Crônicas de um Bebê escrita por Kuroashi Boy
Senhoras e senhores de todo mundo, aqui quem vos fala é um prisioneiro. Por favor, caso você esteja lendo essa mensagem contate a delegacia de polícia mais próxima de você. Isso aqui não é um treinamento, REPITO, isso aqui não é um treinamento, nem trote nem nada, isso aqui é um apelo pessoal!
Eu estou sendo cruelmente feito de refém pelos meus dois pais, qualquer ajuda é muito bem vinda. Eu estava espiando eles pela porta, como uma criança indefesa e eu ouvi claramente eles dizendo que vão me colocar na escola. Pode uma coisa dessas? Antes eu achava que meus pais me amavam, mas eu estava subitamente enganado e fui inocente. Por favor, me ajudem!
– Abre os braços, Law, vamos colocar seu uniforme!
Vocês ouviram isso? Nem mesmo meu pai bonzinho se salvou, acho que o Doflamingo fez alguma lavagem maquiavélica em sua pobre cabeça gentil. Eu estava completamente nu, só de cueca e os meus pais estavam no meu quarto, com uma roupa horrível de prisioneiro. Sabe aquele velho universo fascista em que todos precisam usar a mesma roupa? Eles chamam de uniforme, é basicamente isso.
– Não! – Gritei, com todas as minhas forças. – Não quero ir pra escola!
– Tsc, para de choro, coloca logo essa maldita roupa! – Meu papai malvado, como era de se esperar, era a favor do regime ditatorial chamado colégio.
Mas eu, como criança valente, estava decidido a lutar até o final pela minha liberdade. Desafiei meu papai bonzinho para um duelo mortal e redirecionei um olhar de bravura para ele, contrastando com seus olhos gentis. Claro, aquela gentileza era falsa, tudo para me persuadir e fazer-me pensar que o colégio é um bom lugar.
Não iria deixar o sistema vencer e me subjugar, eu precisava prevalecer pelo bem de todas as crianças no mundo. Meu pai correu atrás de mim com o uniforme nas mãos e eu fugi, correndo por todo o quarto, pulando na cama, subindo na cadeira, derrubando a cadeira, me escondendo debaixo da mesa, e ele continuou persistindo, caindo da cama, quebrando a cadeira, batendo a cabeça na mesa. Claramente o vencedor era eu.
– Puta que pariu, hein, você não consegue nem colocar um uniforme nessa criança infernal!
– B-Be... d-disgulpa... – Deu até pena do Rosinante, que tentou com tantas forças colocar a roupa demoníaca em mim mas ficou cheio de machucados e um galo enorme na cabeça.
Contudo, mesmo gostando do meu pai, não posso deixar de lutar pois meu próximo inimigo se aproxima. Doflamingo tomou as rédeas da situação e veio na minha direção, com o uniforme nas mãos e pronto para me atacar bravamente. Eu, claro, fugi correndo o mais rápido que minhas curtas pernas permitiam para fugir desse monstro, mas infelizmente não obtive êxito.
– Para de choro, você vai pra escola sim! – Ele segurou meu frágil corpo e enfiou uma blusa ridícula em mim, quase tirando todo meu ar em ter aquele troço me pinicando.
– NÃO! – Tentei resistir com todas as forças, mas já era tarde demais.
– Tsc, por que você não quer ir pra escola? Seus amigos vão pra lá também!
– Porque não!
– "Porque não" não é resposta! Francamente, o que eles ensinam nesses desenhos infantis? Que escola é uma coisa boa, então você vai e você vai gostar!
– Mas a escola é um lugar ruim!
– Quem te disse isso?
– Eu vi na TV.
– Hã, viu na TV o caralho que você só assiste aquelas porras de Peppa Pig!
– Foda-se a Peppa!
– "Foda-se"? Você é uma criança, não pode falar essas coisas!
– Foda-se.
– Tsc, que afronta! Com quem você aprendeu esses vocabulários?
– Com você!
Naquele dia eu aprendi que a vida é um videogame e, conforme você vai subindo de nível, você vai desbloqueando coisas novas. Os adultos, por exemplo, são um nível avançado e eles podem falar palavras que crianças não podem, tipo como se fosse uma magia especial ou um encanto. Minha teoria do Doflamingo ser um demônio não é tão errada assim, afinal.
– EI, ROSINANTE! – E o demônio ficou com raiva de mim e chamou meu papai bonzinho, que veio todo desajeitado.
– O que houve, você conseguiu colocar o uniforme nele?
– Uniforme o caralho, esse pirralho de merda tá falando palavrão! Isso pode?
– Claro que não pode! Com quem você aprendeu isso, Law?
Apontei para Doflamingo como resposta.
– Hã? Xisnove do caralho, tsc.
– DOFFY. – Agora o papai bonzinho vai brigar com o papai malvado e eu vou só assistir! – Não ensine bebês a falar palavrão!
– Rosinante, eu tô achando que esse pirralho entrou na puberdade.
– Não entrou, não!
– Por quê?
– PORQUE ELE TEM TRÊS ANOS.
– Tsc...
(...)
Meu apelo pessoal por salvar minha vida, infelizmente, não deu certo. Meus pais me vestiram com aquela roupa ridícula de presidiário e me jogaram na escola dizendo que era o "melhor pro meu futuro" mas todos sabemos que isso é só uma desculpa para que os pais não precisem aturar crianças o dia todo.
Que seja, o importante é o presente. Eu estou numa espécie de sala de aula com várias cadeiras e mesas, brinquedos espalhados e com uma mochila pesada que compraram pra mim cheia de livros, o que não faz o menor sentido, já que eu não sei ler. Todos os meus amigos também estavam, isso inclui: Kid, Luffy, Dellinger e Cavendish.
– Oi! – O Luffy e o Kid estavam sentados em uma mesa qualquer então eu fui lá com eles.
– Laaw! – Luffy abriu um sorriso e veio na minha direção, pulando em cima de mim e me abraçando. Eu quase caí, mas já estava acostumado com essa atitude então deixei de lado.
– Yo! – Kid era mais normal e ele me cumprimentou como um ser humano racional, ao mesmo tempo em que estava brincando com um robô.
– O que a gente faz aqui? – Perguntei, temendo receber como resposta: lutamos por nossas vidas.
– Desenhar! – E o garoto moreno me mostra um papel com uns rabiscos que faria qualquer bebê chorar de tão feios.
– Robôs. – Já o Kid me mostrou um desses robôs de brinquedo. – Quer um?
Ele me deu aquele brinquedo estranho que soltava umas luzes meio alucinógenas e então eu fiquei sentado com eles, observando Luffy desenhar coisas que eu não fazia ideia do que eram, me perguntando o que eu fiz pra merecer estar nesse lugar que mal conheço e já desconsidero. Eis que uma mulher surge no meio do nada, botando moral em todo mundo.
– Olá, crianças! Meu nome é Robin e eu sou a professora de vocês.
– Oi, Robin! – Algumas crianças exclamaram isso, outras simplesmente ignoraram completamente a presença da mulher assim como eu.
– Venham aqui, vamos fazer uma rodinha de apresentação.
E então todas as crianças foram na direção dela e se sentaram no chão, mas bebê não sabe fazer uma roda que preste então ficou num formato meio oval, meio quadrado, enfim, uma figura geométrica não-identificada. A Robin ficou sentada no chão também, com uma bola na mão, mas geral não prestava muita atenção nela. Tava mais interessante olhar o Luffy comendo a própria mão.
– Eu vou passar a bola pra cada um de vocês e, conforme vocês vão passando, digam seus nomes e o que mais gostam de fazer, tudo bem?
Ela colocou a bola na mão de uma das crianças que disse o nome e etc, mas eu não vou perder tempo explicando o que todos disseram porque aqui só interessa as pessoas que eu convivo, o resto é tudo enche-linguiça. O primeiro de nós que segurou a bola foi o Cavendish.
– Todo mundo tá prestando atenção em mim... – E ao invés dele responder como uma pessoa civilizada, ele ficou com os olhos brilhando e tentando ter a atenção de geral.
– Vai, nos diga o seu nome e o que você mais gosta.
– Cavendish e... câmeras!
– Certo, agora passe para o seu amigo do lado.
– Não! – Ele se recusou a soltar a bola com todas as forças. – Eu sou o Cavendish!
– Me dá logo isso! – Mas Dellinger, que estava ao lado dele, puxou a bola com força.
– Não, me devolve! – E ele voltou a pegar a bola.
– Sai, é minha vez! – E continuaram brigando.
– Cala boca, ela é minha! – De novo.
– Não, ela é minha! – E de novo.
– Crianças, não briguem! – Robin tentou impedir.
– Cala boca! – Mas não deu certo. Dellinger deixou a bola de lado e partiu para cima do outro garoto, dando um tapa na cara dele.
– Olha o que você fez com o meu lindo rosto! – E Cavendish retribui o tapa.
– N-Não faz isso! – Dellinger fica com mais raiva ainda e o arranha no rosto.
– Ai, olha o que você fez! – E Cavendish retribui, puxando a mão dele com força.
– VOCÊ QUEBROU MINHA UNHA! – Dellinger olha pra sua própria mão com uma cara de choro horrível, como se metade de sua vida tivesse acabado naquele momento.
– Quebrei mesmo! – E o outro ri da cara dele.
– Invejoso!!
E iniciou uma briga infantil por um motivo que eu não entendi muito bem, só sei que os dois garotos loiros estavam se engalfinhando no chão e a Robin ficou completamente louca, tentando separá-los, enquanto eu só fiquei observando. Algumas crianças apoiaram a briga deles.
– Parem com isso! – Mas a Robin consegue botar moral e o jogo continua. – Não se pode brigar, isso é feio!
– D-Desculpa... – E ambos voltaram a se sentar.
– Ótimo, agora fale o seu nome pra nós e o que você mais gosta.
– Dellinger e eu gosto de maquiagem e pôneis!
– Agora, por favor, passe para o seu amigo do lado sem brigar. – E ele passou para o ruivo.
– Ahn... meu nome é Kid e eu gosto de... robôs. – Depois ele passou pro Luffy.
– Meu nome é Luffy e eu gosto de desenhar, carne, piratas, robôs gigantes, carne, dinossauros, comida, carne, piratas, Luffy e de desenhar carnes!
– Oh, são muitas coisas! – Robin ficou surpresa. – Agora passe para o seu amigo do lad–
– Eu vou ser o REI DOS PIRATAS! – E o garoto não calou a boca.
– É uma ótima ambição, Luffy, agora passe a bola pr–
– Eu gosto de desenhar e de comer!
– Eu já ouvi...
– Eu tô com fome...
– Já entendi que você gosta de carne, agora passa a bola pros outros!
– Luffy!
– Eu não perguntei seu nome.
– Eu gosto de carne e–
– PASSA A BOLA PRO PRÓXIMO.
– T-Tá...
O coitado logo calou a boca quando a mulher perdeu a paciência e soltou um olhar sério, então prosseguimos com o jogo e era justo eu quem estava ao lado do Luffy. Naquela hora, todo mundo olhava para mim e eu me senti desconfortável porque eu simplesmente esqueci tudo o que eu gostava de fazer.
– Ahn, meu nome é Law.
– E o que você mais gosta de fazer, Law? – Robin me perguntou.
– Nada.
– Não tem nada que você goste?
– Não...
– E o que você costuma fazer com os seus pais?
– Fugir.
– Fugir?
– Fugir.
– B-Bom, mas deve ter alguma coisa que você goste de fazer. Você tem muitos amigos?
– Sim!
– E você gosta deles, certo?
– Não.
– Hã, traidor! – Acho que o Kid se sentiu ofendido porque ele jogou um robô na minha cabeça.
– Não faz isso, ruivo idiota! – Aí eu joguei a bola na cabeça dele.
– N-Não briguem, crianças! – Robin nos separou antes que prosseguíssemos com a briga.
– Se fodeu. – Disse, com a nova palavra que aprendi com Doflamingo.
– Law, você não pode falar esse tipo de palavra aqui! – Robin me repreendeu. – E também não pode brigar com os seus amigos!
– M-Mas ele começou! – E tudo o que eu vi foi o Kid fingindo chorar, mas quando a professora não olhava ele tava fazendo caretas e mostrando a língua pra mim.
– Eu não tolero esse tipo de atitudes, eu vou precisar chamar seus pais aqui.
– N-Não, por favor! – Aí eu pensei: fudeu.
– Qual é o nome da sua mãe?
– Doflamingo.
– N-Não, a mãe é a mulher, o homem é o pai. Qual é o nome da sua mãe?
– Doflamingo.
– Não adianta tentar esconder, eu sei que muitas vezes o pai é o mais tranquilo, mas eu preciso saber o nome da sua mãe.
– Doflamingo! – Por que ela não acreditava em mim?
– Ahn, então tá. E qual é o nome do seu pai?
– Rosinante.
– Ah, você tem dois pais?
– Sim!
– Olha, por ser o nosso primeiro dia de escola eu não vou chamá-los, mas não quero que se repita. Tudo bem?
– Tá bom!
Fim.
Próximo: Dia de Praia
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E o mangá de hoje, hein? Vamos rezar por nosso amigo Doflamingo