longos segundos e com certeza lá ficariam, se o professor de Matemática não tivesse batido a régua na mesa da garota, dando um tremendo susto nos dois.

- Então, senhorita Raven... já que está prestando tanta atenção na matéria, diga para a sala: qual é o valor de PI?

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- Foi mal, pô! – ganiu Josh, se defendendo dos tapas que a irmã tentava dar em sua cabeça – eu já implorei perdão pra Raven... ela quase chorou de dizer que eu sou inocente e que a culpa foi dela. Como se o imprudente que eu sou não tivesse ferrado a coitadinha em Matemática.

- Deixa disso, Josh – disse Raven, outra vez ficando cor de tomate – a culpa é minha de não saber o valor da porcaria do PI era 3,14 e mais umas pedrinhas. O último ser humano do Brasil ou na Inglaterra que vai ter culpa por eu levar bomba nessa inutilidade é você... - “... se for concebível você ser culpado de algo” completou ela mentalmente, sorrindo.

- Diz isso por que não viu a matéria de Biologia de hoje – suspirou Helena, uma colega de Josh – adivinha só? Reprodução humana!! Arg, que nojo! A professora fez um questionário sobre os... – ela sussurrou a palavra órgãos com visível repulsa -... e obrigou todos os alunos a lerem alto as perguntas e respostas. Imagina o fulano lá no fundo da sala gritando o que era o...

- Já entendi, Leninha – gemeu Raven, fazendo uma careta que fez todos gargalharem.

Helena sacudiu os ombros, visivelmente chateada.

- Mas que aquele professor de Matemática e Amanda Silveira são dois caras da pá virada, isso ninguém nega. – disse Ginevra

- Meu, o nome da matéria já diz tudo – brincou Josh, fazendo gestos com a mão - Má-temática. Uma temática que não é boa.

Raven, que estava num pé só no momento, se desequilibrou enquanto ria, caiu logo em cima de Josh e acabou jogando os dois no chão. As meninas caíram na risada.

- Ai! Desculpa, Josh! Você está bem? – indagou Raven, estirada no chão, vendo o rapaz se erguer do chão, rindo.

- O que é a vida sem uns tombos? – brincou ele, dando a mão para ajudar Raven, á essa hora quase rosa de vergonha, á se levantar – seria um... nossa!

- O quê? – ganiu a menina, verificando-se á procura de algo errado. “Só me faltava essa”, pensou. “Devo estar um lixo”.

- Nada – sussurrou Josh, baixo o bastante para só Raven ouvir – é que, eu notei agora, sabe... você é muito... bonita.

A garota deixou o queixo cair levemente, chocada, quase sem raciocinar. “Josh, me chamando de bonita? Alguém me belisca...” ganiu ela mentalmente.

Ela levantou os olhos para o rapaz, e gemeu baixinho ao notar uma ruga de vergonha no rosto dele. E algo mais...

- Licença? – disse Ginevra, despertando ambos de volta para a realidade. Raven notou que as meninas olhavam dela para Josh e dele de volta para ela, como num jogo de vôlei, com um ar bem desconfiado, curioso e surpreso – vamos para a sala ou tá difícil?

- Ah, claro – disseram os dois. Raven suspirou antes de ir á caminho da classe, um turbilhão de pensamentos invadindo sua cabeça enquanto olhava Josh, ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Então? Comentários? Posso postar mais? Excluo? O__O
Beijinhos e não deixem de dizer se quiserem continuação! *u*



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