Nami Wa Ungaii escrita por Nyuu D


Capítulo 1
Princípio




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Eles se encaravam.

Profundamente.

Ele tapava a boca com a mão, os braços cruzados firmemente, mantendo-se rígido. E ela apoiava a cabeça nas mãos, com o cotovelo nos joelhos.

Ela estava sentada num sofá, e ele na beirada da cama. Ela estava com as pernas cruzadas, e ele mantinha as dele escancaradas.

Ela não o conhecia. Muito menos ele a conhecia (pelo menos não de verdade, porque conhecera partes dela que muita gente certamente jamais havia visto).

Mas eles estavam casados.

---

(Algumas horas antes)

Nami queria morrer de alegria. Ela não podia estar mais feliz enquanto sua sorte a fazia rir gostosamente de tanto dinheiro que estava ganhando no Blackjack. O dealer não parecia muito contente com os bons resultados que aquela mulher estava tendo. Como podia ser tão sortuda? Ela estava raspando a fortuna de cada um dos homens que se sentavam à mesa onde ela estava.

O belo corpo da ruiva estava envolto num vestido tubinho preto e, que lhe ressaltava os seios e apertava no quadril como um verdadeiro espartilho. Farfalhava-se um pouco nas coxas para dar um pouco de movimento, tinha scarpins vermelho-sangue nos pés, e brincos de brilhante nos lóbulos.

Ela era maravilhosa. Estupenda. Tinha um cheiro cítrico atraente, e estava constantemente acompanhada de uma taça de champagne ou um copo de whisky com gelo.

Ela estava milionária agora, pra que preocupar-se com o preço das bebidas?! Estava com tanta sorte que poderia apostar até sua vida naquele jogo!

Claro que Nami não era idiota. Ela sabia que sua “sorte” tinha muito a ver com o fato de usar um artifício infalível contra homens idiotas: sedução. Todos os que perderam suas calças naquela mesa caíram nos encantos daquela ruiva, e saíram sem nada. Sem dinheiro e sem mulher.

E ela gargalhava feliz toda vez que enchia sua bolsa com fichinhas. Aqueles idiotas achavam que ela estava bêbada só por estar bebendo bastante, mas não a conheciam por óbvio. Ela era tão forte para bebida quanto o mais poderoso alcoólatra do mundo.

– Ah! Acho que vou dar uma pausa! – Ela suspirou, feliz. – Preciso retocar a maquiagem. Olha só, rapaz – direcionou-se para o dealer. – Você merece um trocado também por estar sendo tão bonzinho com as cartas que está me dando. Sério. – Nami apoiou o queixo na mão e piscou os olhos para o rapaz. – Volto depois, não me substitua!

Ela saltou do banquinho de madeira escura estofado em cor grená, e começou a caminhar pelo cassino.

Havia muitas máquinas caça-níqueis coloridas, um bar forrado de pessoas e muito neon. Tudo era tão bonito, atraente e cheirava a dinheiro. Nami estava no paraíso. Seu sonho sempre foi ir a Las Vegas, e decidiu ir sozinha mesmo. Não se importava. Ela estava se divertindo demais, mesmo sozinha.

Entrou num dos luxuosos banheiros do cassino e escorou-se na pia para retocar a maquiagem como havia dito que precisava fazer. Não que ela precisasse de muito, é verdade. Sua beleza natural era tão fantástica que mesmo assim ela faria sucesso ali dentro. Mas gostava da vaidade, era natural.

Sua enorme bolsa de cetim estava forrada de fichinhas as quais ela trocaria por muito dinheiro no câmbio. Nem podia acreditar.

Suspirou, foi fazer xixi, lavou as mãos e saiu do banheiro, ajeitando a bolsa no ombro, bem abraçada a ela. Tinha ciúme da sua fortuna, afinal de contas.

E tinha muitas horas naquele cassino para jogar. Agora talvez ela fosse jogar pôquer. É. Ela era ótima em enganar todo mundo, afinal de contas, não seria problema. Nami dirigiu-se a uma das mesas de pôquer que estavam organizando-se com novos jogadores. Lucky!, pensou ela enquanto sentava-se em uma das cadeiras e sorria para os homens que estavam em volta, mais uma outra garota. – Posso entrar no jogo?

Havia um homem à frente de Nami que vestia uma camisa vermelha folgada com a gravata frouxa no pescoço. Ele tinha três brincos na orelha esquerda.

Ele era... Lindo. Mas parecia muito bravo. E um ótimo jogador, falando nisso. Ela sabia que tinha que tomar cuidado com ele, parecia uma ameaça eminente.

O jogo prosseguiu naquele clima tenso de sempre e Nami era uma pessoa que blefa com tanta facilidade que ninguém consegue detectar falsidade em seu sorriso. Mas por algum motivo, aquele homem conseguia.

E ela perdeu a primeira partida para ele. Maldito.

Pelo menos não havia apostado alto; sabia que tinha que tomar cuidado com ele... Suspirou. Ainda podia ganhar dele. Mais uma partida e ela perdeu de novo.

Não acredito, quem é esse maldito?!, praguejava mentalmente enquanto suas sobrancelhas começavam a apertar e ela perdia a força de seus blefes. Sabia que estava vacilando, mas aqueles olhos escuros que a olhavam e a analisavam eram uma distração muito grande. Talvez aquele fosse o jogo dele. Deveria parar de olhá-lo.

Tentou, mas não conseguiu. Digo, não conseguiu ganhar. Nem parar de olhar para ele.

Ele era muito bom mesmo.

Acabou saindo da mesa antes que perdesse dinheiro demais. Isso sempre a deixava muito nervosa.

Saiu batendo pé. Estava tão aborrecida, como era possível aquele homem conseguir ganhar dela?!

Bufou quando se sentou novamente na mesa de Blackjack. Precisava recuperar suas fichas perdidas para aquele maldito. E claro que conseguiu, depois de concentrar-se muito no que fazia.

Depois de algumas horas de muito whisky e dinheiro entrando, o último homem que saiu da mesa, amaldiçoou a existência de Nami e chamou-a de “bruxa”. Ela não ligou. Apenas mexeu os ombros nus e gargalhou divertida enquanto jogava as fichas dentro da bolsa.

Estava cansada agora, iria voltar ao hotel e dormir um pouco porque amanhã seria outro dia, e um dia inesquecível. O último dia na cidade. Não queria ir embora— definitivamente não! Mas sua passagem estava marcada, e sua vida continuava na sua cidade. Nami estava considerando a possibilidade de ficar em Las Vegas e trabalhar como dealer em um desses cassinos maravilhosos. Seria uma vida fantástica.

A ruiva tinha que dar a volta na quadra para pegar o carro que alugou, visto que ele estava num estacionamento, na avenida de trás.

Para chegar lá, porém, ela teria que passar por uma rua úmida por causa de um pouco de chuva, e escura.

E aquela sensação não a agradava nem um pouco. Respirou fundo e agarrou-se à sua bolsa forrada de dinheiro enquanto caminhava a passos rapidinhos pela rua. Era uma rua longa; maldito cassino gigante.

Encolheu os ombros quando um vento frio bateu, do além. Era verão.

E de repente ela sentiu alguém tapar-lhe a boca com a enorme mão e a puxar para o canto mais escuro daquela maldita rua. Nami queria gritar, mas não conseguia porque sua boca estava completamente escondida atrás daquela mãozorra e até seu nariz era meio tapado por ela.

Sentiu suas costas chocarem-se contra uma parede molhada. A outra mão do indivíduo a segurou com força e ele postava-se com o rosto perto do dela— perto demais. O hálito dele tinha um cheiro horrível, ou talvez fosse apenas coisa de sua cabeça por estar assustada demais para pensar. Seus sentidos deviam estar confusos.

Ele chegou com a boca perto do ouvido dela. – Você tirou meu dinheiro, bruxa – disse com raiva. – Agora eu vou pegar tudo de volta.

Não, não, NÃO, ela implorava mentalmente, mas pela primeira vez em toda sua vida, não era porque ele queria seu dinheiro. Ela estava com muito medo por sua vida. Aquelas mãos eram muito grandes, parecia um maldito gigante! E ele baixou uma delas até suas pernas e enfiou a mão por dentro do vestido, apertando a coxa com violência.

Os olhos escuros encheram-se de lágrimas novamente e ela queria gritar. E tentou gritar através das mãos dele, mas não conseguiu.

Ele além de roubar o dinheiro dela, iria violentá-la? Era piada, não era?!

Continuava tentando gritar e de repente sua voz saiu, e ela a reprimiu imediatamente. Os joelhos vacilaram e ela caiu sentada no chão. Alguém o havia puxado para longe dela.

Nami encolheu as pernas e abraçou os joelhos com uma mão, olhando apavorada enquanto outro homem discutia aos berros e palavrões com o que a estava tentando ferir. Eles começaram uma briga física que a ruiva não assistiu porque ela agarrou-se à sua bolsa e escondeu o rosto nela. Só conseguiu ouvir os barulhos e de repente isso cessou.

Passos apressados seguiram-se e logo desapareciam porque havia mais barulho além daquilo ao redor de uma cidade tão agitada quanto Las Vegas, ela tinha consciência disso. Mas seu coração acalmou-se imediatamente quando sentiu que aquilo havia acabado.

Ouviu mais passos e eles pararam antes de subir na calçada, onde ela estava sentada encolhida no escuro.

– Oe – disse a voz grave, fazendo-se ouvir através do barulho da rua da frente e de trás. – Você está bem?! – Continuou.

Nami ergueu os olhos. A silhueta não era familiar.

Mas através da contraluz, ela viu três brincos sacolejarem na orelha do rapaz enquanto ele cruzava os braços no peito. Era aquele homem do pôquer.

– V-você... – Murmurou e o homem bufou.

– Eu o quê?!

– VOCÊ É O CARA DO PÔQUER – ela gritou de repente e pôs-se em pé num salto. O rapaz cambaleou para trás com o susto. Nami não podia ver o rosto dele direito, mas agora havia a luz da rua do cassino que ajudava um pouco.

– Eu sou o quê?!

– O cara do pôquer, você ganhou de mim! Maldito!

– Oe oe, o certo não seria você me agradecer por salvar sua vida, mulher maluca?!

– O quê? Você tirou parte do meu dinheiro e quer que eu te agradeça? Você tá brincando comigo, né?

– Tch – ele bufou. – Vou embora. De nada. – Terminou, virou o corpo e saiu andando para a rua de trás do cassino.

Nami o amaldiçoou em sua mente. Bateu a mão no traseiro que estava úmido por causa do chão onde havia sentado, e começou a andar atrás dele. Seu carro estava lá, afinal de contas.

Ele virou de repente. – Está me seguindo?

– Eu não, meu carro ficou no estacionamento ali atrás – ela fez um bico. Ele murmurou algo incompreensível e continuou seu trajeto para a rua. Nami continuou caminhando, o salto fazendo barulho na rua de pedra. Então, a ruiva apressou o passo e passou na frente dele. Logo, chegava à avenida e tinha que atravessar a rua.

Mas tinham tantos carros.

O rapaz que vinha atrás parou ao lado dela, perto da faixa de pedestres e pôs a mão nos bolsos, parecendo desinteressado. Nami ficou inquieta ao lado dele. Seus olhos não conseguiam evitar grudar no rapaz como se ele simplesmente fosse magnético. Procurou concentrar-se nos carros que passavam, o sinal estava quase para abrir para os pedestres.

Quando isso aconteceu, eles atravessaram a rua a passos sincronizados. Era irritante!

Seguiram para o mesmo lado, mas ao contrário dela, o rapaz não ia entrando no estacionamento, mas sim, seguiria em frente. – Hey! – Ela chamou, e ele virou o belo rosto de queixo travado para ela.

– Que é? – Grunhiu.

– Aonde você vai?

– E isso lá é da sua conta?!

– Claro que é, você está me devendo dinheiro!

– EU?! Eu ganhei JUSTAMENTE! Não devo nada a você!

– Deve sim – Nami cruzou os braços e bateu o pé no chão. Havia algumas pessoas passando entre eles, mas nada que interrompesse o diálogo. – Você tem que me pagar.

– Eu não – ele preparava-se para virar e ir embora, mas a ruiva não permitiu.

– Venha pagar uma bebida pra mim.

As sobrancelhas naturalmente curvadas do rapaz apertaram-se e uma ruga formou-se entre elas. – Por que eu faria isso?

– Porque me deve por ter ganhado de mim no pôquer. É uma raridade. Agora vamos logo!

– Não! – Ele agitou a cabeça. – Não vou a lugar algum com você.

– Ah, vamos – ela miou. – Vamos, eu garanto que não vai se arrepender.

– A questão não é se arrepender. Eu nem te conheço.

– E desde quando isso é problema? Estamos em Las Vegas. Qual a graça de Las Vegas sem aventura?

Ele pareceu ponderar a ideia enquanto a quantidade de transeuntes aumentava ainda mais entre eles. Nami pôs-se na ponta dos pés, esforçando-se ainda mais para enxergá-lo através das pessoas. O rapaz tinha as mãos no flanco enquanto pensava e mantinha os olhos escuros presos no nada.

– Tá legal. Mas eu vou avisando – disse enquanto aproximava-se da ruiva. – Eu só bebo coisas fortes.

– Então está em casa! – Riu-se a garota, e pôs-se a andar rapidamente para dentro do estacionamento. No caminho, falou com o responsável pelas chaves e disse que o rapaz que estava vindo atrás dela pagaria (isso, é claro, sem falar para ele com antecedência). No fim ele teve que pagar o estacionamento.

Quando ele entrou no carro dela, praguejando, Nami riu divertida. – Obrigada!

– Qual seu nome, mulher?

– Nami. E o seu, homem? – Mexeu os ombros de levinho e olhou para ele com uma expressão sapeca.

– Zoro.


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