Starved escrita por Fanatic, Truthseeker


Capítulo 2
Momentos de calmaria




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O sol nascia, clareando os céus antes tão cinzas, por um azul fraco.

Caminhamos em silêncio depois do que aconteceu. Antes, eu havia voltado com Bruno para checar se realmente... o até então, inimigo, não era mais uma ameaça.

Quando chegamos perto, seus sentidos já estavam perdidos. O seu semblante era inexpressivo.

Sangue em suas roupas e um furo em seu peito.

Me afastei depressa após isto. Me dava desgosto.

E me dava culpa.

Quando voltamos, apenas Joana permanecia. Os outros dois que haviam fugido conosco tinham ido embora.

Ele está morto, sem dúvida alguma... falei após um tempo. Eu não entendo como vocês podem fazer isso com tanta facilidade. deixe escapar.

Minha expressão era vazia. Eu não sabia como reagir. Mas estava grato por estar a salvo.

Porém triste por causa daquela vida.

Não seja tão sentimental. Nesse mundo é matar ou morrer. respondeu Bruno, um pouco grosso. As coisas estão mudando agora. complementou ele, diminuindo seu tom de voz.

Certo, mudou. Mas ainda não aceito isso. eu disse, um pouco mais para mim mesmo do que para os presentes.

O sol estava ficando mais forte agora. Finalmente eu conseguia sentir algum mormaço natural.

O que a gente faz agora? questionou Joana. Ela estava um pouco afobada, e apertou minha mão ferida, despertando certa ardência ali. Para onde nós vamos?

Sinceramente não sei. respondi, desmotivado.

Ela soltou minha mão e cruzou os braços, aquecendo-se.

Talvez a gente possa ir por ali. Acho que estamos numa zona comercial. falou ela, observando o seu redor.

E realmente estávamos numa zona comercial.

Olhei ao redor, agora com mais atenção. Muitas lojas estavam destroçadas, e pareciam já ter sido saqueadas a tempos.

Ei, ei! chamou uma voz desconhecida.

Virei de súbito, Joana e Bruno também.

Havia duas figuras masculinas próximas. Um deles tinha cabelos castanhos, olhos verdes e pele bem clara.

O outro era moreno, tinha olhos castanhos e um semblante bem carrancudo.

Todos se fitaram em silêncio.

Carl olhou mais atentamente para checar se eles não faziam parte do grupo de antes.

Quem são vocês? perguntou Bruno, quebrando o silêncio formado. Eu pude ver de soslaio que ele tinha uma das mãos na cintura. Mais especificamente, mãos na sua arma.

Sou Michael. respondeu o homem de cabelo castanho. E este aqui é John. — complementou ele, apontando para o companheiro ao lado. Este era carrancudo e moreno.

— O que querem? — perguntei, sem delongas.

— Na verdade, não queremos fazer nenhum mal. — tranquilizou Michael, dando um passo para trás. — Só queremos... saber se podemos nos juntar a vocês.

— Vocês estão aqui a quanto tempo? — quis saber Bruno.

— Não muito. Estávamos em um shopping, não muito longe daqui com um pessoal... — começou o homem nomeado como John.

— Daí teve algumas brigas, e nos separamos. Eu, John e mais uma mulher, a Esther. Então uns loucos religiosos apareceram e nos trouxeram pra cá. Conseguimos fugir bem antes, mas não achamos a Esther... — concluiu Michael, levemente angustiado.

Pensei na mulher que havia sido queimada em minha frente a algumas horas atrás.

Engoli um seco e permaneci calado.

— Certo... podem vir conosco. Mas se mantenham atentos. — alertou Bruno, rígido como aparentava ter costume de ser.

Os dois se aproximaram, mas mantiveram certa distância entre nós.

Nos mantivemos caminhando em silêncio, verificando se alguma loja havia algum suprimento disponível para usufruir. Infelizmente, sem sucesso.

Uma neve bem fraca começou a cair, mesmo contando com o fato de que o sol permanecia lá.

É... abandonaram esse lugar mesmo. comentou Michael.

Perigosamente passamos por uma rachadura no asfalto. Mas felizmente, como estávamos em bom número, com cuidado, passamos sem demais complicações.

Porém foi um processo que requeria bastante atenção. Sorte que tínhamos o Bruno conosco para dar instruções. Ele realmente sabia como ser um líder.

Quando passamos, se deparamos com mais outras lojas. Me virei novamente, fitando a rachadura no chão e pensei um pouco.

Este obstáculo é interessante. Será que alguém passaria por ele para vir para cá? questionei, incerto.

Nós passamos. respondeu Bruno, me olhando como se eu fosse algum tipo de espécie desconhecida.

Mas não acho que igualmente pessoas se arriscaram nisto antes. comentei.

É verdade. comentou John, se aproximando. Talvez essas lojas tenham alguma coisa para aproveitar.

Ele seguiu até a entrada da loja, e sem se importar com os demais, a adentrou, sumindo de vista.

Vamos entrar também. falou Michael, adentrando a loja em questão.

Acho que não precisaremos ficar tão preocupados. disse Joana, pela primeira vez desde que nos juntamos a aqueles indivíduos. Talvez não vamos encontrar mais aqueles caras. complementou ela, deixando claro do porquê que eu fiz aquela pergunta sobre a rachadura antes.

Michael e John voltaram, meneando a cabeça um pouco desamparados. Compreendi automaticamente que não encontraram outra vez suprimentos.

Mesmo que o local estivesse completamente deserto, nós seguíamos caminhando sem tentar fazer muito barulho, ou muito menos conversando.

Havia folhas de papel voando pelo ar, poeira se juntando a nossas roupas, mais rachaduras com dimensões absurdas pelo asfalto e uma quantidade incrível, quase inimaginável de desmoronamentos. Prédios, casas e outros tipos de estabelecimentos tinham uma aparência desprezível.

Eu acho que aquilo é um mercado! exclamou Joana, se animando.

Nós não tardamos a correr em direção ao mercado. Esse parecia não estar tão prejudicado quanto os outros demais estabelecimentos.

Fiquei animado também, mesmo sabendo que havia uma taxa de 90% de que não havia nada para aproveitarmos.

Nós nos aproximamos da entrada, e decidimos nos dividir para procurar alguma coisa.

O corredor que me dirigi não tinha descrição própria. Mas de cara vi que não havia muita coisa para usufruir.

Havia certo cheiro detestável, por conta da grande quantia de comida podre. Tentei o máximo achar algo que prestasse, e por incrível que parecesse, achei três barras de chocolate e duas barras de cereal são e salvas. Pelo menos não sairia de mãos vazias.

Continuei procurando até que desisti, e voltei para a entrada. Esperei o restante deles se juntarem a mim outra vez.

No total, levando em conta do que achei, 20 unidades de comida enlatada e seis garrafas dágua.

Já era um começo...

As carnes estão podres. disse Bruno, se sentando em um canto.

Tem muita coisa podre nesse lugar. comentei, me aproximando do caixa.

Lá havia mais doces. Dei de ombros e peguei o que havia restado, voltando para o grupo.

Ofereci doces a Joana, que aparentava ser a única pessoa na necessidade de comer doces em uma hora como aquelas, e acabei tornando a comer uma barra de chocolate.

Sua idade mental já passou dessa, tu não acha, não? questionou John, sentando-se no chão sujo, com Michael em seu encalço.

Você não gosta de doce? perguntei à ele, fazendo um tom perplexo.

Quem não gosta de doce? — perguntou ele, dando um meio sorriso. Sua carranca aparentava disfarçar algum tipo de humor.

Diabéticos? respondeu Michael, dando de ombros. Acabei deixando uma risada escapar.

Ofereci doces ao Bruno, mas ele me olhou como se não pudesse acreditar no que eu estava fazendo. Dei de ombros, e continuei comendo.

Vocês são de onde? perguntei, tentando produzir algum dialogo promissor.

Cresci aqui, vivo aqui desde sempre. respondeu Michael.

Sabe onde está sua família? perguntei, com certo interesse.

Sinceramente? Não sei. Posso viver aqui, mas me afastei deles... respondeu Michael, mostrando um pouco de amargura.

Tentei parecer indiferente. Se eu demonstrasse mais interesse, não faria bem à ele.

Eu nem sei ao menos onde estou, mas não deve ser longe de onde eu moro. comentei.

Me mudei para cá a pouco tempo. falou Bruno, mastigando uma barra de cereal. Eu servia o Exército no Brasil. Achei uma oportunidade de emprego melhor aqui e me mudei. E bem... tudo isso aconteceu.

Eu morava no México. Minha família se mudou para algum lugar daqui, que... não lembro e nem sei mais onde estamos. começou Joana, captando minha atenção. Meu pai sempre foi uma pessoa muito religiosa. Quando o terremoto aconteceu... ele disse que era coisa de Deus. Saiu de casa, e minha mãe foi atrás dele... mas ela sumiu. Eu corri para longe de lá. Eu não sabia o que fazer, e se eu tivesse ficado lá, com certeza morreria com o desmoronamento. Foi quando encontrei você naquele mercado, Carl. complementou ela, fugindo um pouco do foco do assunto.

Todos permaneceram por um momento em silêncio. Era difícil formar alguma coisa para dizer naquela situação.

Vi pessoas sendo atropeladas, mortas e queimadas. E até agora estou traumatizado com isso. Provavelmente teria este trauma para sempre. Tentava não pensar nas coisas que ocorreram em tão pouco tempo.

Porque talvez eu perderia a razão, e me tornaria simplesmente um louco.

Eu não conseguia imaginar qual era o estado de Joana naquele momento. Por fora, ela aparentava estar tranquila.

Aparências enganam facilmente.

Então... como era seu pai? perguntou John, quebrando o silêncio. Ele se ajeitou no chão duro e gelado, procurando uma posição mais confortável para permanecer.

Você quer dizer... personalidade? — questionou ela, incerta.

O que você achar melhor. respondeu John, dando de ombros.

Ele tem uma personalidade complicada, então acho que é mais fácil descrever a aparência. comentou ela, pendendo o pescoço para o lado, pensativa. Ele é bem parecido comigo, exceto pela boca e o nariz. Eu sempre fui mais parecida com a minha mãe.

Você tinha dito que ele era muito religioso, não tinha...? quis confirmar John, a fitando com mais atenção.

Sim... eu disse.

Não acha que ele talvez esteja envolvido com aquele grupo? A reação que ele teve quando o terremoto aconteceu é muito peculiar, e se me lembro bem, havia um sotaque latino na fala de um deles. comentou ele, mas sua hipótese tinha certa acusação incluída.

E-Eu não sei. gaguejou Joana, chocada. Nunca que eu imaginaria ele fazendo alguma coisa tão ruim...

Desculpe se estou sendo intrometido ou grosso, ou qualquer outra coisa ruim, mas... Joana, você realmente conhece seu pai? — questionou John.

Não. Acho que não. admitiu ela.

E mais um momento de silêncio. Os olhos de Joana brilhavam. Em algum momento ela iria desabar.

Eu vou... ver se acho mais alguma coisa. disse ela por fim, levantando-se, e caminhando até a entrada de um dos corredores da loja.

Bem... só faltou eu. comentou John, após um momento. Moro aqui também, com meu filho. Mas ele foi fazer uma visita na casa da minha ex-esposa. E desde que tudo começou... não faço a mínima ideia de onde ele esteja. concluiu ele. Havia certa angustia em sua voz.

Isso deve ser... difícil. respondi, simplesmente. Nunca que eu conseguiria me por no lugar de alguém que já é pai.

E mais silêncio.

Vou ir ver onde está Joana. falei, tentando ser educado. Eles assentiram sem interesse.

Levantei-me e me dirigi até o corredor onde ela tinha adentrado.

Era o corredor de produtos para pele e cabelo. Quando a achei, ela segurava um shampoo em mãos.

Quando me aproximei, ela não se virou para constatar, apenas fitava com demasiado interesse o rótulo do produto.

Você gosta de ler rótulos, por acaso? questionei, pegando um shampoo na prateleira.

Sim. respondeu ela, com sinceridade. Eu apenas a olhei como se houvesse um ponto de interrogação enorme em minha testa. É bom para passar o tempo. continuou ela, virando o produto. Muitos nomes estanhos.

Suas mãos na embalagem aparentavam estar tremendo. Eu a observei por um momento, fingindo estar observando o shampoo que eu havia pego.

Com certeza ela estava tentando se acalmar.

De uma forma bem estranha, se me permite dizer.

Não estou tão certa de que estamos a salvo ainda. comentou ela, devolvendo o shampoo para a prateleira. Se eles nos acharem, seremos queimados.

Porquê essa alteração de argumento agora? E como sabe que seremos queimados? questionei, franzindo o rosto.

Um deles disse. explicou ela, inquieta.

Ela caminhou para o próximo corredor, comigo no encalço. Eu estava num tédio enlouquecedor, então a segui sem a constatação disso.

Ela achou um pacote de milho de pipoca e eu nunca vi seu rosto mais alegre.

Será que podemos usar um micro-ondas? perguntou ela, franzindo o rosto.

Se aqui tiver um gerador, sim. Caso contrário, a resposta é óbvia. respondi, olhando ao redor. Eles normalmente ficam no porão... complementei, caminhando para um outro corredor.

Em um canto do estabelecimento, havia várias vassouras e produtos de limpeza, mas aparentavam ser de uso no próprio mercado. Caminhei até lá e vasculhei o local.

Embaixo de alguns panos sujos, consegui achar o bendito gerador. Ele estava totalmente empoeirado e muito velho. E era portátil.

Com a maior das minhas habilidades, por conta de sempre tenho... tinha problemas de eletricidade na minha casa, me agachei até o equipamento e liguei o gerador.

O local se iluminou completamente. Até pisquei meus olhos, me acostumando a claridade.

Joana bateu palmas e meneei a cabeça. Ela realmente parecia uma criança.

Agora só falta o micro-ondas! — disse ela, olhando para todos os cantos.

Pensando bem... nem sei ao menos se temos um micro-ondas aqui. constatei, franzindo o rosto. Como eu não havia questionado isso antes? Vamos ver nos fundos.

Me levantei, e havia uma porta com uma placa escrito SOMENTE FUNCIONÁRIOS exatamente próxima a nós. Eu a abri, adentrando o recinto.

Havia dois sofás pequenos no local, e no outro lado havia uma pequena cozinha. Tinha uma porta branca perto de um dos sofás. Talvez seria o banheiro.

Também havia alguns armários, provavelmente para guardar os pertences dos funcionários que trabalhavam lá.

O mercado não era tão grande, então não me surpreendi por ser um lugar tão simples.

Me aproximei até o lado da cozinha e achei um micro-ondas, bem velho, mas ligado. Sinalizei para Joana, que vinha em meu encalço, que foi animada até o equipamento para esquentar a bendita pipoca.

A observei enquanto esperava com ansiedade o alimento ficar pronto. E me surgiu certa dúvida.

Sempre fui uma pessoa que não tolerava indiretas, portanto, bem, fui direto.

Joana, você não se sente desconfortável com a minha presença? perguntei, a fitando com atenção.

Porque está perguntando isso? questionou ela, franzindo o cenho.

Levando em conta que te conheço há... mais ou menos três dias, acredito que deve ser um pouco estranho ter um cara como eu associado à você atualmente. Levando em conta igualmente que sou quase duas vezes mais velho que você. Disse a ela, de maneira casual.

Mas você não é uma má pessoa. respondeu ela, dando de ombros. Você me ajudou a sair daquele lugar.

Porém de qualquer forma, não compreendo que embora poderia ter determinado vínculo de confiança intenso. Admito que acudi, entretanto no unânime, quem protegeu a todos foi Bruno. argumentei.

Você fala... é... é complicado entender o que você fala. comentou ela, e percebi que ela aparentemente não tinha entendido nada que eu disse.

Me perdoe se eu estiver abusando de seu espaço. eu disse por fim. Meu objetivo na verdade era simplesmente este.

Ela podia ser mais nova, mas era uma mulher.

Eu não sabia se o que fazia ou deixava de fazer a deixava aborrecida, irritada, entediada, ou seja lá o que fosse. Com homens era mais fácil perceber isso, mas o diferente é que eu não me importava tanto.

Portanto era melhor se desculpar o quanto antes com uma mulher, para que ela não exploda. Mas, se ela explodir mesmo, pelo menos tentei ser educado.

E sinceramente Joana é uma boa garota. Sua companhia é descontraída.

Sinto que para ela não há tempo ruim.

Particularmente, tal personalidade me causa certa inveja. Queria eu ser alguém do gênero.

Não, não, sério. Não se preocupe com isso. Você é legal, Carl. Não tem porque se desculpar, você não fez nada pra me aborrecer. respondeu ela, com um sorriso.

Ao mesmo tempo, o micro-ondas apitou. Ela abriu o eletrônico com uma velocidade animal, retirando o pacote, quase o deixando cair no chão pela temperatura.

Não seja imprudente, vai queimar suas mãos desta maneira. alertei, meneando a cabeça.

Ela apenas me fitou com cara de tapada e abraçou o pacote, se aquecendo com o próprio. Ato criativo, admito.

Eu vou retornar para avisa-los sobre esta paragem. Será apropriado para nos acomodar. Fique aí e coma a pipoca. auxiliei, me dirigindo a porta que entramos.

I ce elis quisêreim pipócá tambeim? questionou ela, com a boca cheia, se sentando em um dos sofás.

Não fale de boca cheia, é deselegante. alertei, com certo desgosto. Se eles quiserem pipoca, é só eles pedirem. A não ser que você coma tudo antes deles chegarem.

Ela apenas levantou a mão e fez o sinal de positivo com o polegar. Tive que sorrir.

Joana era uma perola.

Contudo, duramos uma semana naquele local.

Tínhamos suprimentos o suficiente, e com o gerador nos dando energia, tivemos uma possibilidade maior de comer nossos alimentos.

Mas o lucro não era só este.

Conheci meus companheiros de uma maneira melhor. E para passar o tempo, inventávamos certas brincadeiras.

Joana sempre inventava as melhores. Sua criatividade era gritante.

Bruno no começo não quis brincar, na verdade se manteve mais fechado que o restante. Mas a partir de um momento deixou de ser tão reservado. O que de certa forma me deixou alegre.

Já fazia bastante tempo que eu não me relacionava com pessoas daquela maneira.

Acabamos criando uma certa linha de confiança. Seja lá o que acontecer dali em diante, sabíamos e tínhamos certeza: estaríamos juntos, como um verdadeiro grupo.

Era uma manhã quente. O vento, embora frio ainda, me deixava calmo. O inverno estava acabando, e a primavera finalmente chegando.

Eu estava na frente do mercado, esperando que eles se aprontassem para que nós pudéssemos sair e procurar outro refúgio. Com aquele inverno de antes, achávamos melhor permanecermos naquele lugar, até que o tempo mudasse e pudéssemos ficar mais confortáveis para sair.

Desde aquele dia, o dia em que tudo aconteceu, não houve mais terremotos.

Ouvi um barulho de botas na neve já casta, e me virei.

E gostaria de não ter saído do mercado antes de todos.

Onde está ela? perguntou o homem, apontando uma arma em minha direção.

Ela quem? franzi o rosto, não entendendo. Mas só havia uma ela que eu conhecia naquele momento.

E sem dúvidas aquele homem não aparentava ser uma pessoa amigável para conhece-la.

Não se faça de estupido, infeliz! Diga-me onde ela está! exclamou ele, e um grupo se aproximou. Os mesmos também estavam armados, e agora da mesma forma que o homem a minha frente, apontaram suas armas na minha direção.

Estou sozinho. respondi, duvidando da eficácia da minha resposta, levantando as mãos para o alto.

E então reconheci um dos homens naquele grupo.

Ele tinha um dos olhos com uma venda, aparentando um certo inchaço.

Com certeza era o cara que havia me raptado antes.

Engoli um seco e implorei mentalmente que meus companheiros não vissem ao meu encontro agora.

Talvez nem agora e nem nunca.

Ele destravou a arma e a segurou com mais intensidade.

Me informaram que você não saiu de lá sozinho. disse ele, se aproximando de mim, encostando a arma em meu peito.

Nós nos separamos. Não havia o porquê de permanecermos juntos até agora. respondi, mais tenso com aquilo próximo a mim.

Você sabe onde ela está. Posso ver em seus olhos. teimou ele, me olhando ameaçadoramente.

Já disse que estou sozinho. Me leve logo se quiser fazer algo comigo, por favor. pedi-lhe, tentando demonstrar maior aflição.

Mas eu não estava aflito porque estava com medo de ir.

Eu queria que eles saíssem dali, nem que me levassem juntos. Se eles verem o meu grupo...

Todos morrerão queimados.

Pai? pronunciou alguém.

Pela voz, eu já sabia quem era. E aquilo simplesmente acabou com a minha tentativa de salva-los.

Virei para fita-la. Um grande aperto corroía meu coração.

Mas... pai?

É você... é você mesmo, pai? questionava ela, com os olhos vermelhos. Deles já desciam lágrimas, e eu olhei para fitar o homem a minha frente.

Eles eram parecidos, tive que admitir. Exceto pela boca e pelo nariz.

Exatamente como ela havia dito antes.

Você vem comigo. falou ele, sem delongas, puxando Joana pelo braço.

Mas pai, o Carl... começava ela, confusa.

É... este tal de Carl mentiu para mim.

E então, um disparo.

Dor...

Sangue...

Meu peito doía. Ardia. Pulsava.

O ar esvaziava meus pulmões.

Senti meus joelhos baterem no chão com força, mas não senti o total impacto.

Por fim... a escuridão me abraçou como uma criança solitária.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: O certo e o errado

""Carl se vê indefeso por conta de sua situação. Após ser raptado ele descobre que Joana tem um segredo que pode acabar com a paz do grupo, ele deve contar ou manter o segredo?"



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